segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

OPINIÃO - ANO XVIII - N° 192- DEZEMBRO 2011

Jesus – um homem entre muitos mitos
Estudos buscando resgatar a verdadeira história do homem “Jesus de Nazaré” deparam-se com mitos envolvendo deuses da Antiguidade e que foram incorporados ao cristianismo.

O dia 25 de Dezembro e as Divindades Solares
O período compreendido entre 22 e 25 de dezembro marca, no hemisfério norte, o chamado solstício de inverno, em que o sol atinge seu ponto mais baixo no horizonte, devido à inclinação do eixo terrestre. Esse fenômeno, observado já na Antiguidade, mesclou-se com a crença no Deus-Sol. Segundo explica José Pinheiro de Souza, em seu livro “Três Maneiras de Ver Jesus” (Gráfica e Editora LCR – Fortaleza/CE – jpinheirosouza@uol.com.br), “na antiguidade a principal divindade era o Sol, o Deus-Sol, uma vez que nada pode existir neste planeta sem o Sol”, que, assim, foi visto por várias culturas religiosas como “Deus”, ou “Filho de Deus”, ou como “Luz do Mundo” e “Salvador da Humanidade”.
Estudos comparativos das religiões assinalam o dia 25 de dezembro como o do nascimento de vários deuses pré-cristãos, como: Hórus (deus egípcio, 3.000 a.C.), Mitra (deus persa, adorado também em Roma, 1.200 a.C), Attis (cultuado na região de Frígia, no Império Romano) e Krishna (deus hindu, 900 a,C).

Nascimento virginal e ressurreição
Ainda segundo José Pinheiro de Souza, “o mito de partos virginais e miraculosos é antiguíssimo, encontrando-se em muitas religiões anteriores ao cristianismo”, pois “nascer de uma mãe virgem significava que a criança seria um personagem importante”. De fato, todos os deuses antes citados, Hórus, Mitra, Attis, Krishna, assim como o deus grego Dionísio, segundo as respectivas crenças, eram tidos como filhos de mães virgens. Igualmente, todos eles, ressuscitaram após a morte física, geralmente no 3º dia.
O nascimento de Jesus em Belém é hoje fortemente contestado pela maioria dos estudiosos que buscam resgatar o Jesus histórico. Tudo indica ter ele nascido em Nazaré. Para Pinheiro, “as narrativas evangélicas segundo as quais Jesus nasceu em Belém são exemplos de ‘profecia historicizada’ e não de ‘história relembrada’, para fazer-se cumprir forçosamente a profecia de Miqueias do Antigo Testamento, a qual dizia que o esperado Messias nasceria em Belém”.  





Nós e o Natal
 Se Jesus, como sustenta o espiritismo, não é Deus; se, diferentemente da dogmática cristã, ele não é o Salvador da humanidade; se não foi concebido pelo Espírito Santo - segunda pessoa da Santíssima Trindade -; se os principais símbolos miraculosos contidos nos relatos evangélicos sobre seu nascimento, morte e ressurreição, não passam de mitos importados de outras culturas religiosas, o que, sobra, então, de Jesus, esse personagem que dividiu a História entre antes e depois dele?
Sobra, exatamente, seu humanismo, tecido de elevado amor ao semelhante. Sobram as lições magnânimas de fraternidade, de entrega incondicional, de solidariedade, de alteridade, de firme consciência da igualdade essencial entre todos os seres humanos, independentemente de crença, cultura, etnia, sexo, posições políticas ou sociais.
E se as festas da cristandade, a começar pelo Natal, a mais terna de todas, estão inteiramente impregnadas dos mitos religiosos incorporados ao sincretismo cristão, que significado podem ter tais festividades para o não-crente?
Mitos, ritos, apelos ao sobrenatural e toda a magia das religiões poderão, um dia, sucumbir ante a racionalidade da História da humanidade. Mas não sucumbirão os valores que se utilizaram, provisoriamente, desses recursos para ganharem expressão concreta. Para espiritualistas sinceros que abriram mão dos símbolos, dos ritos e do sobrenaturalismo das religiões, esse valores continuam sendo primordialmente caros, porque atributos do espírito imortal. No Natal, momento maior, em nossa cultura, para se celebrar a confraternização, a amizade, as experiências vividas em mais um período de tempo que se fecha, renova-se em cada alma a disposição de servir e de amar, de agradecer e de planejar, de viver a vida na plenitude do legado deixado pelo Homem de Nazaré.
Ele não é o nosso Deus. Mas é, inquestionavelmente, nosso guia e modelo. 
(A Redação)                    







Mensagem do Presidente do CCEPA

Final de Ano
 Aproxima-se o momento da virada de ano. Momento para se fazer uma avaliação das nossas atividades durante o ano de 2011.

O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, seguindo um propósito muito claro e firme, plasmado nas idéias inspiradoras da sua própria criação, perseverou no trabalho para a consolidação da identidade da nossa Casa, que se traduz numa visão do Espiritismo como doutrina filosófica livre-pensadora, progressista, libertadora, absolutamente otimista em relação ao ser humano. Fundamentando-se nos princípios basilares encontrados na obra e no pensamento de KARDEC, propugnamos um processo permanente de atualização do pensamento espírita, por meio de aprofundado, dialético e contínuo estudo da filosofia espírita, do debate fraterno e leal em torno de ideias. Sem dúvida, este objetivo foi plenamente realizado através do funcionamento dos nossos diversos grupos de estudos, desde os níveis básicos até os mais adiantados, onde se prima pelo exercício da liberdade de pensar e de refletir.

 O CCEPA, perfeitamente integrado ao segmento espírita laico e livre-pensador, mantem-se perfilado à Confederação Espírita Pan-Americana e à Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA. É oportuno mencionar que, no ano vindouro, realizar-se-á em Santos-SP o Congresso Espírita Pan-Americano da CEPA, evento da maior importância para a continuidade da construção deste projeto no qual nos inserimos.

Coincidindo com o final do ano, também chega a termo o período da atual Diretoria Administrativa do CCEPA. Em meu nome e em nome dos companheiros de diretoria, agradeço a colaboração de todos os trabalhadores da Casa, convidando-os a continuarmos nosso entusiasmado trabalho na Instituição para o ano de 2012.  

Rui Paulo Nazário de Oliveira
Presidente do CCEPA


                                                                                       



O maior erro judiciário da história do país
Foi assim que o Superior Tribunal de Justiça qualificou o caso do pernambucano Marcos Mariano da Silva, preso em 1976 por um crime que não cometeu. O assassinato pelo qual foi condenado havia sido praticado por um homônimo seu, foragido. Após seis anos de cadeia, apareceu o verdadeiro culpado e ele foi solto. Em 1985, voltou a ser preso numa blitz, porque seu nome constava entre os foragidos. Passou mais 13 anos na prisão, onde contraiu tuberculose e ficou cego, atingido por estilhaços de bomba de gás, numa rebelião de presos. Depois de tudo isso, entrou com uma ação contra o Estado. A decisão fixou a indenização em 2 milhões de reais. Recebeu uma parte e o Estado recorreu para não pagar o restante. No último dia 22 de novembro, nova decisão judicial determinou que lhe fosse paga a indenização integral. Marcos recebeu a notícia por telefone. Foi tirar um cochilo e não acordou mais. Morreu de infarto.
         
O conformismo religioso
Diante de injustiças como essa e dos tantos casos de impunidade, como crer na justiça? Nem estou falando nos mecanismos judiciais construídos pela sociedade, suscetíveis de erros em qualquer lugar do mundo. Refiro-me à justiça como valor filosófico, fator de equilíbrio social e individual e de estímulo ao correto agir humano.
Para compensar as injustiças do mundo, as religiões pregam o sistema de castigos e recompensas depois da morte. O cristianismo, por séculos, recomendou o conformismo e a submissão às injustiças sociais. No Brasil Colônia, Padre Antônio Vieira proclamava aos escravos que “desterro, cativeiro e desgraça” eram, para eles, o “grande milagre” que os levaria ao céu, ao contrário de seus antepassados que ardiam no fogo do inferno por não terem encontrado o “lume da fé”. As injustiças do mundo seriam, assim, o passaporte para o gozo celeste.

O caos materialista
Numa visão materialista, uma injustiça como aquela perpetrada contra Marcos é definitiva. No máximo, servirá de alerta para a criação de mecanismos sociais mais justos. Mas a reparação individual, efeito concreto da injustiça, nunca se dará, porque o indivíduo, para o materialismo, é nada.
Aprisionada entre o berço ao túmulo, a justiça abstrai-se de qualquer significação filosófica para compor o caos. Porque a vida humana também será caótica. Deixa, assim, a justiça de ser um mecanismo de educação para se fazer castigo/privilégio ou, por ironia, a suma e irreparável injustiça.

O inconformismo reencarnacionista
Entre uma e outra tese, a reencarnação proclama: toda a injustiça é reparável. Às vezes, inclusive, a aparente injustiça pode estar compondo um quadro maior visando o aprendizado e o progresso. Mas o principal efeito da reencarnação é o de gerar o inconformismo com a injustiça aqui e agora. O reencarnacionista, consciente do valor da encarnação humana, luta para que a justiça se faça aqui e agora. É um inconformado com as injustiças praticadas contra si ou o outro, porque deseja um mundo cada vez melhor.
Não por outra razão, os espíritos, questionados por Kardec, apontaram a justiça como sendo o fundamento maior da reencarnação (L.E, questão 171).
Mais uma vez, assino embaixo. 





Delegação gaúcha prestigiou
o 12º Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita
         
Uma delegação de dezesseis integrantes do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre e S.E. Casa da Prece, de Pelotas, prestigiou o 12º Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita.
Convidado para um pronunciamento, na mesa-redonda de encerramento do evento, Milton Medran Moreira, Diretor de Comunicação Social do CCEPA, lembrou episódios históricos ligados ao SBPE, de cuja primeira edição participou como expositor, a convite de Jaci Regis, juntamente com Ciro Pirondi, Krishnamurti de Carvalho Dias e outros pensadores alinhados às propostas progressistas que marcaram os anos 80.
Para homenagear Jaci, cuja ausência física foi tão sentida ao curso de todo o XII SBPE, Medran lembrou a frase de Bertold Brecht, segundo a qual, “há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida, e estes são imprescindíveis”. Acrescentou que Jaci foi imprescindível ao espiritismo brasileiro e mundial. Mas, apesar de sua imprescindibilidade, não foi insubstituível à continuidade do projeto SBPE, pois o ICKS e seus familiares souberam lhe dar andamento, nos mesmos e exitosos moldes. 

           





Fundou Jesus alguma religião?
Aureci Figueiredo Martins (Porto Alegre/RS), 
articulista e dirigente espírita; Bacharel em Direito, aposentado.

“Aceito Cristo e os Evangelhos, todavia não aceito vosso cristianismo. (Ghandi)

Quando mergulhamos na essência da mensagem de Jesus, torna-se-nos evidente a desconformidade das prédicas e práticas adotadas pelas religiões autoproclamadas “cristãs” com os lídimos ensinamentos do Excelso Mestre.
Chego até a pensar que, se Jesus voltasse hoje ao nosso ainda penumbroso plano terrenal, cristão ele não seria. Registre-se de passagem que Jesus era detestado e anatematizado pelos religiosos por não observar as exterioridades do farisaísmo da sua época.
Em parte alguma dos Evangelhos detectei Jesus vestindo paramentos, praticando rituais ou ministrando sacramentos ou quaisquer outras formas de culto exterior. Estas práticas litúrgicas foram criadas a pouco e pouco pelo cristianismo histórico, a partir da declaração, no século IV, do cristianismo como religião oficial do Império Romano pelo imperador e “pontifex maximus”, Constantino. Desde então o cristianismo passou de perseguido a perseguidor e os crimes e desmandos “ad majorem Dei gloriam” cometidos sob a capa da religião mancharam com sangue e lágrimas a história da Humanidade por muitos e muitos séculos.
Se Jesus orava a Deus, como pôde ser confundido com a Divindade? Se assim fosse, teríamos Deus orando para si mesmo? É bom lembrar que o Mestre ensinou-nos a dirigir nossas preces ao “Pai Nosso” e, quando um jovem rico o chamou “Bom Mestre!”, ele respondeu: “Por que me chamais bom?” E concluiu: “Bom só Deus o é!”.
Nas minhas observações, que confesso perfunctórias, não encontrei Jesus fazendo preces de abertura e de encerramento das suas atividades missionárias e quando orava dirigia-se ao Criador em silêncio e profundo recolhimento íntimo, usando expressões que lhe vinham ao coração e à mente naqueles momentos especiais.
Quanto aos chamados “milagres” a ele atribuídos, sabemos hoje que eventos sobrenaturais não podem acontecer, pois que todos os fenômenos que ocorrem, a qualquer tempo ou lugar, são perfeitamente afinados aos mecanismos causais das leis naturais, tão perfeitas e inalteráveis como o legislador que as estabeleceu: Deus. Tanto é assim, que Jesus declarou não ter vindo derrogar a lei, e que tudo o que ele fazia nós também poderíamos fazer...
Relativamente à chamada ressurreição de Lázaro, lê-se que, ao receber a notícia da morte do irmão de Marta e Maria, Jesus teria dito: “Lázaro não está morto; ele dorme”, evidenciando que seu amigo de Betânia estava num estado morte aparente, cataléptico. Quando o corpo morre, o espírito que o animava (alma) desliga-se da carne e, na condição de desencarnado, continua mais vivo do que antes.

Lê-se na pergunta 625 d’O Livro dos Espíritos: - Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo? Resposta - “Vede Jesus.” E Kardec comenta – “Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava”.

Penso, concluindo, que Jesus não fundou religião alguma, pois que o Excelso Mestre, ao proclamar a libertação pelo conhecimento, estabeleceu as bases de uma filosofia vivencial espiritualizada, que impele a cada um de seus seguidores pelas trilhas luminosas do autoconhecimento, base da crença raciocinante que os induz a sempre crescente progresso intelectual e moral, sustentáculo da conduta reta e fraterna que se reflete positivamente na coletividade humana, encarnada e desencarnada.
Feliz Natal!  
                            
           





O humano e o divino
O texto de “Nossa Opinião” (CCEPA Opinião de novembro) expressa exatamente como eu penso. Aquilo que o homem atribui a uma "força externa" - no caso Deus pessoal - está imanente em si, cujo desenvolvimento é personalíssimo, no tempo de cada um. Gostei também, na “Opinião do Leitor”, do parecer de Sidney Batista, de São Paulo, especialmente no último parágrafo.
José Lázaro Boberg – Jacarezinho/PR.

A morte ante o enigma da vida (1)
Muito bom o editorial de novembro de CCEPA Opinião!
A propósito do tema, às vezes fico pensando como seria o dia em que os avanços científicos e tecnológicos farão do corpo humano uma máquina indestrutível. Parece maluquice isso, mas alguns visionários acreditam que logo esta possibilidade se tornará uma realidade. Se a morte é a maior invenção da vida, tal como disse Steve, citado na epígrafe do editorial, então o que seríamos de nós sem ela?
Vital Cruvinel, São Carlos/SP.

A morte ante o enigma da vida (2)
Um belo artigo, desta vez sobre a vida (publicado também pelo jornal “Zero Hora”, edição de 1º.11.2011). Parabéns a seu autor, editor desse jornal. Nossa cultura teme pensar e falar sobre a morte. No extremo dessa negação, alguns chegam a  rejeitar a assinatura no livro de presença dos velórios, temendo a "chamada" a partir dali.
O artigo, Milton, lembrou bem o que dizia a respeito o nosso amigo Henrique Rodrigues de que morte não é o contrário de vida, que continua...Tua crônica deve ter consolado e esclarecido muitas pessoas, que nesta época, saudosas de seus entes queridos, refletem sobre a morte. Umas resignadas ("Deus sabe o que faz!"), outras inconformadas com a justiça divina ("Por que, meu Deus?!").
Homero Ward da Rosa – Pelotas/RS.

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