segunda-feira, 30 de novembro de 2009

OPINIÃO - ANO XVI - N° 170 -DEZEMBRO 2009

.
ESTAMOS SOZINHOS NO UNIVERSO?
.
A Igreja Católica começa a rever a histórica oposição à hipótese da pluralidade dos mundos habitados. Seminário sobre astrobiologia no Vaticano abre caminho para a aceitação da tese defendida pelo espiritismo desde seu nascimento.
.
.
Um evento histórico na Santa Sé
Um seminário sobre astrobiologia promovido em novembro pela Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano, acaba de abrir caminho para a aceitação pela Igreja de um princípio historicamente combatido pelo catolicismo: o da pluralidade dos mundos habitados.
Segundo a Rádio do Vaticano, a Santa Sé levantou a questão da possibilidade de vida inteligente extraterrestre, em seminário sobre astrobiologia encerrado em 10 novembro. Um dos participantes expressou a convicção de que essa descoberta estava relativamente próxima. O Padre Chris Impey, astrônomo da Universidade do Arizona, disse que "em alguns anos, serão encontradas formas de vida no universo, seja no sistema solar ou fora dele". Também destacou que "progressos incríveis foram feitos na pesquisa sobre os planetas". E lembrou: “Foi apenas em 1995 que encontramos o primeiro planeta fora do sistema solar e agora conhecemos mais de 400”.
Já em 2008, o jesuíta José Gabriel Funes, diretor do Observatório Astronômico do Vaticano surpreendeu a todos os que acompanham a história da Igreja e, principalmente, a outras igrejas cristãs mais conservadoras, quando, em entrevista a “L'Osservatore Romano”, admitiu a existência de “outros seres inteligentes, criados por Deus, fora da Terra”. Sustentou, na ocasião: “Isso não contradiz nossa fé porque não podemos colocar limites à liberdade criadora de Deus".
Na ocasião, a Igreja Ortodoxa Russa, através do teólogo Alexei Osipov, catedrático da Academia Espiritual de Moscou, expressou que sua igreja descarta a existência de civilizações extraterrestres inteligentes e que a declaração de Funes contrariava frontalmente o Antigo e o Novo Testamento.

Hipóteses não descartam a existência de vida no sistema solar
Embora realizado por um órgão ligado à estrutura do Vaticano, o seminário contou com a participação de estudiosos da matéria não vinculados à Santa Sé, como a doutora Athena Cosutenis, astrônoma do observatório de Paris. Ela se referiu aos diversos elementos compatíveis com a vida espalhados no universo. Recordou que, sob a superfície da lua Europa, no sistema de Júpiter, pode haver grande quantidade de água em estado líquido. Neste oceano, poderiam existir diversas formas de vida. A astrônoma indicou que há dois satélites que despertam particular interesse dos astrobiólogos. Encontram-se no sistema de Saturno e são Titã e Encelado. Titã apresenta características similares às da Terra e Encelado parece oferecer condições aptas para a vida, segundo a professora Cosutenis.

Nossa Opinião

Revelação, Ciência e Espiritualidade
Mesmo que a Igreja faça, nas últimas décadas, notável esforço para conciliar fé e ciência, não há como negar a profunda discrepância entre a “verdade revelada” e as descobertas ou tendências científicas atuais. A começar que, para a Bíblia, sequer outros mundos poderia haver. Muito menos, vida fora da Terra. A criação foi ato pessoal de Jeová e a vida na Terra um castigo a Adão, Eva e toda sua descendência pela prática do pecado original.
Apesar disso, é de se festejar, sempre, esses movimentos da Igreja em se adaptar à ciência. No fundo, eles consolidam o processo de laicização do conhecimento, reservando-se para a religião nada mais do que o simbolismo e a tradição.
A tese da pluralidade dos mundos habitados, ainda quando do surgimento do espiritismo, era vista pelo Vaticano como uma verdadeira heresia. Mesmo que a chamada “revelação espírita” possa conter equívocos pontuais, assinalando a presença de vida inteligente e civilizações em planetas de nosso sistema solar, hipótese de remotíssima possibilidade nos dias atuais, o princípio como tal segue confortado por plena razoabilidade. O universo hoje observável já registra a existência de cerca de 100 bilhões de galáxias. Cada uma delas, como a nossa Via Láctea, assinala a existência de cerca de 100 bilhões de estrelas da mesma ou de maior grandeza que o nosso Sol. Em suas órbitas, já se descobriram planetas muito parecidos com a Terra. É bem razoável que em muitos deles existam formas de vida semelhante ou bem mais avançada que a humana.
Diferentemente da religião, que a cada passo precisa retificar posições oficiais antes assumidas, o espiritismo deve acompanhar todos os movimentos da ciência. É certo que cada vez se faz mais fundo o fosso entre religião e ciência. Mas a proposta espírita é de que entre espiritualidade e ciência não há qualquer barreira. (A Redação)

Mensagem do Presidente

Missão Cumprida

"Aglutinamos pessoas que, embora em menor número, fazem a diferença".

Aproximando-se o ano de 2010, cabe uma avaliação das atividades da nossa instituição durante o presente ano. Impõe-se uma reflexão a todos nós, integrantes do CCEPA, sobre nosso desempenho em 2009, projetando já uma atuação para o próximo ano. Como tem se verificado nos últimos anos, o CCEPA direcionou suas atividades para a manutenção dos seus grupos permanentes de estudos e para funcionamento de cursos, notadamente os Cursos de Iniciação ao Espiritismo (CIESP) e Ciclos Básicos Estudos Espíritas (CIBEE). Contando, para isso, com a dedicação e perseverança dos seus trabalhadores. Temos enfrentado dificuldade em atrair público e renovar nosso quadro de associados, porquanto nossas atividades não têm as características daquelas que normalmente as pessoas buscam numa casa espírita. Contudo, aglutinamos pessoas que, embora em muito menor número, fazem a diferença.

Trabalhamos sempre para a consolidação da identidade da nossa casa, que se traduz pela visão do Espiritismo como doutrina filosófica livre-pensadora, progressista, libertadora, absolutamente otimista em relação ao ser humano. Fundados nos princípios básicos da obra e do pensamento de KARDEC, defendemos (e protagonizamos) uma atualização do Espiritismo, consistente num processo de amplo, dialético, perseverante e contínuo de estudos, debates e de construção do conhecimento por todos os espíritas integrados ao segmento laico e livre-pensador. Neste contexto, o CCEPA tem participado, incansavelmente, ao lado da Confederação Espírita Pan-Americana e da Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA (CEPA BRASIL), desta tarefa de difundir este propósito, que é o de dar vigor, atualidade e efetividade ao Espiritismo para sua atuação na sociedade hoje, como instrumento de reflexão, esclarecimento e aprimoramento do homem na sua dimensão humana e espiritual.
Em nome pessoal e dos companheiros de diretoria, um agradecimento especial pela colaboração de todos e o desejo de que nos mantenhamos unidos, solidários e entusiasmados no ideal de fazer do CCEPA um centro de livre reflexão, produção e difusão das idéias espíritas.

Rui Paulo Nazário de Oliveira
Presidente do CCEPA

Opinião em Tópicos.

Milton R. Medran Moreira

Por entre trigais
O carro da Prefeitura Municipal de Ciríaco que fora me buscar na cidade de Passo Fundo, naquela manhã de novembro, serpenteava pelas colinas da região, no extremo norte do Estado. Extensas lavouras de trigo douravam a paisagem. Em algumas delas já operavam as colheitadeiras, inaugurando o período de safra do precioso cereal. O cheiro agreste que emanava da lavoura trouxe-me à mente os versos de Milton Nascimento: “Debulhar o trigo/recolher cada bago de trigo/forjar no trigo o milagre do pão/ e se fartar de pão”.
Daí a poucas horas, eu teria de enfrentar, em uma pequena cidade de agricultores, o desafio de falar sobre “espiritualidade e convivência” a dois grupos de estudantes de escolas públicas. A Secretaria de Educação e Cultura de Ciríaco promovia uma jornada de literatura e uma feira do livro. Em decorrência do lançamento de meu livro “O Espírito de um Novo Tempo ou Um Novo Tempo para o Espírito”, dias antes autografado na 55ª Feira do Livro de Porto Alegre, fui honrado com o convite para patrono daquele evento. Ali, pois, compareceria como escritor e não como espírita, até porque de espiritismo pouco ou nada se sabe por lá.

Semeadura de ideias
A aproximação da cidade é assinalada pela visão de uma réplica do Cristo Redentor, na parte mais elevada da região. Um símbolo da cidade, atestando a religiosidade tradicional de seu povo.
Apesar disso, o evento, inteiramente laico, promovido pelo Poder Público oportunizava-me falar sobre temas que nos são familiares, a partir da ideia geral de espiritualidade e suas naturais consequências no campo do relacionamento humano. O desafio, pois, não era exatamente a temática, mas a forma de apresentá-la. Não que me houvesse sido imposta qualquer limitação, mas – pensava eu – não seria apropriado usar ali típicas terminologias “espíritas”. De certa forma, nós, espíritas, vivemos um paradoxo: trabalhamos com ideias que assimilamos como universais, mas, desde que permitimos se classificasse o espiritismo como uma crença, somos levados a divulgar essas mesmas ideias sob a roupagem de uma revelação religiosa. Nossa postura interna enquanto movimento organizado terminou, por natural consequência, formatando nossa imagem externa: veem-nos como uma religião. Por isso, creio, são menos frequentes do que desejaríamos essas oportunidades de falarmos de nossas propostas e de nossa visão de homem e de mundo, em ambientes laicos. E elas diminuem na exata proporção em que a influência religiosa se reduz na cultura humana. Por isso, nós próprios nos acomodamos e nos sentimos confortáveis em falar para nós mesmos. Quase como uma seita.

Os desejos da terra
Busquei, como tenho feito ao escrever e ao falar para públicos não espíritas, quebrar essa barreira. Fiz duas palestras, uma para crianças do nível primário, outra para jovens próximos de concluírem o 2º grau, sem jamais usar o substantivo espiritismo, ou o adjetivo espírita e sem qualquer referência a Allan Kardec ou qualquer de suas obras. Tenho a convicção, assim mesmo, que fiz duas palestras com conteúdos genuinamente espíritas.
Não fosse a presença de uma senhora, que já viveu em Porto Alegre, tendo lido sobre a doutrina e frequentado centros espíritas, e com quem tive a oportunidade de dialogar privadamente e de forma explícita sobre espiritismo, provavelmente ninguém teria detectado o meu comprometimento com a doutrina sistematizada por Allan Kardec. Avaliando os resultados, diante da atenção que consegui obter dos jovens ouvintes e do entusiasmo dos promotores do evento, recordei outra estrofe da linda canção de Milton: “Afagar a terra/Conhecer os desejos da terra/Cio da terra, a propícia estação/E fecundar o chão”.

A propícia estação
A incapacidade de a ciência materialista explicar a vida ou de lhe dar um sentido realmente confortador e racionalmente aceitável deve se constituir em estímulo para a semeadura, cuidadosa, de nossas ideias em qualquer ambiente. Mas, precisamos, definitivamente, nos convencer de que não atingiremos esse objetivo querendo rivalizar com as religiões. Estas, com seus dogmas e com a prevalência da fé sobre o conhecimento, já nada mais podem fazer em prol do progresso da humanidade. Já não dá para falar em religião nem para crianças de pequenas comunidades agrícolas. Elas estão ligadas ao mundo e aos seus anseios pelos mesmos fios condutores, ou, dizendo melhor, pelos mesmos mecanismos “wireless” que globalizam o conhecimento e aproximam homens, mulheres e crianças de todos os quadrantes da Terra. Mas dá para lhes falar em espírito. A compreensão deste é justamente o que pode encaminhar o ser humano a um novo paradigma do conhecimento que liberta.
Se nós, espíritas, não compreendermos que vivemos a propícia estação à semeadura dessas ideias, estaremos desbaratando o patrimônio que Kardec e seus interlocutores espirituais nos legaram.

Notícias

Encontro dos Amigos da CEPA
Firmado contrato com hotel de Bento Gonçalves

O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre firmou recentemente contrato com o Hotel Dall’Onder, da cidade gaúcha de Bento Gonçalves, capital da uva e do vinho, para sediar o II Encontro dos Amigos da CEPA. O evento, que terá a organização do CCEPA, acontece de 3 a 6 de Setembro de 2010. A partir do próximo mês de janeiro, estarão abertas as inscrições para todos os espíritas interessados. Em nossa próxima edição, daremos amplas informações.

“O Espírito de Um Novo Tempo” lançado oficialmente em Porto Alegre
O livro do jornalista e advogado Milton Medran Moreira, Diretor de Comunicação Social do CCEPA, “O Espírito de um Novo Tempo ou Um Novo Tempo para o Espírito” teve lançamento oficial na 55ª Feira do Livro de Porto Alegre.
Na noite de 6 de novembro, no Memorial do Rio Grande do Sul, junto à praça da feira, Medran, com outros 33 advogados gaúchos autores de obras literárias ou jurídicas, participou do ato “OAB Autografa”, com lançamento para convidados da Secção Gaúcha da Ordem dos Advogados do Brasil.
Na tarde de 7 de novembro, no Pavilhão Central da 55ª Feira do Livro de Porto Alegre, tradicional evento da Câmara Rio-Grandense do Livro, Medran autografou seu novo livro de crônicas para dezenas de pessoas que o foram prestigiar, apesar do intenso temporal que se abateu sobre Porto Alegre, naquele sábado.
A obra, oficialmente lançada na Feira do Livro de Porto Alegre, teve pré-lançamentos na capital gaúcha, especialmente para a comunidade espírita, com palestras do autor sobre algumas temáticas exploradas no livro, em duas oportunidades: em 15 de outubro, no Instituto Espírita Terceira Revelação Divina, e na noite de 2 de novembro no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre.
O livro, contendo 100 crônicas ambientadas nos 10 primeiros anos 2.000, a partir de um enfoque espírita, pode ser encontrado no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, na Livraria Saraiva (Shoppings Praia de Belas e Barra Sul), na Loja Kalila (Av.Tramandaí, 480, loja 4, Ipanema, Porto Alegre), ou por encomenda à editora – imprensalivre@imprensalivre.net – ou diretamente com o autor: medran@via-rs.net .
Medran (C) na foto com companheiros do CCEPA na Sessão de Autógrafos da 55ª Feira do Li vro de Porto Alegre.

Enfoque

.

Verão


Paulo Cesar Fernandes - Jornalista, Santos-SP

O verão chega. Como na letra da música traz novidades.
Novos passos, novos vôos...
Uma flor cai.
Um avanço pessoal, muitas vezes social, como nos tempos da música “Alegria, alegria” de Caetano Veloso, um típico exemplo.

Do ônibus para fora, ouvindo Rio Reiser, pensava não ser o verão, principalmente o verão da Europa, tal qual a reencarnação.
O tapa do médico nos fazendo chorar poderia se assemelhar ao canto do primeiro grilo. O canto anuncia a nova estação; nosso choro, uma nova experiência.
O começo, o início de uma bela e sensível vida, pode ser que não, mas por certo algo novo.

O luar do verão, iluminando as frases dos amantes, poderia ser comparado aos nossos momentos de altruísmo, quando iluminamos o mundo. E corajosamente nos lançamos de peito aberto em direção aos nossos semelhantes, rompendo toda sorte de preconceitos. Momentos em que somos apenas amor.
Por certo os momentos de egoísmo são algo ainda presente, uma discrepância a se dissipar no transcurso do tempo.
Pode ser uma idéia maluca estabelecer relação entre a chegada do verão e a reencarnação. Mas convenhamos que ambas dão início a um novo ciclo, propondo possibilidades, e ambas terão um final de ciclo contabilizando realizações.
A vida é fundamentalmente cíclica. Ciclos de presença e ausência se alternam. Criatividade e estupidez. Egoísmo e altruísmo. Assim é a coisa.
Errado?
Nada disso!
Apenas as condições materiais e psicológicas de nosso momento existencial se mostrando de forma clara e evidente.
A santidade e sua busca? Uma tolice.
Já o equilíbrio não.
Na presença dos aspectos claros e obscuros de nossa personalidade, na coragem de encará-los frente a frente caminhamos na direção da necessária sabedoria.
Ciclos são da vida, tal qual o verão, quando uma estrela brilha no horizonte, e as aves podem cantar e voar além de suas limitações.
.
Der sommer kommt (O verão chegou)
A chuva desfez o gelo, o mundo está de volta
Pessoas saem, o ar está claro
Uma ave canta, uma nova lua
O primeiro grilo, chegou o verão

A chuva desfez o gelo, o céu se aquieta
O dia se alonga, a neblina sobe
Uma estrela some no horizonte
A primavera foi, e o verão chegou

A chuva desfez o gelo, o mundo está molhado
Uma flor de cerejeira vem ao solo
Uma ave canta e alça vôo
Você avança, o verão chegou.
.
.

Opinião do Leitor

Conceitos do CCEPA Opinião
Ao renovar minha assinatura anual deste periódico, é oportuno dizer que agradeço sempre a luz que se renova mensalmente, clareando meu discernimento. Luz que se irradia dos conceitos sempre emitidos por esse jornal. Privilegiada que sou por poder lê-los todos os meses!
Gislaine Pinto de Quadros – Dom Pedrito/RS .

sábado, 31 de outubro de 2009

OPINIÃO - ANO XVI - N° 169 - NOVEMBRO/2009

.
Um gênio renascido? .

Jornais britânicos estão destacando a história de Oscar Wrigley, menino de dois anos com coeficiente de inteligência comparável ao de Albert Einstein.

.
Começou a falar aos 9 meses.
Oscar, segundo relata sua mãe, Hannah, com apenas 4 meses, apontava para a roupa que queria vestir, entre duas oferecidas por ela. Tinha apenas 9 meses quando começou a falar. Com um ano e meio, certo dia, enquanto sua mãe lhe dava banho, o menino recitou todo o alfabeto inglês. Com dois anos de idade, seu vocabulário já era de 600 palavras, 30 vezes mais do que o normal em crianças de sua idade.
Oscar Wrigley vive na pequena cidade de Reading, a 40 quilômetros de Londres, mas hoje é uma personalidade internacional. Mês passado foi tema dos principais órgãos da imprensa britânica, tais como BBC, Daily Mail e The Daily Telegraph. Tudo por conta dos resultados obtidos em teste de coeficiente de inteligência (Q.I.) em que alcançou 160 pontos, índice só atingido por 2% da população mundial e equivalente ao do famoso físico Albert Einstein.
Agora, com 2 anos e meio, trata de temas completamente alheios àqueles habitualmente tratados em seu círculo familar. Segundo Joe Wrigley, seu pai, um especialistas em tecnologia da informação, “esses dias, ele esteve falando à minha mulher sobre o ciclo reprodutivo dos pinguins”.
.
Um superdotado
O menino britânico é o que se chama de um superdotado. A superdotação é um fenômeno usualmente definido como capaz de englobar, além da inteligência acadêmica, outras habilidades como a criatividade, o senso de liderança, motivação, potencial artístico, desenvolvimento psicomotor ou outros talentos especiais.
Vasta literatura, em todo mundo, trata do fenômeno, dando destaque, especialmente, a como interagir com o superdotado, no lar e na escola, e suas relações com as demais crianças. A explicação do fenômeno, entretanto, está longe de obter um consenso. Há os que atribuem a genialidade precoce a fatores genéticos e hereditários. Vale dizer: por circunstâncias ligadas à natureza, uns nascem mais inteligentes que outros. Uma segunda corrente defende que ninguém nasce mais inteligente que outros, que não somos “seres da natureza”, mas “seres culturais”, e que habilidades e saberes resultam sempre dos estímulos a que é submetida a criança. No plano acadêmico, adota-se uma explicação contemplando os dois fatores, ou seja, admite-se um equilíbrio entre a genética e a influência ambiental, criando um cenário favorável ao desenvolvimento da inteligência.
.
A hipótese espírita
Propondo uma síntese entre as possíveis causas da superdotação, o espiritismo não despreza nem as influências genéticas ou hereditárias, nem os fatores culturais. Defendendo a ideia do espírito como identidade fundamental do ser humano, sustenta a hipótese da memória extracerebral, fator responsável pela retenção de conhecimentos, sentimentos e tendências comportamentais que se agregam ao patrimônio cultural, encarnação após encarnação. A ideia do espírito imortal e a da reencarnação, segundo o espiritismo e outros correntes, como a psicologia transpessoal, seriam a chave a desvendar o enigma dos superdotados.
.
Nossa Opinião
Na semana em que a mídia do mundo todo repercutia as notícias vindas da Inglaterra, sobre o garoto superdotado britânico, reportagem da revista Veja explorava matéria buscando explicar a genialidade de Albert Einstein a partir de exames feitos no cérebro do famoso físico.
Quando de sua morte, em 1955, Einstein teve preservados 180 fragmentos de seu cérebro, cuidadosamente guardados no Hospital de Princeton, em Nova Jersey. Divulgam-se agora resultados de exames feitos nesse material. Neurocientistas e anatomistas encontraram algumas características que podem diferenciar o cérebro de Einstein das demais pessoas. Detalhes pequenos como uma saliência no córtex motor e que seria responsável pela aptidão de tocar violino; o tamanho 15% maior do lobo parietal, sugerindo um dom especial pela matemática; neurônios levemente mais longos na área esquerda do hipercampo, o que, segundo alguns estudos, permite relacionar memórias com raciocínios.
A grande indagação que se pode fazer, no entanto, é esta: tais características fisiológicas nasceram com o grande físico alemão ou foram desenvolvidas a partir exatamente de seus dotes naturais? Ou, por outra: é a função que faz o órgão ou este determina as funções? Jackson Bettancourt, neuroanatomista da Universidade de São Paulo disse à reportagem que “até hoje não foi descoberta uma relação entre o formato e a composição do cérebro e os dotes intelectuais”.
Nenhuma das hipóteses nesse campo pode ser tida como cabal e definitivamente comprovada. Muito menos a tese espírita é reconhecida como cientificamente comprovada. Os padrões com que a ciência trabalha não vão além do cérebro. O espírito ou a alma seguem sendo incógnitas, porque nossa cultura relegou-o a mera questão de fé. Perifericamente, entretanto, pesquisas importantes, especialmente ligadas ao chamado fenômeno da memória extracerebral, oferecem rico material de estudo. Como no tempo das mesas girantes, onde a experimentação trouxe elementos de convicção sobre a imortalidade do espírito, os fatos convidam, agora, a se dar mais atenção à hipótese das vidas sucessivas. Síntese filosófica admirável, ela pode conciliar teses aparentemente distintas: a de que “nascemos” sem nada saber (simples e ignorantes) e vamos agregando à nossa personalidade saberes que as experiências culturais (reencarnações) vão somando à nossa vida de espíritos imortais.
(A Redação)
.
Editorial
.
Espiritismo e Ciência
O Espiritismo sem a ciência estaria sem apoio e controle e poderia embalar ilusões.
Allan Kardec, em “A Gênese” .
.
É frequente lamentar-se, no meio espírita, o fato de não se fazer ciência entre nós. Afinal, diz-se, Allan Kardec definiu o espiritismo como uma ciência, sonhando dar-lhe, no mundo moderno, precisamente essa identidade principal, em conjunto com as consequências éticas que de seu conhecimento naturalmente defluiriam.
Do Século 19 aos tempos de hoje, entretanto, o cenário científico transformou-se profundamente. A ciência fez-se muito mais exigente nos seus parâmetros. Com o desenvolvimento da tecnologia, a mesma ciência que a criou passou a ser dela dependente. Um experimento científico para ser reconhecido como tal necessita ser cabalmente demonstrado, exigindo, para isso, o concurso de cada vez mais sofisticados meios tecnológicos.Sem avançadas tecnologias, impossível fazer ciência.
Outro era o quadro da chamada “ciência experimental” do século de Kardec. Os fenômenos das mesas girantes, os tantos e tão ricos episódios de materializações produzidos ou abonados por eminentes cientistas nas décadas que se sucederam, foram, no entender deles, suficientes para a comprovação da proposta fundamental espírita: a da imortalidade e comunicabilidade dos espíritos.
Resta, assim, extremamente difícil, ou mesmo impossível, fazer ciência no meio espírita. Em contrapartida, encaminha-se o espiritismo, pouco a pouco, nos países em que é conhecido, a se firmar como um respeitável movimento de ideias. Movimento tão mais respeitado, pelos padrões laicos da sociedade moderna, quanto mais for capaz de abdicar de sua qualificação de religião, para identificar-se como uma filosofia. A racionalidade espírita, aliada à visão humanista e progressista do espiritismo, são fatores que o qualificam e lhe podem assegurar um lugar de destaque na contemporaneidade.
Mesmo assim, os postulados filosóficos espíritas reclamam, para conquistarem validade universal, um suporte científico. Algumas áreas da ciência atual - destaquem-se as modernas concepções da física quântica, a parapsicologia, a psicologia transpessoal e outras -confortam, em alguma medida, as propostas espíritas. No âmbito das ciências biológicas, mesmo preponderante um acentuado reducionismo, fundado em arraigadas concepções materialistas, é de se reconhecer que nem o avanço extraordinário da genética, nem o conhecimento minucioso da fisiologia do cérebro e de suas funções, têm sido capazes de explicar toda a grandeza da mente, suas capacidades, aptidões e potencialidades. A genialidade em crianças, sem que atributos idênticos possam ser encontrados em seus antecedentes genéticos e tampouco em seu entorno sócio-cultural, como enfocado na matéria de capa deste periódico, é apenas um dos fatores a sugerir que a ciência tem pela frente uma longa caminhada até poder definir cabalmente o fenômeno da inteligência, precioso bem da vida humana. Na sua essência, aliás, a vida continua sendo um enigma.
Ao espírita e às suas instituições representativas, pois, cabe manterem-se razoavelmente atentos a tudo o que se passa no vasto campo das ciências humanas. Cumpre esforçarmo-nos por melhor entendê-las, identificando em suas trajetórias, tendências e descobertas, aqueles fatores capazes de confortarem a concepção filosófica por nós adotada. Se não estamos habilitados a fazer ciência, em nosso meio, habituemo-nos a praticar a filosofia da ciência, desenvolvendo uma postura crítica em relação a ela. Recordemos sempre que Kardec demonstrou, invariavelmente, um imenso respeito pela ciência, abrigando a convicção de que será pela atuação desta, e não pela força da fé, que se haverá de inaugurar, um dia, a Era do Espírito.
.
Se não estamos habilitados a fazer ciência, habituemo-nos à prática da filosofia da ciência.
.
Opinião em Tópicos
Milton R. Medran Moreira
.
Cai o número de abortos
Uma boa notícia: o número de abortos no mundo caiu em quase 4 milhões nos últimos 10 anos. É o que indica pesquisa do Instituto Guttmacher, organização americana de saúde sexual. De 1995 a 2003, houve uma redução de 3,9 milhões de interrupções de gestação no mundo todo. A pesquisa também revela que, no ano de 2008, o número de gestações indesejadas diminuiu de 69 para 55 casos em cada mil mulheres da faixa etária de 15 a 44 anos.
Tudo isso, graças à popularização dos métodos anticoncepcionais. Quer dizer: na medida em que as mulheres do mundo todo, contrariando arraigados preconceitos religiosos, têm acesso aos meios contraceptivos, vão diminuindo os casos de aborto e também as gestações indesejadas. Fruto da educação ou da “força das coisas”, como diria Kardec.
.
Pelo direito à vida
Em números absolutos, os casos de aborto, no mundo, caíram de 45,5 milhões para 41,6 milhões entre 1995 a 2003. Há de se dizer: ainda é um índice assustador. Mas o estudo salienta outro dado relevante: nos países onde a interrupção da gestação é criminalizada, os abortos clandestinos causaram 70 mil mortes de mulheres que se valeram desses meios, no período abrangido pela pesquisa. Outras 5 milhões de mulheres, anualmente, necessitaram de tratamentos emergenciais por complicações decorrentes de práticas abortivas precárias, sem qualquer condição de higiene. Nesses casos, para quem, como nós, espíritas, nos preocupamos com o direito à vida, lamenta-se duplamente: pela morte do feto e pela perda da vida ou danos à saúde da infeliz gestante.
.
Descriminalização, uma tendência mundial
Estatísticas como estas conduzem as pessoas de bom senso a uma mudança de foco no trato da questão do aborto. É que também se comprovou que a persecução criminal, no caso, não reduz a prática dos abortos. Apenas torna-a mais perigosa. Com a agravante de que os danos não atingem apenas o feto, mas também a gestante, os outros familiares desta, a saúde pública e a sociedade como um todo.
Diante dessa realidade, há uma tendência mundial no sentido da descriminalização do aborto. Este somente em 32 países continua sendo penalmente punível. Desse universo, desde 1997, 19 nações amenizaram as restrições, tornando as penas mais brandas ou ampliando os casos de aborto legal. Tudo em sentido contrário à postulação religiosa, que é de punir cada vez mais draconianamente.
.
Mudança de foco
Descriminalizar necessariamente não significa aprovar o aborto. Para nós, espíritas, este, quando dolosamente praticado, será sempre uma grave violação às leis naturais. Seus responsáveis terão de se ver com o tribunal de suas próprias consciências. Parece ser esse o conceito com o qual, primordialmente, deve trabalhar o espiritismo. Em sintonia com as tendências da sociedade moderna, está na hora, pois, de o segmento espírita igualmente mudar seu foco em relação ao tema. Diante desse tormentoso drama e da criminalidade em geral, nossa tarefa é a da educação para a vida. Cerrar fileiras, com as religiões, pela punição criminal não parece ser a melhor política. Como registra a questão 797 de O Livro dos Espíritos, nossas leis, infelizmente, objetivam punir o mal depois de feito, quando deveríamos buscar reformar o ser humano pela educação, para que não mais precise de leis tão rigorosas.
.
Notícias
.
CEAK Santos convida para pesquisa mediúnica
O Centro Espírita Allan Kardec, de Santos/SP está convidando centros e grupos que praticam a mediunidade para uma pesquisa mediúnica. Ela integra o projeto Iniciação Científica desenvolvido pelo CEAK com jovens de sua pré-mocidade. O grupo, composto de sete jovens de 13 a 14 anos, escolheu o tema “A intervenção dos espíritos no mundo corporal”. Após trabalharem com intensa revisão e análise do tema nas obras de Allan Kardec, incluindo a Revista Espírita desejam agora realizar a pesquisa, com a participação de centros espíritas interessados.
Instituições interessadas deverão submeter aos espíritos questionário composto de quatro perguntas, como segue:

1. Em sua opinião, em que medida um espírito desencarnado pode influenciar um espírito encarnado?
2. Qual o grau de interferência dos espíritos sobre os acontecimentos da vida?
3. Qual a validade da expressão utilizada pelos espíritos ao responderem a pergunta 459 de “O Livro dos Espíritos”, na qual afirmam que os espíritos interferem em nossa vida “a tal ponto que são eles que nos dirigem”?
4. Kardec afirma em diversos pontos de sua obra que para que ocorra a interferência dos espíritos desencarnados sobre os encarnados (para o bem ou para o mal) é necessário que haja “afinidade energética”. De que natureza é esta “afinidade energética”? Como explicá-la?

O projeto sugere aos participantes da pesquisa mediúnica que uma semana antes da realização da reunião seja feita uma evocação de espíritos que aceitem ser questionados sobre o tema
As respostas devem ser enviadas por e-mail para um dos dirigentes da instituição: Ademar Arthur Chioro dos Reis (arthur@iron.com.br) ou Paulo Muniz( paulogmuniz@hotmail.com).
.
Conferências mensais do CCEPA
A conferência de Homero Ward da Rosa, sobre Determinismo e Livre Arbítrio, programada para a primeira segunda-feira de outubro, no CCEPA, precisou ser adiada, em razão de forte temporal que se abateu sobre a capital gaúcha, na noite de 5 de outubro, quando deveria ter sido realizada. Homero será programado para um dos próximos meses.
Na noite de 2 de Novembro, o conferencista foi o Diretor de Comunicação Social do CCEPA, Milton Medran Moreira, com o tema “O Espírito de um Novo Tempo”, temática de seu novo livro de crônicas, que está sendo lançado pela Editora Imprensa Livre, na 55ª Feira do Livro de Porto Alegre.
Para o mês de Dezembro (Dia 7, às 20h30min), o convidado do CCEPA é o professor Jerri Almeida (na foto) que abordará o tema “Filosofia da Convivência à Luz do Espiritismo”.
.
.
Firmado contrato com hotel de Bento Gonçalves para Encontro dos Amigos da CEPA
O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre firmou recentemente contrato com o Hotel Dall’Onder, da cidade gaúcha de Bento Gonçalves, capital da uva e do vinho, para sediar o II Encontro dos Amigos da CEPA. O evento, que terá a organização do CCEPA, acontece de 3 a 6 de Setembro de 2010. A partir de janeiro, estarão abertas as inscrições para todos os espíritas interessados.
.
Enfoque
.
A bela e singela Ardi
Eugênio Lara*
.
No início de outubro deste ano, a sociedade e a comunidade científica foram informadas da existência de um fóssil encontrado na Etiópia, África, em meados dos anos 1990, mas que somente agora, graças aos modernos recursos da computação gráfica e digitalização de objetos, pôde ser reconstituído. Trata-se de um hominídeo fêmea, um Ardipithecus ramidus com cerca de 4,4 milhões de idade, apelidado de Ardi. É, portanto e, por enquanto, a nossa irmã mais velha. A popular Lucy, um exemplar de Australopithecus afarensis, até então a primogênita, virou irmã do meio, pois é cerca de um milhão de anos mais nova.

Parece simples: apenas um milhão, dois, três, quatro milhões de anos. Mas não é. Torna-se extremamente difícil, quase impossível abarcar mentalmente todo esse tempo, numa vida média de 80 anos como ainda é essa nossa vida. Não dá para se ter a noção de tempo, a não ser de forma abstrata, matemática, histórica, arqueológica.
Os cientista afirmam que o elo perdido, o ser originário da humanidade, dos primatas e que, muito provavelmente se bifurcou devido ao processo de seleção natural, conforme previu Darwin e Wallace, viveu há cerca de seis ou sete milhões de anos. Enfim, estamos cada vez mais próximos da aurora da humanidade, de acessar o hominídeo perdido, o elo longínquo, que será o pai/mãe de todos nós ou nosso tataravô primordial, o verdadeiro Adão, provavelmente todo peludinho, de aspecto simiesco, mas com inteligência diferenciada. E, com certeza, ao contrário de Adão e Eva, esse aí terá o seu umbiguinho e todas as costelas as quais tem o devido direito.
Quanto mais a origem do ser humano se distancia de nós, no tempo e no espaço, mais nos distanciamos de Deus. Sim, do Deus-pai e esquizofrênico dos cristãos, do Deus-guerreiro e exclusivista dos judeus ou do Deus-vingativo e irascível dos muçulmanos fundamentalistas. E nos aproximamos cada vez mais de algo fora de nossa compreensão, cuja palavra foge de nossos lábios para comunicar, distancia-se de nossa mente para conceituar, mas se encontra, possivelmente, em nossa consciência de forma intuitiva para sentir e perceber que, aqueles deuses das religiões monoteístas tornaram-se extremamente inúteis e dispensáveis. Ou seja, todas as religiões monoteístas, o islamismo, o judaísmo, o cristianismo e seus derivados, incluindo-se aí o espiritismo cristão, tendem a se situar fora do esquadro, fora de contexto, voltadas para si mesmas, com um discurso ridículo, ultrapassado, carcomido pelas eras, vilipendiado e desmascarado pelas Ardis e Lucys, simpáticas e felizes em sua santa fossilização.
Quando Nietzsche decretou, simbolicamente, a morte de Deus, e com muita razão, muitos pensadores espiritualistas se sentiram agredidos, notadamente os de formação e influência de alguma dessas religiões monoteístas citadas, notadamente a cristã. Pois esse Deus, que morreu de inanição, não tem nada a ver com aquele algo a que nos referimos. Esse algo não sabemos o que é pois falta-nos um sentido, um quê de compreensão ainda distante de nossa assimilação intelecto-moral, psíquica e afetiva.
Colocar o acaso no lugar dessa coisa incompreensível é uma insensatez, da mesma forma que transformar essa coisa à nossa imagem e semelhança como tem feito a humanidade desde a época das cavernas, parece ser hoje, em pleno início do terceiro milênio, uma grande burrice.
Chamar esse mesmo algo que antecede a tudo de inteligência primordial, de causa suprema ou coisa que o valha, também não resolve o problema, aparentemente insolúvel. Menos ainda seria acrescentar-lhe atributos, o que o transformaria novamente num ser, ainda que bem diferente daquele demiurgo, daquele criador reverenciado pelas religiões.
É preferível ainda se fixar no que os olhos vêem, como fez Tomé. Ou então intuir de modo sincero, mas perigoso pela proximidade com o misticismo, essa coisa inútil e estéril que não se realiza socialmente, não se faz solidária, pois se firma como uma práxis solitária e indescritível, incomunicável. No que a mente interpreta e no que a razão dita, ainda que sempre embotada por nossas paixões, eis o que temos. Não há saída, pois a saída mesmo é o conhecimento da verdade. Porque ela nos liberta. E a verdade trazida agora pela pequenina Ardi e sua irmã mais nova Lucy, tão belas quanto qualquer top model, em sua beleza singela e primitiva, nos faz menos arrogantes e prepotentes, menos orgulhosos, nos desnuda, ficamos sem batina, sem paramentos, sem tiaras, sem piercing ou tatuagens, sem botóx ou silicone, sem missioneirismo, sem títulos acadêmicos, sem prêmio Nobel, completamente desnudos diante de um horizonte que se abre permanentemente, ao encontro da verdade.
.
Eugenio Lara é arquiteto e designer gráfico, membro-fundador do CPDoc, Centro de Pesquisa e Documentação Espírita e coeditor do site Pense – Pensamento Social Espírita (www.viasantos.com/pense).
E-mail: eugenlara@hotmail.com
.
Opinião do Leitor
.
O novo CCEPA Opinião
Ao receber, hoje, a edição de outubro do novo Ccepa Opinião, quero aproveitar para cumprimentá-los pela qualidade do trabalho, tanto pela variedade e teor dos artigos publicados, quanto pela nova diagramação e visual em papel branco. Esta última edição, destacando, na capa, o tema unificação x união está ótima. Parabéns.
Nícia Cunha - Cuiabá
.
Visita a Fortaleza
Com imensa alegria, externamos nosso carinho e admiração pelos amigos da CEPA e do CCEPA que nos proporcionaram os fatores essenciais que alimentam o espírito, o conhecimento que conduz ao despertar de consciência e o sentimento que consolida os laços de afetividade. Guardaremos em nossa memória espiritual todos os marcantes momentos da presença de cada um de vocês. Sabemos que a família espiritual é bem maior, mas aguardaremos as oportunidades futuras para estreitarmos vínculos duradouros com todos os que fazem esse movimento de ideias. Quiça um dia, como aspira o nobre amigo Milton Medran, toda a família espírita aprenda a conviver fraternalmente em total espírito de tolerância com o pluralismo e diferenças na forma de se praticar o Espiritismo. Assim, essencialmente, nos manteremos todos unidos pelos laços dos mesmos princípios de nossa amada doutrina.
Convidamos os leitores a visitarem nosso blog useece.blogspot.com onde há o registro das atividades que realizamos juntos com os companheiros da CEPA e do CCEPA que visitaram Fortaleza no mês de outubro.
André Luiz Bezerra Borges dos Santos (na foto) – Presidente da S.E.Auxiliadores dos Pobres e Relações Públicas da União das Sociedades Espíritas do Estado do Ceará.

OPINIÃO - ANO XVI - N° 169 - NOVEMBRO/2009

domingo, 4 de outubro de 2009

OPINIÃO - ANO XVI - N° 168 -OUTUBRO/2009

.
MOVIMENTO ESPÍRITA - É POSSÌVEL UNIFICA-LO?
.
Celebrado em 5 de outubro de 1949, o chamado Pacto Áureo completa este mês 60 anos de existência. Marco decisivo dos históricos esforços da Federação Espírita Brasileira no sentido de unificar o movimento espírita do país, a iniciativa, no entanto, está distante de unir os espíritas brasileiros.
.
Cenário: II Congresso da Confederação Espírita Pan-Americana, Rio de Janeiro
Detalhe pouco conhecido e raramente referido: o Pacto Áureo foi celebrado no momento em que, no Rio de Janeiro, se realizava o II Congresso da CEPA (3 a 12/outubro/1949), e só foi possível graças a esse evento que buscava congregar espíritas de todo o continente. A presença de lideranças espíritas de diferentes Estados brasileiros na antiga Capital Federal, participantes do II Congresso Espírita Pan-Americano, presidido por Luis Postiglioni (Argentina) e secretariado por Deolindo Amorim (Brasil), propiciou a efetivação do acordo, envolvendo uniões e federações dos seguintes Estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No documento, esboçava-se a criação do Conselho Federativo Nacional (CFN), um departamento da FEB que passaria, logo após, a congregar, como órgão unificador, as federações ou uniões espíritas estaduais.

A unificação e sua complexidade
O chamado processo de unificação do movimento espírita logo se revelou complexo, evidenciando questões de difícil equacionamento, ligadas à própria natureza do espiritismo. Fundado por Allan Kardec, em meados do Século 19, o espiritismo é um movimento de ideias que parte da premissa central da imortalidade do espírito e de sua evolução pelas vidas sucessivas, a reencarnação. Kardec definiu-o como uma "ciência que trata da origem, natureza e destino dos espíritos e de sua relação com o mundo material." (O Que é o Espiritismo). Mas, inscreveu entre seus princípios a plena liberdade de interpretação e a permanente necessidade de atualização: "Marchando passo a passo com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado por ele, pois se novas descobertas lhe demonstrarem que está errado sobre um certo ponto, ele se modificará nesse ponto, e se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará", escreveu Kardec em A Gênese. Isso acaba por afastá-lo das doutrinas estáticas, entre as quais, normalmente, se situam as religiões.

A opção da FEB

A clara opção religiosa feita pela FEB na sua concepção de espiritismo e, especialmente, algumas de suas peculiaridades doutrinárias como a adoção do roustainguismo (doutrina atribuída ao advogado francês Jean Baptiste Roustaing que, entre outras crenças, adotava a do corpo fluídico, não material, de Jesus) trouxeram dificuldades às pretensões unificacionistas e hegemônicas da FEB. Pensadores espíritas fiéis a Kardec, como José Herculano Pires, Deolindo Amorim, Leopoldo Machado e outros, sempre resistiram à hegemonia febeana, criticando sua estrutura "igrejeira". No plano institucional, igualmente, jamais se efetivou a plena integração do movimento espírita ao Conselho Federativo Nacional. Em diversos Estados, o movimento espírita segue representado por mais de uma união ou federação, embora apenas uma delas possa se filiar ao CFN. É o caso do Estado de São Paulo, onde o movimento unificacionista é representado pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE), concorrendo, no entanto, com outras entidades de grande representatividade, como a Federação Espírita do Estado de São Paulo e a Aliança Espírita Evangélica. Em Pernambuco, além da Federação Espírita Pernambucana, registram-se a existência da Comissão Estadual de Espiritismo e da União Espírita Pernambucana. No Ceará, convivem como entidades aglutinadoras de centros espíritas a Federação Espírita do Ceará e a União das Sociedades Espíritas do Estado do Ceará. Inúmeros outros centros e grupos espíritas preferem a total independência, não se ligando a nenhuma união ou federação, o que não lhes retira a identidade espírita.
Em outra vertente, a Confederação Espírita Pan-Americana, entidade de abrangência continental, que adota uma concepção laica e livre-pensadora de espiritismo, passou a exercer forte influência no pensamento espírita brasileiro, na última década. Congregando instituições e pessoas (delegados e simpatizantes) que se distribuem por vários Estados brasileiros, a CEPA opta por definir-se como um livre movimento de ideias. Tem por base as propostas kardequianas, mas sem normatizações a suas filiadas. Dessa forma, abre mão do caráter orientador, fortemente presente no movimento unificacionista, substituindo-o pelo estímulo ao estudo, ao debate e à construção coletiva do pensamento.

NOSSA OPINIÃO

.
Unificação e União
Apalavra unificação não fazia parte do vocabulário de Allan Kardec. A palavra união, no entanto, está presente em todo o seu discurso. Em nosso meio, é comum confundirem-se os dois termos, tomando-os como sinônimos. Dessa forma, se o objetivo dos esforços que culminaram com a adoção do Pacto Áureo, há 60 anos, era a união dos espíritas brasileiros, ótimo. Esse objetivo também era da CEPA que, naquele momento, celebrava seu II Congresso Pan-Americano, no Rio de Janeiro.
Na prática, o chamado projeto de unificação não tem contribuído para a união. Antes, a tem dificultado. Kardec sabia disso. Por isso, em Obras Póstumas, deixou esta clara advertência: “Pretender que o Espiritismo seja organizado, por toda a parte, da mesma maneira; que os espíritas do mundo inteiro se sujeitem a um regime uniforme, a uma única maneira de proceder; que devam esperar a luz de um ponto fixo para o qual devam voltar seus olhos, seria uma utopia tão absurda quanto pretender que todos os povos da Terra formassem um dia uma só nação, governada por um chefe único, regida pelo mesmo código de leis, adotando os mesmos costumes”. Advogava a existência de centros gerais, nos diversos países, sem que tivessem entre si “outro laço senão a comunhão da crença e a solidariedade moral, sem subordinação de uns a outros”.
Outra coisa são a união e a fraternidade entre os espíritas. Por isso, também deixou escrito Kardec: “Os diversos centros que se dedicam ao verdadeiro Espiritismo deverão dar-se as mãos fraternalmente, unindo-se para combater seus inimigos comuns: a incredulidade e o fanatismo”.
Unificação, reconheça-se, é uma exigência típica das organizações religiosas. É instrumento de obtenção e manutenção de poder. União é conceito muito mais amplo, compatível com o pluralismo, com o humanismo, onde o respeito e o diálogo criam e sedimentam vínculos de cooperação e fraternidade.
A nosso sentir, é nesse campo que devem se movimentar os espíritas.
(A Redação)
.
EDITORIAL
.
O QUE SOMOS E O QUE PODEREMOS SER
.
A verdade é filha do tempo, não da autoridade.
Francis Bacon

Quantos centros espíritas existem no Brasil? Quantos grupos se reúnem formal ou informalmente para estudar aspectos da doutrina espírita ou praticar a mediunidade nos moldes espíritas? Quantos espíritas, enfim, há em nosso país? Com toda a certeza, nunca teremos respostas a essa indagações. Mais do que a pretensão de reunir todos os dados desse universo, o chamado Pacto Áureo, celebrado há 60 anos, sonhava em unificar todo o universo espírita brasileiro e reunir os espíritas, como o apregoa o Evangelho, em um só rebanho e um só pastor.
Inspirando-se em modelos ainda fortemente vigentes à época, e que tinham por ícones o Estado forte e a Religião centralizadora, reputava-se conveniente dotar o movimento espírita de idêntica estrutura. A intenção justificava-se não só por força daqueles modelos sociais e políticos, mas também pelo fato de o espiritismo representar uma doutrina ainda pouco conhecida da maioria dos brasileiros e que precisaria se adaptar às crenças de seu povo. Para isso, entretanto, era preciso que seus princípios e suas práticas fossem validados e orientados pela autoridade de uma instituição composta por respeitável contingente de conhecedores da doutrina, devidamente ungidos pelo “Alto”.
Os modelos hoje vigentes são outros. O pluralismo ideológico, político e religioso conquistaram o espaço que lhes criou a sociedade civil, laica e democrática. A rigidez normativa das instituições cedeu lugar a posturas e convicções, construídas a partir de fontes as mais diversificadas. O respeito à liberdade de pensamento e de associação, conquista da modernidade consolidada pela sociedade contemporânea, acabou por tornar peremptos os esquemas mais formais das décadas passadas. Fatores como afinidade, informalidade e cogestão passaram a
ter predominância na formação e no funcionamento dos agrupamentos humanos. Isso, como não poderia deixar de ser, reflete-se também no movimento espírita.
De outra parte, a melhor compreensão da doutrina espírita, graças a oportunas e históricas campanhas de estudo, reflexão e debate, fez do espírita brasileiro um sujeito mais questionador e, por isso, mais livre. Já não o satisfazem esquemas prontos e acabados, contendo verdades inquestionáveis, mesmo que oferecidas como revelações do “Alto”. A dúvida e a busca passaram a ser vistas como indispensáveis ao aperfeiçoamento do conhecimento espírita, ainda que se reconheça a existência de postulados básicos formadores de um laço capaz de unir a comunidade espírita como um todo.
São, fora de dúvida, novos ventos que sopram e que reclamam posturas e políticas diferentes daquelas que presidiram o chamado processo de unificação. Antes de organismos orientadores, guardiães da verdade e seus dispensadores, os novos tempos requerem entidades estimuladoras do debate, do congraçamento e da fraternidade.
Significativos avanços já foram conquistados no que diz com a identidade cultural do espiritismo brasileiro. Muito, no entanto, há que ser feito no sentido de uma política interna de alteridade, fraternidade, respeito e cooperação mútua. Será esse, diga-se de passagem, um forte elemento a qualificá-lo ainda mais, também para quem o vê de fora. Vivenciando, no âmago do movimento, esses valores, estaremos também descobrindo o que de mais nobre tem a oferecer a doutrina espírita. E nesse novo contexto, concluiremos, ainda, que, somados, formamos uma comunidade bem mais numerosa, rica e qualificada, do que aquela considerada como “oficial”, pelo universo do chamado movimento unificado.
.
OPINIÃO EM TÒPICOS
Milton Medran Moreira
.
11º Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita
Dos dez SBPEs até agora realizados por Jaci Regis e sua equipe acho que deixei de comparecer a apenas dois deles. Só não fui em razão outros compromissos inafastáveis, no Brasil ou no Exterior, especialmente ligados à CEPA, entidade que presidi por oito anos. Este ano, novamente, sou forçado a não assistir à 11ª edição daquele importante evento da cidade de Santos. Um convite da União das Sociedades Espíritas do Estado do Ceará para atividades a partir do dia 3 de outubro leva-me, e ao presidente da CEPA, Dante López, àquele Estado do Nordeste brasileiro. Como não é todo o dia que se pode deixar o extremo Sul do Brasil para visitar o Nordeste, aceitei estender por mais alguns dias a estada no Ceará, e, assim, levar a mensagem do espiritismo livre-pensador e progressista, difundido pela CEPA, aos espíritas da região. Para poder cumprir uma agenda que inclui palestras em algumas instituições locais, precisei abrir mão de viajar à Baixada Santista.

O paradigma do espírito
Ausente do XI SBPE, cuja programação tenho à minha frente, devo dar um depoimento: foi-se o tempo em que a concepção de um espiritismo laico, aberto ao debate e à construção permanente do pensamento integrado a todas as áreas do conhecimento, reunia sempre os mesmos, uma meia dúzia de “gatos pingados”. O programa do evento arrola significativa listagem de expositores. Alguns deles não conheço. Provavelmente, participam pela primeira vez de um SBPE. A diversidade temática, que vai da arte à economia, da gestão do conhecimento organizacional à filosofia e à educação, mostra que é possível, sim, contribuir através do paradigma do espírito com todas as áreas do conhecimento e instâncias da vida. Era o que queria Kardec. Foi o que disseram os espíritos a ele, ao abonarem sua proposta de uma ampla abordagem das leis naturais abarcando “todas as circunstâncias da vida”(L.E.q.648).
Eventos como esse arejam o movimento espírita e vão ao encontro dos anseios de um imenso contingente de pessoas. Aquelas que superaram as amarras religiosas, mas também se negam a contemplar o fenômeno da vida por um prisma meramente biológico ou materialista.

Um conhecimento que transforma
Pessoas com essa estrutura de pensamento são, hoje, bem mais numerosas do que supomos. Por tradição ou por outras contingências sociais ou culturais, se declararão pertencentes a esta ou àquela religião. Poderão estar plenamente integradas a um centro espírita tradicional, ministrando passes ou recitando parábolas evangélicas que decoraram. Mas, no âmago de sua alma, sentem que a proposta espírita só cumprirá seus objetivos no momento em que for capaz de sair dos centros espíritas e ganhar todos os setores da vida, oferecendo um novo paradigma ao conhecimento. A famosa sentença de Karl Marx “até agora, os filósofos trataram de interpretar o mundo de diferentes maneiras, agora cabe transformá-lo” adapta-se como uma luva à proposta espírita. O espiritismo é admirável justamente por ser um conhecimento que, uma vez assimilado, conduz necessariamente à transformação pessoal e social. A religião nunca foi capaz de fazer isso porque retirou da imanência do ser a sua transformabilidade para relegá-la à transcendência: o reinado do bem e do justo não se daria, jamais, neste mundo.

Um novo tempo
Entretanto, é preciso reconhecer: as estruturas espíritas não estão preparadas a desempenhar esse papel. Não estão aparelhadas para atrair o imenso contingente de pessoas que vivem essa inquietação. Os poucos núcleos espíritas com esse perfil progressista e transformador, por sua vez, não têm demonstrado capacidade de se aglutinarem em um organismo que lhes reconheça a liberdade de criação e de autogestão. A CEPA busca preencher esse requisito. E o faz sem maiores exigências. Sem, por exemplo, impor às entidades que a ela aderem o dever de se desvincularem da rede organizacional a que estejam eventualmente filiadas. Não se faz espiritismo sem liberdade.
Vou levar essa mensagem a uma união espírita estadual que hoje congrega 58 centros espíritas no Ceará. Por isso, e creio que justificadamente, não estarei no SBPE e nem na Assembleia Geral que, naquele mesmo evento, reunirá os integrantes da Associação Brasileira dos Delegados e Amigos da CEPA no Brasil. Em diferentes latitudes geográficas, estaremos vivenciando o novo tempo que todos queremos para o espiritismo.

NOTÍCIAS

CEAK/Santos comemorou 65 anos
O Centro Espírita Allan Kardec, dinâmica instituição espírita filiada à CEPA, com sede na cidade de Santos, SP, completou, no último dia 1º de setembro 65 anos, aniversário marcado por uma série de atividades:
As atividades comemorativas iniciaram na noite de 26 de agosto, quando o jornalista José Rodrigues (na foto),um dos mais antigos colaboradores da instituição, fez emocionado relato sobre a “Comunidade do CEAK”, registrando aspectos históricos da Casa.
Na noite seguinte (27), foi a vez de Vladimir Coelho Grijó apresentar trabalho resultado de intensa pesquisa sobre a “Vida e Obra de Ernesto Bozzano”. Na noite de sexta-feira (28), Jailson Lima de Mendonça, do C.E.Ângelo Prado, de Santos, discorreu sobre o tema “Das Mesas Girantes à Transcomunicação Instrumental”.
As festividades se encerram no sábado, com atividades envolvendo todos os colaboradores da instituição, sob a denominação de “Família CEAK em Foco”.
.
Presidente do CCEPA participa
do XI Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita
.
Rui Paulo Nazário de Oliveira, presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, depois de participar de Mesa Redonda, em Fortaleza, em 4 de outubro, atividade da CEPA em conjunto com a União das Sociedades Espíritas do Ceará, viaja a Santos/SP para assistir ao 11º SBPE. Na mesma oportunidade, Rui, que é vice-presidente da Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA, participará da Assembleia Geral daquela entidade que elegerá nova Diretoria para o biênio 2009/2010.
Do quadro de associados do CCEPA também deverá participar do SBPE e da reunião da Associação dos Amigos da CEPA, a colaboradora Margarida da Silva Nunes, hoje radicada em Florianópolis.

Medran fez pré-lançamento no CCEPA
e será o palestrante de novembro
.
No último dia 13 de setembro, em almoço de confraternização na sede do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, o Diretor de Comunicação Social do CCEPA, Milton Medran Moreira, fez o pré-lançamento de seu livro “O Espírito de um Novo Tempo ou Um Novo Tempo para o Espírito” (Editora Imprensa Livre), que terá lançamento oficial na Feira do Livro de Porto Alegre, em sessão de autógrafos agendada para 7 de novembro, às 14 horas.
Medran será o palestrante da primeira segunda-feira de novembro (dia 5) às 20h30, no auditório do CCEPA, enfocando temas ligados à sua última obra, em conferência que leva o título de “Um novo tempo para o espírito”.
O novo livro de Medran já está à disposição na Livraria do CCEPA (20 reais) e, na Feira do Livro (Praça da Alfândega, de 30/10 a 15/11), poderá ser adquirido na barraca da Editora Imprensa Livre, juntamente com outras obras do autor e, também, os livros da CEPA, editados pela Imprensa Livre, sob a coordenação do CCEPA: “A CEPA e a Atualização do Espiritismo”, “Espiritismo – o Pensamento Atual da CEPA” e “Da Religião Espírita ao Laicismo, a Trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre”, de Salomão Jacob Benchaya
.
ENFOQUE
.
Ano da França no Brasil:
O Legado Kardequiano
.
David Castilhos - Historiador
.
.
A metade do século XIX é marcada por estranhos fenômenos. Em clubes, cabarés e lares de Paris, pessoas se reúnem em torno de mesas que se movem. O apelido pega: tables tournantes.
Diversos cientistas se interessam pelas tais mesas, entre eles Faraday e que, em 1853, publica um artigo sobre suas observações.
No entanto, o que ocorre durante este período acaba por afastar a maioria dos homens de ciência, inicialmente curiosos. Através de um sistema de comunicação chamado tiptologia (certa quantidade de batidas representavam determinados tipos, letras), as tables começam a “falar”. E elas disseram que não se movimentavam sozinhas. Sofriam impulsos das almas de pessoas que já haviam morrido.
Afastaram-se os cientistas profissionais, principalmente, tudo leva a crer, por tratar-se de elementos sob domínio da superstição e da religião: vida após a morte, manifestação de espíritos, etc.
Mais de mil anos de controle exercido pelos dogmas religiosos foram o suficiente para que o bom senso recusasse qualquer indício de retorno à superstição.
A Razão optou por abster-se das pesquisas. Era arriscado. Além do mais, existia (como ainda existe) um universo de mistérios da matéria a ser desvendado pela ciência. O sobrenatural podia esperar.
Em 1855, os fenômenos já haviam se modificado. De tables tournantes, o lápis era o instrumento que deslizava, ora em cestas de vime e pranchetas, ora nas mãos de pessoas tidas como intermediárias dos Espíritos, isto é, médiuns.
É neste contexto que surge um lionês que morava em Paris, o pedagogo e estudioso do Magnetismo Animal, Hipollyte Leon Denizard Rivail. Não era médium, mas observador dos fenômenos.
Recolhendo textos obtidos pela escrita atípica, elaborando hipóteses, organizando as experiências e abrindo questionamentos, Hipollyte dá nome à ciência por ele criada. Visto que seu objeto era o Espírito, chamou-a Espiritismo.
Obviamente, o mundo acadêmico a rejeitou.
Ao publicar seu primeiro livro de Espiritismo, Hipollyte usou um pseudônimo: Allan Kardec.
Em todas as enciclopédias é este pseudônimo que remete à definição fundador do Espiritismo, ou Doutrina Espírita.
Allan Kardec nunca esteve no Brasil, no entanto suas obras aqui chegaram rapidamente, devido à intensa relação cultural de nossa nação com a França.
Políticos, médicos, advogados, militares, artistas… eram muitos os ofícios daqueles que se dedicavam ao Espiritismo deste lado do Atlântico.
Com o tempo, no Brasil, a nascida ciência torna-se mais uma religião entre tantas de nosso solo marcado pelo misticismo. Este processo daria uma boa pesquisa. Mas, por ora, nos importa perguntar: o que Allan Kardec e sua doutrina têm de especial que, além das massas sedentas por novidades religiosas, agradou pessoas mais cultas no final do século XIX e início do século XX?.
O espiritismo tem relações com o saint-simonismo e sua busca pelo positivo. Por mais estranho que isso, hoje, nos possa parecer, Allan Kardec procurou uma análise racional de um fato que julgava como certo, real, positivo: a comunicação das almas dos mortos com os vivos.
Usou de método, ansiava por objetividade, buscava a elaboração de leis. Fez uma tentativa de retorno ao espiritual sem superstição.
Outro ponto que sugere o porquê de Allan Kardec ter caído no gosto de muitos brasileiros é o seu pensamento, ou melhor, o pensamento que resulta das suas observações, coleta de dados e, obviamente, suas reflexões.
O Espiritismo propunha o progresso da alma e, consequentemente, o progresso social.
Entendia que a reencarnação era mais lógica que uma única vida.
Defendia uma busca por progresso moral que permitiria reencarnações menos difíceis no futuro.
Além disso, os escritos mediúnicos diziam não haver céu ou inferno. A felicidade ou infelicidade, a paz de consciência ou o remorso seriam estados psicológicos metaforicamente chamados de céu ou inferno. Cada um seria o responsável por construir estes estados em si mesmo.
Se estes, entre outros pontos, agradaram a alguns, desagradaram a muitos.
Se os cientistas profissionais desdenharam Allan Kardec, os religiosos tradicionais viram suas idéias como aberrações que intentavam retirar o poder das Igrejas como tradicionais intermediárias das “coisas de Deus”. Suas obras acabaram no Index.
Seu nome e sua doutrina são citados no Brasil até hoje (mesmo que em expressões populares). Ao tentar retirar da superstição fenômenos extraordinários, criou uma doutrina sofisticada e interessante que, independente das possíveis crenças religiosas que adotemos, merece ser conhecida.

OPINIÃO DO LEITOR

Se o Estado não fosse laico
No movimento da fé raciocinada, onde hoje raramente as pessoas têm sido levadas a raciocinar e onde não raro a atitude de raciocinar é malvista, o artigo de Luiz Antônio de Sá “Se o Estado não fosse laico, será que os centros espíritas estariam abertos?” (CCEPA-Opinião – agosto/2009) é uma peça admirável. Com a permissão do autor, vou enviá-lo à publicação por um centro espírita de Goiânia, que me pediu um artigo para seu jornal.
Luiz Signates – Goiânia/GO

Qualidade editorial
Na condição de assinantes deste jornal, queremos cumprimentar a equipe pela qualidade das matérias mensalmente publicadas. Continuamos sendo os grandes admiradores do trabalho da equipe.
Roberto e Dora Gandres – Rio de Janeiro/RJ.

Novo ccepa Opinião
Amigo Medran: Meus cumprimentos a ti e a toda a equipe, pelo novo visual de nosso querido Opinião. Sei muito bem das dificuldades, falta de tempo e de recursos financeiros que todos enfrentam para levar adiante essa mensagem. Gostaria de transmitir a todos meu abraço e o meu orgulho de haver convivido com os amigos do CCEPA por tantos anos. Mesmo vivendo distante, preservo esse vínculo como associada da instituição e como assinante deste jornal. Um beijo afetuoso em cada um.
Margarida da Silva Nunes – Florianópolis/SC.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

OPINIÃO - ANO XVI – N°167 – SETEMBRO/2009

.

QUANDO A ALMA RECORDA

Duas hipóteses de memória extracerebral em crianças, nos Estados Unidos, voltam a chamar a atenção de pesquisadores para o fenômeno exaustivamente estudado pelo psiquiatra Ian Stevenson, da Universidade da Virginia, no século passado: crianças que recordam de sua vida anterior..
.
O policial que retorna na personalidade do neto“Quando você era pequena e eu era seu pai, você também fazia bagunça e eu nunca lhe bati!”, foi a surpreendente resposta dada por Ian Hagedorn (3 anos) à mãe, Maria, quando esta ameaçou bater nele se não parasse de fazer barulho.
Não seria a primeira vez que o menino de Pensacola, na Flórida, afirmaria ser a reencarnação do avô. Em outra oportunidade, perguntou à mãe qual era o nome do gatinho que ele lhe havia dado quando ela era criança:
- Maniak, respondeu Maria.
- Não, esse era o pretinho, quero saber o nome do outro, o branco – rebateu Ian, fazendo a mãe recordar que eram dois os gatinhos dados a ela pelo pai: Maniak e Boston.
O avô de Ian era um policial, morto com um tiro no peito, um ano antes de seu nascimento. A lesão atingiu-lhe uma artéria pulmonar. Ian nasceria com uma grave deficiência respiratória na mesma artéria. Precisou fazer seis cirurgias antes de completar 4 anos. Aos 5, vive sob permanente assistência médica, devido a dificuldades respiratórias congênitas.
.
Morreu em acidente aviatório,
mas a paixão por aviões continua
O interesse do garoto James por aviões intrigava o casal Leiningers, de uma pequena cidade do estado de Lousiana. Desde pequenino, ele só queria falar em aeronaves. À noite, tinha pesadelos e gritava muito dizendo estar num avião que caía em chamas. O primeiro brinquedo por ele escolhido, adivinhem qual foi? Um avião, claro. Começou a fazer referências a um acidente aviatório, ocorrido muito antes de seu nascimento, na II Guerra Mundial, em 1945, dando o nome do piloto, coincidentemente também chamado James. A insistência era tanta e os dados trazidos pelo menino tão precisos que seu pai foi aos arquivos da Aeronáutica para conferir. De fato, um tenente de nome James M. Houston, de 21 anos, constava como tripulante de um avião abatido na batalha de Iwo Jima, em 3 de março de 1945.
Hoje, James Leiningers está com 11 anos. É o personagem central do livro “A Alma Sobrevivente: a reencarnação de um piloto de combate na II Guerra Mundial”, escrito por seus pais e que faz sucesso nas livrarias nos Estados Unidos. Um programa da TV ABC fez ampla reportagem com a família. Os pesadelos cessaram desde que o garoto e sua família, com a ajuda de uma terapeuta, entenderam que James era a reencarnação do jovem piloto morto na guerra.
Para conhecer um pouco mais sobre essa história real e fascinante, basta conferir www.youtube.com/watch?v=AQcegAnZwe8 . Ali, o pai do garoto afirma que antes era um cético: não acreditava em nada que se referisse à vida após a morte. Graças à experiência com seu filho, passou a ver na reencarnação a grande lei, capaz de explicar os enigmas nem sempre esclarecidos pela ciência e pela religião tradicional. (A Redação)
.Nossa Opinião
.
Razão e Ciência
Já havíamos selecionado estes dois casos sugestivos de reencarnação, quando a mídia se ocupou de outro não menos expressivo. O programa Fantástico (Rede Globo, 23/8/09) exibiu reportagem com Ákrit Jáswal, conhecido como “o pequeno gênio da Índia”. Aos 7 anos, em um vilarejo da Cordilheira dos Himalaias, ele entrou para a história como o mais jovem cirurgião do mundo, ao fazer delicada cirurgia que recompôs os movimentos da mão de uma garota, vítima de graves queimaduras. Hoje, aos 16, Ákrit está formado em ciências biológicas e começa a fazer mestrado nessa área.
Casos semelhantes se multiplicam no mundo todo. A ciência não tem uma explicação plausível para o fenômeno, a menos que, definitivamente, se considere a palingênese como genuína categoria científica. Diante da multiplicidade das ocorrências e da escassez de pesquisadores dotados de autênticos espírito e método científicos, corre-se o risco de se desperdiçarem valiosos materiais de estudo. Karl E.Muller, autor de “A Reencarnação Baseada em Fatos” aponta o fenômeno da genialidade precoce como forte indício da reencarnação.
De qualquer sorte, são sempre os fatos que forçam a pesquisa científica. Especialmente quando, no meio em que ocorrem, as partes resistam às explicações fundadas no mistério e na sobrenaturalidade e busquem na razão e nas leis naturais a chave para o fenômeno. Racionalidade é sempre uma boa aliada da ciência.
(A Redação)
.
Editorial
.
Liberdade religiosa,
deturpação e estelionato
.
Parecemos tão livres e estamos tão encadeados...
Robert Browning

"Por históricas distorções sedimentadas na cristandade,
fé, poder e dinheiro têm sido fatores difíceis de se dissociarem".


.
A liberdade de crença é uma das grandes conquistas da modernidade. Por longos 1000 anos, estivemos, no âmbito da cristandade, condenados a professar um único sistema de fé. Naquele 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero afixou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg as 95 teses questionando alguns dogmas e práticas da Igreja de Roma. Seria o marco inicial da Reforma Protestante, graças à qual a cristandade do Século XVI e seguintes se libertaria do jugo da crença única.
Desde então, têm se multiplicado por todo o mundo as igrejas cristãs. Algo positivo, pois, preservados alguns dogmas fundamentais com os quais todas elas comungam, abriu-se o leque do pluralismo religioso, estimulando-se, teoricamente, a liberdade de pensamento. Mas, por históricas distorções sedimentadas na cristandade, fé, poder e dinheiro têm sido fatores difíceis de se dissociarem. Mesmo que, ao curso de toda a história das igrejas, almas nobres, fiéis à autêntica mensagem de Jesus de Nazaré, hajam combatido aquela espúria associação, o certo é que a proliferação das igrejas, notadamente nos últimos 50 anos, tem se orientado justamente por essa fórmula. É ela a própria garantia de seu êxito.
As bases a sustentarem o modelo desse cristianismo de nosso século partem dos seguintes pressupostos: a fé é inquestionável, pois se funda na própria palavra de Deus; o poder emana diretamente da autoridade divina, a serviço da qual cada uma dessas igrejas afirma estar; o dinheiro empregado na “obra de Deus” retornará ao doador, multiplicado em bens de consumo, saúde, prosperidade e venturas no amor, benesses só concedidas aos crentes. Estes, por acréscimo, ainda obterão a salvação eterna.
O marketing empregado se afina com a economia de mercado, adotada por uma sociedade ainda movida por políticas excludentes, onde uns poucos são agraciados pelos bens da vida e muitos outros condenados à marginalidade. Enquanto esse modelo perdurar, as Igrejas cultivadoras da teologia da prosperidade seguirão crescendo, à custa de vítimas incautas ou de espíritos atrasados, presos às malhas do egoísmo e da ignorância. A grande motivação para a adesão a esse sistema de fé é o apelo que se faz a um sonhado “upgrade” social e econômico.
Poderão se inscrever essas práticas nos modernos postulados da liberdade de crença? Com certeza não. Trata-se, antes, de um verdadeiro estelionato da fé, astuciosamente engendrado, no seio da sociedade moderna e de suas garantias de liberdade de pensamento e crença. O modelo defrauda tanto os magnânimos projetos dos reformadores religiosos, como dos humanistas, livre-pensadores e laicos, que, no nascer da modernidade, ousaram contestar coisas como vendas de indulgências, autoritarismo e corrupção religiosa.
.Opinião em Tópicos
Milton Medram Moreira.
Um território para a IURD?
Muito tem se falado no crescimento da Igreja Universal do Reino de Deus, exportada do Brasil para praticamente todos os países da América Latina e com forte influência também nos Estados Unidos. Pois, então, imaginemos esta hipótese: o bispo Edir Macedo recebe do governo americano uma área em pleno coração de Miami e lá instala o Estado da IURD. Reconhecida a soberania do novo estado pela ONU, Macedo estaria habilitado a fazer tratados com os demais países do mundo.
Absurdo? Claro. Impensável nos tempos de hoje. Seria o estado teocrático, regido por leis religiosas, a se valer das prerrogativas conquistadas pela sociedade laica e civil e, por aí, se imiscuindo, via direito internacional, no ordenamento jurídico de outras nações.

O Estado do Vaticano
Cada vez que um acordo ou tratado internacional é celebrado entre um país democrático e o Estado do Vaticano é mais ou menos isso que acontece. Desde 1929, como resultado do Tratado de Latrão, celebrado entre Mussolini e Pio XI, um território de pouco mais de um quilômetro quadrado, incrustado no coração de Roma, sede administrativa da Igreja Católica, constituiu-se em nação independente, reconhecendo-se no chefe daquela igreja poderes políticos antes exercidos sobre os diversos Estados Pontifícios, espalhados pela atual Itália. Se, naquele momento, o confinamento do poder temporal do Papa ao minúsculo território, era um avanço no processo de laicização da lei e do poder, hoje a simples presença de um estado teocrático no contexto do direito internacional representa uma incômoda ingerência da religião sobre a política dos povos. Um estado teocrático, embora politicamente institucionalizado, é sempre um estado religioso, regido não pelo consenso dos valores humanos, mas por dogmas imutáveis impostos pela fé.

A Lei Geral das Religiões
Só às vésperas de sua apreciação pela Câmara Federal, é que a opinião pública teve a atenção voltada para o chamado Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, um acordo celebrado entre Lula e Bento XVI em novembro do ano passado. Por meio dessa concordata, consagram-se alguns privilégios à Igreja Católica, no campo do ensino religioso em escolas públicas, no reconhecimento do casamento religioso e sua anulabilidade a partir das leis canônicas, na isenção de tributos a ministros religiosos e na proteção pública de bens da Igreja.
Um tratado internacional celebrado entre dois chefes de Estado não pode ser modificado pelo Legislativo. Ou é aprovado ou rejeitado inteiramente. As demais igrejas lideraram um movimento de rejeição, alegando privilégios a uma crença em detrimento das outras. Para resolver o impasse, criou-se, ligeirinho, uma outra lei, batizada de Lei Geral das Religiões. O que fez esta? Simplesmente estendeu a todas as demais igrejas as prerrogativas concedidas ao Estado do Vaticano.

O acordão
Dia 27 de agosto último, em votação simbólica, depois de brevíssima discussão, o tratado Lula/Bento XVI foi aprovado na Câmara. Antes da votação, um deputado evangélico, autor do projeto de lei que estende o acordo às demais igrejas, esfregava as mãos, dizendo: “Está tudo acertado. Nós aprovamos o projeto deles e eles aprovam o nosso.” (O Globo, on- line – 27/8). Quer dizer: agora é assim, privilégios concedidos a uma religião devem ser dados a todas as demais. E como não há limites e nem critérios para a criação de igrejas, a fé volta a reinar soberana, ameaçando a vigência dos valores humanistas e republicanos. Na prática, igreja alguma precisa instituir um Estado, como a Santa Sé, para garantir sua presença na formulação das leis. É a volta do Estado teocrático por vias transversas.
É verdade que, uma vez consolidado o acordão na Câmara, resta a esperança de que o Senado o barre. Uma bela oportunidade, aliás, de o Senado Federal começar a resgatar sua credibilidade perante a opinião pública nacional.
.
Notícias.
Alteridade e fraternidade tiveram
qualificado Seminário
.“O espiritismo requer instituições protetoras da liberdade
e não fiscalizadoras do pensamento".

.
Com esse e outros conceitos estimulando a fraternidade, a alteridade e o cultivo da liberdade de pensamento no meio espírita, Luiz Signates conduziu, na tarde de 16 de agosto, o Seminário Espiritismo e Fraternidade, no Instituto Espírita 3ª Revelação Divina, de Porto Alegre. Jornalista e Doutor em Comunicação, Signates é professor da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Goiás.
Quase uma centena e meia de espíritas gaúchos participaram do evento. O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre esteve presente com cerca de 10 de seus integrantes, entre eles o ex-presidente da CEPA, Milton Medran Moreira. Ao início dos trabalhos foram chamados à mesa o presidente do CCEPA, Rui Paulo Nazário de Oliveira e uma integrante da Diretoria da Federação Espírita do Rio Grande do Sul. Na oportunidade, o presidente do IETRD, Aureci Figueiredo Martins fez menção à presença do companheiro Salomão Jacob Benchaya, ressaltando tratar-se de uma figura marcante da história do movimento espírita gaúcho, por haver introduzido, quando de sua passagem pela FERGS, o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita.
Após cerca de quatro horas de exposição e debate, o evento foi encerrado com uma apresentação de peças líricas cantadas pelo tenor Pedro Szobot, da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. (Na foto, Signates, Aureci, Rui Paulo e Salomão)

Sociedade de Estudos Espíritas Vida -
cultura e modernidade em Pelotas
O Diretor de Comunicação Social do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Milton Medran Moreira, teve a oportunidade de conhecer, no último dia 29 de agosto, as modernas e amplas instalações da Sociedade de Estudos Espíritas Vida, da cidade de Pelotas/RS. Ali, proferiu conferência sobre o tema "Conhecer para Transformar" para cerca de 150 pessoas, antecedida de uma apresentação do coral da Universidade Federal de Pelotas.
Juntamente com sua esposa, Sílvia, Medran retornou entusiasmado com o interesse e a participação dos frequentadores da instituição que tem entre seus dirigentes o casal Eduardo Born e Maria Cristina Vargas (na foto, juntamente com Milton Medran) . A casa, com apenas 10 anos de existência, desenvolve qualificado programa doutrinário e cultural e costuma convidar, como expositores, pensadores dos mais diferentes segmentos espíritas.
.
Homero no CCEPA falará sobre
Determinismo e Livre-Arbítrio

A conferência mensal da primeira segunda-feira de outubro no CCEPA estará a cargo do advogado e líder espírita pelotense Homero Ward da Rosa.

.

 

sábado, 8 de agosto de 2009

OPINIÃO - ANO XVI - N° 166 - AGOSTO/2009

.
Uma tarde para refletir sobre
Espiritismo e Fraternidade
.
Agosto/16 - Domingo - das 13h30 às 18h30
Luiz Signates, um dos mais qualificados pensadores espíritas do
Brasil, ministra o seminário sobre “Espiritismo e Fraternidade”
no IETRD com a participação de integrantes do Centro Cultural
Espírita de Porto Alegre.


O expositor
Luiz Signates é jornalista, professor da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás, mestre em comunicação pela Universidade de Brasília e doutor em comunicação pela Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo. Presentemente, ministra curso de pós-graduação na Universidade do Vale do Rio do Sinos (São Leopodo/RS). No meio espírita, foi vice-presidente de comunicação social da Federação Espírita do Estado de Goiás, colaborador da ABRADE e da CEPA.
Intelectual e pensador fecundo, Signates tem se destacado no meio espírita por defender ideias de alteridade e diálogo entre todos os segmentos espíritas, independentemente das siglas e organizações institucionais. Em artigo publicado no livro “Espiritismo: O Pensamento Atual da CEPA” (Ed.Imprensa Livre/2002), sob o título de “Nós não é o plural de eu” destaca que “não é incomum, nos meios filosóficos e religiosos, falar-se de fraternidade...de modo antifraterno”, e acrescenta: “No espiritismo brasileiro, por exemplo, a maioria das atitudes de 'defesa da pureza doutrinária' inclui-se no caso em que a prática da fala acaba negando os seus próprios conteúdos, deixando-os vazios de consistência ética”.
.
Público alvo
O seminário é organizado e sediado por uma entidade filiada à Federação Espírita do Rio Grande do Sul: o Instituto Espírita Terceira Revelação Divina, cuja atuação tem se inspirado em uma visão sempre aberta ao pluralismo e ao diálogo. A partir do momento em que foi anunciado o evento, o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, filiado à Confederação Espírita Pan-Americana, mobilizou seus dirigentes e associados para dele participarem. Dessa oportuna iniciativa espera-se uma participação efetivamente plural, alteritária e voltada ao diálogo e à vivência da autêntica fraternidade espírita.
.
A programação
Além da programação temática com Signates, divulgada pelo IETRD e que reproduzimos abaixo, está sendo anunciada uma breve apresentação do tenor Pedro Szobot, da OSPA – Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, com músicas de seu repertório com acompanhamento de playback.
.
13h30 Recepção Recepção aos participantes
13h45 Abertura Apresentações
14h Palestra/ Jesus e a alteridade: a singularidade
Diálogo do Sermão da Montanha
15h Palestra/ Kardec e a alteridade: o exemplo do
Diálogo codificador para a ética espírita.
16h Lanche Intervalo de 30 minutos
16h30 Palestra/ Saberes e religiosidades: a fraternidade
Diálogo como experiência de ouvir e aprender
17h30 Palestra/ Espiritismo e globalização: a inserção social
Diálogo espírita como fator de transformação humana
18h30 Encerramento - Palavras finais.
.
Nossa opinião
.
Há 15 anos defendemos esta idéia.
.
Este periódico completa 15 anos com esta edição. Nascido em um momento de definições e afirmações dentro do movimento espírita, tornou-se porta-voz de uma instituição que privilegia o livre-pensamento e a prática de sua expressão, no meio espírita, em clima de fraternidade e respeito.
Por isso, no momento em que celebramos mais este aniversário e introduzimos algumas modificações neste mensário, voltando, inclusive, a disponibilizá-lo em papel branco, como originariamente, gratifica-nos abrir esta edição com a notícia de um evento que trata de fraternidade na seara espírita. Fazendo-o, aproveitamos a oportunidade para reafirmar o verdadeiro papel deste modesto periódico: o de estimular o conhecimento e a vivência do espiritismo, em todos os seus aspectos e consequências.
“Não se pode legitimamente falar de espiritismo sem praticar sua ética”, escreveu Signates no livro “Espiritismo: o pensamento atual da CEPA”.
Muito mais que uma palavra, fraternidade é um valor a ser vivenciado, no meio espírita. E para vivenciá-lo é fundamental que se abram espaços de encontro, convivência e diálogo.
Cumprimentamos o Instituto Espírita Terceira Revelação Divina – IETRD – pela feliz iniciativa. O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre – CCEPA – lá estará para participar ativamente. E este periódico, para documentar o evento, como uma de suas pautas, na abertura de seu 16º ano de vida.
(A Redação)
.
Editorial

Ética na Política
“Ética nada mais é que reverência pela vida”
Albert Schweitzer

.
Um manifesto firmado por cerca de uma dezena de instituições nacionais ligadas ao Direito, difundido pela Internet, convocava para um Fórum pela Ética na Política, e marcava um encontro para o dia 27 de julho, no Pacaembu, em São Paulo, denominado “Reunião com os Operadores do Direito”.
O grupo, declarando não ter presidente ou diretores, mas apenas coordenadores, está impulsionando a criação de um movimento para mobilizar a sociedade civil, formadores de opinião e cidadãos em geral “para pôr fim à degradação do Senado, reduzir drasticamente seu orçamento e o número de funcionários da instituição e lutar por uma reforma política que propicie a democratização do poder público, maior controle sobre parlamentares e dirigentes, maior transparência e etc.”.
Ao produzirmos este editorial não tínhamos ainda conhecimento do resultado do encontro. Assim mesmo, pela iniciativa e em face da manifestação de, pelo menos, uma liderança espírita, no caso o professor e jurista Marcelo Henrique Pereira, Assessor Administrativo da ABRADE – Associação Brasileira de Divulgadores Espíritas – pareceu-nos importante fazer o presente registro. Em sua manifestação, destaca, com propriedade Marcelo Henrique: “Ao contrário do que alguns possam pensar, os temas que estão na ordem do dia são fundamentais e imprescindíveis quanto à mobilização e a participação dos espíritas, construindo uma sociedade melhor, materialmente falando, além, é claro, dos componentes de caráter espiritual propriamente ditos”. Com esse argumento, promete colocar à apreciação de seus companheiros da ABRADE, “a aproximação e o envolvimento da entidade nessa feliz iniciativa”.
Há alguns momentos na história de uma nação que, mesmo sendo eminentemente políticos, provocam demandas que extrapolam ou até contrariam interesses radicais de seus organismos políticos. Esses organismos, aliás, por injunções da própria democracia, tendem a criar estruturas de poder distanciadas do interesse público e cujo distorcido objetivo central passa a ser a criação de privilégios a seus integrantes. É nesses momentos que entidades verdadeiramente livres e voltadas ao bem comum devem agir politicamente. Os organismos espíritas, segundo abalizadas conclusões, teriam se omitido em momentos de graves violações aos direitos fundamentais e à democracia deste país. Diferentemente, a maçonaria e importantes segmentos progressistas da Igreja, apenas para citar duas vertentes, levantaram a voz e agiram concretamente contra a opressão, o autoritarismo e a ditadura, em momentos oportunos.
Este é um momento oportuno. Não para responsabilizar apenas um homem, por mais que esteja ele vinculado às práticas corporativistas contra as quais a sociedade verbera, em uníssono. Mas, fundamentalmente, para contribuir com o aprimoramento institucional, punindo-se, sim, eventuais culpados, e, especialmente, criando-se mecanismos políticos mais funcionalmente sujeitos ao controle social, à transparência e à ética pública.
.
Opinião em Tópicos
Milton Medran Moreira
.
A divergência dos gênios
Os gênios também divergem. Discípulos dissentem de seus mestres. Aconteceu entre Platão e Aristóteles com suas respectivas teorias do conhecimento. Platão defendia a tese das ideias inatas. Para ele, a alma, e só ela, era detentora do conhecimento. Seu mais famoso discípulo discordou. Aristóteles cunhou a frase que aprendi nos velhos tempos de latim: “Nihil est in intelelectu quod non prius fuerit in sensu” (nada está no intelecto que não tenha primeiro passado pelos sentidos). Ou seja: é pela visão, pelo tato, pelos sentidos corporais, enfim, que adquirimos o conhecimento. Sem experienciar nada aprendemos. Diferente de seu mestre para quem “aprender é recordar”, ou seja, é acessar o imenso universo das ideias que deixamos lá fora da caverna, onde estamos acorrentados e permaneceremos enquanto nossa alma não se libertar do corpo.

O pintor cego
Estou recorrendo aos dois gênios da Grécia Antiga para tentar desvendar um mistério de nossos dias. Na Turquia, não muito distante, pois, da pátria onde se deu esse embate intelectual, um homem chamado Esref Armagan encanta e confunde o mundo. Encanta porque pinta maravilhosamente bem. Uma pintura leve, cheia de cores, de gramados muito verdes, de casinhas multicoloridas com vasos de flores nas janelas e passarinhos pousando nelas. Confunde porque esse homem nasceu cego. Nunca enxergou. Sua relação com tudo o que o rodeia dá-se preferentemente pelo tato. Para pintar seus quadros toca nas flores, nas plantas, nas pessoas e, depois, reproduze-as com os acréscimos que sua alma de artista é capaz de criar.

A alma na pós-modernidade
De sua alma, eu falei? Bem, aí é que a coisa pega. O mundo pós-moderno está muito mais para aristotélico do que platônico. A alma dos filósofos idealistas, que foram tantos e tão ricos, da antiguidade à modernidade, já não conta para a ciência dos neurônios e dos bits que, juntos, pretendem explicar todas as maravilhas dos homens e das máquinas. A neurociência localiza no cérebro a sede e a causa de cada emoção, de cada gesto e comportamento, do bem e do mal. E nessa ditadura neuronial não sobra lugar para a alma. Esta, antes liberta no vasto mundo das ideias, agora é propriedade exclusiva das religiões. Prisioneira do dogma, foi encerrada no quarto escuro do mistério.
Platão não teria dúvida. O pintor que nasceu sem os olhos nem sempre teria sido cego. Sua alma, viajora do tempo, antes de aprisionar-se ao corpo, percebera e retivera as imagens que hoje pinta. Para os neurocientistas, no entanto, há um campo no cérebro onde se formam as imagens captadas pela visão. Quem não enxerga, como Esref, pode suprir isso com os outros sentidos, especialmente o tato, formando, naquela mesma área cerebral, as imagens que consegue reproduzir com seu pincel.

A síntese
Só não consigo entender como Esref, sem ver, pinta o gramado de verde, as flores com suas cores originais, os telhados vermelhos com a neve branca. Ou melhor, consigo, sim. Para isso, preciso harmonizar as relações Platão/Aristóteles: sim, é a alma que conhece, como disse um; sim, o conhecimento chega pelas percepções sensoriais, como afirmou outro. A síntese dessas duas afirmativas à primeira vista antagônicas, se dá pela lei das vidas sucessivas e pelas reminiscências que delas guarda a alma ou espírito. Uma lei em tudo racional, capaz de interpretar o fenômeno Esref. Mas para aceitá-la será preciso enfrentar dois dogmas da pós-modernidade: o de que a alma não existe, e o de que se, vá lá, possa existir, é coisa que deve ser aprisionada no quarto escuro do mistério e da fé.
.
Notícias

.
CCEPA na campanha contra as drogas
.
Com o tema “Reflexão sobre a Prevenção ao Uso de Drogas”, palestra proferida pela psicóloga Mariana Canellas Benchaya, na noite de 3 de agosto, o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre aderiu às campanhas que se desenvolvem no Estado contra o uso de drogas. O cartaz que divulgava a palestra mensal, sempre realizada na primeira segunda-feira do mês, às 20h30, tomou como chamada o bordão que vem sendo utilizado pela Rede Brasil Sul de Comunicação “Crack nem pensar”.
Em sua palestra, a psicóloga convidada, espírita, integrante do CCEPA, fez abordagens envolvendo aspectos psicológicos, espirituais e pedagógicos do tema. Estiveram presentes cerca de 100 pessoas. Antecedendo a palestra, na noite de 28 de julho, Mariana foi entrevista pelo comunicador Bibo Nunes, na TV Ulbra, sobre o tema que desenvolveria.
.

“Conhecer para Transformar”
Palestra de Medran em Pelotas
.
Milton Medran Moreira, Diretor de Comunicação Social do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, proferirá palestra pública, na cidade de Pelotas/RS, na tarde de 29 de agosto, na Sociedade de Estudos Espíritas Vida. O trabalho, que acontece a partir das 15h, propõe uma abordagem espírita do conhecimento e suas implicações ético-morais, com interlocução com os dirigentes, colaboradores e freqüentadores da instituição.
A Sociedade Vida está situada na Rua Santa Cruz, 601, Pelotas, e o evento, como de praxe na instituição, é gratuito. Haverá, entretanto, um posto de arrecadação de leite longa vida para distribuição a famílias carentes.
A colaboração é espontânea.
.
Enfoque
.
Se o Estado não fosse laico, será que os
Centros Espíritas estariam abertos?

.
Luiz Antônio Sá
Professor de filosofia, fundador e coordenador da
LEPPLE - Liga de Estudos Progressivos e Práticas à Luz do Espiritismo e delegado da CEPA - Confederação Espírita Pan-Americana
.
.

Depois de uma exposição sobre problemas sociais que promovemos em um centro espírita, ao final tivemos uma breve parte de interação com o público ali presente, que pode tecer comentários e fazer perguntas. Nessa ocasião uma participação me chamou particular atenção. Foi uma colocação feita por um presidente de centro espírita, que disse o seguinte: “Na sociedade há muitos problemas porque o governo não incentiva as religiões. Infelizmente o Estado é laico.” Ao que, posteriormente, respondemos, e o fizemos, inicialmente indagando: “Se o Estado não fosse laico, será que os centros espíritas estariam abertos?”
Na condição de espíritas que somos, proclamadores de uma fé raciocinada, já não podemos nos permitir determinados enganos, como o de confundir laicismo com ateísmo, ou achar que ser laico é ser inimigo das religiões.
A condição de Estado laico diz respeito tão somente a uma forma de governo que não possui uma religião como sendo oficial, ou seja, é onde o Estado não toma partido religioso, o que não quer dizer propriamente que esse Estado seja inimigo das crenças religiosas. Como exemplo disso temos o Brasil, que é um Estado laico, mas garante aos cidadãos em sua Constituição a liberdade de crença.
Para continuar refletindo sobre esse assunto, é bom também voltarmos um pouco no tempo e olhar a história das religiões. No Brasil, em um passado ainda bem recente, no século XIX, quando a primeira Constituição brasileira ainda oficializava o catolicismo como a religião do Estado, dificilmente se conseguia registrar a existência de um grupo ou templo de outra denominação religiosa. Para se ter uma ideia, o primeiro núcleo espírita do Brasil, o Grupo Familiar de Espiritismo, fundado em 1865, em Salvador - BA, pelo Sr. Luís Olímpio Teles de Menezes, no ano de 1871 teve seu pedido de registro como sociedade religiosa negado, registrando-se posteriormente como uma sociedade científica, o que especificamente para a doutrina espírita não foi ruim, uma vez que esta forma de registro foi perfeitamente concordante com a “autêntica” definição de espiritismo estabelecida por Allan Kardec. Este, claramente, o define como sendo uma “ciência e uma filosofia espiritualista de consequências morais”.
Mas e os outros grupos? Os protestantes, judeus, mulçumanos, budistas, hinduístas, pessoas adeptas aos cultos indígenas, cultos africanos etc.. Será que nesse período algum grupo assim poderia se registrar como uma entidade religiosa e poderiam eles se expressar abertamente em suas ideias e crenças? Evidentemente que não!
Recuando mais no passado a história traz marcas ainda mais perversas de constrangimento, de intolerância e violência sobre aqueles que se declaravam seguidores de outras religiões, ou mesmo sobre aqueles que não seguiam a nenhuma religião, que é outro direito que foi e continua sendo muitas vezes negado e mal interpretado.
Diante do exposto lançamos as perguntas: se o Estado não fosse laico, será que os centros espíritas estariam abertos? Ou ainda, se o Estado fosse teocrático, ou seja, tivesse uma determinação religiosa outra qualquer, mas permitisse a existência de outras crenças, será que desfrutaríamos da mesma liberdade que temos hoje, de abrir as portas das casas espíritas para o público, de declararmo-nos espírita, de registrarmos instituições, de promovermos eventos, de divulgarmos, enfim, o espiritismo através das diferentes mídias? Eu particularmente acredito que não!
Se o Estado fosse teocrático, muitas coisas seriam tolhidas, não só no universo religioso, mas também no campo da filosofia, das ciências e das artes. E não me venham dizer que um Estado teocrático seria capaz de tolher somente as coisas ruins, pois o passado e o presente deixam clara essa incapacidade. Geralmente, o pensamento teocrático caracteriza-se por considerar quase tudo que existe ruim, escapando pouca coisa a esse julgamento. Logo, muitas coisas efetivamente boas e essenciais para o progresso da humanidade deixariam de existir.
Portanto, não nos iludamos, colocando em dúvida aquilo que a duras penas já foi conquistado. Para não ficarmos sujeitos a cair em terrível retrocesso.
.
Opinião do Leitor

Vegetarianismo

Oportuna a matéria sobre vegetarianismo (Opinião, junho). Nos próximos 100 anos pessoas razoavelmente informadas não mais comerão carne. Os espíritas bem que poderiam se antecipar. Edy S.Roland – São Paulo/SP.

O que é o Espiritismo
Com a reportagem “Kardec e os Princípios Fundamentais”, recordando os 150 anos do livro “O que é o Espiritismo” (julho/09) vocês deixam muito claro que Kardec não desejava mesmo que o espiritismo fosse uma religião. Os padres, combatendo-o, é que fizeram dele uma nova crença. Para mim, espiritismo é essencialmente uma filosofia.
Laurindo F.de Giuliani – Teresópolis/RJ