segunda-feira, 9 de outubro de 2017

OPINIÃO 256 - ANO XXIV - OUTUBRO 2017

Reescrevendo a história
(e a importância!) de Kardec

No mês em que se completam 213 anos do nascimento (Lyon, França, 3/10/1804) de Hyppolyte Léon Denizard Rivail, que passaria a ser conhecido sob o pseudônimo de Allan Kardec, algumas anotações sobre vida e obra desse personagem cuja história vem ganhando melhor conhecimento e mais profunda análise.


Infância em Lyon?
Se você já leu que Rivail passou sua infância na cidade de Lyon, de onde era sua família, pode ir esquecendo. Até aqui, seus biógrafos mais conhecidos tinham isso como certo. Henri Sausse, em famosa conferência, depois transformada em livro, pronunciada em Lyon, em 31 de março de 1896, quando os espíritas da cidade relembravam os 27 anos da desencarnação de Kardec, registrou: “Rivail fez em Lyon seus primeiros estudos e completou em seguida sua bagagem  escolar em Yverdum (Suíça), com o célebre professor Pestlozzi..”. A informação é abonada, também, por Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, na obra em três volumes Allan Kardec – Pesquisa Bibliográfica e Ensaios de Interpretação (FEB -1979), dando como fonte a biografia feita por Sausse.

A festejada obra “Revolução Espírita – A teoria esquecida de Allan Kardec” (Editora MAAT/2016), do escritor paulista Paulo Henrique de Figueiredo, minucioso trabalho de pesquisa sobre a vida e, principalmente, a obra e o legado de Kardec, apurou que a família de Rivail era, na verdade, de Bourg-en-Bresse, a cerca de 80 quilômetros de Lyon. Kardec nasceu em Lyon apenas pela circunstância de ali existir uma estação de águas minerais, recomendada para a saúde fragilizada de sua mãe, Jeanne, grávida de Rivail, depois de haver perdido outros dois filhos, em circunstâncias muito dolorosas. Figueiredo classifica como “falsa” a informação presente na maioria das biografias de Kardec de que teria ele passado a infância em Lyon. Os autores foram “levados ao erro por acreditarem que o local de seu nascimento era a residência de família”.

Resgatar Kardec é o desafio espírita de hoje
O detalhe de a infância de Kardec não ter se passado em Lyon pode ser de menor significado. O livro, mais do que tudo, resgata aspectos culturais do tempo e da vida de Allan Kardec, indispensáveis à correta valorização do legado espírita produzido por aquele valoroso discípulo de Pestalozzi. Do pedagogo suíço, Rivail hauriu como transmitir aos educandos “a capacidade libertadora de aprender pelo próprio esforço”, ou seja, o sentido da “autonomia”. Seguiu construindo suas ideias à luz do pensamento de Rousseau, de Kant, de Victor Cousin e de todos os pensadores que o precederam com o “espiritualismo racional”, cenário cultural que possibilitou o surgimento do espiritismo.

Hoje, quando o conhecimento acadêmico terminou aprisionado por um incrível reducionismo materialista, obras como “Revolução Espírita” estimulam os pensadores espíritas da atualidade a um resgate coletivo dos ricos aspectos culturais que propiciaram o nascimento ao espiritismo. No âmbito da CEPA essa tem sido uma preocupação constante. Foi esse, aliás, o tom do VIII Fórum do Livre Pensar Espírita, promoção conjunta da CEPA Brasil e do Teatro Espírita Leopoldo Machado, TELMA, em maio último, em Salvador/BA, que teve, justamente, como um de seus expositores Paulo Henrique Figueiredo. A foto abaixo mostra o autor de “Revolução Espírita” (1º, a partir da esquerda), juntamente com André Luiz Peixinho, Wilson Garcia e Milton Medran Moreira, após mesa redonda compartilhada pelos quatro.


















A melhor homenagem a Kardec
 Ao tempo de Kardec, como mostra o escritor Paulo Henrique de Figueiredo, subsistiam duas interpretações acerca do homem, da vida e do universo: a do dogmatismo religioso, que já não podia se sustentar perante o conhecimento moderno; e a do materialismo, combatente ardoroso de todas as ideias religiosas. Pode-se afirmar que esse ambiente de extremismos radicais, graças a um processo dialético, acabou por gerar a síntese do espiritualismo racional, corrente que propiciou o advento do espiritismo.

Como fruto da razão, o espiritismo, não poderia se apresentar como religião. Esta reproduzia os mitos antigos da pré-ciência e, no campo da ética, aferrara-se a uma moral conservadora, autoritária, contrária e contestadora da autonomia conquistada pela modernidade. Ainda que fosse possível ler claramente na proposta de seu fundador o caráter laico do espiritismo, correntes majoritárias, desavisadas ou desatentas, terminaram por fazer dele uma nova religião.

É tempo de se corrigir esse desvio de rota. É, aliás, o único caminho possível de conduzir o espiritismo ao diálogo com a ciência e com a filosofia, como era propósito de seu ilustre fundador, aniversariante do mês. Mesmo que se credite ao caráter pacifista e tolerante do espiritismo, a ausência, até aqui, de um esforço maior nesse sentido, ele agora é inadiável, ante a clara falência das religiões de nosso tempo e a total incompatibilidade de seus dogmas com o conhecimento moderno.

Resgatar o pensamento de Kardec e inseri-lo na cultura de nosso tempo, com as atualizações que ele próprio nos recomendou fazer, passa a ser, assim, a melhor homenagem que lhe podemos prestar. (A Redação)




A laicidade do ensino nas escolas públicas
Uma religião não pode pretender apropriar-se do espaço público para propagar a sua fé. Ministro Luís Roberto Barroso, do STF.

O Supremo Tribunal Federal perdeu uma grande oportunidade de referendar o caráter laico do Estado brasileiro. A Procuradoria-Geral da República, mediante ação direta de inconstitucionalidade, questionou dispositivo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação que permite o ensino obrigatório, embora de matrícula facultativa, do ensino religioso nas escolas públicas. Por interpretação que se tem dado àquela lei, ministros de confissões religiosas passaram a ministrar ensino confessional de religião nas escolas públicas. Para a PGR atenta contra a laicidade do Estado a docência por ministros de uma religião de seus dogmas em escolas públicas. Pretendia substituir o ensino confessional por conteúdos históricos das religiões, ministrados por professores públicos.
Apesar da forma brilhante com que o relator da ADI, Ministro Luís Roberto Barroso, acolhia, em seu voto, a pretensão do Ministério Público Federal, a ação acabou julgada improcedente pelo escore final de 5 a 6.

Mas fica para a História o lúcido voto de Barroso para quem ”cada família e cada igreja podem expor seus dogmas e suas crenças para seus filhos e seus fiéis sem nenhum tipo de embaraço. Da mesma forma, as escolas privadas podem estar ligadas a qualquer confissão religiosa, o que igualmente é legítimo. Mas não a escola pública. A escola pública fala para o filho de todos, e não para os filhos dos católicos, dos judeus, dos protestantes. E ela fala para todos os fiéis, portanto uma religião não pode pretender apropriar-se do espaço público para propagar sua fé”.

Acompanharam o voto do relator os ministros Luiz Fux, Rosa Weber, Marco Aurélio e Celso Mello. Este, o decano do STF, apresentou um verdadeiro libelo contra o ensino confessional nas escolas públicas e referendando o caráter laico do Estado.
Entretanto, falaram mais alto do que a moderna razão laica e livre-pensadora vetustas tradições que teimam em manter amarrados entre si Estado e religião. Ministros que se posicionaram contra o voto do relator, reconheça-se, não tiveram qualquer dificuldade em encontrar em velhas e surradas tradições que, antanho, se fizeram leis ou se converteram em doutrina e jurisprudência, razões para fundamentar seus votos. Convalidou-se, inclusive, acordo firmado entre a Santa Sé e o Brasil, no qual o estado brasileiro se compromete com “o ensino religioso católico e de outras confissões religiosas” nas escolas públicas.

 Onde se poderia avançar, por força de decisão soberana da mais alta Corte do país, retrocedeu-se.
É verdade que a lei não obriga o aluno a assistir às aulas de religião, cuja matrícula é facultativa. Mas, como se infere do voto de Barroso, a simples presença de ministro de uma entre tantas religiões em escola pública, ensinando seus dogmas, implica em privilégio atentatório à liberdade de crer ou de deixar de crer. Questões que dizem com crenças devem ser construídas autonomamente no íntimo do educando. A religião, ainda que respeitáveis seus propósitos, há de se circunscrever ao espaço privado do lar ou dos templos. A educação, a partir de pressupostos de validade universal, deve ter seus parâmetros regulados e fiscalizados pelo Estado. Só assim se há de tornar efetivo o princípio vigente nas Constituições de todos os países democráticos, inclusive o nosso.

 A separação entre Estado e religião (ou religiões, que, cá, proliferam tentando teocratizar o Estado), é fruto do Iluminismo, conquista que não pode sofrer retrocessos. Aqui, sofreu, com o julgamento da ADI 4439.
           




Temas de Opinião
Nós do TELMA queremos agradecer aos editores de OPINIÃO do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre que sempre nos encaminham exemplares do jornal para distribuição aos nossos colaboradores.  São atenciosos e também muito competentes na escolha dos temas presentes nas edições de cada mês. Merecem nossos permanentes aplausos.
Júlio Nogueira – Presidente do TELMA Teatro Espírita Leopoldo Machado, Salvador/BA.

Temas de Opinião (2)
Gostaria de comentar sobre a coluna de Salomão Jacob Benchaya em OPINIÃO enfocando a história e as ideias que conformam o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. Sinto-me absolutamente identificado com esse modelo de instituição kardecista concebida como um cenário de estudo, de reflexão e de diálogo aberto, e não como uma casa de oração, de passes ou de curas psíquicas ou físicas. Enfim, uma entidade cujos membros e amigos reúnem-se em um ambiente grato, amável, sem ostentações e fingimentos.

Oportuna também a homenagem a Ian Stevenson (Opinião 254), um nome indispensável na galeria dos mais sérios e respeitáveis investigadores da reencarnação. De igual maneira, a referência a Karl Muller, personalidade notável do espiritismo do Século XX, pouco referido nas publicações espíritas, apesar de ter cumprido uma obra estupenda como estudioso e como ativo militante. Ele, mesmo tendo participado da Spiritualist Federation Internacional, sempre defendeu a tese da reencarnação e impulsionou seu reconhecimento entre os espiritualistas anglo-saxões.
Jon Aizpúrua – Caracas, Venezuela.







Parceiros espirituais
A presença este mês do beatle Paul McCartney no Brasil me faz recordar entrevista por ele concedida, lá por 2005, à revista Time sobre “conversas” que dizia manter com John Lennon desencarnado. Mais do que conversas, teriam ocorrido verdadeiras parcerias na composição de músicas entre os dois famosos artistas. McCartney revelou que, às vezes, quando está a compor, escuta a voz de John, falecido em 1980, “dentro de sua cabeça”. Chegam a trocar ideias mentalmente: “Eu penso: ok, o que faríamos aqui?” – relata – “e escuto a sua aprovação ou reprovação” aos versos ou acordes que compõe.
Aliás, um famoso compositor nosso, o gaúcho Lupicínio Rodrigues, também declarou, numa entrevista a jornal de Porto Alegre, que fazia apenas a letra de suas músicas. A melodia ele a escutava como se uma orquestra tocasse em sua cabeça.

O sonho de Yesterday
A possível paranormalidade de McCartney no processo de criação artística também estaria na origem de uma de suas mais lindas canções: Yesterday. Ele conta que a música lhe veio inteirinha num sonho. Ao acordar, sem qualquer esforço intelectual que não o da memória, viva e fresca, simplesmente a transpôs à partitura. Ele chega a afirmar não ter certeza de que a música seja sua. Logo após o episódio, saiu a perguntar a outros músicos se conheciam aquela canção que lhe chegara em sonho.

Escritores e o intercâmbio espiritual
Escritores famosos admitiram o relacionamento com inteligências invisíveis no processo da criação literária.
Alfred de Musset escreveu: “Há muitos anos que tenho visões e ouço vozes...Parece, no momento em que essa comunhão se opera, que meu espírito se desprende do corpo para falar com os espíritos que me inspiram”.
Já Coelho Neto associava seu processo de criação a experiências vividas outrora: “De quando em quando - escreveu - rompem-me na mente lembranças de outras vidas, como em vasos que contiveram essências servindo a outras, posteriormente. Aparece, por vezes, o aroma das primitivas”.
Goethe, Augusto dos Anjos, François Coppé, Olavo Bilac... Todos eles admitiram a interface espiritual no âmbito da produção literária
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A sutileza da intuição
A mediunidade não é uma exclusividade do espiritismo e nem seu cenário único são as chamadas “sessões mediúnicas”. Ela está presente no dia-a-dia de todos. Os artistas, porque portadores de maior sensibilidade, são mais propensos ao fenômeno, e, com frequência, o admitem expressamente. Mas, as grandes conquistas da humanidade, no campo da ciência, da tecnologia, do avanço do pensamento e dos costumes, antes de se constituírem em ideias pessoais de seus inventores ou proponentes, resultam do sutil intercâmbio entre encarnados e desencarnados.

Para mim, a intuição é a mais genuína das múltiplas modalidades de intercâmbio espiritual. A sutileza de que se reveste, entretanto, nem sempre possibilita que dela se apercebam seus próprios médiuns. Muitos deles negam peremptoriamente o fenômeno do qual são autênticos agentes.






Os Vales Umbralinos
O inferno de Dante
A pedagogia do medo faz parte da estratégia de dominação e controle empregada pela Igreja ao longo de sua existência. O Inferno, destinação das almas pecadoras após a morte, deveria desestimular, pelo medo, as más ações dos crentes.

Essa ideia de um Deus controlador e punitivo alimentada pela tradição judaico-cristã acabou sendo transferida, atavicamente, para o espiritismo.

A narrativa do espírito André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier, acerca do Umbral encaixou-se perfeitamente como um inferno espírita, felizmente transitório, diante do pluralismo das existências que orienta para a necessidade do retorno do espírito a novas experiências corpóreas.
Em 1954, a FEB lançou a obra “Memórias de um Suicida”, psicografado pela médium Yvonne do Amaral Pereira, descrevendo os atrozes sofrimentos do autor-personagem Camilo Cândido Botelho, pseudônimo do poeta suicida português Camilo Castelo Branco, numa região do mundo espiritual chamada “Vale dos Suicidas”.

Posteriormente, em 2005, o livro “Mais Além do meu Olhar”, de autoria do Espírito Luiz Sérgio, entre diversos temas relacionados à juventude, revela a existência do “Vale dos Tatuados” (!?) que acolhe a turma que danificou o perispírito com tatuagens aplicadas no corpo físico.
Finalmente, em 2015, outra obra psicografada – O Vale dos Espíritas – ditada pelo Espírito Atanagildo, descreve os sofrimentos de espiritualistas que, embora conhecedores de verdades espirituais, negligenciaram seus deveres e, após a desencarnação, são recebidos em uma comunidade de sofrimento e regeneração que dá o nome à obra.

Presumo que, nessa marcha – se é que já não o foram -, logo serão descobertos os “vales” de abortistas, de prostitutas, de estupradores, de traficantes e de políticos corruptos, denotando uma estranha política punitivo-segregacionista das leis divinas.

Esse tema está a merecer mais cuidadosas reflexões e pesquisas dos estudiosos espíritas, face às repercussões geradas junto à coletividade. Talvez, a intenção dos Espíritos seja alertar os leitores sobre as consequências de atos contrários à lei natural, mas o que acontece, na prática, é uma generalização descabida e desarrazoada que beira a fantasia.

Narrativas de experiências individuais se transformam em sentenças coletivas do tipo: todo suicida vai para o vale dos suicidas; todo dirigente espírita faltoso vai para o vale dos espíritas; todo tatuado, quando morrer, vai para o vale dos tatuados. Qual a vantagem educativa da segregação para a reabilitação de espíritos? Um exagero e um absurdo!

Há uma excessiva rigidez nas punições impostas segundo essas descrições, como se o medo impingido aos leitores pudesse levá-los a uma renovação de atitudes, tal como pretendido pelo cristianismo das igrejas.

Uma falsa renovação, portanto. Algo que o espiritismo não endossa.






Hermínio C. Miranda – Pesquisador espírita brasileiro (1920/2013)
“O fenômeno mediúnico não acontece sem o componente anímico, que é da essência do processo. Para suas manifestações, os espíritos precisam de certa espécie e quantidade de energia de que somente o ser encarnado dispõe. A comunicação entre as duas faces da vida, ou seja, entre espíritos (desencarnados) e seres humanos (encarnados), transita por uma ponte psíquica que tem de apoiar uma cabeceira na margem de lá do abismo e a outra no lado de cá, onde vivemos nós”.
(Do livro “Diversidade dos Carismas – Teoria e Prática da Mediunidade”)






Alcione, retornando de Rafaela/AR:

“4º Encuentro de CEPA en Argentina
foi um sucesso!”.

A presidente da CEPA, Jacira Jacinto da Silva, a ex-presidente da CEPABrasil, Alcione Moreno, compuseram a delegação brasileira que participou do “4º Encuentro de CEPA en Argentina”, dias 15 e 16 de setembro, em Rafaela.

As duas brasileiras foram responsáveis pela conferência conjunta de abertura (foto), na noite de 15, quando desenvolveram o tema “Nuestra mirada sobre el adicto a las drogas”, com base no trabalho que ambas realizam frente à Fundação Porta Aberta (São Paulo), entidade que tem como foco a capacitação e a inserção social de dependentes químicos e alcoólicos.

O trabalho de Jacira e Alcione impactou fortemente o auditório (foto). O vice-presidente argentino da CEPA, Gustavo Molfino, classificou o trabalho com dois adjetivos: “Excelente e comovente”. Espíritas argentinos, motivados pelo trabalho, cogitam criar em seu país uma entidade nos mesmos moldes da Fundação Porta Aberta.

O Encontro prosseguiu no sábado, com duas oficinas, uma sobre Diversidade, e a outra sobre Imediatismo. O trabalho foi conduzido por espíritas ainda jovens (de 30 a 40 anos). Segundo Alcione, as oficinas estiveram “muito focadas na psicologia e no autoconhecimento, a partir de experiências individuais e com base nos pressupostos espíritas, e envolveu várias dinâmicas, durante todo o dia. Ao final, os grupos elaboraram perguntas que foram respondidas pelos espíritos em reunião mediúnica”.

Aureci em prosa e verso
Atuante trabalhador espírita gaúcho, Aureci Figueiredo Martins (Instituto Espírita 3ª Revelação Divina – Porto Alegre), acaba de lançar o livro “Bem-Aventurados os que duvidam” (Editora Evangraf – Porto Alegre).

A obra, em 80 páginas, comenta, com objetividade, aspectos fundamentais da doutrina espírita. Poeta, Aureci abre cada capítulo do livro com uma quadrinha e acrescenta aos comentários em prosa alguns poemas também de sua autoria, complementando as análises doutrinárias, feitas sob rigorosos critérios de racionalidade e lógica.

“Bem-Aventurados os que duvidam” pode ser adquirido ao preço de 10 reais na livraria do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre – CCEPA (Botafogo, 678)

CIMA em atividade plena, mesmo na crise
A difícil situação política e social vivida pela Venezuela afetou, durante o último mês de agosto, as atividades de CIMA Movimento Cultural Espírita, de Caracas, Venezuela. Graves incidentes ocorridos no período obrigaram a tradicional instituição, presidida nacionalmente pelo ex-presidente da CEPA, Jon Aizpúrua, a suspender temporariamente suas reuniões, na Seccional Caracas, por questões de segurança de seus participantes.

Mesmo perdurando a crise, o CIMA Caracas está, agora, em plena atividade. Sua diretora, Yolanda Clavijo, enviou à redação de Opinião a seguinte programação de conferências que está sendo cumprida durante este mês de outubro, pela instituição.





















A revista Aventuras na História, da Editora Abril, em sua edição n.132 publicou como matéria de capa a reportagem “Allan Kardec e o espiritismo, uma religião bem brasileira”.

A reportagem, com texto de Tiago Cordeiro, começa resgatando este fato histórico:
“Às 22h30 de 17 de setembro de 1865, apenas oito anos depois da fundação oficial do espiritismo na França, foi realizada em Salvador a primeira sessão da doutrina no Brasil, liderada por um jornalista, Luís Olímpio Teles de Menezes. No mesmo ano, surgiu o primeiro centro do país. Em pouco tempo, a visão científica, filosófica e religiosa de Allan Kardec se transformaria em uma religião tipicamente brasileira, divulgada por intelectuais nas nossas maiores cidades. Anos antes de ganhar as massas com Chico Xavier, os seguidores de Kardec já tinham uma nova capital, nos trópicos”.

Os bons índices socioeconômicos dos espíritas no Brasil
A matéria destaca que, desde seus primórdios no Brasil, o espiritismo se tornou uma “religião das classes média e alta”, e acrescenta estes dados: “Atualmente, o trabalho iniciado por Kardec tem 13 milhões de seguidores no mundo. A maioria, 3,8 milhões, está no Brasil. Nossos espíritas têm os melhores indicadores socioeducacionais dentre os fiéis de todas as religiões praticadas no país – 31,5% deles têm nível superior completo, segundo o IBGE. Entre 2000 e 2010, eles saltaram de 1,3% da população para 2%”.

Místicos x cientistas
A matéria reporta-se aos objetivos buscados pelo fundador do espiritismo: “Kardec foi um dos pioneiros a propor uma investigação científica, racional e baseada em fatos observáveis, das experiências espirituais”. Faz longo histórico sobre as duas tendências que, apesar da posição de Kardec, logo se apresentaram no desenvolvimento do espiritismo, primeiramente na Europa: a dos que o interpretavam como uma ciência e os que preferiam tomá-lo como religião.

No Brasil, especialmente, se oporiam as duas correntes, dos místicos e dos cientistas. Destaca o esforço de Afonso Angeli Torteroli que, liderando os científicos, organizou o I Congresso Espírita Brasileiro, em 1881. “Mas foi o aspecto religioso que venceu” - registra a reportagem – “Por dois motivos: o lado religioso funcionava melhor para uma população ligada a um cristianismo que, em geral, convivia tranquilamente com curandeiros, benzedeiras e cartomantes” e porque “a preocupação científica e filosófica não tem o mesmo “appeal” para nós como tem o lado religioso-ritualístico”.
Para ler a íntegra da reportagem: http://www.ameuberlandia.org.br/?p=7999

Debate sobre Mediunidade
abre Congresso Andaluz
A presidente da AIPE – Asociación Internacional para el Progreso del Espiritismo, Rosa Diaz envia correspondência convidando para a XXI Jornada-Debate, com o tema Sociedades Espíritas e Mediunidade, a ocorrer em 27 deste mês, em Huelva, Espanha, como atividade preliminar ao VIII Congresso Andaluz de Espiritismo, a ser inaugurado em 28/10.

A Jornada está a cargo de dois integrantes de CIMA, Movimento de Cultura Espírita, de Caracas, Venezuela: Yolanda Clavijo (foto), com o tema “Ética da Mediunidade” e Vicente Ríos, que abordará “Regulamento das sociedades espíritas”.
Nos dois dias seguintes, o Congresso Andaluz desenvolverá temas ligados, todos eles, à reencarnação, sob o lema “Nascer, Morrer, Renascer e Progredir”, com expositores de várias regiões da Espanha e Portugal.

A programação completa e informações sobre o evento podem ser acessados em: http://www.andaluciaespiritista.es/2017/05/viii-congreso-andaluz-de-espiritismo.html

XVIII Semana Espírita de Osório
celebra O Livro dos Espíritos
 Os temas fundamentais de O Livro dos Espíritos, no ano de seu 160º aniversário, serão abordados em quatro conferências que compõem a XVIII Semana Espírita de Osório, promovida pela Sociedade Espírita Amor e Caridade, daquela cidade gaúcha:

Dia 23/10, 20h – Deus, o Universo e a estrutura da Natureza - com Moacir Araújo Lima (Porto Alegre);
Dia 25/10, 20h – O Ser: sua imortalidade e comunicabilidade - com Milton Medran Moreira – Porto Alegre;
Dia 26/10, 20h – As Leis Morais e as relações – com Gladis Pedersen de Oliveira – Porto Alegre.
Dia 28/10 – 15h – O Inquietante problema do futuro do Ser – com Arivelto B. Fialho – São Leopoldo.



A Lenda do Chico/Kardec
Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico – São Vicente/SP.

"Quando a lenda se torna realidade, publica-se a lenda".
(Frase do editor do jornal “Shinbone Star” ao senador Ransom Stoddard, personagens do filme “Quem Matou o Facínora” (1961), de John Ford)

Há lendas de todos os tipos: lendas urbanas, religiosas, folclóricas, históricas. Mas lenda espírita é algo que não havia imaginado. Vejo que isso existe mesmo e, amiúde, surge e ressurge na imprensa espírita, na internet, no cotidiano do movimento espírita. Oradores, médiuns e dirigentes espíritas são os grandes mentores desse tipo de coisa. Mas afinal, o que é uma lenda? E lenda espírita, existe isso?
Lenda é uma história fantasiosa, algo bem próximo do mito, parte integrante da tradição de todos os povos. Da lenda para a realidade, a distância é abissal, incomensurável. Quem convive com o poder e o vivencia sabe muito bem disso. Criam-se lendas, mitos, coisa folclórica a todo instante. A versão distorcida da realidade vira lenda. Uma ideia errônea, uma interpretação deturpada, enviesada dos fatos, se for sistematicamente repetida, de modo sutil ou insidioso, com o tempo acaba adquirindo o status de verdade. A mídia mal-intencionada usa e abusa desse recurso e os fofoqueiros de plantão sabem bem como isto funciona. A imprensa marrom sobrevive às custas desse tipo de expediente.
O mito e a lenda, em seu sentido mais nefasto, surgem quase como a fofoca, o mexerico, a maledicência, a informação plantada, o factóide. É a filtragem criada pelo imaginário. Um processo complexo que desafia antropólogos e historiadores.

Já a lenda legítima, que se desenvolve ao longo do tempo, tanto quanto o mito, esta sim é coisa séria. Historiadores, sociólogos e antropólogos, notadamente os estudiosos da religião, procuram decifrar os mitos e lendas de determinada civilização. O formato mitológico, mítico de interpretação da realidade, serve então de estudo na montagem de um quebra-cabeça que os aproxime da verdade dos fatos. Trata-se de um objeto de estudo fundamental para o entendimento de nossa própria história.
Enquanto que a lenda inventada, tatuada, concebida e gestada na mente de pessoas fascinadas, sedentas de poder e de glória, de legitimidade, torna-se perigosa, desprezível, porque pouco tem de inocência, de boa intenção. Desse tipo de gente, o umbral está cheio...
Há algum tempo, uma nova lenda espírita ressurgiu no seio do espiritismo. A de que Chico Xavier tenha sido a reencarnação de Allan Kardec, confirmando assim a profecia de seu então protetor, o espírito Zéfiro, que afirmou ao fundador do espiritismo, em 1857, que ele reencarnaria no século vindouro, o século 20.

Não há indícios de que Rivail tenha reencarnado no século passado. Todavia, a quantidade de candidatos a esse posto é enorme. Eu mesmo já conheci uma meia dúzia dessa gente mentirosa e arrogante, que se acha o Druida de Lyon numa nova edição, a fim de granjear para suas ideias obtusas o status de filosofia respeitável. E para não ficar somente no lero-lero, cito duas personalidades não muito conhecidas. Uma delas surgiu no ABC e chama-se Osvaldo Polidoro (1910-2000), o criador do chamado Espiritismo Divinista. Toda sua doutrina se alicerça na lenda de que Polidoro tenha sido a reencarnação de Kardec. O que Herculano Pires já escreveu sobre essa personalidade atormentada foi suficiente. Não é necessário perder tempo com ela. Cito apenas como informação.

Um outro caso, surgido em Niterói-RJ, é o do filho de Kardec. Sim, isso mesmo, o filho de Allan Kardec reencarnado. Sua primeira obra, dentre outras medíocres e inúteis, denomina-se Eu Conheci Allan Kardec Reencarnado. Trata-se de Erasto de Carvalho Prestes, a quem certa vez recebi em minha casa e participou de algumas edições do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita. Ele considera seu pai como o próprio Kardec, que deixou uma obra ainda por ser publicada. E o será, segundo ele, lançada no momento propício, conforme a vontade do “plano espiritual superior”...

 Existem outros kardequinhos candidatos à notoriedade, à legitimidade artificial, criadores de doutrinas, de sistemas e que, acobertados por uma falsa humildade, se escondem por trás de supostas revelações de espíritos tão confusos e pseudossábios quanto eles. Essa de que o Chico seja Kardec é de doer. Se o jornalista Boris Casoy fosse espírita ele bradaria o seu bordão: “isto é uma vergonha!”.
Existem outros
Curiosamente, em torno dessa polêmica, poucos ousaram perguntar ao Chico se ele era realmente o Kardec. E quando perguntaram, negou veementemente: “Não, não sou. Não tenho nenhuma semelhança com aquele homem corajoso e forte”. Esse testemunho encontra-se em um livro escrito pelo estudioso e escritor espírita, Wilson Garcia, intitulado Chico, Você é Kardec? que praticamente esgota o assunto e coloca uma pá de cal nessa contenda ridícula.

Nessas situações, pouco importam os fatos. Pouco importa se Chico Xavier negou ser o Kardec reencarnado. Pouco importa se a lenda é mais interessante do que o fato. Já que é assim, fiquemos com a lenda. É o que essa gente faz.

Por ignorância ou interesse suspeito, os espíritas foram, ao longo do tempo, abraçando lendas e mitos em torno de Kardec, dos espíritos e do espiritismo. É um processo sociológico e antropológico complexo de se apreender. Todavia, quando alguém tenta demonstrar o contrário da lenda ou do mito, o que há é a marginalização, o despeito ou mesmo a perseguição silenciosa e “fraterna”, tudo em nome da religião, do evangelho, do amor e da caridade, e que assim seja...

Reconheço que as palavras nesse breve artigo são incisivas. Mas para lidar com mitos e lendas inventadas é necessário mesmo ser um pouco áspero. Senão essa coisa cria raiz, começa a germinar e se não cortarmos a cabeça logo de cara, o que teremos é um novo Ovo da Serpente. Aí então será tarde demais.