sábado, 9 de maio de 2015

OPINIÃO - ANO XXI - Nº 229 - MAIO 2015


Em 22 de maio de 2015, completam-se 130 anos da desencarnação de um dos maiores gênios da literatura mundial: Victor Hugo, romancista e poeta francês, cujas convicções espíritas marcaram sua obra e sua vida.

As mesas girantes na Ilha de Jersey
No ano de 1857, quando Allan Kardec (1804/1869) lançava, na capital francesa, a primeira edição de “O Livro dos Espíritos”, seu famoso compatriota, Victor Hugo (1802/1885), não vivia em Paris. Por conta de divergências políticas com Napoleão III, então imperador da França, o autor de “Os Miseráveis” se exilara, desde 1852, na Ilha de Jersey, entre a França e a Inglaterra. Nem por isso, o grande poeta e romancista francês esteve alheio aos fenômenos paranormais que chamaram a atenção do Professor Rivail e de cuja investigação nasceria a doutrina espírita.
Na mesma época em que, em Paris, aconteciam as sessões com as chamadas mesas girantes e falantes, Victor Hugo, realizava, em sua casa, naquela ilha britânica, idênticas experiências das quais resultaram interessantes comunicações mediúnicas atribuídas ao espírito de uma filha sua, Léopoldine, que havia desencarnado, anos antes, por afogamento, no rio Sena, e a outras entidades espirituais, entre elas Sócrates, Mollière, William Shakespeare e Dante Alighieri.
Recente atividade cultural do museu “Maison de Victor Hugo”, de Paris (janeiro de 2013), resgatou esses episódios da biografia do imortal francês, com a exposição “Entrée de Médiums – Spiritisme et Art d’Ugo à Breton”, a partir de relatos do também escritor francês André Breton (1896/1966).

As relações de Victor Hugo com o Espiritismo
Em “El Espiritismo y la Creacion Poetica” (Ediciones CIMA, Caracas), Jon Aizpúrua dedica várias páginas à obra de Victor Hugo e suas relações com o espiritismo. As experiências do escritor com as mesas girantes começaram por sugestão de sua amiga, a poetisa e autora teatral Delfina de Girardin, que o visitou em Jersey, em 1853. Dois anos depois, em 1855, Hugo relataria, em carta, a Madame de Girardin: “As mesas me dizem as coisas mais surpreendentes. Quisera falar à senhora sobre elas e beijar suas mãos...ou asas! Todo um sistema cosmogônico  sobre o qual eu estive refletindo e escrito em parte, durante os últimos vinte anos, foram confirmados pelas mesas e com detalhes magníficos. Vivemos hoje um misterioso horizonte que muda todas as perspectivas de nosso desterro e pensamos na senhora, a quem devemos a abertura dessa janela”. Naquele mesmo ano, Delfina de Girardin desencarnaria em Paris, depois de ter tido encontros com Allan Kardec que, então, já preparava “O Livro dos Espíritos”. Ela, mais tarde, enviaria do mundo espiritual, mensagem que integra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
Victor Hugo só regressaria a Paris com a queda do Império, em 1870, quando Kardec já havia desencarnado (1869), mas, nesse período, manteve intercâmbio com Camille Flamarion, o famoso astrônomo francês, membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, fundada por Allan Kardec. Em seus “Anais Políticos e Literários”, Flamarion deixou escrito: “A inquebrantável crença na manifestação dos espíritos foi, para o gigante da literatura do século XIX, um incentivo para a vida, para o trabalho e para o amor a seus semelhantes”.

O pensamento espírita de Victor Hugo em frases
•         “Todos os seres são, foram e serão”.
•         “A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace.”
•         “O homem semeia hoje a causa, Deus amanhã amadurece o efeito”.
•         “Os mortos são uns invisíveis, e não uns ausentes”.
•         “O homem é uma prisão em que a alma permanece livre”.
•         “A arte é uma ferramenta; os espíritos são os operários”.
•         “Digo que a sepultura que se fecha sobre os mortos abre o firmamento, e que aquilo que se toma como fim é o começo”.
•         “O berço tem um ontem e a sepultura um amanhã”.
•         “Quanto mais me aproximo do fim, mais escuto em torno de mim as sinfonias imortais dos mundos que me chamam. Isto é maravilhoso e, contudo, é tão simples”.
•         “Quando me curvar para o túmulo, poderei dizer como tantos outros: meu dia de trabalho começará de novo amanhã. A sepultura não é um beco sem saída, é uma passagem. Ela se fecha no crepúsculo, ela se reabre na aurora!”.

 


Um gênio autenticamente espírita
Dono de rara genialidade na arte de escrever, manifestada já em tenra idade, Victor Hugo passou parte da vida buscando separar sua produção intelectual daquilo que admitia receber do mundo invisível. Deixou, a propósito, escrito que, por “consciência literária e por respeito ao próprio fenômeno”, dele se havia isolado. Dizia: “Impus a mim próprio toda e qualquer mistura em minha inspiração, de modo a conservar minha obra tal como é, absolutamente minha e pessoal”.
Seus críticos, no entanto, notadamente aqueles que admitem e analisam sua condição de médium inspirado, não concordam com essa separação absoluta. Jon Aizpúrua registrou: “Hugo costumava escrever de pé ou caminhando, declamando os versos, deixando cair as folhas de papel ao solo, presa de uma exaltação criadora, própria de seu temperamento genial e da inspiração com que lhe brindavam seus amigos espirituais”.
Com efeito, a mediunidade, vista sob a perspectiva kardeciana, tem o condão de aproximar e fundir ideias e pensamentos intercambiados por inteligências encarnadas e desencarnadas. No caso de Victor Hugo, a presença constante, na mesa mediúnica de Jersey, de humanistas e amantes da literatura, para lá atraídos, justamente pelas energias criadoras do famoso escritor nessa mesma direção, produziam a harmonização de formas e sentimentos por todos compartilhados. Aliás, consignou o escritor argentino Humberto Mariotti, no livro “Victor Hugo, el Poeta del Más Allá”, que o grande escritor francês aceitou o espiritismo como “mensagem de Verdade e de Beleza”. Tais valores ele, naturalmente, cultivou ancorado nos princípios da imortalidade do espírito e seu infinito progresso no rumo da beleza e da sabedoria, marcas que se fazem presentes em toda sua obra.
Ao traduzir o livro de Mariotti para o português, dando à versão o título de “Victor Hugo, Espírita” (disponível em www.viasantos.com/pense), Wilson Garcia sublinhou que era preciso “colocar a posição espírita de Victor Hugo de modo incisivo, porque grande parte dos estudiosos e críticos de sua obra escondem esse aspecto ou torcem o nariz”.
          Contribuindo, modestamente, com esse justo objetivo, e unindo-se ao esforço em prol desse necessário resgate histórico, CCEPA Opinião faz este registro, no mês do 130º aniversário da partida para a dimensão espiritual daquele ilustre compatriota e contemporâneo de Allan Kardec, de cujas ideias compartilhou com bastante intimidade. (A Redação).



O Espiritismo e a “Moral Cristã”
“Nenhuma filosofia espiritualista é mais ventilada, assectária, progressista e racional que o Espiritismo.” (Maurice Herbert Jones, em “Espiritismo: o Pensamento Atual da CEPA”).

          A palavra moral deriva da expressão latina “mos-mores”, que significa “costume”. Costumes, sabe-se, nem sempre combinam com a melhor ética ou com aquilo que Allan Kardec denominou lei natural. Refletindo, em um dado momento, o estágio evolutivo de indivíduos, povos e civilizações, costumes são constituídos por fatores diversos, dentre os quais as crenças daqueles que os adotam.  Por eles se exterioriza a cultura de uma pessoa ou de um agrupamento humano.
          Em nosso meio, nos habituamos a utilizar a expressão “moral cristã”, que, entretanto, é, no mínimo, ambivalente. É verdade que muitos a empregam para designar os valores éticos pregados por Jesus. Outros, no entanto, e é o caso das igrejas que, em seu conjunto, formam a cristandade, tomam-na como expressões mandamentais e regramentos de conduta, resultantes dos dogmas por elas defendidos.
          Precisamente em nome desse tipo de “moral cristã” da qual se dizem guardiãs as igrejas, por muito tempo fomentou-se a intolerância religiosa, o combate violento às chamadas heresias e à liberdade de pensamento, a preservação da submissão do Estado à Igreja, a perseguição a homossexuais, a minorias raciais, etc. Em fase ainda recente de nossa história pátria, retardou-se por decênios a legalização do divórcio, o emprego de preservativos garantidos por uma política laica de planejamento familiar, assim como muitos outros costumes que a sociedade civil terminou por adotar, em franca oposição ao retrógrado pensamento religioso, por tanto tempo dominante. Ainda hoje, as chamadas bancadas cristãs e evangélicas de nossos Parlamentos são forças conservadoras, sistematicamente em oposição às tendências progressistas inerentes ao processo de evolução política e social. Suas posições, sustentam seus integrantes, obedecem aos ditames da “moral cristã”.
          Diante dessa realidade fática construída pelo cristianismo real, esta expressão, “moral cristã”, restou claramente definida e com contornos ideológicos muito bem assimilados pela sociedade. Pouco tem ela ver com o pensamento liberto de Jesus de Nazaré e com o seu ensino de validade universal, aplicável a todas as culturas, independente de crença, livre de dogmas e profundamente humanista. Ao contrário, o perfil construído pela cristandade está fundado em crenças, e sua história está eivada de episódios que contrariam flagrantemente o ensino real de Jesus de Nazaré, embora sob o literal respaldo do mítico Jesus Cristo. Hoje podemos avaliar que entre Jesus de Nazaré, o homem, e Jesus Cristo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade dos cristãos, há contradições e diferenças fundamentais.
          Por isso, não é adequado ao espiritismo, ao referir-se à conduta inspirada por sua filosofia libertadora e progressista, usar a expressão “moral cristã”, como o faz, habitualmente, o chamado “espiritismo cristão e evangélico”, e como vem de fazer, por exemplo, a União das Sociedades Espíritas de São Paulo – USE – em documento divulgado como a “Carta de Santos”, onde os espíritas são chamados a “assumir atitude ética, com base na moral cristã...”.
          O aludido documento com cuja proclamação encerrou-se o 16º Congresso da USE, realizado em Santos, mereceu, aliás, uma vigorosa crítica postada pelo combativo jornalista espírita Wilson Garcia em:  http://www.expedienteonline.com.br/carta-de-santos-uma-leitura/. Os motivos da crítica não são os mesmos da análise semântica e histórica expressa neste editorial, mas se referem às posturas políticas e ideológicos que, de acordo com o articulista, não se coadunam com a “tradição dialógica” daquela instituição. O arguto comunicador que, a propósito, tem, em seu currículo, uma longa folha de serviços prestados à USE, lança em sua minuciosa análise àquele documento esta instigante pergunta: “É ele resposta ao laicismo do grupo de Santos e, por extensão, à Cepa, seus integrantes e diretores?”.
A pergunta, vinda de um profundo conhecedor da história do movimento espírita paulista, deixa clara a perplexidade de seu autor que entrevê, pela leitura do documento, mudanças no perfil institucional daquele órgão unificador. Se afirmativa a resposta à indagação lançada, nós todos, que estamos engajados nesse esforço de fazer do movimento espírita uma expressão generosa de diálogo e de alteridade, só temos a lamentar.  Porque, de nossa parte, seguimos firmes no objetivo de expungir do meio espírita todas as expressões, manifestações e atitudes que neguem seu caráter humanista, progressista, ético, assectário, laico e livre-pensador.
  





O dia em que venci a máquina
A fatura que eu tinha para pagar vencera no dia 25. Mas 25 havia caído no sábado. Na segunda-feira, 27, dirigi-me ao terminal bancário. Coloquei o código de barras sob as luzinhas da máquina para a leitura, e a telinha acusou: título vencido, dirija-se ao caixa do banco para fazer o pagamento.
Não era possível! Digitei novamente minha senha. Entrei, de novo, na área de pagamento de títulos e, em vez de colocar 25, no espaço da data de vencimento, como havia feito antes, escrevi 27. Pronto! Agora foi possível o pagamento.

Inteligência artificial?
Foi necessário usar um pequeno e inteligente estratagema para enganar o computador e fazê-lo permitir que eu pagasse a conta. Tudo porque alguém, encarregado da programação da máquina eletrônica, se esquecera de informar ao sistema que 25 não era dia útil e, logo, os títulos vencidos naquela data teriam seu pagamento prorrogado para a segunda-feira.
O episódio do cotidiano me levou a pensar: fala-se tanto em inteligência artificial; que as máquinas vão dominar o mundo e delas nos tornaremos dependentes ou até vítimas. Bobagem! Por mais fantásticas que sejam essas máquinas, elas nunca pensarão e sempre dependerão de nós, que, inteligentemente, as programamos e as utilizamos.

Os simpáticos robozinhos japoneses
É certo que, sabendo explorá-las convenientemente, o ser humano, com o auxílio dessas fabulosas ferramentas, vai abrindo caminhos fantásticos, inimagináveis há bem pouco tempo. Dias desses, vi na televisão que algumas empresas japonesas já não usam recepcionistas humanas. Simpáticos robozinhos, com aparência e voz feminina, dão todas as informações solicitadas por quem chega à recepção. Todas? Bem, só aquelas que a experiência e a observação humana, de muitos anos, conseguiram detectar como sendo as buscadas pela clientela e que foram implantadas na memória das máquinas. Novas demandas exigirão novas informações a serem adicionadas no “cérebro” dos robozinhos recepcionistas. Quem as adicionará que não o ser humano?

Espírito, princípio inteligente do universo
O Livro dos Espíritos, na questão 23, define o espírito como “princípio inteligente do universo”. Na primeira quadra deste Século 21, a ciência segue presa ao dogma de que a inteligência é produto do cérebro humano. Nasce dessa concepção a utopia de se construir a inteligência artificial, aquela que, dizem, há de ser produzida por cérebros também artificiais. Nesse cenário, o grande desafio dos espiritualistas continua sendo aquele corajosamente enfrentado por Allan Kardec, no Século 19: a proposição de um novo paradigma do conhecimento que tenha por realidade fundamental o espírito imortal.
Toda a problemática espírita está contida no desafio acima. Falhando nesse objetivo, que não é só do espiritismo e que somente poderá ser alcançado mediante a interlocução com incipientes, mas respeitáveis, segmentos com disposição e coragem de fugir do paradigma materialista, a grande proposta de Kardec terá falhado. Poderá subsistir apenas como uma religião. Uma boa religião, capaz de dar consolo, mas inapta a provocar transformações. E é delas que o homem e o mundo estão, de fato, carentes.




Sobre o livre-pensar
Eugenio Lara - arquiteto e designer gráfico, é editor do site PENSE - Pensamento Social Espírita e autor do livro “Breve Ensaio Sobre o Humanismo Espírita”. E-mail: eugenlara@hotmail.com/

É muito comum em depoimentos, artigos e eventos promovidos pela Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA), o uso da expressão livre-pensar para designar a atitude que os cepeanos têm diante do Espiritismo. Faz parte, inclusive, do slogan da entidade: kardecista, progressista e livre-pensadora, como lemos a seguir no texto extraído do site oficial da confederação:
“Livre-pensadora porque convida seus integrantes e as pessoas em geral a gozarem, em sua plenitude, do direito ao livre exame de todas as ideias, sem qualquer dogmatismo, e ao aproveitamento de toda reflexão, com critérios e métodos dentro e fora do Espiritismo.
“Liberdade de pensamento, de expressão e crítica são condições necessárias para um espírita autêntico poder se expressar. São direitos irrenunciáveis que a CEPA garante a todas as pessoas a ela vinculadas.” [www.cepainfo.org]
Mas o que é esse livre-pensar e como ele se situa no contexto da cultura espírita? Qual o seu significado para a filosofia espírita?

TRIUNFO DA RAZÃO
O livre-pensar ressurge de modo triunfante no final da Idade Média, com o advento da modernidade, inaugurada por grandes pensadores e cientistas, como Copérnico, Galileu, Kepler, Descartes, Bacon, pelos humanistas do Quattrocento, os renascentistas e, sobretudo, pelos iluministas do Século das Luzes.
Foi o Humanismo, filho dileto da Modernidade, o grande responsável pela mudança de foco e de atitude frente às questões do homem e do mundo. No lugar da fé cega, a razão. O livre-pensar, ao invés do dogmatismo. A Filosofia em oposição à Teologia. O ser humano como a razão de ser de qualquer atividade humana, o centro de tudo, mudando-se assim o eixo de análise, o eixo de importância na compreensão da realidade humana. Tal modo de pensar coincide com o fim da Idade Média, do feudalismo e o triunfo da burguesia. Os tempos são outros...
O livre-pensamento se desenvolve no seio da nascente modernidade como parte de uma atitude universalista de independência, autonomia e autodeterminação diante da realidade, em oposição a uma concepção dogmática e teológica que dominou a filosofia e o saber durante séculos. O livre-pensar é humanista e anticlerical por natureza porque significa uma nova atitude diante do homem e do mundo, amparada pela razão e a experiência, pelo reto pensar. A razão é a luz que ilumina a consciência e a liberta das trevas da ignorância religiosa, cavando assim um fosso profundo entre a ciência e a religião.

KARDEC E O LIVRE-PENSAR
De formação humanista e iluminista, o pedagogo Denizard Rivail, impregnado pelo espírito científico de seu tempo (o positivismo), estruturou uma filosofia espiritualista onde a observação, o livre exame, a razão, numa palavra, o livre-pensar, são componentes fundamentais em seu processo de construção. É interessante observar o que Allan Kardec tem a dizer sobre o livre-pensar.
Em um artigo sobre o avanço do movimento espírita francês, Kardec faz uma interessante análise das duas correntes antagônicas, o espiritualismo e o materialismo, “que dividem a sociedade atual”. As nuances dessas duas correntes são classificadas pelo fundador do Espiritismo em 15 categorias. Os indiferentes, panteístas, deístas, crentes progressistas etc. são algumas das categorias. O que nos interessa é a 14ª categoria, a dos livres-pensadores:
“14º – Os livres-pensadores, nova denominação pela qual se designam os que não se sujeitam à opinião de ninguém em matéria de religião e de espiritualidade, que não se julgam atrelados pelo culto em que o nascimento os colocou sem o seu consentimento, nem obrigados à observação de práticas religiosas quaisquer. Esta qualificação não especifica nenhuma crença determinada; pode aplicar-se a todas as nuanças do espiritualismo racional, tanto quanto à mais absoluta incredulidade. Toda crença eclética pertence ao livre-pensamento; todo homem que não se guia pela fé cega é, por isto mesmo, livre-pensador. A este título os espíritas também são livres-pensadores.”
Kardec faz uma ressalva e descarta o sectarismo, os “radicais do livre-pensamento”, que deveriam ser incluídos na categoria dos materialistas por sistema, denominação equivalente ao cético agnóstico e sistemático, portanto fanático como qualquer religioso fundamentalista:
“Mas para os que podem ser chamados os radicais do livre-pensamento, esta designação tem uma acepção mais restrita e, a bem dizer, exclusiva; para estes, ser livre-pensador não é apenas crer no que vê: é não crer em nada; é libertar-se de todo freio, mesmo do temor de Deus e do futuro; a espiritualidade é um estorvo e não a querem. Sob este símbolo da emancipação intelectual, procuram dissimular o que a qualidade de materialista e de ateu tem de repulsivo para a opinião das massas e, coisa singular, é em nome desse símbolo, que parece ser o da tolerância por todas as opiniões, que atiram pedra a quem quer que não pense como eles. Há, pois, uma distinção essencial a fazer entre os que se dizem livres-pensadores, como entre os que se dizem filósofos. Eles se dividem naturalmente em: Livres-pensadores incrédulos, que entram na 5ª categoria [os materialistas por sistema]; e livres-pensadores crentes, que pertencem a todas as nuanças do espiritualismo racional.” (Allan Kardec - Olhar Retrospectivo Sobre o Movimento Espírita - Revista Espírita (FEB), janeiro de 1867, grifo meu).

O DESEJO DE KARDEC
O que interessa mesmo ressaltar é a visão de Kardec acerca do livre-pensar, desenvolvida de forma didática, incisiva e bem sintética, captando e expondo o espírito da Doutrina Espírita: Não se sujeitar a nenhuma opinião em matéria de religião e de espiritualidade ou de alguma prática religiosa qualquer. Ser eclético, porque tal atitude corresponde ao livre-pensamento. Não se guiar pela fé cega. Segundo Kardec, “os espíritas também são livres-pensadores”.
Ao admitir o livre-pensar como a atitude autêntica e necessária diante das ideias, a CEPA se alinha ao desejo de Allan Kardec: de fazer do Espiritismo um movimento onde a liberdade de consciência seja uma de suas marcas registradas, em suma, um movimento de livres-pensadores.






Salomão abriu Ciclo de Estudos em Osório
O Diretor do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Salomão Jacob Benchaya, proferiu a palestra de inauguração do Ciclo de Estudos sobre a Obra Kardequiana”, promovida pela Sociedade Espírita Amor e Caridade, de Osório/RS, no último dia 21 de abril. Abordando o tema “Reflexões acerca da Natureza, Caráter e Objetivos do Espiritismo”, Benchaya enfocou, entre outros pontos, assuntos polêmicos, enfatizando, por exemplo, manifestações de Allan Kardec que sustentavam não ser o espiritismo uma religião. Antes da palestra, houve uma mesa redonda da qual participaram colaboradores da entidade anfitriã e um grupo de 15 integrantes do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre que acompanharam Salomão nessa visita à Sociedade Espírita Amor e Caridade.
Na foto, o momento em que o presidente da instituição osoriense, Jerri Almeida, fazia a apresentação de Salomão. Ao apresentá-lo, Jerri reportou-se ao ano de 1978, quando Salomão, em conjunto com Maurice Herbert Jones, então presidente da FERGS, lançava no Rio Grande do Sul a Campanha de Estudo Sistematizado do Espiritismo, “um marco na história do espiritismo no Brasil”, segundo o dirigente da S.E. Amor e Caridade.


“Chico, Você é Kardec?”, em debate do CCEPA
A caminho de Pelotas, onde fez uma palestra pública e coordenou um seminário, promovidos pela Sociedade Espírita Casa da Prece, o escritor espírita Wilson Garcia visitou o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, na tarde de 10 de abril último. Em encontro com estudiosos da doutrina espírita, no CCEPA, Wilson ocupou-se de considerações sobre vários temas de seus últimos livros, e, especialmente, a respeito da polêmica acerca da possível reencarnação de Allan Kardec na personalidade de Chico Xavier. A editora EME acaba de relançar o livro de Wilson Garcia “Chico, Você é Kardec?”, ampliando o debate do tema, com depoimentos de importantes personalidades do espiritismo brasileiro. A obra está à venda no CCEPA, ao preço de 25 reais.
Em Pelotas, onde esteve dias 11 e 12 de abril, Wilson Garcia fez palestra sobre o mesmo tema discutido no CCEPA e coordenou o seminário com a temática “Os Espíritos falam. Você ouve?”.
Na foto, um registro da presença de Wilson no CCEPA, juntamente com Maurice Jones, Salomão Benhaya e Milton Medran.






Espiritualidade e ateísmo
Interessante a matéria sobre Espiritualidade e Ateísmo (CCEPA Opinião 228). Não conhecia esse autor. Baixei o "Tratado das grandes Virtudes" e vou ler. Caso seja bom vou adquirir o "O Espírito do Ateísmo".
Na definição que tenho do ateísmo não caberiam especulações de natureza espiritualista, mas, receptivo a novas propostas e principalmente àquelas que sejam próximas às minhas convicções atuais, sinto prazer em conhecer e quem sabe aderir.
Aldo Pires - São José dos Campos - SP. (manifestação postada na lista de discussão da CEPA, na Internet)

Da religião ao laicismo
Li o livro de Salomão Jacob Benchaya “Da Religião Espírita ao Laicismo – A Trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre”, e, então, descobri, surpreso, o que havia acontecido com a antiga SELC, que frequentei quando morava em Porto Alegre. Muitas vezes, penso que poderia haver um meio termo entre a busca pelo conhecimento e a prática da caridade, digamos assim. Entendo a escolha do CCEPA e me identifico com ela, de certa forma. Ela reflete uma postura desvinculada de ritos e crenças, que norteavam meus anseios de adolescente, quando conheci o Espiritismo. Digo “de certa forma”, porque me sinto hoje em uma espécie de limbo existencial. Acabei por me afastar das casas espíritas e, no fundo, gostaria de empreender alguma tarefa mais significativa do ponto de vista da espiritualidade.
Renato Luis Petry – Brasília/DF.