quarta-feira, 13 de junho de 2012

OPINIÃO - ANO XVIII - N° 197 - JUNHO 2012



Reencarnação – um tema
para a Universidade

Na Universidade norte-americana de Virgínia, onde o pesquisador Ian Stevenson fez da hipótese reencarnacionista objeto de pesquisa acadêmica, cientistas vão a campo para investigar relatos de crianças que dizem recordar vidas passadas.



O trabalho de Ian Stevenson tem continuidade
O médico canadense Ian Stevenson (1918/2007) é apontado como o pioneiro na investigação científica da hipótese da reencarnação. Como responsável pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade da Virgínia, entrou para a história graças ao meticuloso trabalho de recolhimento e análise de casos de crianças que aparentavam lembrar de vidas passadas sem o auxílio da hipnose. Seu livro “Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação” tornou-se um clássico no assunto, com relatos de casos que sugerem a reencarnação a partir de dados classificados como de “memória extracerebral”, pesquisados pelo psiquiatra em diversos países do mundo.
A aposentadoria de Stevenson na Universidade de Virgínia (2002) não interrompeu o trabalho por ele iniciado. Embora mais concentrada em casos situados nos Estados Unidos, a Divisão de Estudos da Personalidade daquela Universidade aprofunda a pesquisa com crianças de 2 a 5 anos que, espontaneamente, passam a relatar fatos passíveis de comprovação de que teriam sido personagens em provável vida passada. À frente dessa pesquisa está o psiquiatra Jim B.Tucker (foto), MD, que trabalhou com o Dr. Ian Stevenson. Tucker é autor do livro “Vida Antes da Vida – Uma Investigação Científica de Memórias Infantis de Vidas Passadas”, já traduzido para os principais idiomas de todo o mundo, inclusive o português.
Cresce o interesse sobre o assunto no mundo todo.
A partir do incremento do assunto em diferentes setores universitários e crescimento do interesse público sobre o tema, o Discovery Chanell apresentou, recentemente, programa de 45 minutos de duração onde o Dr. Tucker relata o trabalho desenvolvido na Universidade de Virginia e também na Universidade da Islândia. São apresentados casos agora pesquisados em outros países, especialmente no Sri Lanka, onde a incidência de crianças dotadas de memória extracerebral tem índice bastante elevado. Tucker admite que, em países onde a reencarnação faz parte da cultura e da religião, como é o caso do Sri Lanka, há melhores condições para o fenômeno de se desenvolver. Mas, o documentário destaca casos ocorridos nos Estados Unidos, em famílias de tradição cristã tradicional ou sem qualqur crença no fenômeno da vida após a morte.
O programa está disponível na internet no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=pOP30Nkjkl4&feature=share.

Na Universidade Santa Cecília, em Santos/SP, um Congresso sobre Reencarnação.
Uma abordagem tipicamente espírita do fenômeno da reencarnação e suas implicações frente ao atual estágio do conhecimento marcará o XXI Congresso Espírita Pan-Americano, de 5 a 9 de setembro próximo, em Santos /SP. Com o tema central “Perspectivas Contemporâneas da Teoria Espírita da Reencarnação”, o evento reunirá pensadores e pesquisadores de diversos países da América e da Europa. Um Fórum de Temas Livres possibilitará a livre contribuição de autores previamente inscritos. 
O evento acontece na Universidade Santa Cecília, de Santos, no litoral paulista. O médico sanitarista, e também professor daquela Universidade, Ademar Arthur Chioro dos Reis (foto), que preside a Comissão Organizadora do Congresso da CEPA 2012, está entusiasmado diante da inscrição de 42 trabalhos só para o Fórum de Temas Livres. Mas, na temática de fundo, 12 pensadores espíritas de diferentes países serão expositores e debatedores em Mesas Redondas enfocando a contribuição da cosmovisão reencarnacionista para o desenvolvimento ético da humanidade, do indivíduo e da sociedade, e tratando da reencarnação sob a perspectiva da atualização do espiritismo. Oficinas Temáticas buscarão envolver ativamente a totalidade dos participantes do Congresso cuja inscrição segue aberta a todos os interessados. Maiores informações podem ser obtidas no site http://www.congressocepa2012.com.br.
Reencarnação – Um novo paradigma

O caráter religioso, predominantemente conferido ao espiritismo, oferece o risco de distanciá-lo de uma visão reeencarnacionista mais abrangente e multidisciplinar. Na prática, mesmo os congressos espíritas ao enfocarem o tema o fazem, muitas vezes, a partir de uma postura fideísta e doutrinadora. Congressos espíritas, aliás, são, quase sempre, edificantes expressões de oratória, onde um pequeno número de expositores escolhidos pela entidade promotora monopoliza o evento e emociona plateias, sempre no afã de demonstrar o caráter consolador da “religião espírita”.
A reencarnação, no entanto, é bem mais que uma expressão religiosa e consoladora. Abre perspectivas imensas para a adoção de um novo paradigma científico, social, antropológico, filosófico e moral. Por isso, setores avançados do conhecimento humano têm intensificado a pesquisa do tema.
O XXI Congresso Espírita Pan-Americano buscará estender pontes entre a visão espírita da reencarnação e outras propostas reencarnacionistas. Sublinhando o caráter progressista e evolucionista da tese espírita da reencarnação, a CEPA partirá da premissa de que essa visão pode oferecer alternativas viáveis à adoção de um novo paradigma de conhecimento.
Evidentemente que isso não se faz pela via da doutrinação, mas a partir do sério exame dos pressupostos científicos e filosóficos do tema, enriquecidos com a casuística e com a experiência pessoal e plural de quem se disponha a oferecer sua contribuição. O próprio espiritismo, por ter como objeto de estudo, o espírito e sua permanente progressividade, necessita, de tempos em tempos, revisar alguns conceitos antes ajustados à cultura humana, mas que reclamam, em dado momento, a atualização. Isso não desmerece o espiritismo. Antes, contribui para seu progresso, livrando-o do desgaste e da estagnação.
É um bom momento para se mostrar a proposta espírita da reencarnação. O Congresso de Santos, com certeza, saberá como fazê-lo. (A Redação)

Do Consolo ao Conhecimento
Nada é tão poderoso no mundo como uma ideia cuja oportunidade chegou. Victor Hugo.
O último livro de Allan Kardec estava pronto e seria lançado no mês seguinte. Em “A Gênese” (Paris 6/janeiro/1868), o fundador do espiritismo ensaiava uma síntese de toda sua vasta obra, objetivando precisar o verdadeiro caráter da doutrina espírita e sua conexão com o desenvolvimento da ciência e da filosofia, notadamente com os revolucionários princípios do progresso e da evolução, ícones do Século 19.
No dia 18 de dezembro de 1867, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o espírito São Luís, pelo médium Sr. Desliens, antecipando-se ao lançamento do livro, ditou a comunicação “Apreciação da obra sobre A Gênese” (R.E. fev/1868). Prenunciava o aparecimento do livro como o marco de uma nova fase do espiritismo. Até então, ele servira para satisfazer “as aspirações da alma”, enchendo “o vazio deixado pela dúvida nas almas vacilantes em sua fé”. A caridade, até ali fizera “o laço das almas ternas”. A partir de então, cabia ao espiritismo agregar ao “atributo de consolador”, o de “instrutor e diretor do espírito, em ciência, e em filosofia, como em moralidade”.
A síntese ciência/filosofia/moralidade, consolidada em “A Gênese”, preparava, no dizer do espírito, “as vias da fase que se abrirá mais tarde, porque cada coisa deve vir a seu tempo”. Claramente, como já o fizera algumas vezes o próprio Allan Kardec, São Luís pressupunha diferentes fases para o espiritismo. Primeiramente se direcionara aos carentes da fé na imortalidade, sequiosos de uma explicação plausível para as questões respondidas pela religião com a “fantasia” e o “mistério”. Agora, dirigia-se às “inteligências viris”, fazendo-se “traço de união” entre elas. Seria a consolidação da ciência da alma: o conhecimento trazendo nova visão sobre o universo e o ser humano.
Em 1984, quando a Federação Espírita Brasileira comemorava seu centenário, uma mensagem ali recebida e atribuída a Allan Kardec saudava a instituição pelas “vitórias parciais” até então alcançadas, e demonstrava certa preocupação ao afirmar que, embora “o movimento regenerador de almas” se mantivesse “de pé, em terras brasileiras”, a codificação espírita se mantinha “essencialmente desconhecida de tantos corações que se rotulam de espiritistas”. A mensagem tecia “louvor ante a grandiosa obra” empreendida “em nome da Caridade”. Mas advertia que a “recomendação inolvidável para as defensivas do movimento regenerador de almas é a INSTRUÇÃO” (assim mesmo, em letras maiúsculas, cfe. “Reformador, março 1984).
Vê-se, com clareza, que o mesmo teor da mensagem de São Luís é o do espírito identificado como Allan Kardec, 117 anos depois. Inegavelmente, decorrido tanto tempo, amplos setores do espiritismo ainda relutam em avançar para uma nova fase: a do conhecimento libertador. No Século 19, São Luís reconhecia que “cada coisa deve vir a seu tempo”. No século 20, Kardec se mostrava preocupado com a lenta transição.
Se é mesmo assim, cabe a pergunta: Que estarão esperando dos espíritas do Século 21 aquelas almas pioneiras?






Mea culpa
Um dos grandes indícios do progresso humano é a capacidade que os povos de hoje demonstram de fazer o “mea culpa” de seus erros históricos. Exemplo eloquente disso é a Alemanha. Havendo protagonizado o mais bárbaro capítulo da história contemporânea, com o holocausto de milhões de judeus, os alemães, em poucas décadas, buscaram purgar sua culpa. É possível, hoje, visitar os campos de concentração, tanto o de Sauchsenhausen, na Alemanha, como os de Auschwitz, na Polônia. Transformados que foram em museus da História, esses lugares são mantidos abertos à visita de patrícios e turistas, com o objetivo de que não se apague a memória do que ali aconteceu. Há um claro sentimento de vergonha nacional, mas há também a insofismável disposição da não omissão da responsabilidade. Crianças de menos de 10 anos são levadas, em excursões escolares, para, “in loco”, sentirem a extensão dos crimes ali praticados contra a humanidade.

Museu da Escravidão e Quotas Raciais
Desde 2007, na cidade de Liverpool, Inglaterra, é possível visitar o Museu da Escravidão Internacional. Criado especialmente para resgatar o que foi o comércio negreiro, no período que sucedeu ao descobrimento da América, mostra também as consequências negativas que a escravatura produziu. Através de vídeos, fotos e objetos utilizados para a submissão dos escravos aos seus senhores, mostra os flagelos cometidos contra eles. Mas, em contrapartida, destaca também a riqueza da cultura africana e sua influência nos países antes escravagistas. Relembra a brutalidade e os traumas produzidos nos povos escravizados, mas também denuncia vigorosamente o racismo e a discriminação que ainda persistem, resultantes daquele período histórico.
No Brasil, a criação de quotas raciais em concursos, universidades, etc., é uma tentativa de resgate da dignidade roubada de um segmento étnico. Um “mea culpa”, ainda que tardio, por históricas violações dos direitos humanos.

A supremacia da fé
Agora, a pergunta que não quer calar: Por que a religião não procede de igual forma? Por que, por exemplo, no Vaticano, não existe um museu resgatando as barbáries cometidas em nome de Deus, das Cruzadas à Inquisição? Por que não se erigem, ali, bustos de Huss, Copérnico, Galileu Galilei, Giordano Bruno e tantos outros benfeitores da humanidade, na época perseguidos ou executados por heresia?
A razão é simples: na mentalidade religiosa o valor mais importante é a fé. Durante séculos, na história da cristandade, tudo era justificável, desde que praticado em defesa da fé. O cardeal que presidiu o processo contra Giordano Bruno e que terminaria por levá-lo à execução numa fogueira, em 1600, foi, depois, canonizado. É São Roberto Belarmino, apontado como um defensor intransigente da fé cristã, e, por isso, elevado à glória dos altares.

Religião, Espiritualidade e Humanismo
Foi a civilização, e não a religião, que legou ao mundo os valores da tolerância, da igualdade, da liberdade de crer ou não crer e de se expressar segundo suas íntimas convicções. A construção dos direitos humanos na modernidade, em alguns aspectos, especialmente no que diz com a liberdade de crença, teve na religião uma vigorosa opositora. Os princípios que inspiraram o moderno Estado de Direito são elaborações do espírito imortal, construídos pela experiência individual e coletiva, em sucessivas jornadas evolutivas. Por isso, religião e espiritualidade são expressões dificilmente harmonizáveis entre si. A religião cuida da fé, que envelhece, cristaliza e se mumifica. A espiritualidade, liberta das algemas dos dogmas, conduz ao conhecimento e ao amor, valores supremos da vida. Só o amor e o conhecimento dão ao espírito ou a uma comunidade de espíritos, a coragem de renovar-se constantemente, promovendo seu autojulgamento e recompondo os valores antes violados.
“O espírito sopra onde quer”, e há muito mais espiritualidade no humanismo do que nas religiões.






Intercâmbio CCEPA/Ilópolis
Dando sequência ao intercâmbio entre o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre e o grupo de Estudos Espíritas de Ilópolis, recentemente formado para o estudo do espiritismo, o advogado Victor Emanuel Chistofari (foto), integrante do CCEPA, fará palestra naquela cidade gaúcha, no próximo dia 17 de junho.
Victor discorrerá sobre as consequências morais do espiritismo, a partir da seguinte assertiva de Allan Kardec: “O objetivo essencial do Espiritismo é o melhoramento dos homens. Não é preciso procurar nele senão o que pode ajudá-lo para o progresso moral e intelectual”.
O intercâmbio do CCEPA com o grupo de Ilópolis foi inaugurado em evento ocorrido no último dia 15 de abril, quando Salomão Jacob Benchaya proferiu palestra sobre “O que é o Espiritismo” acompanhado de cerca de 30 dirigentes e integrantes do CCEPA, recebidos pelo grupo que, na ocasião, anunciou que passaria a se identificar como “Grupo Borboletas Azuis”, numa alusão à borboleta, como símbolo da alma humana.
Victor Emanuel Chistofari fará a palestra no mesmo local daquele evento, o auditório do Museu do Pão. Segundo Letícia Araújo Mello, que coordena o grupo, há um grande interesse da comunidade no sentido de conhecer o espiritismo, eis que, na cidade, não existe nenhuma instituição espírita.

CCEPA – Conferências de Salomão e de Jones

Na noite deste 4 de junho, o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre ofereceu conferência pública de Salomão Jacob Benchaya, dirigente da instituição, com o tema “O que é o Espiritismo”. O evento deu continuidade à programação de palestras públicas das primeiras segundas-feiras de cada mês.
No próximo dia 20 de junho, o ex-presidente do CCEPA e também da FERGS, Maurice Herbert Jones, inaugura um novo espaço de palestras públicas no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, às 15 h., enfocando o tema “Espiritismo e Religião”. Na terceira quarta-feira de cada mês, naquele horário da tarde, o CCEPA sempre oferecerá uma conferência pública.

      


Um Desafio às Religiões
Jacques Peccatte, dirigente de Cercle Spirite Allan Kardec e de Le Journal Spirite. Nancy/França.

Evidentemente, os espíritas não terão sido os primeiros a recolocar sob  julgamento crítico as crenças religiosas. Antes dele, o materialismo filosófico e científico havia se posicionado, na história do pensamento humano, há vários séculos, e, sobretudo, de maneira mais contundente, a partir de Diderot, seguido, mais tarde, por outros filósofos ateus.
A oposição materialista teve o mérito de ser clara, na medida em que sua demonstração filosófica foi totalmente livre de ambiguidades.
Em contrapartida, o mesmo não acontece com o espiritismo. Este se encontra na incômoda situação de ser uma filosofia que desenvolve conceitos espiritualistas, os mesmos das religiões, mas de forma diferente. Aceita, por exemplo, a existência de Deus. Mas, tratar-se-á do mesmo Deus?
Aceita a reencarnação. Entretanto, não mais a partir de uma visão orientalista do karma, do nirvana final e, inclusive, às vezes, da metempsicose. 
Admite a existência de fenômenos que desafiam as leis naturais tidas como tais. Contudo, rejeita os milagres.
Diz sim à comunicabilidade com outros seres. Mas, não com anjos ou demônios.
Poder-se-ia prosseguir com essa longa lista de tudo o que pertence às religiões e ao espiritismo, sempre, contudo, sob diferentes formas.
Allan Kardec esclareceu todos esses pontos, definindo com precisão as diferenças a partir da revelação espírita. Deslocou-os do âmbito do fenômeno religioso, dando à palavra “religioso” um sentido mais amplo, dentro da transcendência de todas as crenças reunidas e reinterpretadas à luz dos ensinamentos dos espíritos.
Tratava-se apenas de uma questão de termos, de semântica? Seria necessário abandonar a palavra religioso? As posições foram diversas, na história do espiritismo. Uns fizeram da doutrina espírita uma nova religião. Outros assumiram um caráter não confessional e, portanto, laico. Foi essa última postura a que nós adotamos, buscando afastar, assim, qualquer equívoco.
 De maneira geral, a religião situa-se no terreno da fé, a partir de uma verdade revelada, adaptada pelo ser humano a seu gosto. Já o espiritismo corresponde, mais justamente, a um conhecimento que deflui de múltiplas experiências convergentes em resultados idênticos; um conhecimento obtido a partir da comunicação com o outro mundo, aliado a uma reflexão filosófica a respeito dos ensinamentos do além.
Dessa forma, pois, o espiritismo marca sua diferença essencial, sob um enfoque metafísico que nada deve ao religioso. É provável mesmo que o abismo entre espiritismo e religião siga se aprofundando, sobretudo com relação às religiões surgidas com caráter fundamentalista, em meio a evidentes desvios, como as dos evangélicos derivados do protestantismo, assim como do fundamentalismo muçulmano.
Sem dúvida, há, hoje, menos problemas com o catolicismo que já não se opõe sistematicamente à manifestação dos espíritos dos “mortos”.
Além disso, à margem dos fenômenos religiosos, podemos incluir o avanço das novas espiritualidades derivadas do esoterismo. Ali, a oposição segue sendo considerável, na medida em que nos encontramos frente a diferentes modelos de pensamento.
O espiritismo ante a ciência
O espiritismo depara-se com a incômoda situação de assumir seu caráter científico, sem responder a determinados critérios exigidos pelas chamadas ciências duras, dentre os quais a capacidade de reproduzir um fenômeno em idênticas condições. De há muito já existe uma oposição entre as denominadas ciências duras e as ciências psicológicas e sociais. Isso equivale, praticamente, à oposição existente entre ciências materialistas e ciências que aceitam a integração de um fator espiritual.
Seria, então, necessário que a inteligência humana fosse desconectada da ciência, mesmo se considerando que é graças a essa inteligência que se abordam os temas científicos? Seria preciso, então, que os sentimentos e a moral fossem desconectados de todo o enfoque científico sob o pretexto de que o estudo dos fenômenos da natureza pode prescindir de toda a apreciação e juízo de valor?
O materialista deve dissociar, ainda, duas ordens de coisas: por um lado uma verdade científica e, por outro, um campo religioso ou filosófico, desconectando-o das experiências científicas. Dito isso de outra maneira: uma convicção partilhada no plano do estudo dos fenômenos naturais e outra não partilhada sobre as opções religiosas ou filosóficas de cada um.
No momento em que alguns voltam a colocar sob exame os próprios princípios da ciência clássica a partir de um novo enfoque, o da física quântica, é necessário voltar a expor detalhadamente todos os paradigmas antigos para, então, definir os novos. Sabe-se que em nível da matéria em seus estados mais ínfimos nada há mais que energia. Sabe-se, igualmente, que em determinadas experiências essa energia reage frente à presença humana. Chega-se a pôr em evidência uma força espiritual que interage sobre a matéria para se questionar cientificamente sobre a existência de Deus.
Quem sabe estamos no alvorecer de uma nova visão onde ser fará necessário estabelecer a indispensável união entre ciência e espiritualidade...
É provável mesmo que o abismo entre espiritismo e religião siga se aprofundando.
(Artigo adaptado para o espanhol por Oswaldo E. Porras D, Venezuela, de editorial de “Le Journal Spirite”, n.79, e traduzido para o português por Milton Medran Moreira)








Decisão sobre anencéfalos (1)
Parabéns pela matéria sobre a descriminalização do aborto de anencéfalos (edição/maio). As posições antagônicas vão continuar, pois há quem ingenuamente suponha que as leis e as decisões judiciais em qualquer instância sejam eficazes para regular tudo, inclusive questões morais, que dependem de avaliação e julgamento da consciência: o chamado “foro íntimo”.
Homero Ward da Rosa – Pelotas/RS.

Decisão sobre anencéfalos (2)
Quem assistiu na tarde em que ocorreu a sessão do STF, só pode elogiar a forma como Opinião tratou o assunto do aborto para crianças com anencefalia. Um tema polêmico, delicado, que merece reflexão desapaixonada dos espíritas de todos os matizes. Uma vez mais, parabéns!!!
Paulo Cesar Fernandes – Santos/SP.

Espiritismo em Cuba
Cumprimentos pela coluna “Opinião em Tópicos” da edição 196, enfocando a religiosidade e a situação do espiritismo em Cuba. Um dado interessante: segundo publicação da “Folha Espírita”, Cuba é o país que, proporcionalmente, mais espíritas tem no mundo. Cerca de 60% da população é espírita.
Adilson Garbi – Santo André/SP.

Religiosidade em Cuba
Muito interessantes os comentários sobre a religiosidade em Cuba. O que se tem observado é que o sectarismo de governos antirreligiosos não conseguiu travar, mesmo se utilizando da violência, os cultos religiosos praticados anteriormente ao domínio desses governos. Todos os cultos se mantiveram, mesmo que praticados às escondidas.
Simplício Oliveira da Fonseca – Bento Gonçalves/RS.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

OPINIÃO - ANO XVIII - N° 196 - MAIO 2012


Autorizada a interrupção de gestação de anencéfalos

As Razões do Supremo
Julgando ação proposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde, em sessão de 12 de abril de 2012, o Supremo Tribunal Federal entendeu, por maioria dos votos de seus Ministros, que não caracteriza crime de aborto a interrupção de feto comprovadamente anencéfalo.

Não se está descriminalizando o aborto
Para o Ministro Marco Aurélio, relator do processo, “não se discute a descriminalização do aborto” que “é crime contra a vida”. No caso do anencéfalo, “não existe vida possível”, porque este “jamais se tornará uma pessoa: em síntese, não se cuida de vida em potencial, mas de morte segura”, diz seu voto.
Seguindo o mesmo raciocínio, o Ministro Ayres Britto consignou que “o feto anencéfalo é uma crisálida que jamais se transformará em borboleta, porque não alçará voo jamais.”, acrescentando: “É um organismo prometido para inscrição não no registro civil, mas numa lápide mortuária”. Por isso, argumentou: “É preferível arrancar a plantinha ainda tenra no chão do útero do que vê-la precipitar no abismo da sepultura”.
Oito dos dez ministros participantes da histórica sessão sustentaram que não há aborto no caso da antecipação do parto de anencéfalo porque não há vida em potencial. Dois votos vencidos entenderam que, tecnicamente, se trata de aborto: os Ministros Ricardo Lewandowski e Cesar Peluso. Ambos mostraram-se sensíveis aos argumentos pela descriminalização, mas sustentaram que só ao Congresso Nacional, e não ao Poder Judiciário, caberia descriminalizar a conduta em tese.

Razões e contrarrazões espíritas
Antes e depois do julgamento, a Federação Espírita Brasileira posicionou-se contra a autorização da antecipação do parto de anencéfalos, por considerá-la crime contra a vida. Às vésperas da sessão do STF, uma comissão da FEB visitou os gabinetes de todos os ministros, entregando-lhes memorial nesse sentido.
Mas, essa posição, que se alinha à das igrejas cristãs, não é compartilhada por todos os espíritas. Segmentos não vinculados à FEB assumiram posição francamente favorável à decisão do Supremo, destacando o fato de não se estar obrigando ninguém à interrupção da gravidez, mas deixando a critério de cada um.
A juíza de Direito de São Paulo, Jacira Jacinto da Silva(foto), Delegada da Confederação Espírita Pan-Americana e ex-presidente da CEPA Brasil, defendeu, na lista de debates da CEPA, na Internet, a posição do STF. Sustentou que a decisão não atenta contra o direito à vida, “o maior, o primeiro, o principal direito a ser defendido, tanto do ponto de vista moral, como legal”. Sobre as posições religiosas, destacou que “as pessoas podem ter suas crenças e defendê-las ferrenhamente, mas essas crenças não podem cegá-las”. Segundo Jacira, tanto quanto a vida, “outro princípio fundamental, também garantido constitucionalmente, é a liberdade, que está na base da evolução humana”. Para ela, “o fundamentalismo religioso, espírita, católico, evangélico, para relacionar apenas os que estão mais próximos de nós, cega as pessoas, levando-as a defender o indefensável”, como no caso dos anencéfalos, e questiona: “Como defender a vida onde vida não há?”. Para sustentar sua posição, que é a do Supremo, esclarece: “Um caso de vida de criança acraniana, que, absolutamente não é a mesma coisa que anencéfala, não pode justificar a proibição à interrupção de gravidez sem possibilidade de vida” (grifo dela). Referindo-se a pesquisas científicas que teriam sido levadas em conta na decisão do STF, Jacira esclarece que não há nenhum caso de anencéfalo vivo: “o que existe é a possibilidade de bebês com acrania sobreviverem”. Acrescenta a magistrada paulista: “Pode ocorrer ainda que a criança tenha o tronco encefálico, nasce com o bulbo, responsável pela respiração”. Isso significa que “vai  respirar por algumas semanas, ou alguns meses, apenas como uma planta, pois sem cérebro não existe vida humana”.  Mesmo, pois, que defendamos o direito à vida por algumas semanas ou meses, segundo ela, “não haveria vida humana e sim vida vegetativa”, o que leva Jacira a perguntar: “Haveria alguma justificativa para obrigarmos uma mãe a desenvolver uma gravidez para cuidar de uma criança com vida de planta e por algumas semanas, apenas?”. Contudo, sublinha: “Descriminalizar não significa obrigar quem quer que seja a interromper essa vida, mas apenas não imputar crime a quem opta por interromper a gravidez em situações tais”. Assim, “que mantenha livremente a gravidez a mulher que quiser levar o projeto até o final”, conclui a magistrada espírita.

Na mesma lista de debates da CEPA, o médico gaúcho Ricardo Herbert Jones (foto) também destacou a questão da “liberdade de escolher qual o caminho a seguir, responsabilizando-se pelas rotas trilhadas e suas naturais consequências”.  Parece-lhe razoável que “uma família, com base nos seus valores – humanitários, religiosos, morais, etc. – escolha acolher uma criança nessa situação”. Segundo Ricardo, “para estas, o sofrimento, a entrega, a devoção e o cuidado podem representar um aprendizado quase impossível de ser adquirido em qualquer outra situação de vida”. Por outro lado, o médico gaúcho, de formação espírita, diz entender facilmente “que a ablação das porções superiores do encéfalo, impossibilitando por completo uma vida de relação, possa ser justificativa para abreviar – ou evitar – uma existência condenada ao mutismo relacional”.  Recordando sua juventude, no âmbito do movimento espírita, Jones confessa: “Quando tinha uns 20 anos, eu empunhei bandeira na luta contra a legalização do aborto.Tinha uma posição radical, dogmática e fechada”. E completa: “Hoje, ao contrário de assumir uma postura dogmática, fechada, cerceadora e preconceituosa, eu prefiro a dor de determinar meu próprio destino, pagando o preço inexorável das decisões complexas”. Assim mesmo, ressalva que, como médico, jamais faria um aborto em uma paciente, pois sua formação humanista e espiritualista não lhe permitem abandonar essa postura pró-vida: “Aliás, me sinto mal até fazendo ligadura de trompas, e por isso não as faço há mais de 20 anos”, aduz, esclarecendo: “Trata-se tão somente de uma posição subjetiva, pessoal, afetiva”.

Enquete na CEPA Brasil: 100% de aprovação
Enquete interna organizada por Vital Cruvinel (Delegado da CEPA em São Carlos/SP) entre associados da Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA, foi respondida por 26 membros, todos concordando com a decisão do STF.
Você pode conhecer detalhes dessa enquete em www.cepabrasil.blogspot.com





Direito Divino e Direito Humano
Que pretendem os grupos religiosos, entre os quais os espíritas, que se faça com uma infeliz gestante que, recebendo o diagnóstico de anencefalia do feto presente em suas entranhas, decide pela antecipação do parto? Que se a coloque na cadeia?
Certamente, se dirá que não. Os sentimentos de caridade, justiça, misericórdia e compaixão, presentes em todas as doutrinas religiosas não autorizam solução tão drástica. Mais do que drástica, inútil: não se dará, com isso, a vida a quem potencialmente não a tem. Mais que inútil, desumana: só se aumentará o sofrimento de uma mãe já martirizada por um acidente biológico que lhe frustrara o nobre e inefável exercício da maternidade.
Quando, no entanto, esses mesmos zelosos fiscais da aplicação de presumíveis “leis divinas” buscam interferir, com passeatas, rezas, barulhentas manifestações e ofícios religiosos, na legítima decisão estatal de isentá-las de pena, estão a rigor dizendo: que se cumpra o Código Penal, que se as penalize com um a três anos de detenção, como, literalmente, manda a lei criminal vigente, datada de 1940.
Lamentavelmente, o Poder Legislativo não tem sido capaz de enfrentar, com independência e discernimento, a pressão desses grupos religiosos. O Poder Judiciário, por seu órgão máximo, encontrou um caminho. Como declarou o Ministro Ayres Britto, a decisão não foi uma proibição a quem, por motivos pessoais, quer levar a gravidez a termo. Foi a favor do direito de escolha: “Levar esse martírio contra a vontade de uma mulher que não deseja, corresponde à tortura. O martírio é voluntário. Quem quiser assumir sua gravidez que o faça. Agora impor a uma gestante, que não queira dar ao mundo,  um filho descerebrado, é tortura", declarou o eminente magistrado. No caso, a rebeldia a essa tortura daria, necessariamente, lugar a um processo penal em busca da condenação ao cárcere, conforme manda a lei.
Não é crível que esse seja o desejo dos grupos religiosos que se posicionaram contra a decisão. Mas, na prática, defendendo a vigência de uma legislação superada, é o que postulam.
Mais do que nunca, como em tantos outros episódios da História, fica comprovado que o “direito divino”, como tal entendido por empedernidos exegetas de dogmas religiosos, tem muito a aprender com o direito humano, construção consciente e progressiva do Espírito, “princípio inteligente do universo”, como o define a questão 23 de O Livro dos Espíritos. (A Redação)






Quando terá fim a corrupção?
A minicâmera e o grampo telefônico ainda podem fazer mais pela política do que toda a fiscalização e todos os mandamentos cristãos juntos. L.F.Veríssimo, ZH, 26.4.12.

Aparatos eletrônicos, a serviço da investigação, estão desnudando  fantástica rede de corrupção. Agentes do poder público, mancomunados com setores empresariais, serviram-se do poder e do dinheiro para ganhos astronômicos. Apropriaram-se do patrimônio público. Fraudaram a confiança da Nação. Esta, composta majoritariamente por pessoas de bem, quedou-se frustrada. Nem um sistema legal formatado em moldes legitimamente republicanos; nem os valores mais sagrados da ética, das crenças e da moral; nem os esforços das instituições encarregadas da execução das leis e de sua punibilidade, nada impediu que se atingissem tão altos graus de corrupção. Agora, as intercepções telefônicas e outras modernas tecnologias começam a desmascará-los. E a Nação reacende a esperança da punibilidade. Com a punição, que se instaure a decência em todos os níveis públicos e privados. É o que se reclama.
Sem dúvida, um caminho legítimo. Mas ainda não é a solução. Não se redime um indivíduo ou uma nação tão só pela aplicação da pena. Amanhã, se poderão engendrar formas mais sofisticadas de burlar também esses meios de prova que têm se mostrado eficientes. Por mais que se faça, a única e definitiva garantia da supremacia do bem e da ordem é a conscientização de sua conveniência. Por essa via, muito mais do que pelos justos esforços punitivos, se haverá de construir uma sociedade incorrupta. Nesse campo, a propósito, a doutrina espírita está apta a oferecer eficiente contribuição. Quando se demonstra o postulado da imortalidade, da evolução do espírito e de sua responsabilidade individual, ordenamentos civis e religiosos começam a se fazer dispensáveis. A íntima consciência da conveniência do bem prescinde deles.
Educar para o bem e para a vida plena. Esse é o grande projeto espírita. É, precipuamente, por aí que estaremos contribuindo para o fim da corrupção. 






Voando sobre Havana
Após nove horas de um voo que começara em Porto Alegre, com escala no Panamá, já podíamos ver, lá embaixo, exuberante, cercada por águas de um azul turqueza inigualavel, a ilha de Cuba. Já se haviam iniciado os procedimentos de descida da aeronave, quando o comandante avisou: não iríamos aterrissar ainda. O aeroporto de Havana estava interditado. O Papa acabara de chegar a Cuba e estava sendo recepcionado pelo povo e por governantes. Por segurança, determinou-se, por cerca de mais meia hora, não se efetuasse qualquer outra movimentação de aviões no aeroporto José Martí. Bem que nossa amiga Nícia Cunha tinha nos advertido: a visita de Bento XVI a Cuba às vésperas do Encontro Espírita Cuba-Latinoamérica, promovido pela CEPA, poderia trazer algum contratempo. Felizmente, seria este apenas.
A religiosidade cubana
A primeira impressão se confirmaria logo: o cubano é profundamente religioso. Mais de meio século de um regime político que se autodefiniu como materialista e ateu não retirou da alma coletiva do povo a religiosidade nela impregnada. Acho que Frei Betto, pensador católico brasileiro, autor do livro “Fidel e a Religião”, foi um pouco responsável pela política de tolerância e de franca e gradual aceitação dessa realidade de parte do governo. Casualmente, Frei Betto estava lá também. Assisti a uma entrevista dele na TV. Contava que, num dos primeiros contatos tidos com Fidel Castro, entrevistando-o para o livro que escreveria, advertiu o “Comandante” de que a revolução precisava deixar de ser sectária. Ou seja, na medida em que o regime se havia definido como “ateu”, excluía grande parte, talvez a maioria, dos que desejavam levar avante a revolução socialista de Cuba. Fidel, ouvindo-o, teria, a partir dali, mudado a política inicialmente adotada de combate à religião. Uma mudança altamente estratégica. Liberada a religião pelo comando revolucionário, e agora já não mais sob o peso hegemônico da Igreja, Cuba mostrou todo a sua vocação para o pluralismo e o sincretismo em matéria de fé.
Sincretismos “espíritas
Claro que o espiritismo entendido como tal pelo povo da Ilha também não está infenso a esse caráter sincrético. Muita gente o confunde com a “santeria”, religião popular assemelhada à nossa umbanda, embora, como aqui, ela seja, muito mais, uma mistura de catolicismo com crenças africanistas. Disse-me um cubano que, por lá, todo mundo é, ao mesmo tempo, santeiro e católico. Mesmo setores espiritualistas com algumas raízes kardecistas têm práticas não tão kardecianas, É o caso do chamado “espiritismo de cordón”, onde se cultiva o estudo das obras básicas, mas, paradoxalmente, se adotam práticas ritualístico-mediúnicas sincréticas, de nítida influência indígena.
Se sobra espaço para um espiritismo genuinamente kardecista? Sim, e com o concurso de bons pensadores espíritas, que Cuba sempre os teve, mesmo antes da revolução.

O Encontro da Confederação Espírita
Pan-Americana

Os cerca de 300 espíritas que prestigiaram o I Encuentro Cuba-Latinoamerica, no Habana Riviera Hotel, promovido pela CEPA, representavam, de uma certa forma, as diversas tendências espíritas da Ilha. De se registrar, no entanto, a tranquila e não contestada aceitação da tese da CEPA defendendo que o espiritismo não é uma religião.
Foi um encontro muito rico. Saí de lá com a nítida impressão de que a religiosidade do povo cubano, diferentemente do que ocorre no Brasil, não é empecilho para que amplos setores do espiritismo avancem no sentido de reconhecerem na proposta kardeciana o “terreno neutro” definido por Kardec, onde se possa assentar uma filosofia genuinamente espiritualista, arreligiosa, livre-pensadora, e progressista. Uma filosofia, enfim, capaz de conviver com todas as religiões, respeitando-as, sem necessidade de “enfeitar-se” com um título que não lhe pertence, como também aludiu o fundador do espiritismo, no seu Discurso de Abertura, de 1º.11.1868.





O Santos de todos os tempos
Uma homenagem ao centenário do clube de futebol da cidade sede do XXI Congresso da CEPA
Eugenio Lara - eugenlara@hotmail.com - arquiteto e torcedor do Santos, é fundador e editor do site PENSE - Pensamento Social Espírita [www.viasantos.com/pense], membro-fundador do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CPDoc)

Lembro-me como se fosse hoje, a primeira vez que fui à Vila Belmiro para ver o Santos de Pelé, meu time de coração, uma de minhas grandes paixões nesta vida. Foi em 1974, acompanhado por meu pai. Naquela noite quente, um sábado de verão, também vi jogar o grande craque do século 20, o Rei do Futebol: Pelé. Quando ele tocava na bola, parecia em câmara lenta, como no saudoso Canal 100. E o Rei deslizava, naquele gramado vistoso, diante dos refletores e da intrépida torcida santista, como se fosse um sonho. Vê-lo ao vivo com a camisa 10, em carne e osso, foi uma experiência indescritível. A camisa branca reluzia.
Todavia, para minha desgraça e da torcida alvinegra, o grande Peixe perdeu por 3 a 1, de um timeco que nem existe mais, um tal de Saad, de São Caetano do Sul-SP. Zebra total. Meu “pé-frio” ficou registrado naquela fatídica noite e morreu ali mesmo, no nascedouro. A alegria de ver o Glorioso e Pelé, pela primeira vez, ao vivo, superou a tristeza da derrota. Aquele clima todo, o barulho ensurdecedor da torcida, os cânticos e hinos entoados, como se fossem mantras, foi uma verdadeira festa, como na primeira vez que assisti a um espetáculo de circo. Momento especial, mágico.
Dois meses depois, no final daquele mesmo ano, retornei com meu pai à vila mais famosa do mundo para presenciar a despedida do Rei. Ganhamos de 2 a 0 da Ponte Preta e, em determinado momento da partida, para surpresa dos torcedores, Pelé se ajoelha no meio de campo, bem no círculo central e é reverenciado vibrantemente pela torcida, como o rei que sempre foi. Desta vez fiquei realmente triste, os olhos aguaram, pois nunca mais iria vê-lo com o manto sagrado do Santos. O Rei já havia se despedido da Seleção. E agora, do meu time de coração: sniff...
Pelé se foi para o Cosmos, nos EUA, deixando um vazio. O Santos prosseguiu em seu caminho de glórias. Surgiram os Meninos da Vila: Santástico, o Show da Vila; Giovanni; Diego, Robinho e, hoje, os craques Neymar e Ganso. Ninguém fez mais gols do que o Santos. Ninguém jogou mais bonito e com a mesma eficiência. Foi o maior time de todos os tempos e nenhum outro clube teve um ídolo do porte de Pelé. Fosse o Peixe oriundo da Capital, aí talvez tivesse o reconhecimento que merece de seus adversários, ao menos em São Paulo. Todavia, tinha mesmo que sair daqui, do Litoral, da Baixada Santista, o grande time vencedor que em seu centenário, comemorado em 14 de abril deste ano de 2012, celebra o vistoso futebol arte praticado desde que foi fundado.

Gol Espírita
Em times outros, observamos a ligação razoavelmente estreita com o segmento evangélico, o catolicismo, a umbanda. Já no Santos, a vinculação com o Espiritismo é também considerável. A família Teixeira, que dirigiu o Peixe por muitos anos, é espírita. Miro Teixeira, o patriarca da família, que foi presidente do Santos, é espírita. A geração de Robinho e Diego surgiu durante a gestão de seu filho, Marcelo Teixeira, assumidamente espírita. Muitos jogadores que passaram pelo Santos são espíritas. O zagueiro Adailton, revelado pelo alvinegro praiano, é um dos que adotam o Espiritismo como crença pessoal.
No entanto, na Páscoa de 2010, jogadores cristãos do Santos “pisaram na bola” ao se recusarem a sair do ônibus santista e entrar no Lar Espírita Mensageiros da Luz, instituição assistencial para deficientes mentais, aqui de Santos. Dentre eles, Robinho, Ganso e Neymar, capitaneados pelo ex-santista Roberto Brum, evangélico de carteirinha. A visita beneficente dos atletas viria acompanhada de doação de ovos de páscoa. A atitude foi condenada pelo então técnico Dorival Jr. sobrinho do lendário jogador palmeirense Dudu, espírita declarado. A diretoria e o presidente santista, Luís Álvaro de Oliveira, que não é espírita, desaprovaram, principalmente porque a atitude contrariou o manual de conduta do clube. A atual direção do Peixe tem uma postura laica, não tolera proselitismo religioso em campo ou fora dele, exemplo que deveria ser seguido por outros clubes. “A caridade está acima de tudo, porque ajudar ao próximo é também ajudar a Deus. Amor ao próximo não tem nada a ver com religião. Caridade é uma atitude universal. Não tem nada a ver com credo religioso”, afirmou, em entrevista coletiva, o mandatário santista Luís Álvaro sobre o triste episódio.
Devido à má repercussão da atitude desagradável dos jovens atletas em todo o País e nas redes sociais, dias depois voltaram atrás, se desculparam publicamente e passaram uma tarde muito agradável com as crianças do Mensageiros.
Outro fato curioso é o atual jogador do Peixe, Alan Kardec, revelado pelo Vasco da Gama e repatriado do futebol português. Quando foi contratado, fiquei a pensar não somente no nome do atleta, xará do fundador do Espiritismo, mas no fato de que ele, sendo atacante, certamente iria balançar as redes para o Peixe. Seria interessante, imaginava, se com o nome que tem, fizesse um gol espírita pelo Santos. Algo deveras engraçado. Consagraria Kardec como o “Atacante do Além”. No jargão do futebol, “gol espírita” é um termo usado por comentaristas e cronistas esportivos para definir o gol sinistro, estranho, esquisitão, feito de modo inusitado, insólito. E, vejam só que curioso, o primeiro gol de Alan Kardec no Santos foi justamente um gol espírita.

Vila iluminada
Dia de jogo do Peixe, em casa, é dia de celebração. A Vila Belmiro fica iluminada. O bairro, homônimo, resplandece todo. E no Centro Espírita Allan Kardec (Ceak), localizado a duas quadras do estádio, dá para ver o brilho dos refletores, ouvir os fogos e o burburinho dos torcedores. É sempre um dia especial. Quem passar de avião e olhar para baixo irá ver, se tiver sensibilidade medianímica para isso, um grande foco luminoso: a Vila Belmiro, o Ceak e o Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS). E em setembro deste ano, durante a realização do XXI Congresso da Confederação Espírita Pan-Americana-2012, em Santos, essa mesma luminosidade se fará sentir, criando um clima de renovação doutrinária, de bem-estar, de esperança e perseverança na construção de um Espiritismo filosófico, cultural, antenado com a ciência e comprometido com as questões de nosso tempo. 
Desse grande foco emanam não somente as maravilhas do futebol arte praticado pelo Santos, mas também o arrojo doutrinário, o ideal por um Espiritismo de cultura luminosa, esclarecedora, crítica e moralmente transformadora. Nem todos os frequentadores do Ceak e do ICKS são santistas, mas isto não tem a menor importância. Ao contrário das torcidas organizadas e dos fanáticos intransigentes, no Ceak e no ICKS corintianos, palmeirenses, são-paulinos, flamenguistas, colorados, santistas convivem muito bem e se respeitam. O que vale é a alegria de estar junto e de compartilhar, não somente as glórias desse grande time, que hoje completa 100 anos de vida, mas também as glórias de uma doutrina sesquicentenária, pujante e humanista.
Parabéns, Santos! Um Século de Vida! E viva o Santos de todos os tempos!
Em setembro, durante o XXI Congresso da CEPA, em Santos, essa mesma luminosidade se fará sentir, criando um clima de renovação doutrinária, de esperança e perseverança na construção de um Espiritismo filosófico, comprometido com as questões de nosso tempo. 






Temas sempre atuais –       Palestras públicas do CCEPA
Com excelente público e interação deste com o palestrante, ocorreu, dia 2 de abril, no auditório do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, a exposição do trabalho “Experiências de quase morte: verdades e mitos”, conferência do médico porto-alegrense Jorge Luiz dos Santos.
Sempre na primeira segunda-feira de cada mês, um tema de atualidade, com enfoque ou conexão espírita, é oferecido ao público visitante, com entrada franca.
A palestra deste mês de maio – dia 7, às 20h30 – tem como título “A Dieta Alimentar e o   Espírito”, a cargo do Dr. Dálmio Moraes, pesquisador das áreas de farmacologia, alimentação e psicoterapia.

CCEPA organiza grupo
para   o Congresso da CEPA
Um delegação de integrantes do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre mobiliza-se para participar do XXI Congresso Espírita Pan-Americano, que acontece em Santos/SP, de 5 a 9 de Setembro próximo.
Realizados de 4 em 4 anos em algum país da América, os Congressos da CEPA se constituem sempre em instigantes oportunidades de estudo e atualização da doutrina espírita. O tema do evento deste ano é “Perspectivas Contemporâneas da Teoria Espírita da Reencarnação”, com expositores das Américas e da Europa.
Participantes do CCEPA estão convidando espíritas da Região Sul do Brasil para formarem caravana única, aproveitando vantagens de melhores preços de voo, traslado e hospedagem. Maiores informações podem ser obtidas com Salomão Benchaya, pelo e-mail ccepars@gmail.com .
Para saber mais sobre o Congresso: www.congressocepa2012.com.br .







Grupo Espírita Nueva Generación
En archivo adjunto, sigue nuestra revista en formato digital, en la cual incluye: El análisis de un foro transmitido por radio sobre el tema ¿Qué es el Espiritismo?; Informe de la visita que tuvo Jon y Dante a Guatemala; Y el tema “Los ideales del espiritista”.Te felicito, Milton, por la calidad de tus artículos publicados en "CCEPA Opinião", así como también la entrevista muy interesante que te realizó el PENSE, lo cual denota la profundidad de tu pensamiento, producto de la preparación y experiencia que has adquirido. 
Daniel Torres – Grupo Espírita Nueva Generación – Ciudad de Guatemala.
N.R.: Para receber, por e-mail, o boletim Nueva Generación, solicitar a g_nuevag@yahoo.com .

quarta-feira, 18 de abril de 2012

OPINIÃO - ANO XVIII - N° 195 - ABRIL 2012

Laicismo x Crucifixos

TJ gaúcho manda retirar crucifixos das salas de audiência
O Conselho da Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em decisão unânime, prolatada dia 3 de março último, determinou a retirada dos crucifixos e símbolos religiosos nos espaços públicos dos prédios da Justiça Estadual.

Símbolos religiosos não contribuem para a equidistância do Estado-juiz.
Em seu voto, que terminou acompanhado pelos quatro outros julgadores, o relator do processo administrativo, Desembargador Cláudio Balduino Maciel, defendeu que “um julgamento realizado em uma sala de tribunal sob um expressivo símbolo de uma Igreja e de sua doutrina não parece a melhor forma de se mostrar o Estado-juiz equidistante dos valores em conflito”. E assim, “resguardar o espaço público do Judiciário para o uso somente de símbolos oficiais do Estado é o único caminho que responde aos princípios constitucionais republicanos de um estado laico, devendo ser vedada a manutenção dos crucifixos e outros símbolos religiosos em ambientes públicos dos prédios".

A decisão num contexto nacional
A decisão agora adotada pelo órgão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul deu-se dentro de um contexto de fortes contestações à permanência de símbolos religiosos em espaços públicos.
Desde 2009, no Estado de São Paulo, tramita ação civil pública promovida pelo Minsitério Público Federal postulando a retirada de todos os símbolos religiosos em quaisquer repartições estaduais. Na petição inicial, o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias, funda-se no princípio da laicidade estatal, da liberdade de crença e da isonomia, destacando que “o símbolo religioso ostentado em local público demonstra uma predisposição para a religião que tal símbolo representa".
No Rio de Janeiro, a iniciativa partiu da própria presidência do Tribunal de Justiça do Estado, quando exercida pelo desembargador Luiz Zveiter (2009/2010) que, em decisão administrativa de cunho pessoal, ao assumir, determinou a retirada do crucifixo que sempre estivera na sala da presidência da Corte e transformou a capela católica existente no Tribunal em espaço ecumênico. A decisão, no entanto, não atingiu os juízes e os tribunais que continuaram com autonomia para manter ou retirar símbolos de suas respectivas religiões em suas salas de trabalho.






Medida justa e oportuna
Quando da proclamação da República, o Brasil era, praticamente, todo ele, católico. Ainda assim, o mantenimento de símbolos religiosos do catolicismo nas repartições públicas, herança do colonialismo português, feria os princípios republicanos do laicismo e da isonomia.
À luz dos parâmetros republicanos, já não se pode sequer alegar tratar-se de direitos da maioria e que, por isso, se devam sobrepor aos das minorias. Ao contrário, minorias, no sistema republicano, gozam igualmente da garantia de proteção de seus direitos, frequentemente ameaçados pela prepotência das maiorias.
Além de se constituir em símbolo religioso, incompatível com o princípio da laicidade da República, o crucifixo sequer representa uma unanimidade dentro do próprio cristianismo. O segmento evangélico, cada vez mais numeroso no Brasil, rejeita o culto a imagens, usual no catolicismo. Desde suas origens luteranas, passando pelas tão populares seitas pentecostais e neopentecostais, os evangélicos adotam apenas a cruz, sem a tradicional figura de Jesus Cristo presente no crucifixo romano. É evidente, pois, que a presença desse símbolo católico de devoção e de culto em uma repartição pública fere os direitos não apenas de arreligiosos, laicos, agnósticos e ateus, mas também de praticantes de outros credos.
Não se trata, pois, de desrespeito a símbolos religiosos. Muito menos, como chegou a escrever um jurista católico, a deliberação do Conselho da Magistratura gaúcha seria um sinal do Apocalipse. Trata-se de uma decisão serena e, ao mesmo tempo, corajosa, porque investe contra tradições arraigadas, mas incompatíveis com os tempos em que vivemos.
O princípio da liberdade de crença ou de religião não se compatibiliza com a adoção de símbolos religiosos em espaços públicos, por mais caros que sejam eles às tradições populares.  Para nós, espíritas, que defendemos a espiritualidade natural, despida de ritos e símbolos exteriores, a medida é justa e oportuna. (A Redação)






A Presença de Kardec (e da CEPA) em Cuba
O Espiritismo é uma questão de fundo e não de forma. Allan Kardec.

O evento da CEPA em Cuba, do qual participou o editor deste jornal (foto), revelou que Allan Kardec é uma presença firme naquele país.
De outra parte, como assinala Dante López, presidente da Confederação Espírita Pan-Americana, no boletim América Espírita, encartado nesta edição, “Cuba esperava pela CEPA”, com a qual tem vínculos históricos. Sempre existiram, e continuam atuantes na ilha caribenha, pensadores e núcleos comprometidos com a genuína mensagem de Kardec, liberta de dogmas e de ritos próprios do pensamento mágico-religioso. A pequena estrutura administrativa da CEPA nem sempre lhe permitiu interagir, como seria desejável, com esse rico contingente. Com o “I Encontro Espírita Cuba-Latinoamerica”, esse vínculo afetivo e filosófico foi retomado, reafirmado e sedimentado.
Entretanto, o perfil laico e livre-pensador, claramente sublinhado pela CEPA no evento, não ofereceu qualquer obstáculo à presença de segmentos espíritas ou para-espíritas com características diversas. Havia, por exemplo, uma representação do chamado “espiritismo de cordón”, movimento com raízes culturais autóctones, de influência indígena, miscigenadas com conceitos kardecistas. Sem lhes impor qualquer constrangimento e demonstrando o respeito a toda e qualquer expressão de espiritualidade, a mensagem da CEPA reafirmou seu compromisso com o que Kardec classificou como o “fundo” espírita, indiferente à forma, esta sempre impregnada de elementos culturais.
A seu turno, ratificando conceitos de união na essencialidade, aqui sempre expostos, o editor de CCEPA Opinião, em sua conferência pública, recordou uma clássica alegoria de Herculano Pires que mostra o espiritismo como uma estrela, onde se condensam conceitos dispersos em vasta nebulosa de antigas e ainda subsistentes culturas religiosas. Estas não devem ser desprezadas, entende a CEPA, mas vistas como caminhos à consolidação de um espiritismo filosófico, genuinamente kardecista, progressista, livre-pensador e distanciado das formas.
Como em outros setores, no campo espírita Cuba vive um momento de franca abertura e reafirmação dos ideias de liberdade e de fraterna integração continental e planetária. Nesse cenário, a CEPA levou sua mensagem doutrinária e afetiva aos irmãos cubanos. Deles, em contrapartida, recebeu preciosas contribuições doutrinárias e carinhosas manifestações de afeto.
Carinho e afeto! Nisto, aliás, os cubanos são insuperáveis. Foi muito bom estar com eles.






A imagem da tortura
Que lhe pareceria se em todas as repartições públicas do Brasil pairasse sobre a mesa do diretor uma forca e dela pendesse, estrangulado por uma corda, a figura do alferes José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes? E se, nas Faculdades de Filosofia, ao invés das clássicas figuras da coruja ou do pensador, fosse norma a exposição de Sócrates, moribundo, tendo junto ao corpo um copo de cicuta? E que tal se a representação de uma fogueira estivesse, obrigatoriamente, presente em todos os Parlamentos ou instituições públicas onde se cultiva o debate democrático de ideias? Ali, estariam representações de labaredas, como a crepitar permanentemente sobre os corpos semimutilados de Joana D’Arc, John Huss, Giordano Bruno e tantos outros que se fizeram mártires das chamas, em represália à luta em prol da dignidade humana, da igualdade e da liberdade de pensamento e de crença.
A cruz
Tétrico, não? A gente pode não se dar conta, mas fizemos algo semelhante com a luminosa figura de Jesus de Nazaré. Para recordá-lo, a civilização cristã adotou justamente o instrumento com o qual se o torturou e se o assassinou: a cruz. Antes da oficialização desse símbolo, outro, bem mais terno, identificava os cristãos: o peixe, a recordar a faina dos primeiros seguidores das ideias generosas do Nazareno. O mito judaico-cristão da queda pelo pecado e da maldição sobre toda a descendência do primeiro casal, engendrou a figura do redentor, aquele cujo sangue, miraculosa e excepcionalmente, redimiria o pecado de uns e apenas de uns: os que renunciassem à racionalidade e aderissem, incondicionalmente, ao mito. Os outros seguiram condenados por crime que não cometeram. A suma injustiça da pena que passa de pai para filho!
Mitos e dogmas
A história da humanidade está repleta de mitos que se fizeram dogmas. O mito do pecado original e suas aterrorizadoras consequências acabou por sacralizar um abjeto instrumento de tortura. Pudera! Sem ele, estaríamos todos, irremediavelmente, condenados. Justo, pois, que se o entronizasse nos templos e nos salões de festas, nas maternidades e nos cemitérios, nos palácios, nas choupanas, nas enfermarias e nos cárceres. E, claro, que estivesse, sempre, e irremovivelmente, por sobre a cabeça de quem recebera a grave incumbência de substituir os deuses na missão de julgar os outros. 
Crucifixos nos tribunais
Mas, o tempo dos mitos ficou para trás. Deuses, de há muito, já abdicaram de julgar os homens. Homens, há tempos, já se mostram aptos a criar suas próprias leis, administrarem-se a partir delas e dirimir as contendas derivadas de sua não observância ou errônea interpretação. Incrivelmente, no entanto, permaneceram, estaticamente sacralizados, alguns símbolos materiais que insistem em perpetuar eras mitológicas anteriores ao despertar da racionalidade. E, quando alguém tem a coragem de propor sua remoção, é, paradoxalmente, acusado de atentar contra a liberdade ou contra a espiritualidade. De que espiritualidade falam? Daquela que impõe mitos, dogmas e símbolos?
          É exatamente o que está acontecendo aqui no meu Estado, a partir de uma serena, mas corajosa decisão do Conselho da Magistratura determinando a remoção dos crucifixos das salas de audiência. Estava mais que na hora!






DROGAR OU INDIVIDUAR
Jorge Luiz dos Santos - médico e professor universitário – Porto Alegre/RS

Desde os tempos imemoriais o homem busca a riqueza da psique profunda para ampliar a mente e manter a coesão dos grupos sociais. O primitivo utilizava um arsenal de rituais, sacrifícios propiciatórios e substâncias químicas visando contactar o mundo “dos deuses“. Alguns indivíduos especiais, como os xamãs e os “berdaches“ das tribos americanas, eram os responsáveis por sonhar o “sonho da tribo“, encaminhando com mais segurança a vida coletiva.
Creio que essa necessidade se mantém em nós, os civilizados do Século XXI, e que o Eu apartado de sua Alma e do contato com outras almas empobrece-se: a vida passa a se limitar à maquinal repetição dos afazeres cotidianos, levando ao que C.G. Jung caracterizou como uma neurótica “adaptação à normalidade“.
Em contraposição a isso, Jung descreveu o processo de individuação, pelo qual o Eu, gradativamente, integra-se à totalidade de seu Ser, incluindo pulsões instintivas e conteúdos espirituais.
O Espiritismo, por sua vez, demonstrou a importância do transe, afirmando que a vivência desse fenômeno pode ser realizada e amadurecida por todos os indivíduos. Se Jung desmistificou as correntes psicológicas que consideravam, a priori, a manifestação de conteúdos da psique profunda como formas de alienação, o Espiritismo fez o mesmo com os que confundiam o transe com desordens mórbidas. A saúde mental pode e deve incluir a imensa riqueza das fenomenologias psíquica e metapsíquica, englobando sonhos premonitórios, visões e encontros espirituais, intuições, etc. Penso mesmo que a epidemia da drogadição contemporânea decorre, em parte, do empobrecimento do contato consciente do homem atual com sua Alma e com o mundo espiritual e que o afogamento do Eu no transe químico constitui uma inadequada tentativa de vivenciar estes processos profundos.
Digo inadequada, porque ao diminuir a participação consciente do Eu nesses fenômenos, não há a integração dos conteúdos simbólicos e espirituais ao consciente, indispensável à transcendência. A experiência psíquica mantém-se no nível superficial de fugazes sensações físicas. Devido à atuação recorrente das substâncias químicas sobre receptores nervosos, desencadeia-se lesão neurológica progressiva e, do ponto de vista psicológico, ocorrem gradativa invasão da consciência pelos conteúdos inconscientes, diminuição da capacidade de julgar e agir com critérios e, em última instância, perda da noção que distingue  real e imaginário.
Assim, as drogas levam à cisão psíquica. Isto tem-se evidenciado nas pesquisas científicas publicadas na última década sobre os efeitos de uma droga anteriormente considerada “leve“ e até mesmo terapêutica, a cannabis sativa (buscar cannabis and schizophrenia no sítio http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed). Após a liberação de seu uso pelas políticas públicas de alguns países, observou-se aumento importante da incidência de esquizofrenia entre os consumidores, especialmente adolescentes. Passou a comprovar-se, com base em fortes evidências epidemiológicas, que a cannabis, além de levar a quadros agudos de “caos psíquico“, desencadeia a esquizofrenia em indivíduos geneticamente predispostos e nos jovens, contribuindo adicionalmente à exacerbação de sintomas da doença e à piora do prognóstico nos afetados. Sugerem os estudos que características do cérebro adolescente o tornam mais vulnerável aos efeitos da droga sobre o desencadeamento desta enfermidade degenerativa crônica.
Propomos assim que, ao invés de liberarmos o uso de compostos danosos, democratize-se aos jovens o acesso ao ensino de qualidade desenvolvendo, além de conteúdos curriculares, a sensibilização à profundidade psíquica pela qual o Eu acessa a própria Alma e as benéficas influências espirituais. Os métodos para isto incluem o desenvolvimento do intelecto, da emoção, da criação artística, da vida saudável, da meditação, da capacitação crítica quanto aos conteúdos vivenciais e simbólicos, incluindo as experiências no mundo, os sonhos e as intuições. Enfim, o processo de autodesenvolvimento, de individuação, graciosamente oferecido pela vida,  sem necessidade de droga alguma.
Difícil? É o mínimo que os jovens merecem!








S.E. Estudo e Caridade, Santa Maria – 85 anos
Fundada em 13 de abril de 1927, comemora, este mês, 85 anos de atividades, a Sociedade Espírita Estudo e Caridade, uma das mais importantes instituições espíritas do Rio Grande do Sul, com sede na cidade de Santa Maria.
Para comemorar a efeméride, a instituição programou uma série de conferências públicas, com integrantes da Casa e convidados. Assim, na noite de 13 de abril, às 20h, o físico e escritor Moacir Costa de Araújo Lima (Porto Alegre) faz palestra com o tema “Ciência e Espiritualidade”. No dia 21, José Budó, dirigente da instituição e Delegado da CEPA em Santa Maria, abordará o tema “Laicismo e Espiritismo”. No dia 26 de abril, o presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Milton Medran Moreira aborda o tema “Espiritismo e Direitos Humanos”.
No site http://www.lardejoaquina.com.br/ você poderá conhecer toda a programação de aniversário da instituição e um pouco da história da S.E.Estudo e Caridade, mantenedora do Lar de Joaquina, importante obra social com relevantes serviços prestados à comunidade.

Grupo de Estudos Espíritas de Ilópolis recebe caravana do CCEPA
Cerca de 30 colaboradores do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre participam domingo, dia 15 de abril, de Encontro com integrantes do Grupo de Estudos Espíritas de Ilópolis, “a cidade da erva mate”.
O ponto culminante do evento é a conferência de Salomão Jacob Benchaya, Diretor de Estudos Espíritas do CCEPA, no auditório do Museu do Pão, com o tema “O Que é o Espiritismo”. Segue-se um intercâmbio de ideias aberto a todos os participantes do evento, tendo como provocadores: Milton Medran Moreira (CCEPA), Julio Cezar Giacomini (S.E.Luz e Caridade, de Soledade/RS,  e  Victor Emanuel Cristofari (CCEPA).









Vivemos o melhor dos tempos.
Em comentário à matéria de capa da edição 193, também quando li em Veja a entrevista do Dr. Steven Pinker sobre seu intrigante livro, experimentei a mesma reflexão! Em conversas com companheiros sobre este assunto, ainda presos às concepções pessimistas e negativistas, falamos: meu amigo, será que a violência aumentou como você defende, ou será que nos tornamos mais sensíveis a ela? Será que conseguiríamos assistir, por exemplo, sem nos indignarmos, à execução de criminosos em praça pública patrocinada pelo Estado, como ocorria há pouco tempo em todo o mundo? De fato, como bem defendeu Kardec, a Lei de Progresso é real! Que os bons reajam, e não se deixem levar pela audácia dos maus.
Manuel Ferreira - Goiânia /GO

Mecanismos Humanos de Justiça
Gostei muito desse artigo (editorial de Opinião n.194), pelo seu conteúdo humano. Realmente, a reeducação, a humanização nos presídios seria a melhor solução para diminuir a violência. Obrigada!
Alcione Souto – Cabo de Santo Agostinho/PE 

CCEPA Opinião
Caro Medran:
 A você e aos companheiros do CCEPA, gostaria de registrar minhas felicitações pelo esforço e pela qualidade do OPINIÃO. Trata-se de um louvável empenho bastante conhecido, com artigos muito bons, uma leitura enriquecedora a cada número, mas entendo que expressar nosso reconhecimento pelas coisas úteis, honradas e belas dessa vida, é um dever. Acabei de ler o número de março e achei muito oportuno O Legado Cultural de Chico e O caminho da dessacralização, o Editorial, o artigo do Eugenio, enfim, belo trabalho!
Maria Salete – Itajaí.


A menina de Bertioga
Sobre a matéria de “Opinião em Tópicos” de março, é realmente triste observar companheiros brasileiros com bagagem espiritualizada, “responsabilizarem” Deus pelas irresponsabilidades humanas. Que essa postura seja assumida por aqueles que ainda não reconhecem a vida espiritual até é aceitável, porém creio que para a maioria as verdades da Eternidade são bem estudas. Compreender o erro é sublime, mas acolher é covardia.
Poderia ter sido um filho menor meu pilotando aquele Jet Sky. Mas eu como mãe que se considera responsável tenho que imediatamente assumir minha falha perante a lei dos homens e de Deus. Há espíritas que colocam que Deus “usou” aquele adolescente para o desencarne da menina. É o mesmo que dizer que ela reencarnou com a tarefa de provocar uma morte. Que tristeza!
Patrícia Figueirôa (comentário inserido no site http://www.espiritbook.com.br , que publica a coluna, criticando posições expressas naquela lista sobre motivações espirituais do fato)