segunda-feira, 11 de abril de 2016

OPINIÃO - ANO XXII - Nº 239 ABRIL 2016

CCEPA - 80 anos de renovação!
O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, CCEPA, completa 80 anos de fundação. Uma história marcada por sucessivas mudanças impulsionadas por sua vocação livre-pensadora e inspiradas no caráter progressista da filosofia espírita.
Do sincretismo religioso ao kardecismo

Fundado em 23.4.1936, com o nome de Centro Espírita Luz e Caridade, mudado, após, para Sociedade Espírita Luz e Caridade, o atual Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, assim se denomina desde 1991. Na década de 60, com a chegada à instituição de Maurice Herbert Jones e sua esposa Elba (foto) seriam lançadas as sementes de sua singular história no cenário espírita do Rio Grande do Sul e do Brasil. No livro Da Religião Espírita ao Laicismo – A Trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Salom ão Jacob Benchaya identifica 1968, ano em que, pela primeira vez, Jones assumiu sua presidência, como um “divisor histórico que marca o início de uma nova fase da vida institucional” da então SELC. De acordo com o autor, a partir daí, “Jones imprime nova dinâmica de trabalho na busca de maior identificação com o espiritismo kardecista”. Disso resultaria o afastamento de considerável parte de antigos colaboradores, habituados, segundo Benchaya, “a práticas de sincretismo religioso”, até ali marcante da na antiga instituição do bairro Menino Deus.
Um laboratório para o estudo sistematizado do espiritismo
Seria, entretanto, nas décadas 70/80 que a antiga SELC assumiria seu importante papel histórico, como protagonista de um programa de estudos sistematizados do espiritismo. Elaborado, inicialmente, para seus trabalhadores, internamente, o programa serviu de laboratório para a memorável Campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, lançada pela Federação Espírita do Rio Grande do Sul, em 1978, quando Maurice Jones presidia aquela instituição, e Benchaya ocupava a direção de seu Departamento Doutrinário. Posteriormente, a Federação Espírita Brasileira, lançaria a campanha, até hoje existente, para todo o movimento espírita brasileiro. O período entre 1978 a 1987 foi de forte influência exercida pela ação e pelo pensamento da antiga SELC no movimento espírita gaúcho. Quatro administrações consecutivas, duas de cada um, tiveram a presidência, respectivamente de Maurice Herbert Jones e Salomão Jacob Benchaya.
Da religião ao laicismo
O amadurecimento de uma visão marcadamente laica e livre-pensadora, desenvolvida no hoje Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, iria redundar, nos anos seguintes, em seu afastamento dos quadros da Federação Espírita do Rio Grande do Sul e adesão, em 1995, à Confederação Espírita Pan-Americana. Posteriormente, um integrante do CCEPA, Milton Rubens Medran Moreira, seria conduzido à presidência da CEPA, cargo exercido por Medran, em dois períodos consecutivos, entre 2000 e 2008.
 CEPA e CCEPA comungam, hoje, de ideais e programas marcados por uma plena integração, o que permite à octogenária instituição porto-alegrense seguir trilhando, juntamente com espíritas de vários países, tanto na América, como na Europa, onde cresce a visão laica e livre-pensadora de espiritismo, a consciência e a ação em favor do progresso e da permanente atualização das propostas lançadas, em abril de 1857, por Allan Kardec, ao publicar sua obra fundamental: O Livro dos Espíritos.
Para saber mais: O livro Da Religião Espírita ao Laicismo – A Trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre está disponível na internet em:
https://drive.google.com/file/d/0B9CFzVtKHMeYWVRFcUJvUVZOenM/edit


Mensagem do Presidente, nos 80 anos do CCEPA
Compromisso
com o laicismo
Ao reassumir, no início deste 2016, a presidência desta Casa, destaquei, em meu pronunciamento, o papel que o CCEPA desempenhou na volta do debate acerca do caráter laico do Espiritismo, iniciado pelo jornalista e psicólogo catarinense Jaci Régis e o chamado “Grupo de Santos”, no final da década de 70, e o compromisso que, desde então, a nossa Instituição assumiu junto ao segmento não religioso do movimento espírita.
O processo de laicização do CCEPA, então Sociedade Espírita Luz e Caridade (SELC), inicia-se quando, na Federação Espírita do Rio Grande do Sul, durante as consecutivas gestões de Maurice Herbert Jones e Salomão Jacob Benchaya – período de 1978/87 – bafejados pelas ideias dos companheiros paulistas, a FERGS lança, ao início do meu 2º mandato, o “Projeto: Kardequizar”, uma análise crítica dos rumos do movimento espírita e uma convocação à comunidade espírita gaúcha para um esforço de “kardequização”, à semelhança do que Jaci Régis propunha com sua campanha de “espiritização”. O Projeto suscitaria controvérsias que se acentuaram após uma palestra de Maurice Herbert Jones na S.E. Paz e Amor, de Porto Alegre onde, através da projeção de textos de Allan Kardec, reproduzia as afirmações do codificador contrárias à natureza religiosa do espiritismo, e com o lançamento, em outubro/86, da revista “Reencarnação”, da FERGS, trazendo na capa uma afirmativa e uma pergunta: “Espiritismo – Ciência e Filosofia. Até que ponto Religião?”. A forte reação da comunidade espírita e uma nova eleição redundaram no afastamento do nosso pequeno grupo da FERGS, em 1987.
A partir daí, com o andamento do projeto de kardequização adotado desde 1986, a SELC se transformaria em CCEPA, em 1991. Em 1993, Milton Medran e eu tivemos contato com o recém-eleito presidente da CEPA, Jon Aizpúrua, durante o III Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, em Santos-SP, quando o CCEPA é convidado a se filiar à CEPA. Tal convite é aceito formalmente em 25.11.1994, pela A. Geral do CCEPA, decisão que motivou o nosso desligamento da FERGS, por decisão unilateral desta, em 25.03.1995.
Desde então, os laços do CCEPA com a Confederação Espírita Pan-americana tornam-se cada vez mais estreitos. Expressivas delegações de integrantes do CCEPA participam dos eventos internacionais, nosso companheiro Milton Medran Moreira assume uma das vice-presidências da confederação, o CCEPA passa a encartar no OPINIÃO um Boletim Informativo das atividades cepeanas, organiza e promove, em 2000, o XVIII Congresso Espírita Pan-americano onde Medran é eleito novo presidente da CEPA e esta passa a ter sede no Brasil, até 2008. Dois livros – “A CEPA e a Atualização do Espiritismo” e “O Pensamento Atual da CEPA” – são organizados e publicados pelo CCEPA.
Todos esses fatos, sem desconsiderar o trabalho coletivo que os delegados e demais instituições vinculados à CEPA realizam por todo o Brasil, sob a liderança da CEPABrasil-Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA, destacam, todavia, o importante papel de nossa Casa na consolidação dos ideais e do projeto da CEPA, inclusive na sua modernização institucional, com as propostas encaminhadas por ocasião da reforma estatutária de 2004 e da que se avizinha, com a realização do XXII Congresso da CEPA, no próximo mês de maio, em Rosario-AR.
Isso talvez seja suficiente para qualificar o CCEPA, que no dia 23 deste mês completa 80 anos de fundação, como um importante baluarte da CEPA no Brasil, papel que pretendemos levar em frente, ainda por muito tempo.
Salomão Jacob Benchaya
Presidente do CCEPA







Coxinhas” e “petralhas”
Em meio à turbulência vivida pelo país, só reivindico meu direito de pensar livremente. Assisto com preocupação a essa polarização política que cega “coxinhas” e “petralhas”. Ouvindo uns e outros, fico com a impressão de que, no universo interior de cada um deles, não está sobrando lugar para o pensamento livre, o exame isento e o reconhecimento de que há acertos e erros em quaisquer posições políticas ou ideológicas a que viermos a aderir.
As coisas realmente se complicam quando sobrevém a convicção de que a verdade está num lado apenas. E assumem trágica condição no instante em que, em nome da defesa de uma posição ideológica, se justificam coisas como a corrupção política, a violência, o ódio e o desprezo a conquistas institucionais históricas como a democracia, a justiça e a igualdade de todos perante a lei.
Isenção e justiça
Vejo que baixa sobre a sociedade brasileira uma nuvem cinzenta esculpindo no céu da Nação esta sentença: “É proibido ser isento”. Ser isento não significa ficar em cima do muro. É perfeitamente legítimo escolher uma ideologia política e, para instrumentalizar a ação social dela derivada, aderir a uma agremiação partidária. Ideologias estão distantes de representarem verdades absolutas. São alternativas válidas para traçarem políticas de ação em favor da sociedade. Partidos são, no sistema vigente, instrumentos a serviço da viabilização dessas idealizações. Ao cidadão honesto e bem-intencionado cabe, no entanto, seja qual for sua ideologia, e para além de seus compromissos partidários, rechaçar todo e qualquer comportamento que atente contra o objetivo central da política: a busca do bem comum.
Sobrepor ideologia política ou compromisso partidário ao interesse público é grave violação ao bem comum de uma nação. É renunciar à isenção, sem a qual não se contribui com a justiça.
Partidos amorfos
O mais trágico do momento que vivemos é, porém, o fato de os partidos políticos terem deixado escoar pelo ralo do fisiologismo aqueles princípios ideológicos que lhes deram origem. O aspecto mais fascinante das ideologias era a sua capacidade de luta pelos valores programáticos nelas contidos. Por eles, ia-se ao sacrifício pessoal, e até a vida se poderia dar.  O que vemos, hoje, são agrupamentos partidários totalmente amorfos. Seus mentores são capazes até de produzir um discurso doutrinariamente coerente. Mas, na prática, não passam os partidos, em sua maioria, de aparelhamentos calculadamente voltados a projetos de poder, muito distantes de autênticos e bem-intencionados projetos políticos. Estamos carentes de estadistas, substituídos que foram por ídolos. E estes passarão.
A verdadeira Política
Allan Kardec sustentava que o orgulho e o egoísmo eram as grandes chagas da humanidade. Orgulho e egoísmo conduzem à ganância. Esta, em nosso tempo, se traveste de partidos que manipulam ideais políticos, de igrejas que mercantilizam a fé, ou de conglomerados empresariais que fraudam a economia pública. Tudo com o objetivo da obtenção de fortunas ardilosamente desviadas de suas verdadeiras finalidades sociais ou da cobertura de necessidades básicas de cidadãos oprimidos pela ignorância. O fenômeno não é exclusivo da política. É claro sintoma da ausência de compreensão do que verdadeiramente somos, do genuíno sentido da vida. Sem a virtude, que emana, naturalmente, dessa compreensão não estaremos aptos a fazer verdadeira Política.







Wilson Garcia:
“Lamentável que a fragmentação do Espiritismo venha acompanhada da negação do diálogo.”
Em sua edição de janeiro/fevereiro últimos, CCEPA Opinião relembrou o pensamento de Deolindo Amorim, resgatando o artigo de sua autoria Desunião e Divergência. O escritor Wilson Garcia escreveu-nos dizendo haver gostado muito da matéria. Tanto assim que resolveu aplicar a tese de Deolindo, contextualizando uma pequena divergência. Leia, a seguir seu artigo:
Deolindo e os diversos espiritismos
WGarcia, Recife, PE.

CCEPA Opinião, a pílula do Dr. Ross do jornalismo espírita, republica em sua edição de jan./fev. 2016 interessante artigo do saudoso e respeitável Deolindo Amorim (foto), intitulado “Desunião e divergência”. Ali está todo o espírito conciliador, dialógico e acima de tudo humanista do grande amigo baiano de nascimento e carioca por opção.
A essência do artigo está centrada na percepção de que as divergências não podem ser argumento para a desunião e o diálogo é o fundamento das relações humanas. Era o que fazia e vivia Deolindo.
O último parágrafo do texto deolindando permite, contudo, exercer aquilo mesmo que transparece dos seus argumentos, isto é, divergir. Ali, Deolindo afirma que as divergências que estão no interior do movimento espírita desde o seu surgimento não quebraram a “unidade doutrinária, que é fundamental” (sic).
Por unidade doutrinária podemos entender dois aspectos: os princípios básicos em torno dos quais todo o edifício doutrinário está erguido, do que se conclui que um só desses princípios negados redunda em negação do todo. O segundo aspecto é o mundo da vida, onde os princípios são elevados ao nível das experiências e das ideias defesas.
Se considerarmos que a obra de Kardec mantém seu conteúdo e sua forma inalterados em todas as traduções, apesar das tentativas de modificar aqui e ali conceitos que imaginam ultrapassados, pode-se argumentar com segurança que a unidade doutrinária se mantém. Nesse campo de discussões e divergências os princípios básicos do Espiritismo prosseguem incólumes e passam de geração a geração.
Entretanto, é no mundo da vida que se encontra o nó da questão. É aqui que parte desses mesmos princípios são negados ou têm seu valor reduzido, constituindo-se em ameaça constante à obra física. Não custa recordar que muito do que se discutia até há pouco tempo sob o título de “pureza doutrinária” dizia respeito, exatamente, a esses dois aspectos.
Os fatos corroboram esta afirmação. Já nos círculos de Kardec as divergências se fizeram presentes, mas são alguns fatos marcantes que melhor revelam que a unidade doutrinária balança entre os registros textuais e o mundo da vida.
Fiquemos com alguns desses fatos.
A obra de Colignon e Roustaing deve ser vista como divergência de grande repercussão ainda no século XIX que no mundo da vida se coloca do lado oposto à obra de Kardec. Não são meros aspectos que fundamentam a divergência, mas, sim, negações de princípios básicos, que dizem respeito à reencarnação, à evolução etc. e que, apesar disso, marcam também a ambiguidade das instituições que promovem Kardec e Roustaing ao mesmo tempo, as quais contam com expressiva representatividade no Brasil.
Se nos ativermos ao nosso país apenas, podemos recordar os movimentos que ainda vigoram, com maior ou menor representatividade, cujas doutrinas derivam do Espiritismo mas negam também ou subvertem determinados princípios básicos, tais como o Racionalismo Cristão, de Luiz de Matos, o polidorismo, de Oswaldo Polidoro e, no limite – que ninguém fique pasmo – diversos dos movimentos em torno do médium Chico Xavier, que se ancoram na ideia de ter sido ele a reencarnação de Allan Kardec e, portanto, maximizam a noção da legitimação de sua obra como avanço em relação à do codificador, o que significa atribuir-lhe valor maior que a de Kardec. Aqui, não só o princípio da reencarnação é subvertido como, também, a razão espírita, que se apresenta quase que como um princípio básico doutrinário, desce ao nível do desprezo pelos assim auto reconhecidos chiquistas.
Deolindo tem plena razão no mais, a meu ver. Lamentável, apenas, que, cada vez mais, a fragmentação do Espiritismo vem acompanhada da negação do diálogo, empurrando cada grupo para o seu canto, o que, para ele, Deolindo, como para qualquer criatura humana no sentido lato dessa expressão, significa irrecuperável prejuízo ao progresso da sociedade e ao desenvolvimento do conhecimento.






Curso de Mediunidade, um êxito.
Ministrado por Salomão Jacob Benchaya e Donarson Floriano Machado (foto), começou, dia 23 de março, e se estenderá por todo o ano, até 14 de dezembro, sempre às quartas-feiras, o Curso Espírita de Mediunidade, gratuito e inteiramente aberto ao público. O curso marca a passagem do 80º aniversário de fundação do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, tendo atraído cerca de 50 inscrições e com o comparecimento médio de 40 participantes por aula. Segundo declarou Benchaya a CCEPA Opinião, “como é natural, diante da visão que o CCEPA tem de espiritismo, o curso está permeado pelo enfoque não religioso, livre-pensador, humanista, pluralista e progressista, o que não significa que haja um desprezo pelas diferentes maneiras como os participantes, oriundos de diversas áreas, percebem a doutrina”.


Medran em Osório: 
“Surge O Livro dos Espíritos”
Convidado pela Sociedade Espírita Amor e Caridade (Osório/RS), o Diretor do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Milton Medran Moreira, proferirá conferência naquela instituição, no próximo dia 18 de abril (20h), com o título “Surge o Livro dos Espíritos”, alusiva à passagem, naquela data, dos 159 anos do lançamento, em Paris, da obra fundamental de Allan Kardec.




Desencarna Henrique Diegues
Desencarnou, dia 15 de março, Henrique Diegues, em Santos/SP, ex-dirigente do Centro Espírita Ângelo Prado. Integrante do chamado “Grupo de Santos”, Diegues teve histórica participação no movimento que, nas décadas de 70/80, lançou debate sobre a chamada “questão religiosa” do espiritismo. Figura estimada por sua amabilidade e pela dedicação à causa espírita, sua partida deixa imensa saudade.






Geraldo de Souza Spínola
Agradeço ao Medran e à equipe responsável por CCEPA Opinião e América Espírita, pela referência feita a meu pai, Geraldo de Souza Spínola, na matéria que reproduz sua declaração à revista “IntegrAÇÃO”: “a importância da união entre os espíritas é inegável” (América Espírita, março/2016).
A carinhosa referência deixou muito feliz meu pai, que acaba de completar 90 anos, tendo dedicado praticamente a vida toda à causa espírita, tanto na USE como na CEPA.
Paula de Mesquita Spínola – São Paulo/SP.

Espiritismo científico - parcerias
Amigos: procuro contato com queira escrever e falar sobre espiritismo científico.
José Roberto de Oliveira - 55.9638.
Joseroberto_deoliveira@yahoo.com.br

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