O
aniversário de uma imprensa não tão espírita
“O Écho
d’Alêm-Tumulo”-145 anos
Há 145 anos, em julho de 1869, saía a edição
número um do periódico que passou à História como o primeiro jornal espírita do
Brasil. “O Eco”, entretanto, tinha como expresso propósito resgatar o
cristianismo primitivo dentro da estrutura da Igreja Católica. Era essa leitura
que Olympio Telles de Menezes e outros intelectuais brasileiros da época faziam
do espiritismo.
Um
espiritismo de “dóceis católicos”
A história da imprensa espírita e do próprio
espiritismo no Brasil está intimamente ligada à vida do intelectual baiano Luis Olympio Telles de Menezes, jornalista, professor de latim e
francês, em Salvador, autor do opúsculo “Filosofia
Espiritualista” (1866) e fundador do primeiro centro espírita brasileiro, o
Grupo Familiar de Espiritismo (1865).
Católico fervoroso, Telles de Menezes, impressionou-se com a leitura das obras
de Allan Kardec. Lendo-as no
original francês, vislumbrou nelas o futuro do próprio catolicismo, então
religião oficial do Império.
A Igreja, entretanto, receberia as ideias ali
divulgadas como “um golpe” à religião. O livro “Os Intelectuais e o Espiritismo”,
de Ubiratan Machado (Publicações
Lachâtre) registra “a resposta ácida e imediata” da Igreja Católica à ação de
Telles de Menezes. Em uma Pastoral, Dom Manuel Joaquim Silveira, bispo de
Salvador, tratou de orientar os católicos acerca das “perniciosas doutrinas” e
das “superstições perigosas e reprovadas” que ameaçavam “a salvação” de seus
“amados filhos”. Mas, a reação da Igreja não abateu o jornalista baiano que, em
carta dirigida ao bispo, ratificaria sua “fé católica” e sua “obediência” ao
prelado, como “humilde ovelha de seu rebanho”. Entretanto, dizia, sua fé lhe
impunha “o sagrado dever de patentear a razão” de sua adesão à “salutar e
evangélica doutrina do espiritismo”.
Registrando o episódio, o autor de “Os Intelectuais e o Espiritismo”,
consigna: “Os espíritas brasileiros continuavam dóceis católicos, apenas
discordando de alguns dogmas, Faltava coragem para abandonar o regaço da mãe
Igreja”.
O
surgimento de “O Eco de Além-Túmulo”
Foi com o mesmo espírito expresso na carta ao
bispo que o jornalista baiano, acompanhado de outros intelectuais da época,
todos de origem e tradição católicas, publicou o primeiro jornal “espírita”
brasileiro. Na edição inaugural, o articulista Ignacio José da Cunha, membro do Grupo, reportava-se a comunicações
mediúnicas de um espírito que jurara “pelo sagrado nome de Maria Santíssima, e
por Deus Todo Poderoso” ser efetivamente o “Anjo de Deus”. No mesmo artigo,
Cunha assegurava que, segundo as comunicações recebidas, “a religião católica é
a verdadeira religião de Deus” e que “o espiritismo faz com que todos se
cheguem à religião católica”.
O jornal dirigido por Telles de Menezes
ocupava-se destacadamente com assuntos relativos à mediunidade e à
reencarnação, identificando esta com o dogma da “ressurreição da carne”, mas,
em vários trechos ratificava dogmas católicos como os da Santíssima Trindade e
da divindade de Jesus.
A
opinião de Kardec
Na “Revista Espírita” de junho de 1869, Allan
Kardec saudou o aparecimento de “O Eco de Além Túmulo”, elogiando a “grande
coragem” de Olympio Telles de Menezes, ao lançar “num país refratário como o
Brasil um órgão destinado a popularizar nossos ensinamentos”. Mas, acrescentava
Rivail: “Para nós, o Espiritismo não deve tender para nenhuma forma religiosa
determinada”, devendo “permanecer como uma filosofia tolerante e progressiva,
abrindo seus braços a todos os deserdados, qualquer que seja a nacionalidade e
a crença a que pertençam”.
Para conhecer melhor: As edições de “O Echo d’ Alêm Tumulo”, publicadas bimestralmente nos anos de 1869
e 1870, estão digitalizadas e disponibilizadas no site da hemeroteca da
Biblioteca Nacional do Brasil:
O Regaço Materno
A ninguém é fácil deixar o regaço materno.
Para Luis Olympio e seus companheiros, em pleno Século XIX, em um país onde a
“mãe Igreja” detinha a condição de religião oficial, haveria de ser muito mais
difícil. Allan Kardec reconheceu isso e até elogiou a coragem do jornalista
baiano, convencido de sua necessidade de “contornar certas suscetibilidades”.
(R.E.junho/69). Mesmo assim, não compactuou com o perfil religioso, no caso
católico, que era imprimido ao nascente espiritismo brasileiro, e preferiu
ratificar seu caráter filosófico, universal e progressista.
Decorridos 145 anos, no entanto, parece oportuno
recordar memorável lição de outro cristão, verdadeiro fundador, aliás, do
movimento que se constituiria na maior religião do Ocidente. Paulo de Tarso, em
epístola aos coríntios, comparou os primeiros ensinamentos espirituais que a
eles levara com o leite materno dispensado a crianças ainda inaptas a ingerir
alimentos sólidos. Concitava, assim, os destinatários de sua carta a se
tornarem adultos capazes de receber as novas verdades que lhes pretendia
agregar.
Lastimavelmente, amplos setores da imprensa e
do próprio movimento espírita comportam-se e induzem seus seguidores a pensar e
agir e, também, a interpretar as leis da vida, como se na infância espiritual
permanecessem. Na abordagem dos grandes temas doutrinários, na linguagem
empregada, ou guardando postura de distanciamento das questões de nosso tempo,
demonstram disposição de permanecer estacionados em patamares culturalmente
superados. Desprezam, dessa forma, a essencial condição progressiva e
progressista do espiritismo, sem a qual, segundo Kardec, ele se condenaria ao
próprio suicídio.
Seria injusto dizer que não avançamos
relativamente a algumas abordagens infantilmente primárias do assim chamado
primeiro jornal espírita brasileiro. Mas, o espiritismo exige mais de nós.
Convida a deixarmos o regaço materno e renascermos para um novo mundo de ideias
e seus consequentes desafios. Em outras palavras: é tempo de dispensar o doce
leite da religião e alimentarmos o espírito com a sólida realidade da vida, que
exige profundidade de pensamento e concretude de ação em favor do progresso
científico, intelectual e ético da humanidade. O espiritismo, parece-nos, é
ferramenta poderosa, apta a contribuir com esse objetivo. (A Redação).
Um encontro nos jardins do Vaticano
“É
preciso coragem para dizer sim ao encontro e não ao confronto”. Papa Francisco
Um dado histórico instigante: as guerras religiosas, as perseguições por motivo de crença, o fundamentalismo e a intolerância religiosa são fenômenos bem mais comuns nas religiões monoteístas que naquelas de matriz politeísta.
A História, da Antiguidade à Modernidade e
desta à contemporaneidade, está pontilhada de conflitos entre judeus e
cristãos, cristãos e muçulmanos, muçulmanos e judeus e, mesmo, entre diferentes
vertentes dessas mesmas crenças, como, por exemplo, católicos e protestantes,
xiitas e sunitas. Judaísmo, cristianismo e islamismo se constituem nas três
grandes religiões monoteístas do Planeta. A divindade que cultuam têm
características comuns: é um deus pessoal, voluntarioso, que privilegia a fé
sobre todas as demais virtudes. Seguros de a terem recebido como revelação,
cada um desses três grupos religiosos se entende detentor da verdade. A gênese
do direito e dos costumes desses povos parte de algumas “verdades” fundamentais
que, por serem de “origem divina”, deverão reger suas relações internas e
externas. A partir daí, organizaram-se comunidades, povos e nações que, diante
da suposta posse da “verdade eterna”, tendem a menosprezar as demais, dando
lugar à discriminação, ao ódio racial e religioso, aos conflitos e às guerras,
que se estendem, às vezes, por séculos.
A modernidade laica e secular, com toda a
razão, diante das características acima resumidas, vislumbrou nas religiões
monoteístas um significativo fator de intolerância.
O atual chefe da Igreja Católica, um
humanista, parece também ter percebido isso e está envidando esforços no
sentido de estender pontes de diálogo entre as três grandes religiões
monoteístas e os povos que as cultivam. Notadamente, busca aliviar a tensão
política entre dois povos que, há décadas, sustentam graves conflitos com
origens ligadas a questões raciais e religiosas: israelenses e palestinos.
Após visita à Palestina, no mês último,
Francisco reuniu nos jardins do Vaticano, dia 8 de junho, os presidentes da
Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e de Israel, Shimon Peres, convidando-os a
orar juntos em favor da paz. Foi um ato carregado de simbolismo e de ideias
generosas, perceptíveis no semblante dos quatro líderes mundiais participantes,
eis que presente, ainda, o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, da Igreja
Cristã Ortodoxa.
O acontecimento tem profundo significado
político, plenamente sintonizado com os ideais modernos em favor da paz, do
igual respeito a todas as culturas e etnias e de cooperação entre todos os
povos. Mais do que isso, entretanto, a humanidade espera daqueles que governam
as nações onde persistam conflitos com essas conotações históricas: que suas
eventuais crenças e tradições religiosas não sejam, jamais, empecilhos ao pleno
exercício dos direitos fundamentais do ser humano, independentemente de credo,
ideologia ou etnia.
É possível que o processo para se atingir
esse estágio político, tanto no âmbito interno das nações, como no das relações
internacionais, passe pela necessidade de se repensar conceitos teológicos
arraigados em algumas culturas de tradição monoteísta. Fez bem o Papa em
promover esse encontro nos jardins do Vaticano, ambiente neutro, laico, embora
situado nos domínios da Santa Sé. É tempo de crentes, politeístas ou
monoteístas, compreenderem que valores como dignidade humana, fraternidade,
respeito ao pensamento alheio, alteridade, autonomia das pessoas e
autodeterminação dos povos, não são inerentes a uma crença ou produtos de
revelações divinas exclusivistas. São expressões da lei natural, paulatinamente
assimilável e exercitável pelo espírito em sua caminhada evolutiva.
Nós, espíritas, defendemos ser a lei natural
compatível com uma visão não pessoal ou antropomórfica de divindade, harmônica
com a razão, fagulha emanada de uma Inteligência Suprema, causa primária de
todas as coisas, que ilumina, igualmente, infinidade de inteligências,
cooperadoras e ativas, que povoam o Universo. Essa concepção, espiritualista,
racionalista e plural, conduz aos mesmos valores civilizatórios da sociedade
moderna, secular e laica. Leva, especialmente, à convicção de que a Humanidade
é constituída de uma única família e de que somos todos irmãos,
independentemente de raças, credos e culturas.
A dúvida de Agostinho
Religião é certeza. Filosofia é dúvida. Fico,
às vezes, a pensar na angústia de um Santo Agostinho, tão devotado à fé e, ao
mesmo tempo, tão envolvido pela reflexão filosófica. Cristão convertido, devia
obediência a Paulo que pregava a certeza de uma vida única, depois da qual
viria o juízo. Mas, platônico, e conhecedor das ideias sobre a preexistência da
alma, legadas por Orígenes, Plotino e outros neoplatônicos, “Padres da Igreja”,
o bispo de Hipona, em suas “Confissões”, rogava a Deus: “Dizei se minha
infância sucedeu a outra idade já morta, ou se tal idade foi a que levei no
seio de minha mãe?”. E, angustiado, insistia: “E antes desse tempo, que era eu,
meu Deus? Existi, porventura, em qualquer parte, ou era por acaso alguém?”.
Era o conflito entre a prisão da fé e os
apelos libertários da filosofia.
A
rebeldia de Bruno
Imagine-se um frade da ordem dos dominicanos,
congregação religiosa que exige de seus membros, além dos votos de pobreza e de
castidade, o da obediência. Era o Século XVI, e a Igreja vivia o período da
Contrarreforma, buscando manter, a qualquer custo, seu poder sobre a sociedade
europeia. Que chance poderia ter Giordano Bruno, conservando-se cristão, de
sustentar coisas como pluralidade de mundos habitados e pluralidade de
existências corporais do espírito? Mesmo abandonando o hábito, para se tornar,
primeiramente, calvinista e, finalmente, livre-pensador, foi perseguido e
processado pelo tribunal da Inquisição. Eram graves demais suas “heresias”, e,
entre elas, particularmente perniciosa aquela que apregoava a “transmigração
das almas”. O ex-frade, então excomungado, sustentou firmemente suas ideias,
até ser calado pela infame execução, na fogueira, em praça pública, no “Campo
dei Fiori”, em Roma, naquele 17 de fevereiro de 1600.
A
certeza de Ford
Homem prático, inteligente, empreendedor,
Henry Ford se tornaria um dos sujeitos mais ricos do mundo, desde que construiu
seu primeiro automóvel. Mesmo com poder e dinheiro, segundo revelou, em 1929,
em entrevista a um jornal americano, sentia-se, desde jovem, “aturdido”, diante
de perguntas que fazia a si próprio, do tipo: “Para que estamos aqui?”. Sem
resposta a essa indagação “a vida era vazia, inútil”. Foi quando, com a leitura
de livro ofertado por um amigo, teve contato com as ideias reencanacionistas:
“Isto mudou toda a minha vida”, declarou, que passou “do vazio e da inutilidade
para uma existência de propósito e significação”. E acrescentou o grande
industrial estadunidense: “Acredito que estamos aqui, e agora, e tornaremos a
voltar. Disso eu tenho certeza”.
A
coragem de Stevenson
Da Antiguidade aos dias de hoje, escritores,
homens de ciência, poetas e filósofos aceitam a tese da existência do espírito
e sua evolução através das vidas sucessivas. Hoje, não são poucos os
intelectuais com essa íntima convicção. Mas, se veem frente a um impasse: a
ciência acadêmica adotou paradigma materialista, reducionista. Ideias como
imortalidade do espírito e reencarnação foram empurradas para o domínio da
crença. Um professor universitário, um cientista, pode ter a fé que desejar.
Mas, para estar inserido no “status quo” vigente, não deve “misturar” a
“crença” com seu magistério ou atuação científica. Por sorte, há exceções. O psiquiatra Ian
Stevenson (1917/2007), professor da Universidade de Virginia, defendeu a
hipótese da reencarnação e pesquisou faticamente sua ocorrência, deixando bem
documentados os resultados na obra “Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação”.
Entretanto, esta frase dita por ele permite avaliar a coragem que precisou ter
para realizar seu trabalho: “Se os hereges pudessem ser queimados vivos, nos dias
de hoje, os cientistas – sucessores dos teólogos que queimavam qualquer um que
negasse a existência das almas, no Séc.XVI – hoje queimariam aqueles que
afirmam que elas existem”.
O suposto plágio de Allan Kardec
Eugenio Lara,
arquiteto e designer gráfico; Membro-fundador do Centro de Pesquisa e
Documentação Espírita, editor-fundador do site PENSE – Pensamento Social
Espírita. E-mail: eugenlara@hotmail.com/ .
Durante o processo de desenvolvimento do
Espiritismo, o pedagogo francês Denizard Rivail percebeu a necessidade de
lançar mão de novas palavras, seja a partir das informações dos espíritos ou de
seu conhecimento do grego e latim, línguas-mãe que dão origem a quase todas as
palavras latinas. Criou uma nova terminologia, as palavras espiritismo, espírita e espiritista para designar o novo
conjunto de ideias que havia estruturado em parceria com os espíritos.
No entanto, desde 1853, tais palavras já
existiam no inglês, empregadas no francês com o lançamento de O Livro dos Espíritos (1857). Obviamente
que para os inimigos do Espiritismo, velados, enrustidos ou declarados, este
seria mais um motivo para espinafrar e desqualificar Denizard Rivail e todo seu
legado. Ora, se já existia a palavra, então foi plágio, foi cópia descarada.
Rivail seria um intelectual desonesto por conta deste fato e outras acusações
mais, dando suposta razão a desertores e dissidentes precipitados, imprudentes
e levianos.
Rivail era poliglota e conhecia o inglês.
Lembremos que ele foi amigo íntimo da jornalista e tradutora inglesa Anna
Blackwell, que foi correspondente da Revista
Espírita, na Inglaterra. Não sabemos o grau de fluência que ele possuía
desse idioma e menos ainda se teve acesso às obras inglesas contendo as
“palavras novas”, os “neologismos” espírita
e espiritismo no início de suas
pesquisas.
Podemos observar a incidência do termo spiritism no livro raro Spirit Rapping Unveiled! escrito em 1853
pelo norte-americano Rev. Hiram Mattison (1811-1868). Há também a obra de
Leonard Marsh (1800-1870), Apocatastasis,
or Progress Backwards, editada em Burlington, por Chauncey Goodrich e o
livro The Spirit-Rapper: an Autobiography
(Boston, Little, Brown & Company, 1854), de Orestes Augustus Brownson
(1803-1876). Spiritism era um termo
comumente usado de modo pejorativo entre os espiritualistas, adeptos do New
Spiritualism.
Certamente, Rivail não teve acesso a esses
livros, ao menos na época em que lançou O Livro dos Espíritos. Isto porque a
obra de Orestes Augustus Brownson é citada no opúsculo Catálogo Racional das Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita
(1869). Temos de considerar que o contexto histórico era bem outro. Hoje, com a
internet e as redes sociais, as informações fluem e não há mais desculpa a não
ser a ignorância e preguiça em acessa-las. Isso não era possível na época.
Quando faz referência aos neologismos espiritismo, espírita e espiritista,
Rivail deixa claro que foram criados por ele, devido à necessidade de dar uma
identidade toda própria à filosofia espírita em seu nascedouro, a fim de não
confundir com o Spiritualism norte-americano e inglês.
Na introdução de O Livro dos Espíritos, Rivail tece esclarecimentos sobre o tema:
“Em lugar das palavras espiritual e espiritualismo
empregaremos, para designar esta última crença, as palavras espírita e espiritismo, nas quais a forma lembra a origem e o sentido radical
e que por isso mesmo tem a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando
para espiritualismo a sua significação própria.” (item I, trad. Herculano
Pires, LAKE).
Se Rivail criou ou não esses neologismos, tal
dúvida se desfaz na leitura de uma pequena nota de rodapé escrita por ele em O
Livro dos Médiuns, a respeito da terminologia utilizada nesta obra:
“Vemos que, quando se trata de exprimir uma
ideia nova, para qual a língua não possui termo, os Espíritos sabem
perfeitamente criar neologismos. Estas palavras: eletro-medianímico, perispirítico,
não são nossas. Aqueles que nos criticaram por havermos criado as palavras espírita, espiritismo, perispírito, que não tinham termos análogos, poderão
agora fazer a mesma crítica aos Espíritos.” (cap. V, item 98, trad. Herculano
Pires, LAKE).
Para ideias novas, palavras novas foi o
princípio, hoje semiótico, que Rivail adotou para criar a terminologia
espírita, condição sine qua non à
existência de qualquer ciência, por mais pretensiosa que seja.
Sem dúvida, foi uma sacada genial a criação
de neologismos, principalmente os que definem e identificam a Doutrina
Espírita. Desde seu início, por conta deste fato, o Espiritismo surge em meio a
todo aquele movimento espiritualista e esotérico, com identidade própria, com
suas especificidades, notadamente pelo fato de aderir à reencarnação, rejeitada
por espiritualistas ingleses e norte-americanos. Se as palavras que criou
tinham inicialmente no inglês sentido pejorativo, na medida em que o
Espiritismo foi mostrando à sociedade suas finalidades e objetivos sérios, os
termos ganharam outra conotação, outro significado.
Diante daquele conjunto de ideias que
estruturou, faltava um nome e uma conceituação. E isso Rivail o fez como
observamos nestas palavras: “Como especialidade o Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual representa uma das fases. Essa a razão
porque traz sobre o título as palavras: Filosofia
Espiritualista.” (O Livro dos
Espíritos, introdução).
De certa forma, dar o nome a alguma coisa é
quase o mesmo que inventar, criar ou fundar essa mesma coisa. A significação e
o sentido conceitual que Kardec atribuiu às novas palavras reafirmam o fato de
que foi ele quem fundou o Espiritismo, portanto, coube-lhe a responsabilidade e
o mérito de organizar o conjunto terminológico adequado à nova ciência.
Se as palavras espírita, espiritismo já
existiam, mesmo que em outro idioma, isso não tem a menor importância
epistemológica diante do contexto histórico bastante diferenciado. Afinal, até
1857, o Espiritismo não existia e passou, desde então, a ter o status de uma
nova filosofia espiritualista. E os termos usados no inglês não correspondem
conceitualmente às designações futuramente criadas pelo fundador do
Espiritismo.
Pode-se dizer que, sem o saber, Rivail se
apropriou de termos existentes, imaginando tê-los criado, sem que houvesse aí
algum tipo de desonestidade, de leviandade intelectual ou simplesmente plágio.
Historicamente falando, as palavras espírita,
espiritismo tornaram-se propriedade
do Espiritismo, são o seu trademark,
ficaram registradas para a posteridade com novas significações e acepções.
Quando são pensadas, citadas e proferidas, tais palavras estão associadas
historicamente a Denizard Rivail, sob o pseudônimo de Allan Kardec. Quem é que
irá lembrar dos autores ingleses citados no início deste artigo? Quem os
conhece? Quem são eles? Tiveram o mérito de usar a palavra spiritism pela primeira vez, mas sem seu significado vindouro,
específico e bem definido que foi por Rivail. Foi ele quem fez a diferença e
delimitou campos de conhecimento a partir dessas palavras. Se já existiam, isso
não faz a menor diferença.
Signates e a Ciência da Religião
Um dos mais qualificados intelectuais
espíritas brasileiros, Luiz Signates(foto) (Goiânia/GO), doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo,
com pós-doutorado em epistemologia da comunicação, pela Unisinos, está
iniciando importante atividade na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. A
partir do segundo semestre letivo deste ano de 2014, Signates passa a ser
docente efetivo do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Ciências
da Religião daquela universidade.
Segundo informou a este jornal, o Prof.
Signates vai se integrar à linha de pesquisas em “Cultura e Sistemas
Simbólicos” daquele programa, onde se dedicará a estudos do espiritualismo
brasileiro, em suas diferentes formas, “inclusive as suas formas laicas e de
pretensão científica”. Acrescentou Signates: “Em meus últimos trabalhos,
apresentados aos eventos desse programa, com o qual venho me relacionando nos
últimos quatro anos, tenho citado a CEPA como um aspecto do espiritismo que
merece uma atenção específica, por suas características antropológicas”. Ele
entrevê nessa oportunidade profissional “também a possibilidade de contribuir,
com apoio institucional, à consolidação de uma tradição de pesquisas sobre a
temática espírita/espiritualista, em suas diferentes modalidades, tanto pela
interlocução que possamos passar a ter, quanto pela formação, em níveis de
mestrado e doutorado, de docentes e pesquisadores nessa área”.
Estudo
Analítico de “O Livro dos Espíritos”
Sempre com boa frequência, segue se
desenvolvendo, às sextas-feiras, a partir das 3 horas da tarde, no Centro
Cultural Espírita de Porto Alegre (Rua Botafogo, 678), o chamado estudo
analítico de O Livro dos Espíritos. A
iniciativa e coordenação é do diretor do Departamento Doutrinário do CCEPA, Salomão Jacob Benchaya. O grupo, que
conta com a participação de Maurice
Herbert Jones, como provocador dos temas em debate, pode ser visitado,
livremente, e sem compromisso de frequência, por todos os interessados,
espíritas ou não.
A Consciência de um novo tempo
Estimados
companheiros do CCEPA:
Em
primeiro lugar parabenizo-os pela qualidade do Jornal Opinião e suas relevantes
matérias, cujos conteúdos fazem a diferença no movimento espírita brasileiro e,
quiçá, mundial, já que representam, literalmente, um movimento e refletem uma
dinâmica progressista, em contraposição ao tradicional e estagnado modelo da
esmagadora maioria das instituições espíritas brasileiras.
A
propósito, confesso que muito refleti sobre a frase final de “Nossa Opinião”:
“... porque afinado com a consciência de um novo tempo.” (edição n.219, de
junho). Ficou martelando em minha mente a pergunta: o que seria a “consciência
de um novo tempo”? Não tenho a resposta, mas sim a convicção sobre a
pertinência do tema “O Espiritismo e os Desafios do Século XXI” para o VI Fórum
do Livre-Pensar Espírita, em que tal consciência poderá ser intensamente
debatida.
Grande
abraço.
Néventon Vargas - João Pessoa-PB.
Creio que é preciso fazer uma retificação quanto a edição da Revista Espírita em que "O Eco de Além Túmulo" é anunciado. Na verdade, este anúncio aparece na edição de novembro de 1869 e não na de junho. É importante destacar também que as opiniões que se seguem ao anúncio são dos novos editores da Revista já que Kardec desencarnara há alguns meses. De toda a forma, estes são apenas pequenos detalhes que não influem na essência das ideias apresentadas nos textos que, aliás, estão excelentes. Parabéns!
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