terça-feira, 31 de agosto de 2010

OPINIÃO - ANO XVII - N° 178 - SETEMBRO 2010

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Bem-Vindos a Bento Gonçalves!

Começa na cidade gaúcha de Bento Gonçalves, capital brasileira da uva e do vinho, o Encontro dos Delegados e Amigos da CEPA no Brasil. Com a temática “Espiritismo – A Questão da Identidade”, o Encontro discute aspectos ligados à natureza, à história e à inserção do espiritismo na cultura humana.

II Encontro Nacional da CEPABrasil
3 a 6 de Setembro de 2010
Gente da boa cepa na terra dos vinhedos



























Editorial

Não ao Preconceito e à Discriminação

O preconceito é um fardo que confunde o passado, ameaça o futuro e torna o presente inacessível.
Maya Angelou (poetisa norte-americana)

Expressão vigorosa da modernidade, o espiritismo, como proposta filosófica e social, rechaça toda a forma de preconceito e discriminação calcados em diferenças de raça, religião, sexo ou ideologia.
No momento em que é escrito este editorial, todo o mundo civilizado protesta contra a iminente execução de uma mulher iraniana, Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento, por suposto adultério. Em uma de suas raras oportunidades de se manifestar, através de um porta-voz, Sakineh declarou: “Estou condenada porque sou mulher”. E fez um apelo dramático: “Não permitam que meus filhos assistam à minha execução”.
O caso Sakineh é apenas mais um. Tornou-se emblemático em face da mobilização da comunidade internacional e motivou, inclusive, o oferecimento de asilo político pelo Brasil à mulher condenada. Casos semelhantes ocorrem em diferentes quadrantes do mundo, sem que sobre eles recaiam os holofotes da imprensa internacional. No mesmo Irã, está por ser executado Ebrahim Hamidi, sob a acusação de prática do homossexualismo. Episódios idênticos acontecem, habitualmente, no Afeganistão, na Nigéria, no Paquistão, na Arábia Saudita e em outras teocracias muçulmanas.
A teocracia cristã não agiu diferente. Nos seis séculos em que vigorou a Inquisição, estima-se que 9 milhões de pessoas tenham sido vítimas do Tribunal do Santo Ofício. Destas, cerca de 70% seriam mulheres. Sobre elas pesava a acusação genérica de “bruxaria”, envolvendo comportamento sexual e heresias que, segundo os inquisidores, lhes eram inspirados pelo demônio, com o qual elas, por serem mulheres, estariam sempre mancomunadas. Para os autores do famoso livro “O Martelo das Bruxas”, manual oficial de tortura, julgamento e execução aplicável às mulheres, estas tinham estreita convivência com o demônio “porque Eva nasceu de uma costela torta de Adão e, logo, nenhuma mulher pode ser reta”. Com essa ideologia, talvez jamais se houvesse institucionalizado a igualdade de direitos entre o homem e a mulher, no Ocidente, não fosse a reação laica que, a partir do Iluminismo, foi retirando o poder civil da Igreja até separá-la inteiramente do Estado.
O espírito não tem sexo, segundo princípio adotado pelo espiritismo. Em seu processo evolutivo, independentemente de sua conformação biológica ou psíquica a um ou outro pólo sexual, o espírito desbrava os caminhos que conduzem ao estado de liberdade de pensar e de agir. Sua vocação libertária leva-o, fatalmente, a insurgir-se contra o poder religioso e contra as formas de autoritarismo que levantam e sustentam os muros do preconceito e da discriminação. Conhecimento e responsabilidade individuais, conquistas do espírito, reclamam liberdade de pensamento e de ação, dentro dos parâmetros de uma ética universal, assectária e igualitária.
O processo civilizatório desenvolve-se em ritmo e tempos diferenciados, nos distintos quadrantes da Terra. Mas, a opressão e o poder discriminatório frequentemente resistem ao tempo, escudados em supostos valores religiosos, claramente apartados da autêntica espiritualidade. O espírito, em qualquer tempo ou lugar, é o verdadeiro agente transformador da História, impulsionado pelas leis maiores do Amor e da Justiça. Estas um dia, necessariamente, regerão todos os povos, pela força do espírito.
Todo o mundo civilizado protesta contra a iminente execução da mulher iraniana, Sakineh Mohammadi Ashtiani.

Opinião do Leitor

Blog do CCEPA
Parabéns ao Centro Cultural Espírita de Porto Alegre por seu blog, muito interessante e instrutivo (www.ccepa.blogspot.com). Muito legal! Não conhecia o Centro Cultural Espírita. Eu estudo na Sociedade Espírita Allan Kardec, no centro de Porto Alegre. Mas acho muito interessante conhecer mais e aprender mais sobre espiritismo com outras pessoas e instituições Muito legal!
Thaís Bastos – Porto Alegre.

Opinião em Tópicos
Milton Medran Moreira

A identidade espírita

A lapidar afirmação de Kardec de que “se reconhece o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelo esforço que empreende para dominar suas imperfeições” mostra com clareza o objetivo do espiritismo: promover a transformação moral do ser humano, instrumentalizá-lo no processo de seu aprimoramento ético. Acerca dessa nobre missão do espiritismo não cabem dúvidas e não parece haja discordâncias entre todos os espíritas sinceros.
O que, talvez, nem sempre e nem todos percebamos é que, sendo esse o objetivo do espiritismo, não é isso, exatamente, o que o individualiza. Pelo menos, não foi essa a proposta conceitual de seu ilustre fundador e codificador que o definiu como uma “ciência que trata na natureza, da origem e do destino dos espíritos e de sua relação com o mundo material”.

A concreta realidade do espírito
Mais de 150 anos depois do nascimento do espiritismo, o grande desafio que se nos apresenta é o mesmo que foi objeto da preocupação central de Kardec: demonstrar com clareza a existência do espírito imortal como realidade concreta. Convencido o homem de sua verdadeira natureza espiritual, de sua imortalidade, de sua evolução por meio das vidas sucessivas, estará de posse do instrumental necessário à compreensão e à vivência das leis morais que lhes são consequência. Essa moral, por ser a expressão das leis naturais, não objetiva a criação de uma nova religião ou sistema de crença, mas de um novo paradigma de conhecimento para a humanidade. Daí a afirmativa de Kardec, tão desprezada e concretamente rejeitada por amplos setores do movimento espírita: “o verdadeiro caráter do Espiritismo é o de uma ciência e não de uma religião”.

A ciência do espírito
Está em curso no Brasil mais um censo. Logo, como já ocorreu há 10 anos atrás, se estará revelando um universo cada vez maior dos que se declaram “sem religião”. A falência das religiões deriva precisamente do fato de terem elas se arvorado em normatizadoras da vida moral do homem, sem cooperar, e até opondo obstáculos, à livre investigação do conhecimento. Não se aprimora a moral sem se investir no conhecimento. É o desenvolvimento da inteligência, e logo, do exercício desta na aquisição de conhecimentos, o que qualifica moralmente o ser humano: “o fruto não pode vir antes da flor”, disseram os espíritos na questão 791 de O Livro dos Espíritos. A grande e revolucionária proposta kardeciana é o desenvolvimento da ciência do espírito. Isso não a desvincula de seu objetivo ético. Antes, é seu inafastável pressuposto.

O espiritismo ante a pós-modernidade
Em nosso meio, já se fizeram memoráveis campanhas no sentido de que está na hora de espiritizar ou de kardequizar o movimento espírita. Agora, o II Encontro Nacional da CEPABrasil (Bento Gonçalves, 3 a 6 de setembro) elege como tema a questão da identidade do espiritismo. Esses movimentos que ganham força, consistência e importantes adesões, nas últimas décadas, retratam a inquietação de um amplo setor do movimento espírita. Busca-se para o espiritismo uma identidade que se esboçou com muita clareza na modernidade, mas que se multifacetou na pós-modernidade. Há quem prefira ver no espiritismo um grande estuário sincrético onde desemboquem todas as tendências espiritualistas. Bonito! Mas seria o fim de sua identidade. Para evitar isso é preciso voltar à proposta original de Kardec, acrescida e enriquecida de tudo o que a possa atualizar, confirmando-lhe os fundamentos. As consequências advirão, com certeza. Como o fruto que sobrevém à flor.

Notícias

À Leda, nosso carinho

Às vésperas de completar 40 anos de serviços ao Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Leda Beier foi alvo de carinhosa homenagem dos dirigentes do CCEPA. Na noite de 7 de agosto, foi-lhe entregue placa materializando o reconhecimento da instituição, no momento em que Leda deixa de coordenar grupo de estudos da Casa. Tendo ingressado na antiga S.E.Luz e Caridade (hoje CCEPA), em 1971, Leda, já no ano seguinte, passou a dirigir grupos de estudos e mediúnicos, atividade exercida até este ano, quando, por questões de saúde de familiares, precisou retirar-se. Acompanhou e apoiou todas as históricas mudanças do CCEPA, tendo ocupado sua vice-presidência, na gestão 98/99.
Leda Beier segue vinculada à instituição, onde dirige o Departamento de Ação Social. Na tardes de terças-feiras, coordena grupo de senhoras que confecciona costuras para pessoas necessitadas, nas dependências do CCEPA. Sobre sua participação de quase 40 anos nas atividades doutrinárias do CCEPA, Leda declarou, emocionada, ao receber a homenagem: “Aqui entrou uma Leda e hoje sai outra, bem diferente. Se algo dei de mim a esta Casa, posso dizer que dela recebi muito mais”.

Na foto, Elba Jones (D) após entregar a Leda (D) placa de reconhecimento de seus companheiros dirigentes do CCEPA.

As relações espírito/cérebro

A conferência mensal da primeira segunda-feira do mês, no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, esteve a cargo do empresário Rogério Hipólito Feijó Pereira, na foto. Com bagagem adquirida em estudos e congressos realizados nos últimos anos tendo como objeto o fascinante tema do cérebro humano, Feijó, tem sido um pesquisador e expositor do assunto no meio espírita.
No trabalho apresentado no auditório do CCEPA, no último dia 2 de agosto, sob o título de “Estrutura do cérebro – comando do espírito”, o conferencista sustentou o princípio espírita de que a extraordinária estrutura cerebral humana é comandada pelo espírito. A partir do conceito do neuropsiquiatra americano John Ratoy, segundo o qual no cérebro “não há um centro de decisão”, e com base em outras importantes pesquisas, o conferencista salientou que mente e cérebro são coisas distintas e que a mente (ou espírito) é o agente responsável pelo comando da complexa estrutura cerebral

Seminários internos no CCEPA
O Departamento de Estudos Doutrinários do CCEPA, desde o mês de junho último, vem realizando Seminários com a participação dos grupos de estudo das quartas-feiras, à tarde, e das quintas-feiras, à noite, para debate de temas escolhidos previamente. Já foram discutidos os seguintes temas: "Livre-arbítrio e determinismo", "Flagelos destruidores" e "Identidade do Espiritismo". Os dois primeiros temas foram objeto de palestras públicas, respectivamente de Homero Ward da Rosa e Aureci Figueiredo Martins, discutidos e ampliados, pelos grupos, posteriormente. O tema “Identidade do Espiritismo” preparou o Encontro dos Amigos da CEPA, que acontece este mês em Bento Gonçalves.

Segundo Salomão Jacob Benchaya,na foto, Diretor do Departamento, “além de aprofundar o questionamento acerca do espiritismo, esses seminários possibilitam a maior integração entre os membros do CCEPA”.
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Epiritismo: o consolador prometido?

Amely B. Martins, bióloga, educadora espírita e membro da ASSEPE – Associação de Estudos e Pesquisas Espíritas de João Pessoa (PB) -, compõe o painel “Espiritismo e Ciência” na programação do II Encontro Nacional da CEPABrasil (conferir na capa deste jornal).

Tudo é relativo!
O conceito da relatividade proposto por Einstein trouxe um grande avanço não apenas no âmbito científico, através do abalo ao mecanicismo de Newton, mas também trouxe e ainda traz avanço para a humanidade e para o homem.
Através da relatividade nada é absoluto, nada é único, nenhum conceito é estático. E desta forma os paradigmas tendem a ser menos engessados, e mais facilmente ampliados ou substituídos.
É justamente neste sentido relativo que devemos entender a palavra consolador, bem como todo seu significado.
Segundo o dicionário Aurélio, consolar é aliviar ou suavizar a aflição, o sofrimento ou o padecimento, é dar lenitivo, suavizar, mitigar, além de proporcionar sensação agradável ou de prazer a algo ou alguém.
A partir da própria definição já podemos perceber o quanto é relativa a aplicação do termo, afinal, diferentes pessoas, em diferentes situações se sentem consoladas também de formas diferentes.
Não é possível haver, portanto, um consolador absoluto para toda a humanidade, visto que a grande diversidade de necessidades, opiniões e anseios dos homens faz com que estes precisem também de consolação diversa.
Atribuem a Jesus a promessa de enviar um consolador para a humanidade, e muitos homens se utilizam desta suposta promessa para dogmatizar suas próprias crenças e excluir outras. Mas aí está um grande equívoco, afinal tudo o que consola alguém verdadeiramente, levando a uma evolução e melhora interior tem o consentimento de Jesus e de todos os espíritos bons, que querem o bem da humanidade.
Não importa a origem, mas sim o efeito consolador que determinado conhecimento ou ação proporcionam. Como exemplo, podemos citar a lei de amor ao próximo, defendida por quase todas as correntes religiosas ocidentais e orientais. Quando aplicada, a lei de amor traz consolo para quem a pratica ou está envolvido nela, e isto independe da crença religiosa do praticante.
Crer que o espiritismo é “o consolador prometido por Jesus”, se é que Jesus realmente prometeu um consolador, é restringir o espiritismo, pelo fato de julgá-lo tão completo que pode consolar a toda humanidade. É cair na falsa pretensão de que o espiritismo é a doutrina salvadora que irá consolar a todos os homens, é dogmatizar, é engessar seus princípios, negando sua própria evolução.
Realmente os princípios espíritas são capazes de trazer consolo às pessoas que se interessarem por eles, realmente a doutrina espírita traz conhecimentos relativamente novos, principalmente para o ocidente, e por muitas vezes uma discussão mais aprofundada sobre assuntos há muito existentes. Mas isso não faz da doutrina o único agente de consolação da humanidade.
Desta forma voltamos ao início da discussão, através da percepção de que o consolo é relativo, assim como é relativo também o agente consolador, e que o espiritismo é sim uma doutrina consoladora, mas não o único agente consolador da humanidade.

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