segunda-feira, 7 de março de 2011

Opinião - Ano XVII - n. 183 – Março 2011


Escher: “Ao desenhar, sinto-me como um médium espírita”

Por Eugenio Lara, jornalista e arquiteto, editor do site PENSE - Pensamento Social Espírita [www.viasantos.com/pense]

     Maurits Cornelis Escher (1898-1972), um dos artistas mais instigantes do século 20, agora poderá ser apreciado pelos brasileiros. A mostra "O mundo mágico de Escher”, com 95 gravuras, ficará em cartaz de janeiro a março no Rio de Janeiro e depois seguirá para Brasília e São Paulo, com possibilidade de se estender ao sul do País. Mais conhecido por suas gravuras fantásticas, esse artista holandês nos surpreende quando se trata de lidar com o espaço tridimensional em suporte bidimensional. São imagens que surgem a partir de outras, se reencontram em metamorfoses, em espaços impossíveis, criando paradoxos visuais: a ilusão de ótica como ferramenta de trabalho.
     Aos 21 anos, Escher trocou o estudo da arquitetura pelas artes gráficas. Passou a se interessar pela divisão regular do plano em figuras geométricas e a ilusão de ótica em seus desenhos depois que visitou, em 1922, na região de Alhambra, uma mesquita da cidade de Granada, Espanha. Ele ficou impressionado com os mosaicos decorativos daquele castelo mouro do século 14, com imagens entrelaçadas que se sobrepõem umas às outras, formando padrões geométricos inusitados, singulares. Toda sua obra é marcada pelo uso de formulações visuais e composições surpreendentes, que exploram, de modo similar, os mesmos recursos abstratos dos artistas árabes, proibidos pelo Alcorão de criarem representações gráficas figurativas.
    Apesar de ter sido um péssimo aluno em álgebra e aritmética, nos primeiros anos escolares, em suas gravuras nota-se a presença marcante da matemática, da perspectiva e da geometria descritiva. Vários estudos científicos foram realizados para analisar sua produção artística. De modo intuitivo, Escher concebia sua obra como se estivesse com um teodolito, um astrolábio, uma calculadora à mão: “Nas minhas gravuras eu tento mostrar que vivemos em um mundo belo e ordenado, e não em um caos sem regras. Tenho grande prazer em confundir dimensões, plana e espacial, ignorar a gravidade”.
     Apesar de muitas de suas obras terem sido expostas em museus de ciência ao invés de galerias de arte, Escher não se considerava um artista no sentido convencional, muito menos um matemático: “acabei no domínio da matemática, embora eu não tenha absolutamente nenhuma formação em ciências exatas”. Segundo o gravurista holandês, sua obra o aproxima mais dos matemáticos do que de seus colegas artistas: “apesar de eu achar ‘artista’ um termo bastante embaraçoso, eu sou um artista gráfico, de coração e alma”.
     Poucos sabem que sua gravura mais conhecida, Relatividade (1953), serviu de fonte de inspiração para o design de abertura da novela Top Model, da TV Globo, de 1989. Assim como em algumas cenas da série cinematográfica Harry Potter e do filme Labirinto - A Magia do Tempo. Várias de suas gravuras foram usadas como ilustração no primeiro número do Caderno Cultural Espírita, editado pela Livraria Cultural Espírita, de Santos-SP, em 1987.
       Desde que observava estrelas no céu, quando criança, com o telescópio presenteado pelo pai, Escher passou a compreender intuitivamente a perspectiva de ponto de fuga único, bem como a técnica dos reflexos. Ao longo de sua carreira manteve sempre o interesse pelas formas e alegorias gráficas surreais, pelas composições enigmáticas e insólitas. Certa vez afirmou que se sentia possuído pelas formas que criava: “Ao desenhar, sinto-me como um médium espírita, controlado pelos entes que incorporo. É como se eles próprios decidissem a forma em que desejam aparecer.”

Fonte:
MARTÍ, Silas - Rio recebe gravuras fantásticas de Escher, in Folha de S. Paulo, Ilustrada, de 19/01/2011.
M.C. Escher - The Official Website [http://www.mcescher.com].

   Opressão, Progresso e Espiritualidade
      Todo poder excessivo é destruído pelo seu próprio excesso.
      Casimir Delavigne

          O início do ano foi marcado por uma sequência de revoltas populares, queda de ditaduras e sérios abalos a outros regimes autoritários do mundo árabe. A partir da derrubada de Zine El Abadine Ben Ali, o povo da Tunísia pôs fim a uma ditadura que já completara 23 anos. A mesma sorte teria, logo, o ditador Hosni Mubarak, do Egito, ao ser apeado do poder que detinha havia 30 anos. Seguiram-se levantes populares, com maior ou menor êxito, no Iêmen, Jordânia, Síria, Irã, Bahrein, Líbia, Marrocos e Kuwait.
          Diferentemente do mundo ocidental, cristão, todos esses países têm como religião preponderante, quando não oficial e de culto obrigatório, o islamismo. Politicamente, são regidos por governos fortes, onde são escassos, frágeis, ou mesmo inexistentes, o reconhecimento e a prática das garantias de liberdade constitucionalmente asseguradas nas nações do Ocidente. Agora, como numa onda avassaladora, aquelas populações clamam e lutam por democracia, caminho único à conquista da plena cidadania fundada na liberdade humana.
          É comum entre nós a afirmação de que o Ocidente conquistou o moderno estado de Direito graças à assimilação e ao desenvolvimento das propostas cristãs. Não se pode esquecer, no entanto, que o humanismo e o Iluminismo, movimentos inspiradores da democracia moderna, tiveram justamente no cristianismo real e institucionalizado o grande adversário e opositor das ideias de liberdade. A conquista do estado de Direito foi, a rigor, o resultado de uma dura luta do laicismo e do secularismo contra a religião, marcando o advento da modernidade.
          É muito cedo para se afirmar que os países do bloco árabe/islâmico estejam inaugurando seu Iluminismo. Até porque, entre os opositores das ditaduras agora contestadas, existem segmentos religiosos fundamentalistas que aspiram transformar algumas dessas ditaduras civis ou militares em novas teocracias muçulmanas. De qualquer sorte, o vigor demonstrado e o parcial êxito atingido indicam um movimento, ainda que lento, no caminho da democracia e das liberdades. A busca desses valores, antes de se inspirar em revelações religiosas, nasce da própria condição humana. O espírito, chama divina que alumia a trajetória da consciência rumo à perfeição e à plenitude, é o grande agente das transformações políticas, sociais e éticas. A humanidade, toda ela, em qualquer segmento cultural, étnico ou sistema de crenças, goza, intrinsecamente, do direito à liberdade de pensar, de crer ou descrer, de agir, de escolher seus caminhos, entre erros e acertos que redundarão sempre em ricas experiências.
        A opressão, seja religiosa, seja ideológica, invariável resultado do orgulho e do egoísmo de uns poucos em detrimento de outros, tem sido, na história dos povos, o maior obstáculo ao progresso cultural, social e espiritual do gênero humano. Mas, um dia ela termina. Não resiste à vocação progressista e à força do espírito.
A busca da democracia e das liberdades, antes de se inspirar em revelações religiosas, nasce da própria condição humana.







     Férias (quase) sem internet
          Pelo menos, por dois meses do ano, sou catarinense. Há cerca de 25 anos, em janeiro e fevereiro, me recolho à minha casa de praia em Balneário Gaivota, no Sul de Santa Catarina.  Vai comigo meu laptop que, por lá, só me permite mesmo acessar a internet de forma precária, por linha telefônica. Contento-me em acessar meus e-mails, forma que já está ficando antiga, mas que para mim ainda é o que de mais moderno oferece a tecnologia da comunicação.
          Férias quase sem internet limitam bastante a interface com o mundo globalizado, mas, em compensação, deixam muito mais espaço para a leitura de livros, esse veículo bem mais antigo, que as gerações mais novas vão se desacostumando a manusear. Aliás, até nós, mais vividos, tendemos a reduzir o contato com eles, seduzidos pelas mídias que nos chegam via telas dos celulares, dos computadores, dos tablets e dos iPads.

          Férias com muitos livros
          Levei comigo uma pilha de livros. Resolvi, por exemplo, averiguar porque Augusto Cury tem sido, no Brasil, esse fenômeno que já vendeu mais de 12 milhões de livros. Dele li “O Vendedor de Sonhos”, um romance que, como ficção, exagera numa história destituída de qualquer verossimilhança. Em compensação, trabalha muito bem propostas de vida que quebram com a rotina, com o egocentrismo e com o apego ao material, ao poder e ao consumismo exacerbado de nosso tempo. Também fiz incursões pela física quântica aplicada ao que já se chamou de metafísica. A excelente obra de Amit Goswami, “Deus não está morto”, traça interessantes caminhos para a formulação de um conceito moderno de Deus, da imortalidade do espírito, dos corpos mais ou menos densos de que se serve a consciência, da reencarnação e de outros temas comuns ao espiritismo.
          Ficou na prateleira e volta comigo para a cidade “Eu aos Pedaços”, de um dos melhores cronistas brasileiros, Carlos Heitor Cony, minha próxima leitura.

          Os gêmeos Jesus e Cristo
          Mas de todas minhas leituras de verão, esta me fascinou: “O bom Jesus e o infame Cristo”, do britânico Philip Pullman. Sem conhecer o autor, comprei atraído pelo título. Não me arrependo. Com raro brilhantismo, conta a história de dois gêmeos: Jesus e Cristo. O primeiro é aquele do Sermão da Montanha, o filho do carpinteiro, da vida sem artifícios nem milagres, da sintonia com o belo e o natural. O segundo, bem o segundo é o filho de Deus das religiões cristãs, o que foi concebido sem pecado, o rei dos reis, o fazedor de milagres, o salvador da humanidade, o destinatário das pompas e circunstâncias do cristianismo institucionalizado. Vale a pena. É uma leitura rápida e agradável.

      Chico no Carnaval
          Por conta de minha “alienação internáutica” no período, não me inteirei bem da polêmica sobre uma homenagem que a Escola de Samba Viradouro prestaria a Chico Xavier, no Carnaval carioca, dedicando-lhe um carro alegórico. Sei que o fato gerou frisson entre espíritas mais conservadores. O Carnaval é legítima expressão da cultura popular. Chico popularizou o espiritismo, no Brasil, transformando-o numa religião de massas, a terceira mais importante do país. Sem conhecer o projeto da Viradouro (escrevo antes do Carnaval), não deveria palpitar sobre o assunto. Mas, em princípio, não vejo qualquer desrespeito ao médium e ao espiritismo brasileiro na homenagem.
  

             Adilson Marques no CCEPA

           Em trânsito pela capital gaúcha, o educador Adilson Marques (São Carlos/SP), visitou o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, na noite de 13 de janeiro último. A convite do Diretor do Depto. Doutrinário do CCEPA, Salomão Benchaya, Adilson, autor de vários livros sobre espiritualismo e doutor em antropologia pela USP, esteve dialogando com integrantes dos grupos de estudos que desenvolviam, durante as férias, um programa especial de estudos, nas noites de quintas-feiras. Abordando o tema “Cultura de Paz e Mediunidade – 10 anos de pesquisa”, Adilson fez interessantes relatos ligados ao “Projeto Homo Spiritualis”, por ele coordenado. Deu especial destaque a uma série de entrevistas por ele realizadas, através de um médium, com suposta entidade espiritual que se apresenta como “Pai Joaquim de Aruanda”, em São Carlos e que resultou em 28 horas de gravação, sendo boa parte do material sobre umbanda, religião medianímica em que os “pretos-velhos” se manifestam.

   Certificado de Reconhecimento para “CCEPA Opinião”
     Recebemos: “Prezado Milton Medran, pela excelência do jornalismo produzido/praticado, segue anexo nosso Certificado de Reconhecimento 2010 para você emoldurar e pôr na parede da Redação do conceituado mensário espírita gaúcho.
 Paz, saúde e prosperidade espiritual para todos nós em 2011!
Carlos Antonio de Barros – Jornalista – FENAJ 1938 – ANESPB Press – Agência de Notícias Espíritas da Paraíba.”

         
     CCEPA/Novo Horizonte construindo o intercâmbio
          A mais antiga casa espírita de Capão da Canoa, Litoral gaúcho, a Sociedade Espírita Novo Horizonte, no balneário de Capão Novo, realizou, durante o verão 2011, programação especial, que contou com destacada participação do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. No dia 17 de janeiro, realizou-se uma mesa redonda com dirigentes e trabalhadores de ambas as instituições sobre temas relevantes do espiritismo e do movimento espírita. Seguiu-se uma palestra pública do ex-presidente do CCEPA, Donarson Floriano Machado, sobre Leis Morais, numa visão espírita. Em 15 de janeiro, foi palestrante Salomão Jacob Benchaya, dirigente do CCEPA, abordando o tema “Alteridade”.
          A S.E.Novo Horizonte, em período de veraneio, recebe a visita de espíritas de diferentes cidades do Rio Grande do Sul e de outras regiões que gozam férias no Litoral gaúcho. Em sua programação deste verão, foram, também, palestrantes os oradores Moacir Costa de Araújo Lima e Cristian Macedo.
Na foto iIntegrantes do CCEPA em sua visita à S.E.Novo Horizonte, de Capão Novo.

   

    
   
   Falemos sobre   
   Espiritismo e  Mediunidade
Hermas Culzoni (foto) foi presidente da Confederação Espírita Pan-Americana, por um longo período (de 1975 a 1990). Residente na cidade de Rafaela, Província de Santa Fé, Argentina, colaborou ativamente com a Sociedad Espiritismo Verdadero, durante praticamente toda sua vida. Aos primeiros dias do último mês de janeiro, aos 86 anos de idade, sofreu um infarto do qual resultaria sua desencarnação, em 27.2.2011. Poucos dias antes, enviara à redação deste jornal, o artigo que a seguir publicamos, com tradução de nosso editor Milton Medran Moreira. Um lindo depoimento sobre suas experiências espíritas, especialmente no campo da mediunidade.

          Espiritismo e Mediunidade são dois temas que estão perfeitamente identificados e unidos por uma realidade da prática natural.
          O Espiritismo, criado por Kardec, é conhecido na humanidade. Alguns consideram-no uma nova religião. Outros uma filosofia. E há aqueles que o têm como uma ciência. Tudo isso é de relativa importância. Para o autor deste artigo não existe a menor dúvida da realidade do mundo espiritual e sua permanente inteiração com o mundo corporal.
          Já há 70 anos, de forma ininterrupta, venho assistindo  a sessões mediúnicas de intercâmbio com uma grande variedade de espíritos de diferentes ordens morais e intelectuais, em uma instituição espírita fundada no ano de 1928. Além disso, durante o exercício da presidência da CEPA, de 1975 a 1990, tive oportunidade de visitar quase todos os países da América, assistindo a muitas sessões mediúnicas, com uma diversidade de médiuns de diferentes culturas, como são os povos da América.
          Pude, assim, compreender que o Espiritismo como doutrina não é praticado como o aconselham os espíritos nos livros de Allan Kardec. Também o exercício da mediunidade não é feito com a disciplina, a delicadeza e a dedicação recomendadas por Kardec.
          Apesar disso, os espíritos seguem se comunicando no uso de seu livre arbítrio e da lei de afinidade moral e intelectual com os diferentes médiuns, em cumprimento à lei universal de progresso da qual também a codificação de Allan Kardec é uma manifestação.
          A qualidade das comunicações dos espíritos nessas sessões é variada. Muitas delas deixam a desejar no que se refere ao aporte de novas idéias. Às vezes, em razão da falta de conhecimento dos médiuns, Em outras ocasiões, por carência das pessoas que os acompanham e dirigem. Não obstante, se observarmos com atenção as manifestações, teremos a certeza de que SÃO ESPÍRITOS.
          Também assisti durante muitos anos a sessões mediúnicas organizadas a partir de critérios de moral e intelectualidade e fundamentadas na recomendação do Espírito da Verdade no livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Allan Kardec: “Espíritas, amai-vos, este é o primeiro ensinamento. Instrui-vos, este é o segundo.
          Tais comunicações têm uma profundidade que as destaca do resto por sua qualidade e pelo aporte de conhecimento e são as que recomendo.

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