segunda-feira, 17 de maio de 2021

Opinião em Tópicos

 

A UTOPIA DO SAGRADO

Na medida em que se apropriaram do sagrado, um mundo utópico por elas criado e cujas regras só a elas compete estabelecer, em presumível conluio com as divindades, as religiões geraram o medo.

Uma parcela imensa da humanidade ainda está presa à concepção de que a vida se acha bem mais subordinada ao mistério do que à razão. Para essas pessoas, viver fora de algum sistema autorizado a interpretar e administrar o mistério, é profundamente desconfortável. Os atos comuns de suas vidas, seus ritos de passagem, seus projetos e realizações, se não passarem por algum cerimonial que evoque o sagrado, estarão fadados ao insucesso. Não lhes basta a disposição íntima e a convicção interior de que tais atos ou fatos derivam de intenções saudáveis e visam a objetivos bons e belos. Sem alguma formalidade que os remeta ao mundo do mistério, padecerão de ilegitimidade.

O BISPO DE MAURA

Em minha infância e adolescência, no Brasil não existia o divórcio. A sociedade, cultivadora de valores conservadores e religiosos, condenava a separação de casais e, com maior ênfase, via como pecaminosa a convivência de casais impedidos de celebrar o matrimônio.

Mas, a vida é mais rica do que a norma. Casais, assim mesmo, se separavam e buscavam outros parceiros. Como não podiam casar, eram tratados pela sociedade como “ajuntados”, “amigados”.

Foi então que um prelado católico, bispo da cidade de Maura, RJ, rompeu com a Santa Sé e criou a Igreja Católica Apostólica Brasileira. Esta aceitava o divórcio e celebrava casamentos de pessoas separadas. Um lenitivo para quem, continuando católico e preso ao utópico mundo do sagrado, precisasse sacramentar sua união natural.

O BISPO DE ROMA

Foi esse mesmo temor ao mistério e submissão ao sagrado que conduziu, nos últimos tempos, casais homoafetivos, impedidos de casar na Igreja, a pedir a sacerdotes que lhes dessem uma bênção. Não valia como casamento, mas lhes satisfazia a sede do sagrado. Entretanto, o Papa, tido como progressista, e que pode muito, mas não pode tudo, dentro dos cânones da Igreja, acaba de acatar resolução da poderosa Congregação para a Doutrina da Fé, que proíbe padres de todo mundo de abençoarem casais homoafetivos.

Recorde-se que Francisco, meses atrás, deu declaração favorável à formalização civil de uniões entre homossexuais. Ou seja: a regra vale para o mundo real, desde que não contamine o utópico mundo do sagrado. Este é de domínio exclusivo da religião.

O ESPIRITISMO

Em qual desses dois mundos transita o espiritismo? No do sagrado, ou naquele construído, no decorrer da história, pelo espírito humano, em seu processo evolutivo no planeta Terra?

A resposta a essa indagação define a identidade da filosofia espírita, demarca tendências diferentes que se apresentaram desde os primórdios do movimento e pedem, agora, conceituações claras, sem mais tergiversações.

A CEPA – Associação Espírita Internacional, de há muito, fez suas escolhas. Elas estão, agora, registradas na “Coleção Livre -Pensar – Espiritismo para o Século XXI”, uma série de livros, no formato e-book, disponibilizados gratuitamente, a partir do evento de seu lançamento, dia 10 de abril de 2021.

A definição clara de sua natureza é, mais do que nunca, requisito para a própria sobrevivência do espiritismo.

 

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