160
anos de O Livro dos Espíritos
O
Espiritismo está de aniversário
Com o lançamento, em
Paris, de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, Allan Kardec
(1804/1869) fundava um movimento de ideias revolucionário, cujas abrangência e significação
ainda carecem de estudo, compreensão e aprimoramento.
O livro
A
primeira edição de O Livro dos Espíritos, lançada por Allan Kardec, no Palais Royal, em 18/4/1857, era composta de 501
perguntas e respostas. Ao alto, como subtítulo, a expressão “Filosofia
Espiritualista”, sinalizava seu conteúdo filosófico e não religioso. O livro
era o resultado das experiências e de uma vasta documentação recolhidas pelo
pedagogo francês. Nos três anos que antecederam o lançamento, o Professor Hyppolite Léon Denizard Rivail – que passou
a ser conhecido pelo pseudônimo de Allan
Kardec -, atraído pelos episódios das “mesas girantes”, investigou
metodicamente o fenômeno da comunicação com os espíritos. Qualificando
seletivamente esse tipo de comunicação, e com o concurso de médiuns por ele convidados,
entrevistou personalidades que haviam vivido na Terra, em diferentes épocas, e
que acorreram a colaborar com seu trabalho pioneiro.
A
publicação da primeira edição de Le Livre
des Esprits (foto) marcava o nascimento de uma doutrina filosófica deísta e
espiritualista, fundada nos princípios da imortalidade e comunicabilidade do
espírito, bem como sua contínua evolução mediante o processo das vidas
sucessivas (reencarnação), e com profundas características éticas, racionais e
humanistas. Uma verdadeira revolução paradigmática.
Três
anos após, em 1860, Kardec lançava nova edição da obra. Segundo justificou na Revista Espírita de março de 1860, nessa
nova publicação, ampliada, com 1019 perguntas e respostas, cuidou de dar à
distribuição das matérias uma ordem mais metódica. Ali, buscou suprimir tudo o
que tivesse duplo sentido e inseriu notas explicativas às respostas dadas pelos
espíritos. Era a edição definitiva, tal como a conhecemos.
A repercussão
Por
seu ineditismo, O Livro dos Espíritos
alcançou, já na edição primeira, significativa repercussão na França e em
outros países da Europa. A Igreja, por diversos de seus clérigos, tratou de
promover campanhas de combate às ideias expostas na obra. Diziam tratar-se de
uma nova e falsa religião, deturpadora da fé cristã.
Mas,
nos círculos intelectuais, surgiam manifestações de apreço ao livro,
especialmente pelos princípios éticos que defendia, em plena consonância com os
ideais de liberdade de pensamento e de humanismo, herdados do Iluminismo
europeu.
Entusiasmado
com a obra, o teatrólogo Victorien
Sardou, de grande prestígio nos meios intelectuais franceses, escreveu
carta a Kardec, declarando que aquele era o livro mais “interessante e
instrutivo” de todos quantos lera: “É impossível” – dizia – “que ele não tenha
grande repercussão”, pois “todas as grandes questões da metafísica, da moral,
ali estão elucidadas de maneira satisfatória; todos os grandes problemas ali
são resolvidos, mesmo aqueles que os mais ilustres filósofos não resolveram”.
Sardou assim concluía a missiva: “É o livro da vida, é o livro da humanidade”.
Um ano depois, em 1858, Kardec
fundaria a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”, um centro de estudos que
reunia pessoas interessadas no avanço do conhecimento espírita, médiuns e
estudiosos dos diferentes aspectos da doutrina. Dali se irradiaria todo o
restante de sua vasta obra, incluindo a edição mensal da Revista Espírita, que dirigiu até o ano de sua desencarnação, 1869.
Não é um livro
sagrado
Nem O Livro dos Espíritos, nem qualquer das
demais obras de Allan Kardec podem ser classificadas como livros sagrados.
Aí começa a distinção
entre o espiritismo e as religiões. Estas, sempre se escoram na pretensa
sacralidade de seus livros fundadores, invariavelmente apresentados como a
própria palavra de Deus. E palavra de Deus não se discute
.
O Livro dos Espíritos, embora se ocupando de valores perenes,
porque integrantes da “lei natural, eterna e imutável como o próprio Deus”
(questão 615), admite que os conteúdos doutrinários inspirados naqueles
princípios são “de elaboração humana”, segundo
o magistério do próprio Allan Kardec, na obra A Gênese (1868), capítulo “Caracteres da Revelação Espírita”.
Nessa mesma linha de
raciocínio, e segundo, ainda, A Gênese, a
própria expressão “revelação”, aplicada à doutrina espírita, diferentemente do
sentido religioso, expressa a ideia da busca da verdade, mediante a retirada do
“véu” de mistério e de sobrenaturalismo que, historicamente, envolveu mitos e crenças religiosas.
Por isso mesmo, a
doutrina espírita é progressiva e sempre inconclusa. Fruto do contínuo
intercâmbio entre a humanidade encarnada e a humanidade desencarnada, requer
permanente atualização, na medida em que o espírito humano melhor desenvolve o
intelecto e a moralidade, aprimorando sua capacidade de compreender e vivenciar
a lei divina ou natural.
Em uma palavra: o
espiritismo, cujo marco de nascimento completa, este mês, 160 anos, é um
processo em contínuo evoluir. Todos, encarnados e desencarnados, que nos
interessamos por seu desenvolvimento, somos seus construtores, porque ele é um
projeto humano. E, como tal, sujeito a todas as humanas contingências. (A Redação).
Um outro Brasil é possível
Não há nada oculto que não venha a ser
revelado, e nada escondido que não venha a ser conhecido e trazido à luz – Jesus de Nazaré.
Historicamente, o brasileiro sempre alimentou orgulho e esperança em
relação ao destino de sua pátria. É de supor que tais sentimentos não tenham
morrido, mesmo diante de tantas decepções com importantes setores de nossa
sociedade afundados, hoje, em deprimentes condutas antiéticas.
Mas é de se reconhecer também que, por largo tempo, muito se escondeu,
varrendo-se o lixo para baixo do tapete. Vivíamos, então, embalados por crenças
míticas de que nosso país abrigava um povo dotado de predestinação histórica,
privilegiado por Deus e pela natureza. Governos totalitários e visões
religiosas totalizantes vendiam a ideia de que aqui estava prestes a florescer uma
civilização modelo para toda a humanidade. No meio espírita, “Brasil, Coração
do Mundo e Pátria do Evangelho”, do espírito Humberto de Campos pela
psicografia de Chico Xavier, abonou essa tese que, de resto, reproduz velha
tradição judaico-cristã da existência de um “povo de Deus”, por Ele eleito para
promover a regeneração mundial.
Bem visto, o espiritismo não se compatibiliza com essa visão de mundo
e de universo. Allan Kardec, ao analisar a questão dos chamados “mundos
superiores e mundos inferiores”, asseverou que “Deus não usa de parcialidade”,
e concede “a todos os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem até
lá” (à condição de mundos felizes). Nos mundos habitados, e, por idêntico
princípio, nas nações de um mesmo mundo, “os primeiros lugares são acessíveis a
todos: cabe-lhes conquistá-los pelo trabalho, atingi-los o mais cedo possível,
ou abandonar-se durante séculos e séculos no meio da escória humana”. (ESE –
Cap.III).
Para a doutrina espírita, sem o efetivo exercício do amor, da justiça
e da caridade – síntese de todas as dez leis morais da 3ª parte de O Livro dos
Espíritos – não há efetivo progresso. A
prática do amor e da caridade, dessa forma, não prescinde da rigorosa aplicação
da justiça, como instrumento de equilíbrio nas relações entre Estado e cidadãos
e destes entre si.
O momento difícil que vivemos, pelo menos, parece avançar na busca
dessa equação. Poderosos que, ainda ontem, encastelados na impunidade garantida
pelo poder político ou econômico, agiam na certeza de pairarem “acima da lei”,
começam a ser atingidos. Esse é um processo difícil, não imune a erros pontuais
e suscetível a distorções produzidas, inclusive, pela vaidade humana e pela
ânsia da celebridade. Mesmo com suas falhas e limitações, contudo, o caminho
tomado não deixa de apontar para a conquista de padrões éticos mais elevados.
A propósito dessa busca de novos padrões éticos a gerir a vida
nacional, registre-se este conceito, igualmente compartilhado nas redes
sociais, sem que se saiba de onde partiu: “Ética é o que você faz quando está
todo mundo olhando. O que você faz quando não tem ninguém por perto se chama
caráter”.
Diríamos que o reto caráter é, na verdade, a força geradora de uma
verdadeira ética universal, capaz de tornar efetivos os perenes valores que
conduzem à felicidade dos povos. Com certeza, um dia chegaremos lá. Sem
privilégios a revelarem qualquer predestinação relativa ao nosso futuro, mas
movidos pela sentida necessidade de nos ajustarmos às duras lições deixadas
pelos erros de nosso passado.
Trabalho, honestidade, justiça e transparência é tudo aquilo de que
necessitamos, neste momento, para, finalmente, merecermos viver em um outro
Brasil.
A grande “sacada” de
Kardec
Nos
160 anos do lançamento de O Livro dos Espíritos, é oportuno
recordar: o fundador do espiritismo, em todo seu profícuo trabalho, sempre
transitou bem longe daquele caminho que pudesse conduzir a doutrina por ele
sistematizada para o campo do “sagrado”.
A
grande “sacada” de Allan Kardec, desde seus primeiros contatos com as mesas
girantes e mesas falantes foi a de tratar os espíritos simplesmente como homens
e não como deuses, anjos, santos ou demônios.
Ele
próprio deixou escrito em Obras Póstumas:
“Um dos primeiros resultados que colhi de minhas observações foi de que os
espíritos, nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena
sabedoria, nem a ciência integral”. Ou seja, como escreveu logo adiante: os
conceitos emitidos pelos espíritos, inclusive aqueles que fariam parte de sua
obra, não passavam de “opiniões pessoais”.
A razão e a fé
Pergunte-se,
então: como dar crédito aos conteúdos espíritas, se eles não passam de opiniões
pessoais? Kardec sustenta que essa credibilidade se apoia, fundamentalmente, em
dois pontos: o primeiro seria o que ele chamou de “critério da universalidade
dos ensinos dos espíritos”. Antes de
publicar O Livro dos Espíritos, ele
submeteu suas questões básicas a vários grupos espíritas, de países diversos,
com diferentes médiuns confiáveis. Só depois de obter a concordância geral
relativa aos temas expostos, incorporou-os à obra. O segundo ponto foi a
submissão daqueles ensinos (ou opiniões) a rigorosos critérios de
racionalidade.
Diferentemente,
a revelação religiosa não tem compromisso com a razão. Ao contrário, Santo
Agostinho, um dos grandes doutores da Igreja, proclamava: “Credo quia absurdum”
(creio porque é absurdo). Com isso, a teologia cristã definiu que artigos de fé
pertencem ao domínio do mistério; já, aquilo que à razão parece absurdo, aos
olhos da fé faz-se verdade eterna.
Laicidade x dogmatismo
E
foi assim que, em nome do sagrado a que pertencem as verdades eternas, chamadas
por outro doutor da Igreja, São Tomás de Aquino, de “lex aeterna”, por séculos
se justificaram crimes bárbaros como aqueles institucionalizados pelas Cruzadas
e pela Inquisição. À luz da “lei eterna”, “imutável” porque “revelada pelo
próprio Deus” e presente nos livros sagrados, torturaram e mataram “hereges”
que pregavam coisas diferentes, discriminaram-se mulheres, homossexuais e
livres-pensadores, e se erigiu a maior potência teocrática da História,
herdeira do Império Romano e, como ele, dominadora e colonizadora.
]Os
direitos fundamentais do ser humano, conquista da modernidade, só puderam ser
reconhecidos quando a laicidade, fundada nos ditames da razão, se impôs
vigorosamente sobre os dogmas da fé.
Razão divina x razão
humana
Laicidade
não exclui espiritualidade. Antes, qualifica-a. Arranca-a do nebuloso e
irracional universo do sobrenatural trazendo-a para o domínio das leis
naturais. O Livro dos Espíritos rompe
com o sagrado e submete o conhecimento, seja ele atinente às leis físicas,
morais ou espirituais, aos limites e às possibilidades humanas. Vale a “ratio
humana”, em contraposição à “ratio divina”.
Será
pretensiosa a proposta de se dar mais valor à razão humana do que àquilo
definido pelas religiões como razão divina? Atente-se para o conceito presente
na questão 614 de O Livro dos Espíritos,
segundo o qual “a lei natural é a própria lei divina” e que esta se encontra
escrita “na consciência” do espírito imortal (q.621).
E
a quem supuser que sejamos ateus, por guardarmos essa posição, perguntamos:
Onde melhor poderemos encontrar Deus? Nos chamados livros sagrados ou na
admirável capacidade humana de raciocinar e, a partir da razão, progredir
intelectual e moralmente?
Intercâmbio Cultural (II)
Por
iniciativa do CCEPA e organizado pelo Grupo de Cultura Espírita Bageense
(GCEB), liderado pela saudosa odontóloga Nóris dos Santos Paiva, estiveram
reunidos, nos dias 26 e 27 de abril de 1997, na cidade de Bagé, a 380 km de
Porto Alegre, cerca de 30 dirigentes e integrantes daquele grupo, do
GEPDE-Grupo de Estudos, Pesquisa e Difusão Espírita de Rio Grande, do CCEPA e representantes da CEPA, marcando o início,
no Rio Grande do Sul, de um movimento de aproximação e intercâmbio entre
espíritas, grupos e instituições identificados com a visão laica do
espiritismo.
Na
sequência, o CCEPA esteve em Pelotas no dia 7 de junho de 1997, em um novo
encontro, articulado pelo psicólogo Octaviano Pereira das Neves, na S.E. Casa
da Prece, posteriormente em Santa Maria,
e novamente em Pelotas, em 13 de dezembro de 1997, na Sociedade Pelotense de
Estudos Espíritas, onde ficaram definidas as diretrizes para a realização, em
1998, nos moldes do SBPE, do I Simpósio Gaúcho do Pensamento Espírita, sendo
sua Comissão Organizadora coordenada por Salomão Jacob Benchaya. O I SGPE teve
como entidades promotoras, além do CCEPA, o GEPDE, de Rio Grande, o GCEB, de
Bagé, a SPEE e a Casa da Prece, de Pelotas, e a S.E. Roberto Barbosa Ribas, de
Santa Maria.
Nos dias
22, 23 e 24 de agosto de 1997, o psicólogo e escritor espírita catarinense Jaci
Regis, esteve no RGS, a convite do CCEPA, participando das atividades da CEPA e
fazendo o lançamento do seu livro “Introdução à Doutrina Kardecista”. De 21 a
23 de novembro desse ano, 12 integrantes do CCEPA participam, em Cajamar-SP, do
V SBPE, onde é feita a apresentação do trabalho “Uma proposta pedagógica para a
Educação Espírita da infância e da juventude”, por Fátima Canellas Benchaya.
Em 1998,
é promovido, em Porto Alegre, o I Simpósio Gaúcho do Pensamento Espírita
(SGPE), no período de 21 a 23 de agosto, tendo por conferencistas Jon Aizpúrua
e Maurice H. Jones cujos temas foram, respectivamente, “Manuel Porteiro e a
Sociologia Espírita” e “Verdade e Liberdade”. Houve apresentação de sete
trabalhos e a realização de um Painel sobre “Definição e Rumos da Cultura
Espírita”.
O I SGPE
constituiu, sem dúvida, um marco para a produção cultural espírita gaúcha. Seis
dos sete trabalhos inscritos (um dos autores não compareceu) demonstraram que é
possível melhorar o nível cultural e doutrinário do movimento espírita quando o
estudo, a pesquisa e o debate são estimulados, justamente os objetivos centrais
do evento que reuniu, na sede do CCEPA, 91 participantes de Porto Alegre, Bagé,
Santa Maria e Pelotas, no RS, de Curitiba-PR, São Paulo-SP, Santa
Rosa-Argentina e Caracas-Venezuela.
De 26 a
28 de maio de 2005, o CCEPA organiza o “I Encontro de Delegados e Amigos da
CEPA – Região Sul”, evento promovido pela Associação Brasileira de Delegados e
Amigos da CEPA – CEPAmigos – atual CEPABrasil, contando com a participação de
companheiros argentinos, dirigentes da CEPA, então presidida pelo brasileiro
Milton Medran.
Pensador espírita argentino –
1881/1936.
As
religiões têm ritos, rezas, templos, ídolos e dogmas. O Espiritismo dispensa
tudo isso. As religiões têm santos, anjos e demônios. O Espiritismo fala
somente de Espíritos mais ou menos evoluídos. As religiões nos falam de penas e
castigos ou, em troca, de uma vida de monótona beatitude para depois da morte.
O Espiritismo fala de justas consequências de nossos atos, de evolução e
progresso espiritual eternamente. Quão notável é a diferença que existe entre
ambos! Religião é sinônimo de sombra; Espiritismo de luz.
(Do livro “Espiritismo Doctrina
de Vanguardia” – Ediciones CIMA – Venezuela)
“A religião é o ópio do povo”. E daí?
Thiago Lima da Silva - Professor universitário de Relações
Internacionais, Membro da ASSEPE – João Pessoa/PB
Esse é um
ditado muito utilizado pelos críticos das religiões. Mas o que ele significa?
Para o senso comum, talvez ele passe a lição de que a religião é tão ruim
quanto uma droga ilícita e alucinógena, que ilude as pessoas com prazeres
efêmeros, viciantes e que tem como consequência a alienação em relação à
realidade concreta. A vida passaria e a pessoa não perceberia o sistema
econômico-político que a oprime e a explora para o benefício de uns poucos,
pois estaria entorpecida pelas ilusões criadas por aqueles que dominam a
sociedade, com o precioso auxílio de lideranças religiosas.
Não era
bem isso o que Karl Marx (1818-1883) queria dizer quando escreveu essa frase.
Segundo nos ensina o sociólogo brasileiro Michael Löwy (1938-), em seu curso
online gratuito “Sociologia Marxista da Religião”, Marx usou a famosa frase no
texto “Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, de 1844, em sua
juventude – portanto, antes mesmo de desenvolver sua teoria... isto é, o marxismo
não existia!
E o ópio?
Naquela altura do século XIX o ópio ainda não era visto como uma droga
indesejável e destrutível. Muitos poderiam pensar que o ópio sempre foi
considerado uma substância socialmente combatida, mas a história demonstra que
o sempre é algo muitíssimo raro. Segundo Löwy, o ópio era frequentemente
utilizado para fins medicinais, como no caso da insônia e para aliviar dores,
notadamente numa época de poucas alternativas farmacêuticas, sobretudo para os
mais pobres.
Mas o que
Marx escreveu, afinal? “A angústia religiosa é ao
mesmo tempo a expressão da dor real e o protesto contra ela. A religião é o
suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, tal como o é o
espírito de uma situação sem espírito. É o ópio do povo” (Marx apud Löwy,
1998). Naquele contexto, Marx, ateu convicto,
já era crítico da religião. Contudo, reconhecia seu papel ambíguo, de alívio
para o sofrimento do povo.
Marx faz
uma análise mais profunda do papel da religião sob o prisma materialista histórico
no texto “A ideologia alemã”, de 1846. Posteriormente, desinteressa-se pela
religião como algo fundamental para compreender a sociedade. Sua obra
principal, “O Capital”, que começa a ser publicada em 1867, não faz da religião
um eixo central de análise.
Alguns
importantes autores marxistas, entretanto, estudaram seriamente o papel da
religião na sociedade e o mais destacado naqueles primórdios era justamente o
grande parceiro de Marx, o também alemão Friedrich Engels (1820-1895). Engels,
sim, ocupou-se do estudo da religião como uma máscara para os interesses da
burguesia. Löwy reconhece a importância seminal de Engels para esse tipo de
análise nas ciências sociais, mas considera-o algo equivocado ao minimizar o
papel sincero que a religião exercia na vida das pessoas. Não conseguia
compreender como, após a Revolução Francesa, que fez de tudo para retirar a
coisa divina dos assuntos políticos do Estado, líderes comunistas franceses se
declaravam cristãos, e defendiam que o comunismo era o cristianismo moderno. O
mesmo ocorria com importantes lideranças comunistas na Alemanha. Na Inglaterra,
um dos principais criadores do 'socialismo utópico' era Robert Owen (1771-1858)
que, apesar de crítico da religião, converteu-se ao espiritualismo no final de
sua vida. Seu filho, Robert Dale Owen (1801-1877), radicado nos Estados Unidos,
também era socialista e adepto do espiritualismo, um movimento com paralelos ao
espiritismo surgido na França.
A
religião exerce papel fundamental na vida das pessoas, nos mais variados tempos
históricos e nos mais diversos cantos do planeta. Atualmente, assistimos a
diferentes fundamentalismos religiosos no mundo e, no Brasil, a religião tem
entrado de novas e perigosas formas no mundo político. É claro que a religião
não é intrinsecamente ruim. Ela pode, sim, ao organizar princípios morais e
introduzir o contato com a espiritualidade, contribuir para uma sociedade mais
ética e solidária. O espiritismo religioso muitas vezes cumpre esse papel,
promovendo consolo e oportunidade de renovação para muitas pessoas. Mas, pode
também levar a um fanatismo eivado de dogmas e rituais, afastando as pessoas
dos ensinamentos de tolerância, solidariedade e busca de esclarecimento
deixados pelo próprio Cristo.
O tema é
polêmico e pode-se refletir sobre ele por diversos ângulos. Pelo prisma das
Ciências Sociais, o curso online “Sociologia Marxista da Religião”, de Michael
Löwy, ajuda a compreender melhor algumas funções históricas da religião, como
solidariedade, revolução e ópio do povo.
BIBLIOGRAFIA
Löwy,
Michael. (1998). Marx e Engels como sociólogos da religião. Lua Nova: Revista
de Cultura e Política, (43), 157-170.
https://dx.doi.org/10.1590/S0102-64451998000100009. Acesso em 27/11/2016
Löwy,
Michael. (2015). Sociologia Marxista da Religião. Editora Boitempo.
https://blogdaboitempo.com.br/2015/11/11/confira-os-videos-do-curso-sociologia-marxista-da-religiao-de-michael-lowy-na-tv-boitempo/.
Acesso em 27/11/2016.
“Estudo e Caridade” – Santa Maria – 90 anos
A Sociedade Espírita Estudo e Caridade – Lar de
Joaquina – da cidade gaúcha de Santa Maria, completa, neste mês, 90 anos de
fundação.
Na
programação de aniversário da SEEC, o Diretor de Comunicação Social do Centro
Cultural Espírita de Porto Alegre e editor deste jornal, Milton Medran Moreira, proferirá palestra na sede daquela
instituição, dia 29 de abril, às 17h, enfocando o tema “Moral e Ética – Uma
Abordagem Espírita”.
Nas
suas nove décadas de atividade, A Sociedade Espírita Estudo e Caridade prestou
relevantes serviços ao estudo e à prática do espiritismo, tendo, também,
marcante atuação no campo da ação social e educativa, com a manutenção do Lar
de Joaquina, obra social que granjeou o respeito e a admiração da comunidade
santa-mariense.
Centro
de Estudos Espíritas José Herculano Pires: uma Diretoria composta só
de mulheres!
Em Assembleia realizada no
dia 3-3-2017 em sua sede (Rua Alicante 389, Penha, São Paulo), o Centro de Estudos Espíritas José Herculano
Pires elegeu a nova Diretoria Executiva e o Conselho Deliberativo para o
biênio março de 2017 a março de 2019.
Pela primeira vez em sua
história o tradicional centro do bairro da Penha terá uma diretoria totalmente
formada por mulheres. Foram eleitas:
Presidente Camila
Oliveira Amorim Campos (foto)
Secretária Geral Elisabete de Oliveira Martins
Secretária Adjunta Angélica Castilho Alonso
1ª Tesoureira Paula
de Mesquita Spinola
2ª Tesoureira Roseli
Alves de Oliveira
O
Conselho Deliberativo será formado por: Mauro de Mesquita Spinola (Presidente),
Maria Helena Fratuce Lacerda (Secretária), Armando Bega, Gildemar José Sant’Ana
Rodrigues, Jacira Jacinto da Silva, José Maria Marquesi, Leon Denis dos Santos,
Nilci Novelo e Renata Alves de Oliveira.
Homenagem aos fundadores
Os
fundadores, Geraldo de Souza Spinola
(foto), que também é Delegado da CEPA em São Paulo, e Irene de
Souza Ferreira, foram homenageados e receberam o reconhecimento como
Conselheiros Honoríficos Vitalícios da casa.
Conforme
destacou Mauro de Mesquita Spínola,
antigo dirigente da instituição, a nova Presidente Camila tem 29 anos. Apesar
de jovem, já atua há vários anos na entidade. Ela reafirmou o compromisso
histórico da casa com a difusão do espiritismo kardecista. Seu principal
objetivo para os próximos dois anos é o de consolidar os estudos e as
atividades da infância e da mocidade espírita.
O
Centro de Estudos Espíritas José Herculano Pires é unido à USE – União das
Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e filiado à CEPA – Associação
Espírita Internacional.
Baixada Santista confirma
tradição livre-pensadora
Pelo
12º ano consecutivo, os centros espíritas ligados à CEPA, realizam, conjuntamente,
neste mês de abril – mês do lançamento de O
Livro dos Espíritos - , o já tradicional Fórum do Livre-Pensar da Baixada
Santista. Este ano, o tema é “A Contribuição do Espiritismo para um Mundo em
Crise”.
Veja,
abaixo, os conferencistas e seus temas, nesse evento que acontece de 18 a 21
deste mês:
Conheça o pensamento da CEPA
lendo seu boletim
Acaba
de ser publicado CEPA Newsletter
número 3, o boletim eletrônico da CEPA – Associação Espírita Internacional.
Neste
número, a secção A Palavra da CEPA esteve
a cargo de seu ex-presidente, Milton
Medran Moreira, com o artigo Unificação
e União não são Sinônimos. Na matéria, Medran evoca o pensamento de Allan
Kardec acerca da liberdade que deveriam ter os centros e uniões espíritas de
diferentes partes do mundo para traçar suas formas organizacionais e seus
métodos de pesquisa e estudo. A ideia não sugere a unificação mas estimula a
união, que se daria pela “comunhão de pensamento” relativamente aos princípios
básicos da doutrina.
Em
Memória da CEPA, uma resenha
biográfica de Luiz di Cristóforo
Postiglioni, o pensador espírita que entendia a reencarnação como uma lei
natural e que assim deveria ser tratada pela ciência.
CEPA Newsletter também reproduz na íntegra a entrevista feita
pela gazeta eletrônica Kardec Ponto Com com a presidente da CEPA, Jacira
Jacinto da Silva, juíza de Direito, sobre o momentoso tema das execuções
penais e da situação dos presídios no Brasil. Uma visão humanista e compatível
com a filosofia espírita.
Você
pode acessar o boletim da CEPA em:
Os Caminhos Éticos do Espiritismo
levam a CEPA à Bahia
Com o
tema “Caminhos Éticos do Espiritismo –
Reflexões sob uma perspectiva humanista e livre-pensadora, o VIII Fórum do
Livre-Pensar Espírita, realização da CEPA Brasil em colaboração com o TELMA –
Teatro Espírita Leopoldo Machado, acontece de 26 a 28 de maio, em Salvador/BA.
Medran fará
conferência de abertura
Duas conferências e vários painéis
e mesas redondas com a participação de pensadores espíritas de diferentes Estados brasileiros fazem parte
da programação.
O ex-presidente da CEPA e editor deste jornal, Milton Medran Moreira, fará a conferência de abertura, abordando o
tema “A Dimensão Laica, Humanista e
Livre-Pensadora da CEPA”. O outro conferencista será Paulo Henrique de Figueiredo (São Paulo), escritor, autor de
“Revolução Espírita”. Seu tema: “A Teoria
Esquecida de Allan Kardec”.
Outros expositores já confirmados
A presidente da CEPA, Jacira Jacinto da Silva (São Paulo/SP) e o presidente da Federação
Espírita do Estado da Bahia, André Luiz
Peixinho estão entre os expositores. Diversas oficinas tratarão de temas
relevantes e atuais à luz da filosofia espírita. Participarão das mesmas,
ainda, nomes como Ademar Arthur Chioro
dos Reis (São Paulo/SP), ex-Ministro da Saúde, e também integrante da CEPA;
Mauro de Mesquita Spínola (São
Paulo/SP), Diretor Administrativo da
CEPA; Alcione Moreno (São Paulo/SP), Júlio Nogueira (Salvador/BA), Rodrigo
Almeida (Salvador/BA), Djalma Motta
Argollo (Salvador/BA); Marcel
Mariano (Salvador/BA), Sérgio
Maurício (Brasília/DF) e outros que ainda deverão confirmar. Na próxima
edição, informaremos a programação integral, com temas e expositores.
Inscrições já estão abertas
As inscrições, abertas a todos os
interessados, podem ser feitas através do site do TELMA - http://www.telma.org.br/viii-forum-do-livre-pensar-espirita.html - que
estará atualizando as informações acerca desse importante evento .
Afinal, é possível
ouvir os mortos?
A
reportagem da jornalista Sílvia Lisboa,
de 17.6.2016, começa por referir Chico
Xavier que “doou todos os direitos autorais dos mais de 400 livros que
escreveu em vida”. Mas, o gesto não seria apenas “generosidade do médium”, pois
ele dizia não haver escrito nenhum livro: “Eles escreveram”, repetia o médium
de Uberaba.
A
partir daí, a matéria expõe a posição da ciência segundo a qual “Chico não
poderia falar com os mortos” e que “tudo teria sido produzido pelo seu próprio
cérebro”. A consciência seria “fabricada pelo cérebro e está confinada nele. Ou
seja, quando o corpo morre, a consciência desaparece”.
Apesar
dessa posição da ciência, a reportagem levanta a objeção de alguns cientistas
contemporâneos que, diante de casos como os de Chico Xavier, onde não há
indícios de fraude, estão decidindo “questionar a ciência – e não os médiuns”.
A conclusão desses pesquisadores está manifestada no livro “Irreducible Mind”
(“Mente Irredutível”, sem tradução para o português).
A
obra (foto), coordenada pelo psiquiatra da Universidade da Virgínia (EUA) Edward Kelly, parte da lógica de que
“fenômenos como a mediunidade, a telepatia e experiências de quase-morte são
indícios de que o modelo teórico vigente nos meios científicos é incompleto. A
ciência estaria ignorando um princípio científico básico, o da
“falseabilidade”, defendido pelo filósofo Karl
Popper: “Popper dizia que era muito fácil – e perigoso – ficar catando
evidências favoráveis para defender uma tese. Difícil era encontrar o argumento
que a desmontaria de vez. Para Popper, todo cientista sério deveria estar
sempre procurando um furo na sua tese – e não o contrário”.
Mediunidade seria o
“furo” a ser desvendado.
Nos
fenômenos chamados paranormais, para os responsáveis pela tese apresentada na
obra, “a mediunidade pode ser um desses furos capaz de desvendar o mistério da
consciência, que instiga filósofos e cientistas há mais de 2 mil anos”.
Para
sustentarem sua tese, os autores de “Irreducible Mind”, segundo a reportagem de
Exame, recorrem a experiências
realizadas pela Universidade da Pensilvânia com dez médiuns brasileiros que se
utilizam da psicografia. Quando em transe, os médiuns apresentavam
significativa redução na atividade do lobo frontal, que está associado à razão,
à linguagem e ao planejamento. Já quando fora de transe, escrevendo textos
próprios, não psicografados, e com plena atividade cerebral, os mesmos sujeitos
escreviam textos mais pobres e menos complexos do que aqueles atribuídos aos
espíritos.
A experiência levaria a
indícios de que a consciência não é, necessariamente, produto do cérebro, dele
se dissociando para ter natureza que possivelmente sobreviva ao fenômeno de
morte.
Ambulatório ou Escola?
Acabo de ler Opinião em Tópicos, coluna de Milton Medran
Moreira, em CCEPA Opinião de março de 2017, tratando da
necessidade de o centro espírita ser menos ambulatório e mais espaço de
convivência e de debate de ideias. Gostei muito.
Aldinha Rodrigues (via
Facebook), Lavras do Sul/RS
.
Espiritismo,
essa loucura do Século XIX
Excelente o artigo “Espiritismo, essa loucura
do Século XIX” de Salomão Jacob Benchaya (Enfoque
– CCEPA Opinião de março de 2017). A propósito, o livro de Augusto Araújo
sob esse título finalmente se tornou disponível na Livraria Saraiva. Não
conferi ainda em outras livrarias, mas vou checar na Cultura.
Mauro Quintella –
Brasília/DF.
Delinquentes de ocasião
Parabéns
pelo belo texto “Delinquentes de Ocasião” que serviu de editorial .para o
número 249 desse mensário. Segundo velho ditado popular, “a ocasião faz o
ladrão”, mas quando se tem educação e caráter, ocasião nenhuma pode justificar
cenas como aquelas dos saques ocorridos no Estado do Espírito Santo.
Tereza Ramirez B.Santos – Passo
Fundo/RS
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