domingo, 4 de outubro de 2009

OPINIÃO - ANO XVI - N° 168 -OUTUBRO/2009

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MOVIMENTO ESPÍRITA - É POSSÌVEL UNIFICA-LO?
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Celebrado em 5 de outubro de 1949, o chamado Pacto Áureo completa este mês 60 anos de existência. Marco decisivo dos históricos esforços da Federação Espírita Brasileira no sentido de unificar o movimento espírita do país, a iniciativa, no entanto, está distante de unir os espíritas brasileiros.
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Cenário: II Congresso da Confederação Espírita Pan-Americana, Rio de Janeiro
Detalhe pouco conhecido e raramente referido: o Pacto Áureo foi celebrado no momento em que, no Rio de Janeiro, se realizava o II Congresso da CEPA (3 a 12/outubro/1949), e só foi possível graças a esse evento que buscava congregar espíritas de todo o continente. A presença de lideranças espíritas de diferentes Estados brasileiros na antiga Capital Federal, participantes do II Congresso Espírita Pan-Americano, presidido por Luis Postiglioni (Argentina) e secretariado por Deolindo Amorim (Brasil), propiciou a efetivação do acordo, envolvendo uniões e federações dos seguintes Estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No documento, esboçava-se a criação do Conselho Federativo Nacional (CFN), um departamento da FEB que passaria, logo após, a congregar, como órgão unificador, as federações ou uniões espíritas estaduais.

A unificação e sua complexidade
O chamado processo de unificação do movimento espírita logo se revelou complexo, evidenciando questões de difícil equacionamento, ligadas à própria natureza do espiritismo. Fundado por Allan Kardec, em meados do Século 19, o espiritismo é um movimento de ideias que parte da premissa central da imortalidade do espírito e de sua evolução pelas vidas sucessivas, a reencarnação. Kardec definiu-o como uma "ciência que trata da origem, natureza e destino dos espíritos e de sua relação com o mundo material." (O Que é o Espiritismo). Mas, inscreveu entre seus princípios a plena liberdade de interpretação e a permanente necessidade de atualização: "Marchando passo a passo com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado por ele, pois se novas descobertas lhe demonstrarem que está errado sobre um certo ponto, ele se modificará nesse ponto, e se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará", escreveu Kardec em A Gênese. Isso acaba por afastá-lo das doutrinas estáticas, entre as quais, normalmente, se situam as religiões.

A opção da FEB

A clara opção religiosa feita pela FEB na sua concepção de espiritismo e, especialmente, algumas de suas peculiaridades doutrinárias como a adoção do roustainguismo (doutrina atribuída ao advogado francês Jean Baptiste Roustaing que, entre outras crenças, adotava a do corpo fluídico, não material, de Jesus) trouxeram dificuldades às pretensões unificacionistas e hegemônicas da FEB. Pensadores espíritas fiéis a Kardec, como José Herculano Pires, Deolindo Amorim, Leopoldo Machado e outros, sempre resistiram à hegemonia febeana, criticando sua estrutura "igrejeira". No plano institucional, igualmente, jamais se efetivou a plena integração do movimento espírita ao Conselho Federativo Nacional. Em diversos Estados, o movimento espírita segue representado por mais de uma união ou federação, embora apenas uma delas possa se filiar ao CFN. É o caso do Estado de São Paulo, onde o movimento unificacionista é representado pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE), concorrendo, no entanto, com outras entidades de grande representatividade, como a Federação Espírita do Estado de São Paulo e a Aliança Espírita Evangélica. Em Pernambuco, além da Federação Espírita Pernambucana, registram-se a existência da Comissão Estadual de Espiritismo e da União Espírita Pernambucana. No Ceará, convivem como entidades aglutinadoras de centros espíritas a Federação Espírita do Ceará e a União das Sociedades Espíritas do Estado do Ceará. Inúmeros outros centros e grupos espíritas preferem a total independência, não se ligando a nenhuma união ou federação, o que não lhes retira a identidade espírita.
Em outra vertente, a Confederação Espírita Pan-Americana, entidade de abrangência continental, que adota uma concepção laica e livre-pensadora de espiritismo, passou a exercer forte influência no pensamento espírita brasileiro, na última década. Congregando instituições e pessoas (delegados e simpatizantes) que se distribuem por vários Estados brasileiros, a CEPA opta por definir-se como um livre movimento de ideias. Tem por base as propostas kardequianas, mas sem normatizações a suas filiadas. Dessa forma, abre mão do caráter orientador, fortemente presente no movimento unificacionista, substituindo-o pelo estímulo ao estudo, ao debate e à construção coletiva do pensamento.

NOSSA OPINIÃO

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Unificação e União
Apalavra unificação não fazia parte do vocabulário de Allan Kardec. A palavra união, no entanto, está presente em todo o seu discurso. Em nosso meio, é comum confundirem-se os dois termos, tomando-os como sinônimos. Dessa forma, se o objetivo dos esforços que culminaram com a adoção do Pacto Áureo, há 60 anos, era a união dos espíritas brasileiros, ótimo. Esse objetivo também era da CEPA que, naquele momento, celebrava seu II Congresso Pan-Americano, no Rio de Janeiro.
Na prática, o chamado projeto de unificação não tem contribuído para a união. Antes, a tem dificultado. Kardec sabia disso. Por isso, em Obras Póstumas, deixou esta clara advertência: “Pretender que o Espiritismo seja organizado, por toda a parte, da mesma maneira; que os espíritas do mundo inteiro se sujeitem a um regime uniforme, a uma única maneira de proceder; que devam esperar a luz de um ponto fixo para o qual devam voltar seus olhos, seria uma utopia tão absurda quanto pretender que todos os povos da Terra formassem um dia uma só nação, governada por um chefe único, regida pelo mesmo código de leis, adotando os mesmos costumes”. Advogava a existência de centros gerais, nos diversos países, sem que tivessem entre si “outro laço senão a comunhão da crença e a solidariedade moral, sem subordinação de uns a outros”.
Outra coisa são a união e a fraternidade entre os espíritas. Por isso, também deixou escrito Kardec: “Os diversos centros que se dedicam ao verdadeiro Espiritismo deverão dar-se as mãos fraternalmente, unindo-se para combater seus inimigos comuns: a incredulidade e o fanatismo”.
Unificação, reconheça-se, é uma exigência típica das organizações religiosas. É instrumento de obtenção e manutenção de poder. União é conceito muito mais amplo, compatível com o pluralismo, com o humanismo, onde o respeito e o diálogo criam e sedimentam vínculos de cooperação e fraternidade.
A nosso sentir, é nesse campo que devem se movimentar os espíritas.
(A Redação)
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EDITORIAL
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O QUE SOMOS E O QUE PODEREMOS SER
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A verdade é filha do tempo, não da autoridade.
Francis Bacon

Quantos centros espíritas existem no Brasil? Quantos grupos se reúnem formal ou informalmente para estudar aspectos da doutrina espírita ou praticar a mediunidade nos moldes espíritas? Quantos espíritas, enfim, há em nosso país? Com toda a certeza, nunca teremos respostas a essa indagações. Mais do que a pretensão de reunir todos os dados desse universo, o chamado Pacto Áureo, celebrado há 60 anos, sonhava em unificar todo o universo espírita brasileiro e reunir os espíritas, como o apregoa o Evangelho, em um só rebanho e um só pastor.
Inspirando-se em modelos ainda fortemente vigentes à época, e que tinham por ícones o Estado forte e a Religião centralizadora, reputava-se conveniente dotar o movimento espírita de idêntica estrutura. A intenção justificava-se não só por força daqueles modelos sociais e políticos, mas também pelo fato de o espiritismo representar uma doutrina ainda pouco conhecida da maioria dos brasileiros e que precisaria se adaptar às crenças de seu povo. Para isso, entretanto, era preciso que seus princípios e suas práticas fossem validados e orientados pela autoridade de uma instituição composta por respeitável contingente de conhecedores da doutrina, devidamente ungidos pelo “Alto”.
Os modelos hoje vigentes são outros. O pluralismo ideológico, político e religioso conquistaram o espaço que lhes criou a sociedade civil, laica e democrática. A rigidez normativa das instituições cedeu lugar a posturas e convicções, construídas a partir de fontes as mais diversificadas. O respeito à liberdade de pensamento e de associação, conquista da modernidade consolidada pela sociedade contemporânea, acabou por tornar peremptos os esquemas mais formais das décadas passadas. Fatores como afinidade, informalidade e cogestão passaram a
ter predominância na formação e no funcionamento dos agrupamentos humanos. Isso, como não poderia deixar de ser, reflete-se também no movimento espírita.
De outra parte, a melhor compreensão da doutrina espírita, graças a oportunas e históricas campanhas de estudo, reflexão e debate, fez do espírita brasileiro um sujeito mais questionador e, por isso, mais livre. Já não o satisfazem esquemas prontos e acabados, contendo verdades inquestionáveis, mesmo que oferecidas como revelações do “Alto”. A dúvida e a busca passaram a ser vistas como indispensáveis ao aperfeiçoamento do conhecimento espírita, ainda que se reconheça a existência de postulados básicos formadores de um laço capaz de unir a comunidade espírita como um todo.
São, fora de dúvida, novos ventos que sopram e que reclamam posturas e políticas diferentes daquelas que presidiram o chamado processo de unificação. Antes de organismos orientadores, guardiães da verdade e seus dispensadores, os novos tempos requerem entidades estimuladoras do debate, do congraçamento e da fraternidade.
Significativos avanços já foram conquistados no que diz com a identidade cultural do espiritismo brasileiro. Muito, no entanto, há que ser feito no sentido de uma política interna de alteridade, fraternidade, respeito e cooperação mútua. Será esse, diga-se de passagem, um forte elemento a qualificá-lo ainda mais, também para quem o vê de fora. Vivenciando, no âmago do movimento, esses valores, estaremos também descobrindo o que de mais nobre tem a oferecer a doutrina espírita. E nesse novo contexto, concluiremos, ainda, que, somados, formamos uma comunidade bem mais numerosa, rica e qualificada, do que aquela considerada como “oficial”, pelo universo do chamado movimento unificado.
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OPINIÃO EM TÒPICOS
Milton Medran Moreira
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11º Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita
Dos dez SBPEs até agora realizados por Jaci Regis e sua equipe acho que deixei de comparecer a apenas dois deles. Só não fui em razão outros compromissos inafastáveis, no Brasil ou no Exterior, especialmente ligados à CEPA, entidade que presidi por oito anos. Este ano, novamente, sou forçado a não assistir à 11ª edição daquele importante evento da cidade de Santos. Um convite da União das Sociedades Espíritas do Estado do Ceará para atividades a partir do dia 3 de outubro leva-me, e ao presidente da CEPA, Dante López, àquele Estado do Nordeste brasileiro. Como não é todo o dia que se pode deixar o extremo Sul do Brasil para visitar o Nordeste, aceitei estender por mais alguns dias a estada no Ceará, e, assim, levar a mensagem do espiritismo livre-pensador e progressista, difundido pela CEPA, aos espíritas da região. Para poder cumprir uma agenda que inclui palestras em algumas instituições locais, precisei abrir mão de viajar à Baixada Santista.

O paradigma do espírito
Ausente do XI SBPE, cuja programação tenho à minha frente, devo dar um depoimento: foi-se o tempo em que a concepção de um espiritismo laico, aberto ao debate e à construção permanente do pensamento integrado a todas as áreas do conhecimento, reunia sempre os mesmos, uma meia dúzia de “gatos pingados”. O programa do evento arrola significativa listagem de expositores. Alguns deles não conheço. Provavelmente, participam pela primeira vez de um SBPE. A diversidade temática, que vai da arte à economia, da gestão do conhecimento organizacional à filosofia e à educação, mostra que é possível, sim, contribuir através do paradigma do espírito com todas as áreas do conhecimento e instâncias da vida. Era o que queria Kardec. Foi o que disseram os espíritos a ele, ao abonarem sua proposta de uma ampla abordagem das leis naturais abarcando “todas as circunstâncias da vida”(L.E.q.648).
Eventos como esse arejam o movimento espírita e vão ao encontro dos anseios de um imenso contingente de pessoas. Aquelas que superaram as amarras religiosas, mas também se negam a contemplar o fenômeno da vida por um prisma meramente biológico ou materialista.

Um conhecimento que transforma
Pessoas com essa estrutura de pensamento são, hoje, bem mais numerosas do que supomos. Por tradição ou por outras contingências sociais ou culturais, se declararão pertencentes a esta ou àquela religião. Poderão estar plenamente integradas a um centro espírita tradicional, ministrando passes ou recitando parábolas evangélicas que decoraram. Mas, no âmago de sua alma, sentem que a proposta espírita só cumprirá seus objetivos no momento em que for capaz de sair dos centros espíritas e ganhar todos os setores da vida, oferecendo um novo paradigma ao conhecimento. A famosa sentença de Karl Marx “até agora, os filósofos trataram de interpretar o mundo de diferentes maneiras, agora cabe transformá-lo” adapta-se como uma luva à proposta espírita. O espiritismo é admirável justamente por ser um conhecimento que, uma vez assimilado, conduz necessariamente à transformação pessoal e social. A religião nunca foi capaz de fazer isso porque retirou da imanência do ser a sua transformabilidade para relegá-la à transcendência: o reinado do bem e do justo não se daria, jamais, neste mundo.

Um novo tempo
Entretanto, é preciso reconhecer: as estruturas espíritas não estão preparadas a desempenhar esse papel. Não estão aparelhadas para atrair o imenso contingente de pessoas que vivem essa inquietação. Os poucos núcleos espíritas com esse perfil progressista e transformador, por sua vez, não têm demonstrado capacidade de se aglutinarem em um organismo que lhes reconheça a liberdade de criação e de autogestão. A CEPA busca preencher esse requisito. E o faz sem maiores exigências. Sem, por exemplo, impor às entidades que a ela aderem o dever de se desvincularem da rede organizacional a que estejam eventualmente filiadas. Não se faz espiritismo sem liberdade.
Vou levar essa mensagem a uma união espírita estadual que hoje congrega 58 centros espíritas no Ceará. Por isso, e creio que justificadamente, não estarei no SBPE e nem na Assembleia Geral que, naquele mesmo evento, reunirá os integrantes da Associação Brasileira dos Delegados e Amigos da CEPA no Brasil. Em diferentes latitudes geográficas, estaremos vivenciando o novo tempo que todos queremos para o espiritismo.

NOTÍCIAS

CEAK/Santos comemorou 65 anos
O Centro Espírita Allan Kardec, dinâmica instituição espírita filiada à CEPA, com sede na cidade de Santos, SP, completou, no último dia 1º de setembro 65 anos, aniversário marcado por uma série de atividades:
As atividades comemorativas iniciaram na noite de 26 de agosto, quando o jornalista José Rodrigues (na foto),um dos mais antigos colaboradores da instituição, fez emocionado relato sobre a “Comunidade do CEAK”, registrando aspectos históricos da Casa.
Na noite seguinte (27), foi a vez de Vladimir Coelho Grijó apresentar trabalho resultado de intensa pesquisa sobre a “Vida e Obra de Ernesto Bozzano”. Na noite de sexta-feira (28), Jailson Lima de Mendonça, do C.E.Ângelo Prado, de Santos, discorreu sobre o tema “Das Mesas Girantes à Transcomunicação Instrumental”.
As festividades se encerram no sábado, com atividades envolvendo todos os colaboradores da instituição, sob a denominação de “Família CEAK em Foco”.
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Presidente do CCEPA participa
do XI Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita
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Rui Paulo Nazário de Oliveira, presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, depois de participar de Mesa Redonda, em Fortaleza, em 4 de outubro, atividade da CEPA em conjunto com a União das Sociedades Espíritas do Ceará, viaja a Santos/SP para assistir ao 11º SBPE. Na mesma oportunidade, Rui, que é vice-presidente da Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA, participará da Assembleia Geral daquela entidade que elegerá nova Diretoria para o biênio 2009/2010.
Do quadro de associados do CCEPA também deverá participar do SBPE e da reunião da Associação dos Amigos da CEPA, a colaboradora Margarida da Silva Nunes, hoje radicada em Florianópolis.

Medran fez pré-lançamento no CCEPA
e será o palestrante de novembro
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No último dia 13 de setembro, em almoço de confraternização na sede do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, o Diretor de Comunicação Social do CCEPA, Milton Medran Moreira, fez o pré-lançamento de seu livro “O Espírito de um Novo Tempo ou Um Novo Tempo para o Espírito” (Editora Imprensa Livre), que terá lançamento oficial na Feira do Livro de Porto Alegre, em sessão de autógrafos agendada para 7 de novembro, às 14 horas.
Medran será o palestrante da primeira segunda-feira de novembro (dia 5) às 20h30, no auditório do CCEPA, enfocando temas ligados à sua última obra, em conferência que leva o título de “Um novo tempo para o espírito”.
O novo livro de Medran já está à disposição na Livraria do CCEPA (20 reais) e, na Feira do Livro (Praça da Alfândega, de 30/10 a 15/11), poderá ser adquirido na barraca da Editora Imprensa Livre, juntamente com outras obras do autor e, também, os livros da CEPA, editados pela Imprensa Livre, sob a coordenação do CCEPA: “A CEPA e a Atualização do Espiritismo”, “Espiritismo – o Pensamento Atual da CEPA” e “Da Religião Espírita ao Laicismo, a Trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre”, de Salomão Jacob Benchaya
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ENFOQUE
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Ano da França no Brasil:
O Legado Kardequiano
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David Castilhos - Historiador
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A metade do século XIX é marcada por estranhos fenômenos. Em clubes, cabarés e lares de Paris, pessoas se reúnem em torno de mesas que se movem. O apelido pega: tables tournantes.
Diversos cientistas se interessam pelas tais mesas, entre eles Faraday e que, em 1853, publica um artigo sobre suas observações.
No entanto, o que ocorre durante este período acaba por afastar a maioria dos homens de ciência, inicialmente curiosos. Através de um sistema de comunicação chamado tiptologia (certa quantidade de batidas representavam determinados tipos, letras), as tables começam a “falar”. E elas disseram que não se movimentavam sozinhas. Sofriam impulsos das almas de pessoas que já haviam morrido.
Afastaram-se os cientistas profissionais, principalmente, tudo leva a crer, por tratar-se de elementos sob domínio da superstição e da religião: vida após a morte, manifestação de espíritos, etc.
Mais de mil anos de controle exercido pelos dogmas religiosos foram o suficiente para que o bom senso recusasse qualquer indício de retorno à superstição.
A Razão optou por abster-se das pesquisas. Era arriscado. Além do mais, existia (como ainda existe) um universo de mistérios da matéria a ser desvendado pela ciência. O sobrenatural podia esperar.
Em 1855, os fenômenos já haviam se modificado. De tables tournantes, o lápis era o instrumento que deslizava, ora em cestas de vime e pranchetas, ora nas mãos de pessoas tidas como intermediárias dos Espíritos, isto é, médiuns.
É neste contexto que surge um lionês que morava em Paris, o pedagogo e estudioso do Magnetismo Animal, Hipollyte Leon Denizard Rivail. Não era médium, mas observador dos fenômenos.
Recolhendo textos obtidos pela escrita atípica, elaborando hipóteses, organizando as experiências e abrindo questionamentos, Hipollyte dá nome à ciência por ele criada. Visto que seu objeto era o Espírito, chamou-a Espiritismo.
Obviamente, o mundo acadêmico a rejeitou.
Ao publicar seu primeiro livro de Espiritismo, Hipollyte usou um pseudônimo: Allan Kardec.
Em todas as enciclopédias é este pseudônimo que remete à definição fundador do Espiritismo, ou Doutrina Espírita.
Allan Kardec nunca esteve no Brasil, no entanto suas obras aqui chegaram rapidamente, devido à intensa relação cultural de nossa nação com a França.
Políticos, médicos, advogados, militares, artistas… eram muitos os ofícios daqueles que se dedicavam ao Espiritismo deste lado do Atlântico.
Com o tempo, no Brasil, a nascida ciência torna-se mais uma religião entre tantas de nosso solo marcado pelo misticismo. Este processo daria uma boa pesquisa. Mas, por ora, nos importa perguntar: o que Allan Kardec e sua doutrina têm de especial que, além das massas sedentas por novidades religiosas, agradou pessoas mais cultas no final do século XIX e início do século XX?.
O espiritismo tem relações com o saint-simonismo e sua busca pelo positivo. Por mais estranho que isso, hoje, nos possa parecer, Allan Kardec procurou uma análise racional de um fato que julgava como certo, real, positivo: a comunicação das almas dos mortos com os vivos.
Usou de método, ansiava por objetividade, buscava a elaboração de leis. Fez uma tentativa de retorno ao espiritual sem superstição.
Outro ponto que sugere o porquê de Allan Kardec ter caído no gosto de muitos brasileiros é o seu pensamento, ou melhor, o pensamento que resulta das suas observações, coleta de dados e, obviamente, suas reflexões.
O Espiritismo propunha o progresso da alma e, consequentemente, o progresso social.
Entendia que a reencarnação era mais lógica que uma única vida.
Defendia uma busca por progresso moral que permitiria reencarnações menos difíceis no futuro.
Além disso, os escritos mediúnicos diziam não haver céu ou inferno. A felicidade ou infelicidade, a paz de consciência ou o remorso seriam estados psicológicos metaforicamente chamados de céu ou inferno. Cada um seria o responsável por construir estes estados em si mesmo.
Se estes, entre outros pontos, agradaram a alguns, desagradaram a muitos.
Se os cientistas profissionais desdenharam Allan Kardec, os religiosos tradicionais viram suas idéias como aberrações que intentavam retirar o poder das Igrejas como tradicionais intermediárias das “coisas de Deus”. Suas obras acabaram no Index.
Seu nome e sua doutrina são citados no Brasil até hoje (mesmo que em expressões populares). Ao tentar retirar da superstição fenômenos extraordinários, criou uma doutrina sofisticada e interessante que, independente das possíveis crenças religiosas que adotemos, merece ser conhecida.

OPINIÃO DO LEITOR

Se o Estado não fosse laico
No movimento da fé raciocinada, onde hoje raramente as pessoas têm sido levadas a raciocinar e onde não raro a atitude de raciocinar é malvista, o artigo de Luiz Antônio de Sá “Se o Estado não fosse laico, será que os centros espíritas estariam abertos?” (CCEPA-Opinião – agosto/2009) é uma peça admirável. Com a permissão do autor, vou enviá-lo à publicação por um centro espírita de Goiânia, que me pediu um artigo para seu jornal.
Luiz Signates – Goiânia/GO

Qualidade editorial
Na condição de assinantes deste jornal, queremos cumprimentar a equipe pela qualidade das matérias mensalmente publicadas. Continuamos sendo os grandes admiradores do trabalho da equipe.
Roberto e Dora Gandres – Rio de Janeiro/RJ.

Novo ccepa Opinião
Amigo Medran: Meus cumprimentos a ti e a toda a equipe, pelo novo visual de nosso querido Opinião. Sei muito bem das dificuldades, falta de tempo e de recursos financeiros que todos enfrentam para levar adiante essa mensagem. Gostaria de transmitir a todos meu abraço e o meu orgulho de haver convivido com os amigos do CCEPA por tantos anos. Mesmo vivendo distante, preservo esse vínculo como associada da instituição e como assinante deste jornal. Um beijo afetuoso em cada um.
Margarida da Silva Nunes – Florianópolis/SC.

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