terça-feira, 27 de abril de 2021

Opinando


 Qual é o Jesus do Espiritismo? (I)

Por Salomão Jacob Benchaya

                O livro O Cristo de Paulo de Tarso, lançado em outubro/2020 pelo prof. José Lázaro Boberg, de Jacarezinho-PR, está fadado a marcar fortemente o movimento cristão e, particularmente, o espírita. Isto porque confronta posições arraigadas na tradição católica e espírita em torno dos evangelhos e de seus principais protagonistas, com repercussões, a meu ver, na leitura das obras de Kardec e de médiuns como Chico Xavier e seu guia espiritual Emmanuel.

                Nessa obra, prefaciada por Milton Medran Moreira, Boberg afirma que o Cristo a que Paulo se refere em suas “cartas” ou “epístolas” – os primeiros escritos do cristianismo - não é o homem de Nazaré, mas o Christós do gnosticismo, o Cristo espiritual, interior, o Deus que vive em nós, centelha divina de que todos somos dotados.

                Boberg é um estudioso da temática bíblica e do gnosticismo, doutrina cristã anterior ao cristianismo, considerada herética e violentamente combatida pela Igreja, já tendo publicado, nessa mesma linha, obras como “O Evangelho de Tomé – o elo perdido”, “O Evangelho de Judas”, “O Evangelho de Maria Madalena” e “O Evangelho Q”. Seus estudos baseiam-se em trabalhos de brilhantes pesquisadores do cristianismo e dos seus principais protagonistas. Na Introdução de seu livro, o autor informa: “choquei-me” ao defrontar com uma inusitada descoberta do “Cristo Gnóstico de Paulo” através de dois livros fundamentais, fora da literatura espírita: o best seller “O Cristo dos Pagãos: a sabedoria antiga e o significado espiritual da Bíblia e da história de Jesus” e “Transformando água em vinho”, ambos do ex-pastor Anglicano, Tom Harpur.” Cita, ainda, autores famosos como Rudolf Bultmann, John Dominic Crossan, Elaine Pagels, Barth Ehrman, Alvin Boyd Kuhn, Albert Schweitzer, Marcelo da Luz, Carlos Pastorino, Huberto Rohden, Hermínio de Miranda, entre outros. Aproveito para destacar os interessantes livros de autoria do ex-seminarista católico prof. José Pinheiro de Souza (1938-2014) “Três Maneiras de ver Jesus”(2011), com prefácio de Milton Medran Moreira, e “Mitos Cristãos”(2012), ambos tratando da verdadeira identidade ou natureza de Jesus.

                Boberg também menciona a importância do “Jesus Seminar”, fundado em 1985, na Califórnia, formado por um dos mais qualificados grupos de crítica bíblica, cujo objetivo era reconstruir a vida do Jesus histórico, definindo quem era Jesus, o que fez, o que disse, empregando o conhecimento científico e baseando-se em fontes primárias, evidências arqueológicas e em estudos antropológicos. Pretendiam separar o Jesus Histórico do Cristo da Fé.

                A partir dessa copiosa literatura, acredito que os estudiosos espíritas - particularmente os espíritas cristãos - têm o dever de analisar racionalmente esse tema, à luz da Ciência, como recomendado por Kardec, até porque uma das críticas que lhe são endereçadas refere-se, justamente, à sua demasiada vinculação da Filosofia Espírita com as tradições religiosas do judaísmo/cristianismo.

                É o que me disponho, modestamente, a fazer em próximas edições do OPINIÃO, com todo o respeito que merecem os que pensam diferente.

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