Em 22 de maio de 2015, completam-se 130 anos
da desencarnação de um dos maiores gênios da literatura mundial: Victor Hugo,
romancista e poeta francês, cujas convicções espíritas marcaram sua obra e sua
vida.
As
mesas girantes na Ilha de Jersey
No ano de 1857, quando Allan Kardec (1804/1869) lançava, na capital francesa, a primeira
edição de “O Livro dos Espíritos”, seu famoso compatriota, Victor Hugo (1802/1885), não vivia em Paris. Por conta de
divergências políticas com Napoleão III,
então imperador da França, o autor de “Os Miseráveis” se exilara, desde 1852,
na Ilha de Jersey, entre a França e a Inglaterra. Nem por isso, o grande poeta
e romancista francês esteve alheio aos fenômenos paranormais que chamaram a
atenção do Professor Rivail e de cuja investigação nasceria a doutrina
espírita.
Na mesma época em que, em Paris, aconteciam
as sessões com as chamadas mesas girantes e falantes, Victor Hugo, realizava,
em sua casa, naquela ilha britânica, idênticas experiências das quais
resultaram interessantes comunicações mediúnicas atribuídas ao espírito de uma
filha sua, Léopoldine, que havia desencarnado, anos antes, por afogamento, no
rio Sena, e a outras entidades espirituais, entre elas Sócrates, Mollière, William Shakespeare e Dante Alighieri.
Recente atividade cultural do museu “Maison
de Victor Hugo”, de Paris (janeiro de 2013), resgatou esses episódios da
biografia do imortal francês, com a exposição “Entrée de Médiums – Spiritisme
et Art d’Ugo à Breton”, a partir de relatos do também escritor francês André Breton (1896/1966).
As
relações de Victor Hugo com o Espiritismo
Em “El Espiritismo y la Creacion Poetica”
(Ediciones CIMA, Caracas), Jon Aizpúrua
dedica várias páginas à obra de Victor Hugo e suas relações com o espiritismo.
As experiências do escritor com as mesas girantes começaram por sugestão de sua
amiga, a poetisa e autora teatral Delfina
de Girardin, que o visitou em Jersey, em 1853. Dois anos depois, em 1855,
Hugo relataria, em carta, a Madame de Girardin: “As mesas me dizem as coisas mais surpreendentes. Quisera falar à
senhora sobre elas e beijar suas mãos...ou asas! Todo um sistema
cosmogônico sobre o qual eu estive
refletindo e escrito em parte, durante os últimos vinte anos, foram confirmados
pelas mesas e com detalhes magníficos. Vivemos hoje um misterioso horizonte que
muda todas as perspectivas de nosso desterro e pensamos na senhora, a quem
devemos a abertura dessa janela”. Naquele mesmo ano, Delfina de Girardin
desencarnaria em Paris, depois de ter tido encontros com Allan Kardec que,
então, já preparava “O Livro dos Espíritos”. Ela, mais tarde, enviaria do mundo
espiritual, mensagem que integra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
Victor Hugo só regressaria a Paris com a
queda do Império, em 1870, quando Kardec já havia desencarnado (1869), mas,
nesse período, manteve intercâmbio com Camille Flamarion, o famoso astrônomo
francês, membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, fundada por Allan
Kardec. Em seus “Anais Políticos e Literários”, Flamarion deixou escrito: “A
inquebrantável crença na manifestação dos espíritos foi, para o gigante da
literatura do século XIX, um incentivo para a vida, para o trabalho e para o
amor a seus semelhantes”.
O
pensamento espírita de Victor Hugo em frases
• “Todos
os seres são, foram e serão”.
• “A
vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a
junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace.”
• “O
homem semeia hoje a causa, Deus amanhã amadurece o efeito”.
• “Os
mortos são uns invisíveis, e não uns ausentes”.
• “O
homem é uma prisão em que a alma permanece livre”.
• “A
arte é uma ferramenta; os espíritos são os operários”.
• “Digo
que a sepultura que se fecha sobre os mortos abre o firmamento, e que aquilo
que se toma como fim é o começo”.
•
“O berço tem um ontem e a sepultura um amanhã”.
• “Quanto
mais me aproximo do fim, mais escuto em torno de mim as sinfonias imortais dos
mundos que me chamam. Isto é maravilhoso e, contudo, é tão simples”.
• “Quando
me curvar para o túmulo, poderei dizer como tantos outros: meu dia de trabalho
começará de novo amanhã. A sepultura não é um beco sem saída, é uma passagem.
Ela se fecha no crepúsculo, ela se reabre na aurora!”.
Um
gênio autenticamente espírita
Dono de rara genialidade na arte de escrever,
manifestada já em tenra idade, Victor Hugo passou parte da vida buscando
separar sua produção intelectual daquilo que admitia receber do mundo
invisível. Deixou, a propósito, escrito que, por “consciência literária e por
respeito ao próprio fenômeno”, dele se havia isolado. Dizia: “Impus a mim
próprio toda e qualquer mistura em minha inspiração, de modo a conservar minha
obra tal como é, absolutamente minha e pessoal”.
Seus críticos, no entanto, notadamente aqueles
que admitem e analisam sua condição de médium inspirado, não concordam com essa
separação absoluta. Jon Aizpúrua registrou: “Hugo costumava escrever de pé ou
caminhando, declamando os versos, deixando cair as folhas de papel ao solo,
presa de uma exaltação criadora, própria de seu temperamento genial e da
inspiração com que lhe brindavam seus amigos espirituais”.
Com efeito, a mediunidade, vista sob a
perspectiva kardeciana, tem o condão de aproximar e fundir ideias e pensamentos
intercambiados por inteligências encarnadas e desencarnadas. No caso de Victor
Hugo, a presença constante, na mesa mediúnica de Jersey, de humanistas e
amantes da literatura, para lá atraídos, justamente pelas energias criadoras do
famoso escritor nessa mesma direção, produziam a harmonização de formas e
sentimentos por todos compartilhados. Aliás, consignou o escritor argentino
Humberto Mariotti, no livro “Victor Hugo, el Poeta del Más Allá”, que o grande
escritor francês aceitou o espiritismo como “mensagem de Verdade e de Beleza”.
Tais valores ele, naturalmente, cultivou ancorado nos princípios da
imortalidade do espírito e seu infinito progresso no rumo da beleza e da
sabedoria, marcas que se fazem presentes em toda sua obra.
Ao traduzir o livro de Mariotti para o
português, dando à versão o título de “Victor Hugo, Espírita” (disponível em www.viasantos.com/pense), Wilson Garcia
sublinhou que era preciso “colocar a posição espírita de Victor Hugo de modo
incisivo, porque grande parte dos estudiosos e críticos de sua obra escondem
esse aspecto ou torcem o nariz”.
Contribuindo,
modestamente, com esse justo objetivo, e unindo-se ao esforço em prol desse
necessário resgate histórico, CCEPA
Opinião faz este registro, no mês do 130º aniversário da partida para a
dimensão espiritual daquele ilustre compatriota e contemporâneo de Allan
Kardec, de cujas ideias compartilhou com bastante intimidade. (A Redação).
O
Espiritismo e a “Moral Cristã”
“Nenhuma filosofia espiritualista é mais
ventilada, assectária, progressista e racional que o Espiritismo.” (Maurice Herbert Jones, em “Espiritismo: o Pensamento Atual da
CEPA”).
A
palavra moral deriva da expressão latina “mos-mores”, que significa “costume”.
Costumes, sabe-se, nem sempre combinam com a melhor ética ou com aquilo que
Allan Kardec denominou lei natural. Refletindo, em um dado momento, o estágio
evolutivo de indivíduos, povos e civilizações, costumes são constituídos por
fatores diversos, dentre os quais as crenças daqueles que os adotam. Por eles se exterioriza a cultura de uma
pessoa ou de um agrupamento humano.
Em
nosso meio, nos habituamos a utilizar a expressão “moral cristã”, que,
entretanto, é, no mínimo, ambivalente. É verdade que muitos a empregam para
designar os valores éticos pregados por Jesus. Outros, no entanto, e é o caso
das igrejas que, em seu conjunto, formam a cristandade, tomam-na como
expressões mandamentais e regramentos de conduta, resultantes dos dogmas por
elas defendidos.
Precisamente
em nome desse tipo de “moral cristã” da qual se dizem guardiãs as igrejas, por
muito tempo fomentou-se a intolerância religiosa, o combate violento às
chamadas heresias e à liberdade de pensamento, a preservação da submissão do
Estado à Igreja, a perseguição a homossexuais, a minorias raciais, etc. Em fase
ainda recente de nossa história pátria, retardou-se por decênios a legalização
do divórcio, o emprego de preservativos garantidos por uma política laica de
planejamento familiar, assim como muitos outros costumes que a sociedade civil
terminou por adotar, em franca oposição ao retrógrado pensamento religioso, por
tanto tempo dominante. Ainda hoje, as chamadas bancadas cristãs e evangélicas
de nossos Parlamentos são forças conservadoras, sistematicamente em oposição às
tendências progressistas inerentes ao processo de evolução política e social.
Suas posições, sustentam seus integrantes, obedecem aos ditames da “moral
cristã”.
Diante
dessa realidade fática construída pelo cristianismo real, esta expressão,
“moral cristã”, restou claramente definida e com contornos ideológicos muito
bem assimilados pela sociedade. Pouco tem ela ver com o pensamento liberto de
Jesus de Nazaré e com o seu ensino de validade universal, aplicável a todas as
culturas, independente de crença, livre de dogmas e profundamente humanista. Ao
contrário, o perfil construído pela cristandade está fundado em crenças, e sua
história está eivada de episódios que contrariam flagrantemente o ensino real
de Jesus de Nazaré, embora sob o literal respaldo do mítico Jesus Cristo. Hoje
podemos avaliar que entre Jesus de Nazaré, o homem, e Jesus Cristo, a terceira
pessoa da Santíssima Trindade dos cristãos, há contradições e diferenças
fundamentais.
Por
isso, não é adequado ao espiritismo, ao referir-se à conduta inspirada por sua
filosofia libertadora e progressista, usar a expressão “moral cristã”, como o
faz, habitualmente, o chamado “espiritismo cristão e evangélico”, e como vem de
fazer, por exemplo, a União das Sociedades Espíritas de São Paulo – USE – em
documento divulgado como a “Carta de Santos”, onde os espíritas são chamados a
“assumir atitude ética, com base na moral cristã...”.
O
aludido documento com cuja proclamação encerrou-se o 16º Congresso da USE,
realizado em Santos, mereceu, aliás, uma vigorosa crítica postada pelo
combativo jornalista espírita Wilson Garcia em:
http://www.expedienteonline.com.br/carta-de-santos-uma-leitura/.
Os motivos da crítica não são os mesmos da análise semântica e histórica
expressa neste editorial, mas se referem às posturas políticas e ideológicos que,
de acordo com o articulista, não se coadunam com a “tradição dialógica” daquela
instituição. O arguto comunicador que, a propósito, tem, em seu currículo, uma
longa folha de serviços prestados à USE, lança em sua minuciosa análise àquele
documento esta instigante pergunta: “É ele resposta ao laicismo do grupo de
Santos e, por extensão, à Cepa, seus integrantes e diretores?”.
A pergunta, vinda de um profundo conhecedor
da história do movimento espírita paulista, deixa clara a perplexidade de seu
autor que entrevê, pela leitura do documento, mudanças no perfil institucional
daquele órgão unificador. Se afirmativa a resposta à indagação lançada, nós
todos, que estamos engajados nesse esforço de fazer do movimento espírita uma
expressão generosa de diálogo e de alteridade, só temos a lamentar. Porque, de nossa parte, seguimos firmes no
objetivo de expungir do meio espírita todas as expressões, manifestações e
atitudes que neguem seu caráter humanista, progressista, ético, assectário,
laico e livre-pensador.
O dia
em que venci a máquina
A fatura que eu tinha para pagar vencera no
dia 25. Mas 25 havia caído no sábado. Na segunda-feira, 27, dirigi-me ao
terminal bancário. Coloquei o código de barras sob as luzinhas da máquina para
a leitura, e a telinha acusou: título vencido, dirija-se ao caixa do banco para
fazer o pagamento.
Não era possível! Digitei novamente minha
senha. Entrei, de novo, na área de pagamento de títulos e, em vez de colocar
25, no espaço da data de vencimento, como havia feito antes, escrevi 27.
Pronto! Agora foi possível o pagamento.
Inteligência
artificial?
Foi necessário usar um pequeno e inteligente
estratagema para enganar o computador e fazê-lo permitir que eu pagasse a
conta. Tudo porque alguém, encarregado da programação da máquina eletrônica, se
esquecera de informar ao sistema que 25 não era dia útil e, logo, os títulos
vencidos naquela data teriam seu pagamento prorrogado para a segunda-feira.
O episódio do cotidiano me levou a pensar:
fala-se tanto em inteligência artificial; que as máquinas vão dominar o mundo e
delas nos tornaremos dependentes ou até vítimas. Bobagem! Por mais fantásticas
que sejam essas máquinas, elas nunca pensarão e sempre dependerão de nós, que,
inteligentemente, as programamos e as utilizamos.
Os
simpáticos robozinhos japoneses
É certo que, sabendo explorá-las
convenientemente, o ser humano, com o auxílio dessas fabulosas ferramentas, vai
abrindo caminhos fantásticos, inimagináveis há bem pouco tempo. Dias desses, vi
na televisão que algumas empresas japonesas já não usam recepcionistas humanas.
Simpáticos robozinhos, com aparência e voz feminina, dão todas as informações
solicitadas por quem chega à recepção. Todas? Bem, só aquelas que a experiência
e a observação humana, de muitos anos, conseguiram detectar como sendo as
buscadas pela clientela e que foram implantadas na memória das máquinas. Novas
demandas exigirão novas informações a serem adicionadas no “cérebro” dos
robozinhos recepcionistas. Quem as adicionará que não o ser humano?
Espírito,
princípio inteligente do universo
O Livro dos Espíritos, na questão 23, define
o espírito como “princípio inteligente do universo”. Na primeira quadra deste
Século 21, a ciência segue presa ao dogma de que a inteligência é produto do
cérebro humano. Nasce dessa concepção a utopia de se construir a inteligência
artificial, aquela que, dizem, há de ser produzida por cérebros também
artificiais. Nesse cenário, o grande desafio dos espiritualistas continua sendo
aquele corajosamente enfrentado por Allan Kardec, no Século 19: a proposição de
um novo paradigma do conhecimento que tenha por realidade fundamental o espírito
imortal.
Toda a problemática espírita está contida no
desafio acima. Falhando nesse objetivo, que não é só do espiritismo e que
somente poderá ser alcançado mediante a interlocução com incipientes, mas
respeitáveis, segmentos com disposição e coragem de fugir do paradigma
materialista, a grande proposta de Kardec terá falhado. Poderá subsistir apenas
como uma religião. Uma boa religião, capaz de dar consolo, mas inapta a
provocar transformações. E é delas que o homem e o mundo estão, de fato,
carentes.
Sobre o
livre-pensar
Eugenio Lara - arquiteto e designer gráfico, é editor
do site PENSE - Pensamento Social Espírita e autor do livro “Breve Ensaio Sobre
o Humanismo Espírita”. E-mail: eugenlara@hotmail.com/
É muito comum em depoimentos, artigos e
eventos promovidos pela Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA), o uso da
expressão livre-pensar para designar a atitude que os cepeanos têm diante do
Espiritismo. Faz parte, inclusive, do slogan da entidade: kardecista,
progressista e livre-pensadora, como
lemos a seguir no texto extraído do site oficial da confederação:
“Livre-pensadora porque convida seus
integrantes e as pessoas em geral a gozarem, em sua plenitude, do direito ao
livre exame de todas as ideias, sem qualquer dogmatismo, e ao aproveitamento de
toda reflexão, com critérios e métodos dentro e fora do Espiritismo.
“Liberdade de pensamento, de expressão e
crítica são condições necessárias para um espírita autêntico poder se
expressar. São direitos irrenunciáveis que a CEPA garante a todas as pessoas a
ela vinculadas.” [www.cepainfo.org]
Mas o que é esse livre-pensar e como ele se
situa no contexto da cultura espírita? Qual o seu significado para a filosofia
espírita?
TRIUNFO DA RAZÃO
O livre-pensar ressurge de modo triunfante no
final da Idade Média, com o advento da modernidade, inaugurada por grandes
pensadores e cientistas, como Copérnico, Galileu, Kepler, Descartes, Bacon,
pelos humanistas do Quattrocento, os renascentistas e, sobretudo, pelos iluministas
do Século das Luzes.
Foi o Humanismo, filho dileto da Modernidade,
o grande responsável pela mudança de foco e de atitude frente às questões do
homem e do mundo. No lugar da fé cega, a razão. O livre-pensar, ao invés do
dogmatismo. A Filosofia em oposição à Teologia. O ser humano como a razão de
ser de qualquer atividade humana, o centro de tudo, mudando-se assim o eixo de
análise, o eixo de importância na compreensão da realidade humana. Tal modo de
pensar coincide com o fim da Idade Média, do feudalismo e o triunfo da
burguesia. Os tempos são outros...
O livre-pensamento se desenvolve no seio da
nascente modernidade como parte de uma atitude universalista de independência,
autonomia e autodeterminação diante da realidade, em oposição a uma concepção
dogmática e teológica que dominou a filosofia e o saber durante séculos. O
livre-pensar é humanista e anticlerical por natureza porque significa uma nova
atitude diante do homem e do mundo, amparada pela razão e a experiência, pelo
reto pensar. A razão é a luz que ilumina a consciência e a liberta das trevas
da ignorância religiosa, cavando assim um fosso profundo entre a ciência e a
religião.
KARDEC E O LIVRE-PENSAR
De formação humanista e iluminista, o
pedagogo Denizard Rivail, impregnado pelo espírito científico de seu tempo (o
positivismo), estruturou uma filosofia espiritualista onde a observação, o
livre exame, a razão, numa palavra, o livre-pensar, são componentes
fundamentais em seu processo de construção. É interessante observar o que Allan
Kardec tem a dizer sobre o livre-pensar.
Em um artigo sobre o avanço do movimento
espírita francês, Kardec faz uma interessante análise das duas correntes
antagônicas, o espiritualismo e o materialismo, “que dividem a sociedade
atual”. As nuances dessas duas correntes são classificadas pelo fundador do
Espiritismo em 15 categorias. Os indiferentes, panteístas, deístas, crentes
progressistas etc. são algumas das categorias. O que nos interessa é a 14ª
categoria, a dos livres-pensadores:
“14º – Os livres-pensadores,
nova denominação pela qual se designam os que não se sujeitam à opinião de
ninguém em matéria de religião e de espiritualidade, que não se julgam
atrelados pelo culto em que o nascimento os colocou sem o seu consentimento,
nem obrigados à observação de práticas religiosas quaisquer. Esta qualificação
não especifica nenhuma crença determinada; pode aplicar-se a todas as nuanças
do espiritualismo racional, tanto quanto à mais absoluta incredulidade. Toda
crença eclética pertence ao livre-pensamento; todo homem que não se guia pela
fé cega é, por isto mesmo, livre-pensador. A
este título os espíritas também são livres-pensadores.”
Kardec faz uma ressalva e descarta o
sectarismo, os “radicais do livre-pensamento”, que deveriam ser incluídos na
categoria dos materialistas por sistema, denominação equivalente ao cético
agnóstico e sistemático, portanto fanático como qualquer religioso
fundamentalista:
“Mas para os que podem ser chamados os
radicais do livre-pensamento, esta designação tem uma acepção mais restrita e,
a bem dizer, exclusiva; para estes, ser livre-pensador não é apenas crer no que
vê: é não crer em nada; é libertar-se de todo freio, mesmo do temor de Deus e
do futuro; a espiritualidade é um estorvo e não a querem. Sob este símbolo da
emancipação intelectual, procuram dissimular o que a qualidade de materialista
e de ateu tem de repulsivo para a opinião das massas e, coisa singular, é em
nome desse símbolo, que parece ser o da tolerância por todas as opiniões, que
atiram pedra a quem quer que não pense como eles. Há, pois, uma distinção
essencial a fazer entre os que se dizem livres-pensadores,
como entre os que se dizem filósofos.
Eles se dividem naturalmente em: Livres-pensadores incrédulos, que entram na 5ª
categoria [os materialistas por sistema]; e livres-pensadores crentes, que
pertencem a todas as nuanças do espiritualismo racional.” (Allan Kardec - Olhar
Retrospectivo Sobre o Movimento Espírita - Revista Espírita (FEB), janeiro
de 1867, grifo meu).
O DESEJO DE KARDEC
O que interessa mesmo ressaltar é a visão de
Kardec acerca do livre-pensar, desenvolvida de forma didática, incisiva e bem
sintética, captando e expondo o espírito da Doutrina Espírita: Não se sujeitar
a nenhuma opinião em matéria de religião e de espiritualidade ou de alguma
prática religiosa qualquer. Ser eclético, porque tal atitude corresponde ao
livre-pensamento. Não se guiar pela fé cega. Segundo Kardec, “os espíritas
também são livres-pensadores”.
Ao admitir o livre-pensar como a atitude
autêntica e necessária diante das ideias, a CEPA se alinha ao desejo de Allan
Kardec: de fazer do Espiritismo um movimento onde a liberdade de consciência
seja uma de suas marcas registradas, em suma, um movimento de
livres-pensadores.
Salomão abriu Ciclo de Estudos em Osório
O Diretor do Centro Cultural Espírita de
Porto Alegre, Salomão Jacob Benchaya,
proferiu a palestra de inauguração do Ciclo de Estudos sobre a Obra
Kardequiana”, promovida pela Sociedade Espírita Amor e Caridade, de Osório/RS,
no último dia 21 de abril. Abordando o tema “Reflexões acerca da Natureza,
Caráter e Objetivos do Espiritismo”, Benchaya enfocou, entre outros pontos,
assuntos polêmicos, enfatizando, por exemplo, manifestações de Allan Kardec que
sustentavam não ser o espiritismo uma religião. Antes da palestra, houve uma
mesa redonda da qual participaram colaboradores da entidade anfitriã e um grupo
de 15 integrantes do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre que acompanharam
Salomão nessa visita à Sociedade Espírita Amor e Caridade.
Na foto, o momento em que o presidente da
instituição osoriense, Jerri Almeida,
fazia a apresentação de Salomão. Ao apresentá-lo, Jerri reportou-se ao ano de
1978, quando Salomão, em conjunto com Maurice Herbert Jones, então presidente
da FERGS, lançava no Rio Grande do Sul a Campanha de Estudo Sistematizado do
Espiritismo, “um marco na história do espiritismo no Brasil”, segundo o
dirigente da S.E. Amor e Caridade.
“Chico,
Você é Kardec?”, em debate do CCEPA
A caminho de Pelotas, onde fez uma palestra
pública e coordenou um seminário, promovidos pela Sociedade Espírita Casa da
Prece, o escritor espírita Wilson Garcia
visitou o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, na tarde de 10 de abril
último. Em encontro com estudiosos da doutrina espírita, no CCEPA, Wilson
ocupou-se de considerações sobre vários temas de seus últimos livros, e,
especialmente, a respeito da polêmica acerca da possível reencarnação de Allan
Kardec na personalidade de Chico Xavier. A editora EME acaba de relançar o
livro de Wilson Garcia “Chico, Você é Kardec?”, ampliando o debate do tema, com
depoimentos de importantes personalidades do espiritismo brasileiro. A obra
está à venda no CCEPA, ao preço de 25 reais.
Em Pelotas, onde esteve dias 11 e 12 de
abril, Wilson Garcia fez palestra sobre o mesmo tema discutido no CCEPA e
coordenou o seminário com a temática “Os Espíritos falam. Você ouve?”.
Na foto, um registro da presença de Wilson no
CCEPA, juntamente com Maurice Jones, Salomão Benhaya e Milton Medran.
Espiritualidade e ateísmo
Interessante a matéria sobre Espiritualidade
e Ateísmo (CCEPA Opinião 228). Não conhecia esse autor. Baixei o "Tratado
das grandes Virtudes" e vou ler. Caso seja bom vou adquirir o "O
Espírito do Ateísmo".
Na definição que tenho do ateísmo não
caberiam especulações de natureza espiritualista, mas, receptivo a novas
propostas e principalmente àquelas que sejam próximas às minhas convicções
atuais, sinto prazer em conhecer e quem sabe aderir.
Aldo Pires -
São José dos Campos - SP. (manifestação postada na lista de discussão da CEPA,
na Internet)
Da
religião ao laicismo
Li o livro de Salomão Jacob Benchaya “Da Religião Espírita ao Laicismo – A
Trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre”, e, então, descobri,
surpreso, o que havia acontecido com a antiga SELC, que frequentei quando
morava em Porto Alegre. Muitas vezes, penso que poderia haver um meio termo
entre a busca pelo conhecimento e a prática da caridade, digamos assim. Entendo
a escolha do CCEPA e me identifico com ela, de certa forma. Ela reflete uma postura
desvinculada de ritos e crenças, que norteavam meus anseios de adolescente,
quando conheci o Espiritismo. Digo “de certa forma”, porque me sinto hoje em
uma espécie de limbo existencial. Acabei por me afastar das casas espíritas e,
no fundo, gostaria de empreender alguma tarefa mais significativa do ponto de
vista da espiritualidade.
Renato Luis Petry – Brasília/DF.
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