segunda-feira, 14 de setembro de 2015

OPINIÃO - ANO XXI - Nº 233 - SETEMBRO 2015

Memória: 150 anos de Espiritismo no Brasil

O Primeiro Centro Espírita
A data de 17 de setembro de1865 tornou-se marco inicial do espiritismo no Brasil, com a fundação do Grupo Familiar Espírita, em Salvador, Bahia.

Espiritismo à moda brasileira
Luiz Olympio Telles de Menezes
A fundação do primeiro centro espírita no Brasil deveu-se à iniciativa do jornalista e intelectual baiano Luiz Olympio Telles de Menezes (1828/1893). De formação católica, e defendendo expressamente que “Espiritismo e Catolicismo são a mesma Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo” e que o espiritismo seria “o tradutor fiel, pelos enviados de Deus, das Doutrinas do Evangelho” (carta ao arcebispo de Salvador, Manoel Joaquim da Silveira), Luiz Olympio fundou, na capital baiana, em 17.9.1865, o Grupo Familiar Espírita.
Luiz Olympio, que era professor de latim e versado em francês, conhecera as obras de Allan Kardec no original e fez delas uma interpretação adaptada às suas crenças pessoais de católico militante. Em 1869, o intelectual baiano protagonizaria outro acontecimento de pioneirismo para a história do espiritismo no Brasil, lançando seu primeiro jornal espírita, “O Écho d’Alêm-Túmulo”. A publicação mereceu, inclusive, registro na Revista Espírita, em novembro daquele ano. Ali, Kardec destacou a coragem de Luiz Olympio por lançar “num país refratário como o Brasil”, onde o catolicismo era religião oficial, uma publicação de teor espírita. Classificou como “bastante satisfatória” a forma como o intelectual baiano tratou da questão da comunicação dos espíritos. Ao final de seu comentário, entretanto, aduziu Kardec: “Outras passagens, referentes mais especialmente à questão religiosa, dão-nos ocasião para algumas reflexões críticas.”.

A primeira comunicação
O caráter marcadamente cristão e católico imprimido por Luiz Olympio Telles de Menezes ao centro por ele fundado, como não poderia deixar de ser, atraiu ao Grupo Familiar Espírita espíritos afinados com suas respectivas crenças. Assim, na própria sessão inaugural das atividades do núcleo, uma entidade espiritual que se identificou como Anjo de Deus, ditou mensagem impregnada de valores teológicos de nítido sentido católico. A mensagem psicográfica falava em “redenção” das almas, antes condenadas pelo ”pecado”, e aludia à “salvação” de todos os espíritos que se arrependessem e praticassem o bem “pelo amor de Deus e de sua Mãe, a Virgem Santíssima, sofrendo os males da vida corpórea com resignação e paciência.”.
A íntegra dessa mensagem pode ser vista em:

No centenário, um carimbo postal
Há 50 anos, quando do centenário de fundação do Grupo Familiar do Espiritismo, por iniciativa da Federação Espírita Brasileira, Telles de Menezes foi homenageado pelo então Departamento de Correios e Telégrafos, com um carimbo postal, relembrando sua atuação pioneira na implantação do espiritismo no Brasil. O carimbo foi aplicado na cidade de Salvador, em 17 de setembro de 1965.





Anjos e homens
Na historia das religiões, anjos são, comumente, os portadores das revelações vindas dos céus para a Terra. Antes deles, eram as próprias divindades que se comunicavam com os homens. As religiões monoteístas, no entanto, terminaram por colocar Deus em um trono cercado de aparato burocrático de complexidade e suntuosidade tais que a Ele já não mais competiria realizar esse intercâmbio. Que ficasse isso a cargo dos anjos, seus porta-vozes devidamente credenciados a falar com os homens!
Nem Deus, nem anjos - proclamaria, corajosamente, em seu tempo, Allan Kardec, distanciando-se das religiões e dessacralizando o que chamaria de comunicação mediúnica. A proposta era revolucionária. Ao invés de anjos trazendo revelações dos céus à Terra, homens – encarnados ou desencarnados, mas nada mais que homens – aprimorariam o diálogo entre as múltiplas dimensões da vida nas quais se movimenta o espírito. A racionalidade humana, atributo divino presente no espírito, daria conta dessa tarefa.
Pena que nem todos os espíritas entenderam assim. Para dar legitimidade a uma comunicação espiritual realmente “superior” teria ela que ser trazida e sustentada por um anjo.
Do anjo de Deus ao anjo Ismael, foi-se, dessa forma, construindo a “religião espírita”, respeitável, sem dúvida; compatível, talvez, com a índole de um povo de fortes tradições católicas; um passo a frente, com certeza, na compreensão dos ensinos de Jesus... Mas distante da concepção filosófica e humanista do pedagogo francês, autor de O Livro dos Espíritos.
Decorridos 150 anos desde que o espiritismo aqui aportou com jeito e verbo angelicais, o grande desafio é humanizá-lo. É reinseri-lo ao âmbito da lei natural de onde a sacralidade e a sobrenaturalidade religiosas insistem em arrancá-lo. É fazer dele efetivo meio de comunicação entre a humanidade encarnada e a humanidade desencarnada, e, mais do que isso, instrumento eficiente de dignificação da vida humana, em harmonia e cooperação com os movimentos dispostos a produzir conhecimento e gerar felicidade, nesta e em outras dimensões. 
É tempo, enfim, de construirmos um espiritismo autenticamente humanista. (A Redação)



O bem sempre triunfa
“Há quedas que servem de partida para escaladas mais altas”.Shakespeare
Ao oferecer denúncia contra dois importantes parlamentares federais, no último mês de agosto, o Procurador-Geral da República, a título de epígrafe à peça acusatória, transcreveu esta sentença de Mahatma Gandhi:
“Quando me desespero, eu me lembro de que, durante toda a história, o caminho da verdade e do amor sempre ganharam. Têm existido tiranos e assassinos, e por um tempo eles parecem invencíveis, mas no final sempre caem. Pense nisto: sempre.”.
Tempos de crise ética, como este que o Brasil vive, são mesmo propícios à reflexão sugerida pelo eminente chefe do Ministério Público Federal. Allan Kardec e as entidades espirituais por ele entrevistadas em O Livro dos Espíritos ofereceram semelhantes argumentos no sentido de que o amor e a verdade são valores sempre aptos a triunfar sobre o ódio, a mentira e todos aqueles ingredientes de que se valem os usurpadores dos bens da vida em prejuízo da sociedade. Tudo será uma questão de tempo e de compreensão de que o mal causa sofrimento e o bem produz felicidade.
 Entretanto, advertiram os espíritos ser necessário “que o mal chegue ao excesso para que se compreenda a necessidade do bem e das reformas” (O.L.E. questão 784). Na pergunta, Kardec buscara interpretar a angústia dos justos ao presenciarem o aparente triunfo dos réprobos, em um mundo que, paradoxalmente, os espíritos afirmavam ser regido por uma lei de progresso.
Ocorre que o progresso moral, mesmo sendo inexorável na caminhada de um indivíduo ou de uma coletividade, não se dá de forma linear. A prática do bem e da justiça, garantias da prosperidade e da paz, são conquistas paulatinas do espírito, e nem todos chegam a ela por idênticos trajetos. Segundo Confúcio, três são os caminhos pelos quais se chega à virtude: “o da reflexão, que é o mais nobre; o da imitação, que é o mais fácil; e o da experiência, que é o mais amargo”.
O espiritismo abona a observação do pensador chinês da Antiguidade. A história tem demonstrado que, via de regra, os avanços éticos dos povos, resultam da última das três alternativas: a experiência, a mais amarga delas, mas, tanto quanto as outras, eficiente.
Teria o Brasil, na quadra em que vivemos, chegado ao “excesso do mal”, apontado pelos espíritos, como estágio anterior à conquista “do bem e das reformas”?
É possível, sim, que um ciclo esteja se fechando com a explosão de tantos acontecimentos com conotações políticas, criminais e sociais, a repercutirem fortemente também no campo moral. A inusual citação do Procurador-Geral da República, em peça habitualmente revestida apenas de formulações técnico-jurídicas, parece sinalizar isso. Aquela autoridade, ao expressar sua fé no triunfo da honestidade sobre a vilania, da verdade sobre a mentira, da transparência sobre a hipocrisia, está propondo a institucionalização do bem, como valor fundamental de toda e qualquer atividade pública ou privada.
Há que se reconhecer a existência de uma cultura de corrupção que não se duvide pudesse também envolver a cada um de nós, caso estivéssemos no ambiente e na posição de alguns dos investigados. Por isso, tanto quanto os formalmente denunciados, aos quais costumamos atribuir a culpa pela totalidade dos males da nação, cabe-nos igualmente purgar os erros coletivamente construídos ou imprudentemente assumidos e que acabamos por assimilar como procedimentos normais.
Quase sempre nos tem faltado a capacidade de reflexão ou a disposição de nos mirarmos nos bons exemplos, caminhos preferenciais na aquisição das virtudes, segundo Confúcio. Que, pelo menos, pois, saibamos transformar o amargor da experiência em salutar medicamento, capaz de devolver ao enfermiço organismo político-social de que somos células a revitalização e o renascimento. É tempo de se ensejar o advento de um novo ciclo de crescimento, firmemente ancorado em padrões éticos que já somos capazes de sonhar, mas ainda não introjectados em nossa cultura.
Teria o Brasil chegado ao “excesso do mal” que se antecede à conquista “do bem e das reformas”?






Da teoria à prática
Terminada a palestra no centro espírita onde eu fora convidado a falar, uma senhora aproximou-se de mim, abraçou-me afetuosamente e disse: “Muito obrigada. O senhor falou exatamente o que eu estava precisando ouvir”. Agradeci-lhe e respondi: “Eu também estava precisando escutar. Foi para mim próprio que falei”.
É assim mesmo. Tem coisas na vida da gente que se é capaz de teorizar com razoáveis precisão e lógica, com bom potencial persuasivo, mas quando se trata de pôr em prática, vê-se que agir não é assim tão fácil como fora fácil dizer.
Mesmo assim, e ainda que a autocrítica nos faça reconhecermo-nos portadores de ranços de hipocrisia, convém repetirmos exaustivamente, muito mais para nós mesmos do que para os outros, a excelência daqueles valores teóricos que já fomos capazes de racionalmente aceitar e ainda não conseguimos exercitar. De tanto repetir a teoria, um dia seremos levados à efetiva prática.

Conhecer para transformar-se
Talvez o grande desafio do processo evolutivo no campo da ética individual resida no salto de qualidade exigível daquele que compreendeu, mas ainda não conseguiu agir de acordo com esse entendimento.
No meio espírita, cita-se com bastante frequência o conceito de Allan Kardec segundo o qual o verdadeiro espírita deverá ser reconhecido “por sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações”.
Diferentemente, entretanto, das religiões, que subordinam a transformação moral à fé, a proposta espírita de melhoria ética individual está fundada no conhecimento. Conhecer aquilo que a filosofia espírita chama de “lei natural” é o caminho mais seguro, embora nem sempre tão curto, para atingir padrões ético-morais compatíveis com o desenvolvimento intelectual alcançado pelo ser humano.

Conhecer para transformar o mundo
A transformação pela fé produz santos. A transformação pelo conhecimento da lei natural e de suas consequências habilita homens e mulheres contribuir com o progresso da humanidade.
Em “O Livro dos Espíritos”, as entidades entrevistadas por Kardec estabeleceram uma sutil diferença entre o conhecimento da lei natural e sua compreensão (questão 619). Conhecê-la, disseram, todos podem. Mas nem todos a compreendem. A mim parece que a compreensão está ligada justamente a este fator: capacidade de avaliar as consequências da não observância da lei natural, o que estimula o esforço para debelar as chamadas “más inclinações”. E isto caracterizaria o verdadeiro espírita.
Por isso mesmo, acho graça quando alguém diz: eu estou me esforçando para ser espírita, mas ainda não sou. Quem assim fala, julga que para ser espírita é preciso ser santo. Não é assim. O espiritismo não foi feito para os santos, mas para os homens: homens imperfeitos que querem conhecer, compreender, transformar-se e, com sua transformação, contribuir com as mudanças que deseja do mundo.

O caráter consolador do espiritismo
Compreender significa também aceitar nossas próprias dificuldades no processo de mudança. Aí é que entra a importância da reencarnação, como suporte fundamental da filosofia espírita.
A ideia da reencarnação, como instrumento indispensável à evolução e ao progresso, além de nos tornar mais tolerantes com os outros, nos faz, igualmente, mais tolerantes conosco mesmos.
É reconfortante a convicção de que aquelas metas que desejo atingir e, no entanto, não consigo durante esta experiência reencarnatória, poderei alcançá-las numa próxima etapa.
Nesse sentido, o espiritismo é, de fato, uma doutrina consoladora. Ou seja: a um espírito incomodado por suas falhas e defeitos nada consola mais do que poder dizer a si mesmo: Tranquiliza-te, logo ali adiante estarás livre disso!



O espiritismo e sua 
essência pedagógica

Jerri AlmeidaProfessor; autor, entre outros, do livro: “Kardec e a Revolução na fé”.

“O Espiritismo prende-se a todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da Moral; é um campo imenso que não pode ser percorrido em algumas horas”. (Allan Kardec – “O Que é o Espiritismo”)

Ao apresentar, em 1857, a primeira edição de O Livro dos Espíritos, e ao longo do século XIX, o conjunto de sua obra, Allan Kardec desvelou um novo paradigma conceitual e filosófico para compreendermos um pouco melhor, a complexa dimensão do Ser.
O inquietante problema do futuro do Ser, com seus possíveis castigos e punições eternas, ou com sua consagração ao eterno ócio serviu para atemorizar ou tornar céticos os indivíduos: “Outra razão que amarra às coisas terrenas até mesmo as pessoas que acreditam firmemente na vida futura liga-se à impressão que conservam de ensinamentos recebidos na infância. O quadro apresentado pela religião, a esse respeito, temos de convir que não é muito sedutor nem consolador.” (Revista Espírita/1865).
O espiritismo representou uma verdadeira ruptura epistemológica tanto em relação aos mitos ancestrais das culturas agrárias, como com o discurso culpabilizador das teologias do medo. Kardec tem a coragem do investigador e a competência do pedagogo para examinar comparativamente os ensinos de alguns sistemas teológicos, com o espiritismo nascente.
Homem aberto ao diálogo, Kardec, por vezes, lembrou que: “As ideias falsas, postas em discussão mostram seu lado fraco e se apagam ante o poder da lógica.” (Idem)  Assinala, ainda, que o critério de análise para a aceitação de um conhecimento, dito espírita, está no controle do ensino universal dos espíritos.
Na prática, significa que nenhuma verdade aparece isoladamente. A análise do conteúdo e significado das manifestações mediúnicas, por exemplo foi realizada por ele através de diferentes médiuns em diferentes localidades. Tais manifestações, antes de serem aceitas como verdadeiras, eram submetidas a uma análise comparativa para que se evidenciasse ou não, o consenso e o caráter de universalidade do ensino. Kardec, utilizando-se de diferentes médiuns, propunha-lhes temas pertinentes a certos problemas filosóficos, científicos e morais, com o objetivo de colher esclarecimentos ou ensinamentos compatíveis com a natureza dos assuntos investigados. Por isso, sua ênfase na “observação” e “dedução dos fatos”, submetidos ao critério da “concordância” ou da “universalidade do ensino” para, assim, serem aceitos.
Há, naturalmente, uma busca incessante de conhecimentos e reflexões, iniciadas em O Livro dos Espíritos e que não para com ele, nem mesmo o esgota em seu potencial doutrinário. Isso oferece ao conjunto da obra kardequiana uma importante organicidade e convida ao estudo integrado de seus textos, de forma a evitarmos a fragmentação da teoria.
O espiritismo retifica todas as ideias equivocadas, construídas ao longo da história humana, sobre o futuro da alma, o céu, o inferno, as penas e as recompensas. Demonstra, tanto pelas comunicações mediúnicas, balizadas pelo método da concordância universal, como pelo viés da razão e da lógica, a impossibilidade das penas eternas e dos demônios, numa palavra: “descobre-nos a vida futura e no-la mostra racional e conforme à justiça de Deus”.(Idem)  Abre um novo campo à educação, numa perspectiva de pensarmos o presente e o futuro com menos temor, com mais lucidez diante de nossas possibilidades de ação e aprendizado.
Dissipando velhas ideias, Kardec asseverou: “...uma ciência nova, que dá tais resultados em menos de dez anos, não é acusada de nulidade, porque toca em todas as questões vitais da humanidade e traz aos conhecimentos humanos um contingente que não é para desdenhar.” (Idem) O espiritismo prende-se, como afirmou o insigne pedagogo, a todos os ramos da filosofia, da metafísica, da psicologia, da moral, e poderemos acrescentar, também, da educação.
A rigor, compreendemos que a doutrina espírita, por sua natureza dinâmica, racional e ética, é capaz de formular uma educação profunda, capaz de estimular uma nova concepção do homem e da vida, posto que depositária de uma ordem de ideias essencialmente humanista. Portanto, não seria demais afirmarmos que Kardec, na sua condição de pedagogo, imprimiu no espiritismo uma essência pedagógica com dimensões muito amplas.
Discutiu, por vezes, o impacto dessas novas ideias na formação infantil.

Ele (o espiritismo) já prova sua eficácia pela maneira mais racional pela qual são educadas as crianças nas famílias verdadeiramente espíritas. Os novos horizontes que abre o Espiritismo fazem ver as coisas de modo bem diverso; sendo o seu objetivo o progresso moral da Humanidade, forçosamente deverá projetar luz sobre a grave questão da educação moral, fonte primeira da moralização das massas. (Revista Espírita – fev/1864).

 A teoria espírita lançando significativos esclarecimentos sobre o mistério da existência agrega, inevitavelmente, novos elementos na estrutura familiar, especialmente na educação de pais e filhos. A dimensão educacional do espiritismo, segundo Kardec, teria efeitos na composição de novos elementos culturais através das gerações. Não se trata apenas de limitarmos os efeitos dessa filosofia ao aspecto moral, mas de ampliarmos tais efeitos para o universo da própria cultura. 
Desde a infância, o ser começa a absorver a herança cultural que assegura sua formação e orientação ao longo do tempo. Quando essa herança é limitada ao pensamento materialista ou aos elementos mítico-religiosos, ela fecha o sujeito para voos mais amplos de compreensão e inserção mais plena na vida. Nesse sentido, o espiritismo, em sua perspectiva educacional, abre a cultura para os aspectos mais profundos da identidade espiritual e para o aperfeiçoamento integral do Ser.
Assim como, no dizer do sociólogo francês Edgar Morin, o patrimônio hereditário do indivíduo está inscrito no código genético, o patrimônio cultural está inscrito, primeiro, na memória (individual e coletiva) e, depois, na cultura formal (leis, literatura, artes, religião, educação, etc). Segundo Morin, a cultura é fechada e, ao mesmo tempo, aberta, pois enquanto o dogmatismo do pensamento enclausura o conhecimento, o dinamismo cultural o abre para novas possibilidades.
Nesse sentido, percebemos uma valiosa contribuição do espiritismo no campo educacional do espírito humano, abrindo a cultura para novas possibilidades de ver o mundo num contínuo dinamismo conceitual. Dessa ação pedagógica profunda (não formal), emergem novos significados sobre as leis da natureza, a felicidade humana, a morte, o complexo familiar, os conflitos e sofrimentos humanos, individuais e coletivos. A essência pedagógica do espiritismo, sem nenhuma pretensão proselitista ou salvacionista, estabelece uma ação educativa no momento em que nos desafia para uma mudança de percepção sobre nós mesmos, nos oferecendo horizontes mais amplos de compreensão sobre a admirável estrutura das leis naturais e morais da vida, garantidoras de felicidade e paz.





O que pensam os espíritas sobre o espiritismo
O orador e pesquisador espírita Ivan Franzolim (São Paulo) acaba de divulgar o resultado de pesquisa por ele realizada, entre espíritas, sobre alguns aspectos doutrinários a respeito dos quais pairam divergências.
Ouvido por CCEPA Opinião, Franzolim, que é pós graduado em Marketing e Comunicação, informou que, entre os pesquisados, 37% “não concordam com a doutrina espírita em alguns pontos ou vários”.
Acerca de alguns pontos polêmicos, bastante discutidos no Brasil, a pesquisa traz resultados até certo ponto surpreendentes. Por exemplo: mais da metade dos espíritas pesquisados (57%) não conhecem a tese de Roustaing sobre o corpo fluídico de Jesus. A tese, no entanto, é historicamente defendida pela mais importante instituição espírita do país, a FEB, e já foi contestada por ilustres pensadores espíritas, por sua discordância com a proposta kardeciana. Também contrariamente à posição da Federação Espírita Brasileira, 30,3% dos entrevistados afirmaram que o espiritismo não é religião, possuindo, no entanto, consequências morais.
Interpretando a questão da lei de causa e efeito, 59,4% dos pesquisados entenderam que as pessoas terão de passar por idênticos sofrimentos que impuseram a outros.
Jesus teve uma evolução reta, sem grandes erros para 42,3% dos espíritas, somando com a resposta “Não Sei” o total chega a 63,5%. Jesus foi o "Espírito de Verdade" que auxiliou Kardec para 49,1%, somando com a alternativa “Não Sei” o alcança 77,5%. Em ambas as questões o sexo feminino tem um indicador maior de aceitação do que o masculino. Quem tem a escolaridade de Ensino Fundamental e Médio registrou maior aceitação do que quem estudou o Ensino Superior ou acima
Sobre ser o Brasil a “Pátria do Evangelho” e o “Coração do Mundo”, 73,3% dos espíritas ouvidos concordam parcial ou totalmente com essa afirmação. Mas, segundo Franzolim, “quanto maior é o grau de estudo do pesquisado, menor a aceitação dessa afirmação”.
A pesquisa foi realizada de forma independente, em formulário eletrônico com 40 questões e distribuída pela Internet. Foram recebidas 1204 respostas válidas de 23 estados e 232 cidades do Brasil. Estatisticamente, a amostra permite tirar conclusões do universo de 2% de espíritas segundo o Censo 2010. O leitor poderá ver a pesquisa na íntegra no link: http://franzolim.blogspot.com.br/.

 Milagres – uma interpretação espírita
   Registramos o recebimento de um exemplar do livro “Milagre – fato natural ou sobrenatural?”, do escritor paranaense José Lázaro Boberg. A obra, lançada pela Editora EME, fundamentada em conceitos de Allan Kardec, especialmente extraídos do livro “A Gênese” discorre sobre a imutabilidade das leis de Deus, demonstrando que fatos comumente tidos como milagres são resultado de mudanças de comportamento e da vontade ativa, capazes de verdadeiros prodígios, inclusive curas.
O novo livro de Boberg está à venda na livraria do CCEPA.







Saudação e saudade
Juntamente com o cheque para quitar minha assinatura de CCEPA Opinião, esse valoroso jornal espírita, cumprimento-os pelo trabalho que realizam. Leio-o sempre com muito carinho e, frequentemente, divulgo temas que me parecem mais relevantes.
Aos companheiros de ideal, peço a compreensão por já não poder estar junto a todos, nesta fase de minha vida quando me aproximo dos 80 anos. Recordo sempre, entretanto, com muito carinho esses batalhadores da causa espírita, entre os quais os integrantes do CCEPA, Salomão, Milton, Jones e Rui, assim como todos aqueles com quem andei por tantas cidades e localidades de diferentes países, a serviço da divulgação doutrinária.
Saudosíssimas saudações!
Dorival Alves Fêo – Mogi das Cruzes/SP.

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