segunda-feira, 13 de junho de 2016

OPINIÃO - ANO XXII - Nº 241 JUNHO 2016

CEPA agora é internacional
Em histórico Congresso realizado na cidade argentina de Rosário, a Confederação Espírita Pan-Americana passou a denominar-se CEPA - Associação Espírita Internacional e elegeu a brasileira Jacira Jacinto da Silva sua presidente para o próximo quatriênio.

Consolida-se o caráter livre pensador da CEPA
O XXII Congresso da CEPA (25 a 28 de maio de 2016) marcou o 70º aniversário de fundação da instituição, nascida justamente em um Congresso Espírita, promovido pela Confederação Espírita Argentina, em Buenos Aires, no ano de 1946.

A efeméride foi celebrada em um painel do qual participaram Dante López (presidente: 2008/2016), Milton Medran Moreira (presidente: 2000/2008), Mario Molfino (filho do ex-presidente Romeu Molfino, gestão 1972/1975) e Gustavo Culzoni (filho do ex-presidente Hermas Culzoni, gestão 1975/1990).

A retrospectiva enfocou as diversas fases vividas pela CEPA, desde o sonho inicial de unir o espiritismo das Américas até a definição atual, incrementada na gestão Jon Aizpúrua (1993/2000), de conferir à instituição fortes características laicas, livre- pensadoras e progressistas, tendo por base o pensamento de Allan Kardec, e, por isso, genuinamente kardecistas. Com esse perfil, agora plenamente consolidado, a CEPA – Associação Espírita Internacional passa a congregar não apenas instituições, mas também pessoas que tenham essa visão de espiritismo. Sua abrangência deixa de ser pan-americana para tornar-se internacional, atendendo, assim, reivindicação do segmento laico e livre-pensador da Europa, que sedia uma de suas vice-presidências (veja o noticiário no boletim da CEPA, encartado nesta edição).

Jacira, a nova presidente

A Assembleia Geral, que antecedeu a abertura do Congresso, elegeu para o cargo de presidente para os próximos quatro anos, a juíza de Direito brasileira, Jacira Jacinto da Silva (São Paulo/SP). Em emocionado discurso de posse, compartilhado de breve intervenção de seu esposo, Mauro de Mesquita Spínola (que desempenhará as funções de Diretor Administrativo), Jacira destacou a eficiente gestão de seu antecessor, Dante López, que, juntamente com Mónica, sua esposa, “não poderiam ter dado mais do que deram à CEPA”. Registrou, igualmente, seu reconhecimento às administrações anteriores de Jon Aizpúrua e Milton Medran (com sua esposa Sílvia), em cujas gestões ela aprendeu a admirar o pensamento livre e progressista da CEPA, a par de conhecer e compartilhar amizades com gente da melhor qualidade, de diferentes partes do mundo. Apresentou seu plano de atividades, onde o desafio de desenvolver o espiritismo laico, livre pensador, progressista e kardecista, passa a ter mais ampla dimensão, exigindo a implementação de um processo de regionalização, a ser compartilhado com seus vice-presidentes.





Caminhando
Há formas diferentes de ver o espiritismo, como há formas distintas de ver e sentir a realidade universal. O espiritismo tem a dimensão do universo, porque seu objeto de estudo é o ESPÍRITO: “princípio inteligente do universo”.
O grande equívoco das religiões, ao curso da História, tem sido o de buscar aprisionar o espírito nos limitados “campos de concentração” do dogmatismo e das estruturas organizacionais fechadas e autoritárias.
Nessa caminhada de 70 anos, a CEPA aprendeu uma preciosa lição: impossível evitar a pluralidade de pensamento, num campo tão amplo e multidisciplinar como é o espiritismo. Querer unificá-lo é impor-lhe camisa de força, incompatível com sua natureza aberta e, como o universo, em expansão constante.
Por isso, não está nos planos da CEPA a hegemonia do pensamento espírita. Tampouco lhe é lícito limitar sua abrangência territorial. O livre pensamento não pode ter limites, embora guardando sempre o respeito à alteridade e a outras formas, igualmente legítimas, mesmo que limitantes, de ver, sentir e organizar o espiritismo e seu movimento.
Daí essa constante inquietação e essa transformabilidade que caracterizam os espíritas livre pensadores representados pela CEPA.

A CEPA está descortinando novos horizontes. Solidifica-se a união de um contingente de espíritas europeus com iguais ideias e propósitos. Momento que convida a refletir sobre a inexorabilidade do processo transformador e inovador, mesmo não sabendo exatamente a que futuro a levará a estrada agora tomada. Parece oportuno, a propósito, recordar famoso verso do grande poeta andaluz Antonio Machado: “Caminante, no hay camino, se hace camino al andar”. (A Redação)






Identidade espírita
“Todos falam de Espiritismo, bem ou mal. Mas poucos o conhecem.”
J.Herculano Pires, em “Curso Dinâmico de Espiritismo”.

No ato de abertura do XXII Congresso Espírita da CEPA, em sequência às palavras de boas-vindas do presidente da Comissão Organizadora, Raúl Drubich, e do então presidente da instituição, Dante López, foi dado espaço para o relato de uma significativa ação desenvolvida por nossos companheiros de Porto Rico.

Iván J. Figueroa Agrinsoni, presidente do Consejo de Relaciones Espirita Puertorriqueño, CREPU, detalhou, na oportunidade, os esforços desenvolvidos por aquela instituição junto à Real Academia Espanhola para corrigir o que entendiam uma grave distorção do significado da palavra “espiritismo” no dicionário da Academia.
O primeiro conceito vertido nos dicionários espanhóis, a partir do Dicionário da Real Academia Espanhola, definia espiritismo como “Doctrina de los que suponen que a través de un médium, o de otros modos, se puede comunicar con los espiritus de los muertos”.

O Conselho Espírita Porto-riquenho, em sucessiva troca de correspondência com a Real Academia, sustentou longa e insistentemente que aquela definição poderia servir para conceituar mediunismo, nunca o espiritismo, que, segundo seu fundador, é uma “ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos e de sua relação com o mundo material”, dando lugar a uma doutrina filosófica de consequências morais.

Não caberia, aqui, descrever todos os episódios e esforços desenvolvidos pelos espíritas de Porto Rico para corrigir essa distorção. Finalmente, obtiveram parcial atendimento de sua reivindicação e, hoje, quem acessar a edição eletrônica do Dicionário da Real Academia Espanhola – http://die.rae.es/ -  e buscar o verbete “espiritismo”, vai encontrar estes dois conceitos:
            1.m. Creencia en que a través de um médium, o de otros modos, se puede comunicar con los espíritus de los muertos.
            2. m. Doctrina fundada por Allan Kardec, en 1857, que estudia la naturaleza, origen y destino de los espíritus, y sus relaciones con el mundo corporal.

A segunda acepção foi acrescida ao dicionário, justamente, a partir da longa negociação com os espíritas porto-riquenhos. Uma vitória que não contemplou inteiramente a demanda do CREPU, mas que atestou a capacidade de ação de um movimento de ideias bem estruturado.
Ações dessa natureza contribuem eficazmente para que o espiritismo seja melhor conhecido e respeitado. Em cada país, dos tantos onde o espiritismo tem alguma presença social, registram-se idiossincrasias que, ora se afastam, ora se aproximam da verdadeira identidade kardecista. Cabe àqueles estudiosos sérios, que realmente conhecem a obra de Allan Kardec, o dever de zelar por sua correta conceituação identitária

 Nessa tarefa, é preciso ter sempre presente que, mesmo com os avanços conceituais que o processo de atualização vai incorporando, os lineamentos básicos do espiritismo estão solidamente contidos na monumental obra de Allan Kardec. E este, lastimavelmente, segue sendo o grande desconhecido, mesmo de muitos que se declaram espíritas.







Casualidade e Causalidade
No trajeto de casa para o centro, em semáforo de bastante movimento, tenho me deparado com um pedinte muito estranho. Ele abre diante dos carros enorme cartaz com os dizeres: “Nada é por acaso. Você foi escolhido. Colabore com o meu lanche.”.
Às vezes, dá o acaso de o sinal ficar vermelho bem em frente de meu carro. Outras, vejo que o sinal está verde e, sigo em frente, pensando no verso dos Titãs: “o acaso vai me proteger...”, título, aliás, escolhido pelo Reinaldo Di Lucia, num Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, para sustentar que acasos acontecem sim e podem ser responsáveis por importantes episódios da vida gente. É uma ideia que se contrapõe àquela da causalidade absoluta, muito sustentada no meio espírita, e segundo a qual tudo na vida está previamente escrito. Dela justamente é que se vale o rapaz do semáforo, cara simpático e inteligente, que a todos sorri indistintamente, inclusive para mim. Mesmo assim, nunca sucumbi à doutrinação dele querendo me fazer crer predestinado a lhe dar um troquinho, sabe-se lá para quê.

Dar ou não esmola
Mas não é sobre a intrincada questão fatalismo x acaso ou determinismo x livre- arbítrio que quero falar. É das dúvidas que sempre nos atormentam sobre dar ou não esmola a essa verdadeira multidão de pedintes que toma conta de nossas ruas. Penso que o melhor mesmo é destinar eventuais ajudas ao nosso alcance àquelas entidades sérias, também numerosas em todo o país, voltadas à promoção social.
Não são poucos os apelos de entidades reconhecidamente benemerentes que, muitas vezes, mais não pedem do que um agasalho para seus idosos, um litro de leite para suas crianças, uma cesta básica para seus internos incapacitados de trabalhar e abandonados pelos familiares. Muito do que para nós sobra é indispensável à sobrevivência deles. Entre nós, o Estado já avançou um pouco na adoção de políticas sociais integrativas. Mas, muito ainda resta a ser feito. E essa, aliás, é uma tarefa da sociedade como um todo e de cada um individualmente.

Contrastes
Vivemos num país ainda socialmente injusto, mas também rico em almas generosas que se preocupam com seu semelhante e que dedicam grande parte de seu tempo e de seus recursos materiais e espirituais ao socorro dos mais necessitados. É um contraponto às estruturas sociais viciadas por privilégios e injustiças engendradas no curso da história. O egoísmo, o individualismo, tão próprios de nosso tempo, são obstáculos que precisamos vencer, alargando o sentimento de solidariedade, escondido no fundo da alma da gente.
Aí cabe sim a inserção da lei de causa e efeito. O Livro dos Espíritos afirma, na questão 930, que, numa sociedade regida pelas leis de Jesus, não haveria lugar para a fome. A lei de Jesus, no caso, é a da prática da justiça social, da garantia de oportunidades iguais para todos e o suprimento pela sociedade das necessidades daqueles que estão impossibilitados de produzir.

Causas e efeitos
A violação sistemática às leis de igualdade, de justiça e de solidariedade, quando se torna prática contumaz, contamina e deteriora a cultura de um povo. Gera a violência, a revolta e o desequilíbrio, cujos efeitos terminam por atingir todo o tecido social. Tempos de crise, como o que estamos vivendo, no Brasil, não podem ser interpretados como meros episódios políticos. Nem tampouco é justo atribuir a culpa de tudo à classe política.  O quadro é a resultante mais dramática do atraso moral em que nos encontramos.
É preciso remover esse gigantesco entulho feito de desamor e indiferença para que todos sejamos mais felizes. Sem isso, acaso algum nos vai proteger. A crise, frequentemente, não é mais que efeito de causas que, num esforço conjunto, podemos estancar.
    




O diálogo entre fé, 
razão e dúvida!
Jerri Almeida  -  Professor, autor, entre outros, do livro: “Kardec e a revolução na fé”.

A fé não exclui a dúvida! No espiritismo, a dúvida dialoga filosoficamente com a fé. O argumento da “verdade absoluta”, em qualquer área do conhecimento, é um “erro absoluto”. No exercício intelectual, na busca do conhecimento e da construção da fé, não se deve desconsiderar os limites naturais de cada um, e a possibilidade de autoengano. Certezas e dúvidas fazem parte desse percurso!
A dúvida pode ser um instrumento, como foi para Descartes na filosofia, capaz de conduzir para a análise e rejeição de certas opiniões ou conhecimentos instituídos pelas tradições. A dúvida parte de uma incerteza sobre determinado assunto. Se esse assunto diz respeito às questões religiosas e existenciais, então, essa “dúvida” poderá carregar certas angústias.
Nesse caso, poderá ser considerada uma “dúvida natural”, quando vem acompanhando o indivíduo em sua caminhada existencial, ou uma “dúvida despertada”, quando gerada por uma situação externa. Por exemplo, o defrontar-se com a morte de uma pessoa querida, poderá despertar no sujeito dúvidas sobre a existência de Deus e o sentido da vida. O evento “morte”, por vezes, gerador de “angústias”, torna-se capaz de desencadear dúvidas.
Dúvidas e angústias poderão motivar um processo de busca por respostas mais consistentes. Nessa jornada pessoal, percorrerá o sujeito inúmeras possibilidades explicativas, sintonizando-se com aquela que melhor apaziguar suas angústias emocionais e inquietações intelectuais.

A relação ou a proximidade entre fé e razão sempre representou uma fronteira de difícil diálogo no território do conhecimento. Aparentemente, fé e razão são elementos divergentes, pois a fé carrega consigo uma profunda carga religiosa, por vezes, associada ao mistério, enquanto a razão apresenta-se no âmbito do saber aberto, próprio da filosofia e da ciência.

O filósofo Erich Fromm observou que: “Enquanto a fé racional é o resultado da atividade interior da pessoa, em pensamento ou sentimento, a fé irracional é a submissão a determinada coisa que se aceita como verdadeira, independentemente de sê-lo ou não.”¹ 
Kardec realizou a crítica da fé irracional, dogmática ou cega. Em sessão na Sociedade Parisiense² ele tem a oportunidade de dialogar com o espírito de um padre que desencarnara adversário do espiritismo. O diálogo é muito esclarecedor, pois aborda o problema da crença e da fé racional. Enfatiza o discípulo de Pestalozzi, que o espiritismo deixa a cada um a inteira liberdade de exame de seus princípios. Qualquer princípio baseado no erro cai pela força mesma das coisas. Assim, as ideias falsas postas em discussão mostram seu lado fraco e se apagam ante o poder da lógica e dos fatos.
Não raras vezes nos deparamos com estudos espíritas distantes do que preconizava Kardec, pois aos participantes é vedada a análise e discussão dos textos. Qualquer estudo sério da filosofia espírita deve permitir o espaço do debate fundamentado, da análise estruturada em argumentos lógicos e responsáveis, ao invés de leituras intermináveis e cansativas sem nenhum aproveitamento. Dogmatizar os estudos é colaborar para o enraizamento de crenças, que já deveriam estar superadas no meio espírita.
Kardec foi um defensor da dialética, do argumento, do debate de ideias necessárias à construção do conhecimento e da própria fé. O espiritismo, dizia ele, não impõe uma crença cega, pois deseja que a fé se apoie na compreensão. Por isso, deixa a cada um inteira liberdade de examinar seus princípios e aspectos. Sem a pretensão de colocar um ponto final em tudo, por não se tratar uma macro teoria salvacionista, o espiritismo postulando a fé racional, enfatiza o papel da dúvida como elemento humano e natural, na busca por um saber quase sempre relativo, consubstanciado na progressividade do conhecimento.

[1] FROMM, Erich. A Revolução da Esperança. 5ª. Ed. Trad. Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1984. Pág. 31-32.
2KARDEC, Allan. Partida de um adversário do Espiritismo para o mundo dos espíritos. Revista Espírita. Outubro de 1865. P. 295. Edicel.






A Delegação do CCEPA ao Congresso da CEPA
O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre se fez representar no XXII Congresso da CEPA (Rosario/Argentina) pelos seus ex-presidentes Donarson Floriano Machado e esposa Loanda, e Milton Rubens Medran Moreira e esposa Sílvia, e, também, por seus colaboradores Margarida da Silva Nunes e Marcelo Cardoso Nassar.

Donarson representou a instituição na Assembleia Geral que modificou o estatuto da CEPA e elegeu seus novos dirigentes. Medran integrou dois painéis: o primeiro, comemorativo aos 70 anos da CEPA (reportagem de capa deste periódico), e o segundo, discorrendo sobre “O Caráter Humanista do Espiritismo”


Moacir e o Perdão
O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre recebeu grande público, em palestra especial do dia 1º de junho último, proferida pelo Prof. Moacir Costa de Araújo Lima, sob o título de “Refletindo sobre o Perdão”. O tema é do livro “Perdão – Crônicas para uma vida plena”, de autoria do conferencista, que, na oportunidade, autografou a obra.
O mais recente livro do Prof. Moacir está à venda no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, ao preço de R$ 35,00.







Congresso na Espanha
Queridos amigos y compañeros de camino.   Tengo el placer de invitaros al "II Congreso Internacional de Espiritismo" que organiza A.I.P.E. (Asociación Internacional para el progreso del espiritismo) en la cual ejerzo el cargo de presidenta y cuyo evento celebramos los días 16, 17 y 18 de Septiembre en Torrejón de Ardoz.
El lema que presentamos en este Congreso es "Un Mundo Nuevo",  considerando la necesidad del momento actual de hacer un cambio de conciencia personal para constituir un Nuevo mundo con valores morales y espirituales, de los que carecemos en este momento.
 Os agradecemos la divulgación  a vuestros contactos, siendo una oportunidad para compartir y enriquecernos  de los conocimientos que de serios y renombrados ponentes, que de diferentes países,  nos ofrecen su sabiduría de una forma altruista.
Programa: http://www.progresoespiritismo.com/
 Un abrazo fraterno
 Rosa Díaz Outeiriño – San Cibrao de Viñas, Ourense, España.

Recebimento de “CCEPA Opinião”    
Caros amigos e irmãos espíritas do CCEPA. A ACADE recebe CCEPA OPINIÃO como cortesia há longos anos. Somos uma instituição sem recursos materiais e gostaríamos de continuar recebendo esse jornal que nos é muito importante para elucidação de assuntos pertinentes à Doutrina Espírita. Somos imensamente gratos pela atenção que nos dispensam. Um abraço.
João Artur Cardoso – Presidente da ACADE – Associação Cultural Artística e Divulgadora Espírita – Pelotas/RS.







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