(e a importância!) de Kardec
No mês em que se completam 213 anos do nascimento (Lyon, França, 3/10/1804) de Hyppolyte Léon Denizard Rivail, que passaria a ser conhecido sob o pseudônimo de Allan Kardec, algumas anotações sobre vida e obra desse personagem cuja história vem ganhando melhor conhecimento e mais profunda análise.
Infância em Lyon?
Se você já leu que Rivail passou sua infância na cidade de
Lyon, de onde era sua família, pode ir esquecendo. Até aqui, seus biógrafos
mais conhecidos tinham isso como certo. Henri
Sausse, em famosa conferência, depois transformada em livro, pronunciada em
Lyon, em 31 de março de 1896, quando os espíritas da cidade relembravam os 27
anos da desencarnação de Kardec, registrou: “Rivail fez em Lyon seus primeiros
estudos e completou em seguida sua bagagem
escolar em Yverdum (Suíça), com o célebre professor Pestlozzi..”. A
informação é abonada, também, por Zêus
Wantuil e Francisco Thiesen, na
obra em três volumes Allan Kardec –
Pesquisa Bibliográfica e Ensaios de Interpretação (FEB -1979), dando como
fonte a biografia feita por Sausse.
A festejada obra “Revolução Espírita – A teoria esquecida de
Allan Kardec” (Editora MAAT/2016), do escritor paulista Paulo Henrique de Figueiredo, minucioso
trabalho de pesquisa sobre a vida e, principalmente, a obra e o legado de
Kardec, apurou que a família de Rivail era, na verdade, de Bourg-en-Bresse, a
cerca de 80 quilômetros de Lyon. Kardec nasceu em Lyon apenas pela
circunstância de ali existir uma estação de águas minerais, recomendada para a
saúde fragilizada de sua mãe, Jeanne,
grávida de Rivail, depois de haver perdido outros dois filhos, em
circunstâncias muito dolorosas. Figueiredo classifica como “falsa” a informação
presente na maioria das biografias de Kardec de que teria ele passado a
infância em Lyon. Os autores foram “levados ao erro por acreditarem que o local
de seu nascimento era a residência de família”.
Resgatar Kardec é o desafio espírita de
hoje
O detalhe de a infância de Kardec
não ter se passado em Lyon pode ser de menor significado. O livro, mais do que
tudo, resgata aspectos culturais do tempo e da vida de Allan Kardec,
indispensáveis à correta valorização do legado espírita produzido por aquele
valoroso discípulo de Pestalozzi. Do pedagogo suíço, Rivail hauriu como
transmitir aos educandos “a capacidade libertadora de aprender pelo próprio
esforço”, ou seja, o sentido da “autonomia”. Seguiu construindo suas ideias à
luz do pensamento de Rousseau, de Kant, de Victor Cousin e de todos os
pensadores que o precederam com o “espiritualismo racional”, cenário cultural
que possibilitou o surgimento do espiritismo.
Hoje, quando o conhecimento
acadêmico terminou aprisionado por um incrível reducionismo materialista, obras
como “Revolução Espírita” estimulam os pensadores espíritas da atualidade a um
resgate coletivo dos ricos aspectos culturais que propiciaram o nascimento ao
espiritismo. No âmbito da CEPA essa tem sido uma preocupação constante. Foi
esse, aliás, o tom do VIII Fórum do Livre
Pensar Espírita, promoção conjunta da CEPA Brasil e do Teatro Espírita
Leopoldo Machado, TELMA, em maio último, em Salvador/BA, que teve, justamente,
como um de seus expositores Paulo
Henrique Figueiredo. A foto abaixo mostra o autor de “Revolução Espírita”
(1º, a partir da esquerda), juntamente com André
Luiz Peixinho, Wilson Garcia e Milton Medran Moreira, após mesa
redonda compartilhada pelos quatro.
Ao tempo de Kardec, como mostra o escritor
Paulo Henrique de Figueiredo, subsistiam duas interpretações acerca do homem,
da vida e do universo: a do dogmatismo religioso, que já não podia se sustentar
perante o conhecimento moderno; e a do materialismo, combatente ardoroso de
todas as ideias religiosas. Pode-se afirmar que esse ambiente de extremismos
radicais, graças a um processo dialético, acabou por gerar a síntese do
espiritualismo racional, corrente que propiciou o advento do espiritismo.
Como fruto da razão, o
espiritismo, não poderia se apresentar como religião. Esta reproduzia os mitos
antigos da pré-ciência e, no campo da ética, aferrara-se a uma moral
conservadora, autoritária, contrária e contestadora da autonomia conquistada
pela modernidade. Ainda que fosse possível ler claramente na proposta de seu
fundador o caráter laico do espiritismo, correntes majoritárias, desavisadas ou
desatentas, terminaram por fazer dele uma nova religião.
É tempo de se corrigir esse
desvio de rota. É, aliás, o único caminho possível de conduzir o espiritismo ao
diálogo com a ciência e com a filosofia, como era propósito de seu ilustre
fundador, aniversariante do mês. Mesmo que se credite ao caráter pacifista e
tolerante do espiritismo, a ausência, até aqui, de um esforço maior nesse
sentido, ele agora é inadiável, ante a clara falência das religiões de nosso
tempo e a total incompatibilidade de seus dogmas com o conhecimento moderno.
Resgatar o pensamento de Kardec e
inseri-lo na cultura de nosso tempo, com as atualizações que ele próprio nos
recomendou fazer, passa a ser, assim, a melhor homenagem que lhe podemos
prestar. (A Redação)
Uma religião não pode pretender apropriar-se do espaço público para
propagar a sua fé. Ministro Luís Roberto Barroso, do STF.
O Supremo Tribunal Federal perdeu
uma grande oportunidade de referendar o caráter laico do Estado brasileiro. A
Procuradoria-Geral da República, mediante ação direta de inconstitucionalidade,
questionou dispositivo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação que permite o
ensino obrigatório, embora de matrícula facultativa, do ensino religioso nas
escolas públicas. Por interpretação que se tem dado àquela lei, ministros de
confissões religiosas passaram a ministrar ensino confessional de religião nas
escolas públicas. Para a PGR atenta contra a laicidade do Estado a docência por
ministros de uma religião de seus dogmas em escolas públicas. Pretendia
substituir o ensino confessional por conteúdos históricos das religiões,
ministrados por professores públicos.
Apesar da forma brilhante com que
o relator da ADI, Ministro Luís Roberto Barroso, acolhia, em seu voto, a
pretensão do Ministério Público Federal, a ação acabou julgada improcedente
pelo escore final de 5 a 6.
Mas fica para a História o lúcido
voto de Barroso para quem ”cada família e
cada igreja podem expor seus dogmas e suas crenças para seus filhos e seus
fiéis sem nenhum tipo de embaraço. Da mesma forma, as escolas privadas podem
estar ligadas a qualquer confissão religiosa, o que igualmente é legítimo. Mas
não a escola pública. A escola pública fala para o filho de todos, e não para
os filhos dos católicos, dos judeus, dos protestantes. E ela fala para todos os
fiéis, portanto uma religião não pode pretender apropriar-se do espaço público
para propagar sua fé”.
Acompanharam o voto do relator os
ministros Luiz Fux, Rosa Weber, Marco Aurélio e Celso Mello. Este, o decano do
STF, apresentou um verdadeiro libelo contra o ensino confessional nas escolas
públicas e referendando o caráter laico do Estado.
Entretanto, falaram mais alto do
que a moderna razão laica e livre-pensadora vetustas tradições que teimam em
manter amarrados entre si Estado e religião. Ministros que se posicionaram
contra o voto do relator, reconheça-se, não tiveram qualquer dificuldade em encontrar
em velhas e surradas tradições que, antanho, se fizeram leis ou se converteram
em doutrina e jurisprudência, razões para fundamentar seus votos.
Convalidou-se, inclusive, acordo firmado entre a Santa Sé e o Brasil, no qual o
estado brasileiro se compromete com “o ensino religioso católico e de outras
confissões religiosas” nas escolas públicas.
Onde se poderia avançar, por força de decisão
soberana da mais alta Corte do país, retrocedeu-se.
É verdade que a lei não obriga o
aluno a assistir às aulas de religião, cuja matrícula é facultativa. Mas, como
se infere do voto de Barroso, a simples presença de ministro de uma entre
tantas religiões em escola pública, ensinando seus dogmas, implica em
privilégio atentatório à liberdade de crer ou de deixar de crer. Questões que
dizem com crenças devem ser construídas autonomamente no íntimo do educando. A
religião, ainda que respeitáveis seus propósitos, há de se circunscrever ao
espaço privado do lar ou dos templos. A educação, a partir de pressupostos de validade
universal, deve ter seus parâmetros regulados e fiscalizados pelo Estado. Só
assim se há de tornar efetivo o princípio vigente nas Constituições de todos os
países democráticos, inclusive o nosso.
A separação entre Estado e religião (ou
religiões, que, cá, proliferam tentando teocratizar o Estado), é fruto do
Iluminismo, conquista que não pode sofrer retrocessos. Aqui, sofreu, com o
julgamento da ADI 4439.
Temas de Opinião
Nós do TELMA queremos agradecer
aos editores de OPINIÃO do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre que sempre
nos encaminham exemplares do jornal para distribuição aos nossos
colaboradores. São atenciosos e também
muito competentes na escolha dos temas presentes nas edições de cada mês.
Merecem nossos permanentes aplausos.
Júlio Nogueira – Presidente do TELMA Teatro Espírita
Leopoldo Machado, Salvador/BA.
Temas de Opinião (2)
Gostaria de comentar sobre a
coluna de Salomão Jacob Benchaya em OPINIÃO enfocando a história e as ideias
que conformam o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. Sinto-me
absolutamente identificado com esse modelo de instituição kardecista concebida
como um cenário de estudo, de reflexão e de diálogo aberto, e não como uma casa
de oração, de passes ou de curas psíquicas ou físicas. Enfim, uma entidade
cujos membros e amigos reúnem-se em um ambiente grato, amável, sem ostentações
e fingimentos.
Oportuna também a homenagem a Ian
Stevenson (Opinião 254), um nome indispensável na galeria dos mais sérios e
respeitáveis investigadores da reencarnação. De igual maneira, a referência a
Karl Muller, personalidade notável do espiritismo do Século XX, pouco referido
nas publicações espíritas, apesar de ter cumprido uma obra estupenda como
estudioso e como ativo militante. Ele, mesmo tendo participado da Spiritualist
Federation Internacional, sempre defendeu a tese da reencarnação e impulsionou
seu reconhecimento entre os espiritualistas anglo-saxões.
Jon Aizpúrua – Caracas, Venezuela.
Parceiros espirituais
A presença este mês do beatle
Paul McCartney no Brasil me faz recordar entrevista por ele concedida, lá por
2005, à revista Time sobre
“conversas” que dizia manter com John Lennon desencarnado. Mais do que
conversas, teriam ocorrido verdadeiras parcerias na composição de músicas entre
os dois famosos artistas. McCartney revelou que, às vezes, quando está a
compor, escuta a voz de John, falecido em 1980, “dentro de sua cabeça”. Chegam
a trocar ideias mentalmente: “Eu penso: ok, o que faríamos aqui?” – relata – “e
escuto a sua aprovação ou reprovação” aos versos ou acordes que compõe.
Aliás, um famoso compositor
nosso, o gaúcho Lupicínio Rodrigues, também declarou, numa entrevista a jornal
de Porto Alegre, que fazia apenas a letra de suas músicas. A melodia ele a
escutava como se uma orquestra tocasse em sua cabeça.
O sonho de Yesterday
A possível paranormalidade de
McCartney no processo de criação artística também estaria na origem de uma de
suas mais lindas canções: Yesterday.
Ele conta que a música lhe veio inteirinha num sonho. Ao acordar, sem qualquer
esforço intelectual que não o da memória, viva e fresca, simplesmente a
transpôs à partitura. Ele chega a afirmar não ter certeza de que a música seja
sua. Logo após o episódio, saiu a perguntar a outros músicos se conheciam
aquela canção que lhe chegara em sonho.
Escritores e o intercâmbio espiritual
Escritores famosos admitiram o
relacionamento com inteligências invisíveis no processo da criação literária.
Alfred de Musset escreveu: “Há
muitos anos que tenho visões e ouço vozes...Parece, no momento em que essa
comunhão se opera, que meu espírito se desprende do corpo para falar com os
espíritos que me inspiram”.
Já Coelho Neto associava seu
processo de criação a experiências vividas outrora: “De quando em quando -
escreveu - rompem-me na mente lembranças de outras vidas, como em vasos que
contiveram essências servindo a outras, posteriormente. Aparece, por vezes, o
aroma das primitivas”.
Goethe, Augusto dos Anjos,
François Coppé, Olavo Bilac... Todos eles admitiram a interface espiritual no
âmbito da produção literária
.
A sutileza da intuição
A mediunidade não é uma
exclusividade do espiritismo e nem seu cenário único são as chamadas “sessões
mediúnicas”. Ela está presente no dia-a-dia de todos. Os artistas, porque
portadores de maior sensibilidade, são mais propensos ao fenômeno, e, com
frequência, o admitem expressamente. Mas, as grandes conquistas da humanidade,
no campo da ciência, da tecnologia, do avanço do pensamento e dos costumes,
antes de se constituírem em ideias pessoais de seus inventores ou proponentes,
resultam do sutil intercâmbio entre encarnados e desencarnados.
Para mim, a intuição é a mais
genuína das múltiplas modalidades de intercâmbio espiritual. A sutileza de que
se reveste, entretanto, nem sempre possibilita que dela se apercebam seus
próprios médiuns. Muitos deles negam peremptoriamente o fenômeno do qual são
autênticos agentes.
Os Vales
Umbralinos
O inferno de Dante |
Essa ideia de um Deus controlador
e punitivo alimentada pela tradição judaico-cristã acabou sendo transferida,
atavicamente, para o espiritismo.
A narrativa do espírito André
Luiz, pela psicografia de Chico Xavier, acerca do Umbral encaixou-se
perfeitamente como um inferno espírita, felizmente transitório, diante do
pluralismo das existências que orienta para a necessidade do retorno do
espírito a novas experiências corpóreas.
Em 1954, a FEB lançou a obra
“Memórias de um Suicida”, psicografado pela médium Yvonne do Amaral Pereira,
descrevendo os atrozes sofrimentos do autor-personagem Camilo Cândido Botelho,
pseudônimo do poeta suicida português Camilo Castelo Branco, numa região do
mundo espiritual chamada “Vale dos Suicidas”.
Posteriormente, em 2005, o livro
“Mais Além do meu Olhar”, de autoria do Espírito Luiz Sérgio, entre diversos
temas relacionados à juventude, revela a existência do “Vale dos Tatuados” (!?)
que acolhe a turma que danificou o perispírito com tatuagens aplicadas no corpo
físico.
Finalmente, em 2015, outra obra
psicografada – O Vale dos Espíritas – ditada pelo Espírito Atanagildo, descreve
os sofrimentos de espiritualistas que, embora conhecedores de verdades
espirituais, negligenciaram seus deveres e, após a desencarnação, são recebidos
em uma comunidade de sofrimento e regeneração que dá o nome à obra.
Presumo que, nessa marcha – se é
que já não o foram -, logo serão descobertos os “vales” de abortistas, de
prostitutas, de estupradores, de traficantes e de políticos corruptos,
denotando uma estranha política punitivo-segregacionista das leis divinas.
Esse tema está a merecer mais
cuidadosas reflexões e pesquisas dos estudiosos espíritas, face às repercussões
geradas junto à coletividade. Talvez, a intenção dos Espíritos seja alertar os
leitores sobre as consequências de atos contrários à lei natural, mas o que acontece,
na prática, é uma generalização descabida e desarrazoada que beira a fantasia.
Narrativas de experiências
individuais se transformam em sentenças coletivas do tipo: todo suicida vai
para o vale dos suicidas; todo dirigente espírita faltoso vai para o vale dos
espíritas; todo tatuado, quando morrer, vai para o vale dos tatuados. Qual a
vantagem educativa da segregação para a reabilitação de espíritos? Um exagero e
um absurdo!
Há uma excessiva rigidez nas
punições impostas segundo essas descrições, como se o medo impingido aos
leitores pudesse levá-los a uma renovação de atitudes, tal como pretendido pelo
cristianismo das igrejas.
Uma falsa renovação, portanto.
Algo que o espiritismo não endossa.
“O fenômeno mediúnico não
acontece sem o componente anímico, que é da essência do processo. Para suas
manifestações, os espíritos precisam de certa espécie e quantidade de energia
de que somente o ser encarnado dispõe. A comunicação entre as duas faces da
vida, ou seja, entre espíritos (desencarnados) e seres humanos (encarnados),
transita por uma ponte psíquica que tem de apoiar uma cabeceira na margem de lá
do abismo e a outra no lado de cá, onde vivemos nós”.
(Do livro “Diversidade
dos Carismas – Teoria e Prática da Mediunidade”)
Alcione,
retornando de Rafaela/AR:
“4º Encuentro de CEPA en Argentina
foi um sucesso!”.
A presidente da CEPA, Jacira Jacinto da Silva, a
ex-presidente da CEPABrasil, Alcione
Moreno, compuseram a delegação brasileira que participou do “4º Encuentro
de CEPA en Argentina”, dias 15 e 16 de setembro, em Rafaela.
As duas brasileiras foram
responsáveis pela conferência conjunta de abertura (foto), na noite de 15,
quando desenvolveram o tema “Nuestra mirada sobre el adicto a las drogas”, com
base no trabalho que ambas realizam frente à Fundação Porta Aberta (São Paulo),
entidade que tem como foco a capacitação e a inserção social de dependentes
químicos e alcoólicos.
O trabalho de Jacira e Alcione
impactou fortemente o auditório (foto). O vice-presidente argentino da CEPA, Gustavo Molfino, classificou o trabalho
com dois adjetivos: “Excelente e comovente”. Espíritas argentinos, motivados
pelo trabalho, cogitam criar em seu país uma entidade nos mesmos moldes da
Fundação Porta Aberta.
O Encontro prosseguiu no sábado,
com duas oficinas, uma sobre Diversidade, e a outra sobre Imediatismo. O
trabalho foi conduzido por espíritas ainda jovens (de 30 a 40 anos). Segundo
Alcione, as oficinas estiveram “muito focadas na psicologia e no
autoconhecimento, a partir de experiências individuais e com base nos
pressupostos espíritas, e envolveu várias dinâmicas, durante todo o dia. Ao
final, os grupos elaboraram perguntas que foram respondidas pelos espíritos em
reunião mediúnica”.
Aureci em prosa e verso
Atuante trabalhador espírita
gaúcho, Aureci Figueiredo Martins (Instituto
Espírita 3ª Revelação Divina – Porto Alegre), acaba de lançar o livro “Bem-Aventurados os que duvidam”
(Editora Evangraf – Porto Alegre).
A obra, em 80 páginas, comenta,
com objetividade, aspectos fundamentais da doutrina espírita. Poeta, Aureci
abre cada capítulo do livro com uma quadrinha e acrescenta aos comentários em
prosa alguns poemas também de sua autoria, complementando as análises
doutrinárias, feitas sob rigorosos critérios de racionalidade e lógica.
“Bem-Aventurados os que duvidam” pode ser adquirido ao preço de 10
reais na livraria do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre – CCEPA
(Botafogo, 678)
CIMA em atividade plena, mesmo na crise
A difícil situação política e
social vivida pela Venezuela afetou, durante o último mês de agosto, as
atividades de CIMA Movimento Cultural Espírita, de Caracas, Venezuela. Graves
incidentes ocorridos no período obrigaram a tradicional instituição, presidida
nacionalmente pelo ex-presidente da CEPA, Jon
Aizpúrua, a suspender temporariamente suas reuniões, na Seccional Caracas,
por questões de segurança de seus participantes.
Mesmo perdurando a crise, o CIMA
Caracas está, agora, em plena atividade. Sua diretora, Yolanda Clavijo, enviou à redação de Opinião a seguinte programação de conferências que está sendo
cumprida durante este mês de outubro, pela instituição.
A
revista Aventuras na História, da
Editora Abril, em sua edição n.132 publicou como matéria de capa a reportagem “Allan Kardec e o espiritismo, uma religião
bem brasileira”.
“Às 22h30 de 17 de setembro de
1865, apenas oito anos depois da fundação oficial do espiritismo na França, foi
realizada em Salvador a primeira sessão da doutrina no Brasil, liderada por um
jornalista, Luís Olímpio Teles de Menezes. No mesmo ano, surgiu o primeiro
centro do país. Em pouco tempo, a visão científica, filosófica e religiosa de
Allan Kardec se transformaria em uma religião tipicamente brasileira, divulgada
por intelectuais nas nossas maiores cidades. Anos antes de ganhar as massas com
Chico Xavier, os seguidores de Kardec já tinham uma nova capital, nos
trópicos”.
Os bons índices socioeconômicos dos espíritas no
Brasil
A matéria destaca que, desde seus
primórdios no Brasil, o espiritismo se tornou uma “religião das classes média e
alta”, e acrescenta estes dados: “Atualmente, o trabalho iniciado por Kardec
tem 13 milhões de seguidores no mundo. A maioria, 3,8 milhões, está no Brasil.
Nossos espíritas têm os melhores indicadores socioeducacionais dentre os fiéis
de todas as religiões praticadas no país – 31,5% deles têm nível superior
completo, segundo o IBGE. Entre 2000 e 2010, eles saltaram de 1,3% da população
para 2%”.
Místicos x cientistas
A matéria reporta-se aos
objetivos buscados pelo fundador do espiritismo: “Kardec foi um dos pioneiros a
propor uma investigação científica, racional e baseada em fatos observáveis,
das experiências espirituais”. Faz longo histórico sobre as duas tendências
que, apesar da posição de Kardec, logo se apresentaram no desenvolvimento do
espiritismo, primeiramente na Europa: a dos que o interpretavam como uma
ciência e os que preferiam tomá-lo como religião.
No Brasil, especialmente, se
oporiam as duas correntes, dos místicos e dos cientistas. Destaca o esforço de Afonso Angeli Torteroli que, liderando
os científicos, organizou o I Congresso Espírita Brasileiro, em 1881. “Mas foi
o aspecto religioso que venceu” - registra a reportagem – “Por dois motivos: o
lado religioso funcionava melhor para uma população ligada a um cristianismo
que, em geral, convivia tranquilamente com curandeiros, benzedeiras e
cartomantes” e porque “a preocupação científica e filosófica não tem o mesmo
“appeal” para nós como tem o lado religioso-ritualístico”.
Para ler a íntegra da reportagem:
http://www.ameuberlandia.org.br/?p=7999
Debate sobre
Mediunidade
abre Congresso
Andaluz
A presidente da AIPE – Asociación
Internacional para el Progreso del Espiritismo, Rosa Diaz envia correspondência convidando para a XXI
Jornada-Debate, com o tema Sociedades
Espíritas e Mediunidade, a ocorrer em 27 deste mês, em Huelva, Espanha,
como atividade preliminar ao VIII
Congresso Andaluz de Espiritismo, a ser inaugurado em 28/10.
A Jornada está a cargo de dois
integrantes de CIMA, Movimento de Cultura Espírita, de Caracas, Venezuela: Yolanda Clavijo (foto), com o tema
“Ética da Mediunidade” e Vicente Ríos,
que abordará “Regulamento das sociedades espíritas”.
Nos dois dias seguintes, o
Congresso Andaluz desenvolverá temas ligados, todos eles, à reencarnação, sob o
lema “Nascer, Morrer, Renascer e Progredir”, com expositores de várias regiões
da Espanha e Portugal.
A programação completa e
informações sobre o evento podem ser acessados em: http://www.andaluciaespiritista.es/2017/05/viii-congreso-andaluz-de-espiritismo.html
XVIII Semana
Espírita de Osório
celebra O
Livro dos Espíritos
Os temas fundamentais de O Livro
dos Espíritos, no ano de seu 160º aniversário, serão abordados em quatro
conferências que compõem a XVIII Semana
Espírita de Osório, promovida pela Sociedade Espírita Amor e Caridade,
daquela cidade gaúcha:
Dia 23/10, 20h – Deus, o Universo e a estrutura da Natureza
- com Moacir Araújo Lima (Porto
Alegre);
Dia 25/10, 20h – O Ser: sua imortalidade e comunicabilidade
- com Milton Medran Moreira – Porto
Alegre;
Dia 26/10, 20h – As Leis Morais e as relações – com Gladis Pedersen de Oliveira – Porto
Alegre.
Dia 28/10 – 15h – O Inquietante problema do futuro do Ser – com
Arivelto B. Fialho – São Leopoldo.
Eugenio Lara, arquiteto e
designer gráfico – São Vicente/SP.
"Quando a lenda se torna realidade, publica-se a
lenda".
(Frase do editor do jornal
“Shinbone Star” ao senador Ransom Stoddard, personagens do filme “Quem Matou o
Facínora” (1961), de John Ford)
Há lendas de todos os tipos:
lendas urbanas, religiosas, folclóricas, históricas. Mas lenda espírita é algo
que não havia imaginado. Vejo que isso existe mesmo e, amiúde, surge e ressurge
na imprensa espírita, na internet, no cotidiano do movimento espírita.
Oradores, médiuns e dirigentes espíritas são os grandes mentores desse tipo de coisa.
Mas afinal, o que é uma lenda? E lenda espírita, existe isso?
Lenda é uma história fantasiosa,
algo bem próximo do mito, parte integrante da tradição de todos os povos. Da
lenda para a realidade, a distância é abissal, incomensurável. Quem convive com
o poder e o vivencia sabe muito bem disso. Criam-se lendas, mitos, coisa
folclórica a todo instante. A versão distorcida da realidade vira lenda. Uma
ideia errônea, uma interpretação deturpada, enviesada dos fatos, se for
sistematicamente repetida, de modo sutil ou insidioso, com o tempo acaba
adquirindo o status de verdade. A mídia mal-intencionada usa e abusa desse
recurso e os fofoqueiros de plantão sabem bem como isto funciona. A imprensa
marrom sobrevive às custas desse tipo de expediente.
O mito e a lenda, em seu sentido
mais nefasto, surgem quase como a fofoca, o mexerico, a maledicência, a
informação plantada, o factóide. É a filtragem criada pelo imaginário. Um
processo complexo que desafia antropólogos e historiadores.
Já a lenda legítima, que se
desenvolve ao longo do tempo, tanto quanto o mito, esta sim é coisa séria.
Historiadores, sociólogos e antropólogos, notadamente os estudiosos da
religião, procuram decifrar os mitos e lendas de determinada civilização. O
formato mitológico, mítico de interpretação da realidade, serve então de estudo
na montagem de um quebra-cabeça que os aproxime da verdade dos fatos. Trata-se
de um objeto de estudo fundamental para o entendimento de nossa própria
história.
Enquanto que a lenda inventada,
tatuada, concebida e gestada na mente de pessoas fascinadas, sedentas de poder
e de glória, de legitimidade, torna-se perigosa, desprezível, porque pouco tem
de inocência, de boa intenção. Desse tipo de gente, o umbral está cheio...
Há algum tempo, uma nova lenda
espírita ressurgiu no seio do espiritismo. A de que Chico Xavier tenha sido a
reencarnação de Allan Kardec, confirmando assim a profecia de seu então
protetor, o espírito Zéfiro, que afirmou ao fundador do espiritismo, em 1857,
que ele reencarnaria no século vindouro, o século 20.
Não há indícios de que Rivail
tenha reencarnado no século passado. Todavia, a quantidade de candidatos a esse
posto é enorme. Eu mesmo já conheci uma meia dúzia dessa gente mentirosa e
arrogante, que se acha o Druida de Lyon numa nova edição, a fim de granjear
para suas ideias obtusas o status de filosofia respeitável. E para não ficar
somente no lero-lero, cito duas personalidades não muito conhecidas. Uma delas
surgiu no ABC e chama-se Osvaldo Polidoro (1910-2000), o criador do chamado Espiritismo
Divinista. Toda sua doutrina se alicerça na lenda de que Polidoro tenha
sido a reencarnação de Kardec. O que Herculano Pires já escreveu sobre essa
personalidade atormentada foi suficiente. Não é necessário perder tempo com
ela. Cito apenas como informação.
Um outro caso, surgido em
Niterói-RJ, é o do filho de Kardec. Sim, isso mesmo, o filho de Allan Kardec
reencarnado. Sua primeira obra, dentre outras medíocres e inúteis, denomina-se Eu Conheci Allan Kardec Reencarnado.
Trata-se de Erasto de Carvalho Prestes, a quem certa vez recebi em minha casa e
participou de algumas edições do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita.
Ele considera seu pai como o próprio Kardec, que deixou uma obra ainda por ser
publicada. E o será, segundo ele, lançada no momento propício, conforme a
vontade do “plano espiritual superior”...
Existem outros kardequinhos candidatos
à notoriedade, à legitimidade artificial, criadores de doutrinas, de sistemas e
que, acobertados por uma falsa humildade, se escondem por trás de supostas
revelações de espíritos tão confusos e pseudossábios quanto eles. Essa de que o
Chico seja Kardec é de doer. Se o jornalista Boris Casoy fosse espírita ele
bradaria o seu bordão: “isto é uma vergonha!”.
Existem outros
Existem outros
Curiosamente, em torno dessa
polêmica, poucos ousaram perguntar ao Chico se ele era realmente o Kardec. E
quando perguntaram, negou veementemente: “Não, não sou. Não tenho nenhuma
semelhança com aquele homem corajoso e forte”. Esse testemunho encontra-se em
um livro escrito pelo estudioso e escritor espírita, Wilson Garcia, intitulado Chico, Você é Kardec? que praticamente
esgota o assunto e coloca uma pá de cal nessa contenda ridícula.
Nessas situações, pouco importam
os fatos. Pouco importa se Chico Xavier negou ser o Kardec reencarnado. Pouco importa
se a lenda é mais interessante do que o fato. Já que é assim, fiquemos com a
lenda. É o que essa gente faz.
Por ignorância ou interesse
suspeito, os espíritas foram, ao longo do tempo, abraçando lendas e mitos em
torno de Kardec, dos espíritos e do espiritismo. É um processo sociológico e
antropológico complexo de se apreender. Todavia, quando alguém tenta demonstrar
o contrário da lenda ou do mito, o que há é a marginalização, o despeito ou
mesmo a perseguição silenciosa e “fraterna”, tudo em nome da religião, do
evangelho, do amor e da caridade, e que assim seja...
Reconheço que as palavras nesse
breve artigo são incisivas. Mas para lidar com mitos e lendas inventadas é
necessário mesmo ser um pouco áspero. Senão essa coisa cria raiz, começa a germinar
e se não cortarmos a cabeça logo de cara, o que teremos é um novo Ovo da
Serpente. Aí então será tarde demais.
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