Muitas vidas, muitos enfoques
O
lançamento do livro “Perspectivas
Contemporâneas da Reencarnação” abre a possibilidade para diferentes
leituras sobre um dos fenômenos mais complexos da vida do espírito imortal: a
reencarnação.
O
legado do Congresso de Santos
“Ânimo, caro leitor, venha
saborear momentos instigantes de reflexão”, escreveram Ademar Arthur Chioro dos Reis e Ricardo de Morais Nunes, na conclusão do artigo de apresentação do
livro “Perspectivas Contemporâneas da Reencarnação”, uma coletânea de trabalhos
que expressam muito bem o espírito do XXI Congresso Espírita Pan-Americano
(Santos, SP, 2012). O evento passou para a história do espiritismo com singular
significado. Nunca, antes, um congresso espírita tratou tão profundamente do
tema reencarnação, enfocando-o sob os mais diversificados aspectos, em
conferências, painéis, debates e mesas redondas com a participação de
estudiosos e pensadores de vários países.
A Comissão Organizadora,
presidida pelo médico e professor universitário Ademar Arthur Chioro do Reis,
selecionou onze dos trabalhos ali apresentados para compor o livro. Em
homenagem aos patronos do congresso, Jaci
Regis e José Rodrigues,
pensadores espíritas desencarnados em anos que antecederam o evento, a obra
também inclui artigos por eles deixados, sobre o tema reencanação.
Temas
e autores
Segue a relação dos trabalhos
apresentados no congresso e editados no livro, com seus respectivos autores:
Teoria Espírita da
Reencarnação: uma visão laica e livre-pensadora: Mauro de Mesquita Spínola (Brasil); Evidências Científicas da Reencarnação:
Raúl Drubich (Argentina); A Reencarnação
na Cultura Ocidental: Félix José Ortega (Venezuela); Os Espiritualistas e a Reencarnação: Yvonne Crespo Limoges
(Estados Unidos); Reflexões Inquietantes
sobre a Reencarnação: Homero Ward da Rosa (Brasil); O Esquecimento do Passado: Brutus Fratuce Pimentel (Brasil); Direito Natural, Lei Natural, Justiça
Social e Reencarnação: Milton Medran Moreira (Brasil); A Reencarnação e o Desenvolvimento Sustentável do Planeta: Gustavo
Molfino (Argentina); Implicações
Psicofisiológicas da Reencarnação no Plano Individual: Alejandro Diaz
(Argentina); A Reencarnação como
Dispositivo de Construção de Autonomia – Uma Visão Laica e Livre-Pensadora:
Ademar Arthur Chioro dos Reis (Brasil); Modelo
Computacional da Evolução Espiritual através da Reencarnação: Vital
Cruvinel Ferreira (Brasil).
Serviço – Como adquirir a obra? “Perspectivas Contemporâeas da
Reencarnação”, livro de
236 páginas, editado pelo CPDoc – Centro de Pesquisa e Documentação Espírita,
em conjunto com a CEPABrasil – Associação Brasileira de Delegados e Amigos da
CEPA, pode ser adquirido, via internet, acessando o site da CEPABrasil - http://www.cepabrasil.org.br/portal/fale-conosco.html ou
pelo e-mail cepabrasil@gmail.com . Valor unitário: 30
reais. Para a compra de mais de 10 exemplares é oferecido desconto de 25%. O
Centro Cultural Espírita de Porto Alegre dispõe de alguns exemplares à venda.
Para além da culpa e da punição
O fenômeno da reencarnação é,
habitualmente, mostrado nos romances espíritas e, mesmo, a partir da visão
marcadamente evangélico/cristã do movimento, como impulsionado pelo sentimento
da culpa. O livro “Perspectivas Contemporâneas da Reencarnação” permite vislumbrar
na palingênese outros vetores tão ou bem mais importantes que a culpa.
Em artigo póstumo de José
Rodrigues, inserido na obra, o saudoso jornalista e pensador santista
classificava como um “pensamento atávico”, presente nos meios doutrinários espíritas,
aquele que atribui à reencarnação uma “função punitiva”. Asseverava que “o
determinismo, levado ao extremo por nossos conceitos punitivos, acaba tendo o
valor de fatalismo, uma ideia que o espiritismo não aceita”.
Também artigo de Jaci Regis,
reportando-se à questão 132 de O Livro dos Espíritos, recorda que “todos são
submetidos ao processo e é preciso renovar a mente, eliminando resíduos
antiespíritas, que querem atrelar a reencarnação aos princípios da queda do
espírito e outras formas superadas de ver a vida e o homem”.
O livro recém lançado no
Congresso da CEPA, em Rosário, é, justamente, um convite à renovação da mente,
agregando a conceitos que nosso atavismo religioso sedimentou por várias
encarnações, outros valores emergidos da contemporaneidade. A obra sintetiza esforços envolvendo
pesquisas com metodologia científica, um profundo refletir filosófico, o
cultivo do livre pensamento e, acima de tudo, a vivência do espírito
progressista de seus autores. Estes, em sua totalidade, são reconhecidos como
bons conhecedores da obra de Allan Kardec, onde está a base de suas
fundamentações teóricas.
Portanto, vale repetir:
“Ânimo, venha saborear momentos instigantes de reflexão”. (A Redação).
Mediunidade sem mistério
“...manifestações espíritas, qualquer que
seja a sua natureza, nada têm de sobrenatural, nem de maravilhoso.” (Allan
Kardec, ”O que é o Espiritismo”)
Inauguramos,
na página 5 desta edição, a secção “Registros da Grande Imprensa”. É nosso
propósito, ali, repercutir matérias de grandes periódicos, brasileiros ou do
Exterior, que se ocupem de temas com alguma vinculação ao espiritismo ou a
fenômenos por ele estudados. De antemão, sabemos que as sempre escassas
notícias aludindo ao que possa ser entendido pela mídia como “espiritismo” se
hão de referir a fenômenos de cura ou à atuação de paranormais famosos, a
maioria dos quais sem relação direta
com a doutrina sistematizada por Allan Kardec. Este, aliás, segue, como disse
Herculano, sendo o grande desconhecido.
Mesmo assim, entendemos que tais registros
merecem ser feitos, porque a ocorrência e a divulgação de fenômenos dessa
natureza servem àquilo que Kardec qualificou com a fase da “curiosidade”.
Quando alguém se mostra curioso relativamente a um fenômeno por ele
desconhecido e cujas causas ignora, poderá estar sendo motivado a melhor
estudá-lo e retirar dali, quiçá, lições úteis a seu crescimento.
Nesta
primeira edição, registramos matéria de capa da revista Veja, sobre médium goiano conhecido como João de Deus. Ele tem se
celebrizado pelo atendimento a multidões que o buscam por problemas de saúde. À
sua ação, como médium da entidade espiritual identificada como Dr. Fritz,
atribuem-se curas extraordinárias, inclusive por meio de delicadas cirurgias,
feitas com métodos não convencionais na medicina.
Característica
comum a esse tipo de atuação, quase sempre envolvendo médiuns pouco
conhecedores da doutrina espírita, é a de guindar tais fenômenos ao domínio do
sobrenatural. Os próprios agentes dotados desse tipo de mediunidade costumam
afirmar: “Não sou eu que curo, é Deus”. Nesse contexto, situam a divindade,
como o fazem as religiões, numa dimensão sobrenatural. Fenômenos mediúnicos
teriam como verdadeiro protagonista um deus pessoal, operando diretamente sobre
o mundo material, e de forma dissociada da ação, da vontade e das aptidões
humanas. A mediunidade, entretanto, é fenômeno genuinamente humano, que se
opera por leis naturais, envolvendo a humanidade encarnada e desencarnada. Não
é, em si, nem boa, nem má; nem divina nem diabólica; nem miraculosa, nem
sobrenatural. Tampouco está subordinada a rituais religiosos ou vinculada à fé
de quem a pratica ou de quem é por ela beneficiado. Exige, isto sim, como todo
o agir humano, motivação e direcionamento éticos, para, dessa forma, contribuir
com o progresso integral da humanidade. É por esse ângulo que a estuda e a
interpreta o espiritismo.
Reconhece-se,
no entanto, que, a partir do paradigma vigente, alimentado conjuntamente por
ciência e religião, fenômenos mediúnicos despertam sempre admiração e curiosidade.
Admiração é o fator desencadeador do refletir filosófico. Curiosidade é o
primeiro degrau do conhecimento espírita. Daí a importância de divulgá-los,
mesmo quando ocorram fora dos parâmetros adotados pelo espiritismo. Que o
tempo, a razão e o bom senso dos leitores cuidem do restante.
O poeta e a menina
Ferreira
Gullar, talvez o maior poeta vivo do Brasil, longe de ser um espiritualista,
define-se como um agnóstico. Costuma dizer que o homem inventou Deus para que
Deus o criasse. Mas, ele não cansa de confessar sua perplexidade perante a
vida. Em sua crônica “O Banal Maravilhoso” (Folha, 10/7), por exemplo, narra a
cena da menininha de dois anos, vista no elevador a gritar com a mãe: “Lá eu
não vou, eu não vou”! A última vez que a vira, era uma recém-nascida, chupeta
na boca, ao colo da mãe. Agora, lá estava a garota, capaz de falar, de gritar
e. de ter opinião! E opinião diferente da mãe. Pergunta-se, então, o poeta: “O
que chamamos de gente nascida de um óvulo e um espermatozoide já traz em si
tudo isso que definimos como ser humano?”.
O poeta e a admiração
Para
Gullar essa coisa de, num embrião, já estar “potencialmente a capacidade de
pensar, de falar, de inventar coisas como computadores, sinfonias e poemas”, é
um grande e espantoso mistério que o leva à perplexidade. O poeta não se
conforma com aqueles a quem essas coisas não causam admiração. Simplesmente
dizer que as habilidades que um cão demonstra ou a esperteza, a bondade ou a
maldade de uma criança “nasceram com eles” não explica o mistério. Como já
nascem sabendo, se ninguém lhes ensinou antes? Pergunta.
O médico e a genética
No
início do Século XX, Gustavo Geley, médico eminente que dirigiu o Instituto de
Metapsíquica, na França, assinalava que a genética não poderia explicar jamais
as nuanças todas da personalidade humana. O início do Século XXI marcou um
avanço ímpar da genética com o mapa do sequenciamento do genoma humano. Mas
nada pode explicar, por exemplo, como dois irmãos, filhos do mesmo pai e da
mesma mãe, com idênticas cargas genéticas, são, às vezes, tão diferentes em
tudo e diante de tudo. Sequer a educação, muitas vezes, os modifica. Nem os
hábitos sociais, nem a cultura vigente, nem a religião ou o exemplo.
O homem e o mistério
Para
Geley e para o espiritualismo evolucionista filosófico e científico, onde se
situa o espiritismo, a chave daquilo que o poeta classifica como mistério é a
teoria da preexistência do espírito, suas vivências anteriores, seu aprendizado
nas vidas sucessivas. Platão sugeriu a adoção desse paradigma, com sua célebre
teoria das ideias. Kardec propôs que o estudo e o desenvolvimento prático e
metódico da mediunidade se tornassem meios eficazes a comprovar cientificamente
a existência, sobrevivência e comunicabilidade do espírito.
Em vez
disso, o homem contemporâneo estacionou no paradigma materialista. Seja ele religioso
ou se classifique como ateu, agnóstico ou cético, questões como aquelas
levantadas pelo poeta são jogadas ao vasto campo do mistério. Até quando?
A marca do CCEPA na FERGS
Maurice
Jones assumiu a direção da SELC (hoje CCEPA) em 1968, sendo convidado a
integrar o Conselho Executivo da FERGS em 1974, na gestão de Hélio Burmeister,
como diretor do departamento Doutrinário. Em 1976 assume a vice-presidência e,
em 01 de janeiro de 1978, é empossado como presidente da FERGS.
Durante
o tempo em que integrou o Conselho Executivo da FERGS, Jones deu muita
importância à interiorização administrativa. É um período de forte incremento
da presença da FERGS no interior do Estado. Reuniões regionais, cursos,
seminários, visitas de oradores convidados motivaram frequentes viagens de
equipes departamentais para eventos nas mais diversas localidades,
especialmente em cidades-polo. Na área do Departamento Doutrinário, então sob
minha responsabilidade, onde mais foi aproveitada a experiência da SELC,
realizamos – Jones e eu – inúmeros eventos federativos, tais como treinamento
para coordenadores de grupos de estudo sistematizado, para dirigentes e
colaboradores das atividades de passes, desobsessão, educação mediúnica, para
expositores, além de seminários voltados para a dinamização dos Centros
Espíritas.
Em
janeiro/86, no discurso de posse do meu segundo mandato presidencial na FERGS,
lancei o Projeto: Kardequizar, contendo uma análise crítica do movimento
espírita, alertando para o processo de sectarização em curso e convocando as
forças vivas do movimento espírita gaúcho a um esforço de reversão dos desvios
apontados.
Milton
Medran Moreira era Diretor de Difusão da FERGS e da revista “A Reencarnação”,
cuja linha editorial buscava o aprofundamento de um determinado tema em cada
uma de suas edições. Naquele momento, era examinado o chamado "tríplice
aspecto" a partir, principalmente, do estudo mais acurado do pensamento de
Kardec, pela Revista Espírita. Já havia sido editado um número tratando
especificamente do caráter científico do espiritismo e outro sobre o seu
caráter filosófico. Finalmente, lançamos o número 402, em outubro/86, sob o
título Espiritismo: Ciência e Filosofia. Até que ponto é Religião?
Dessa
edição, o único texto que afirmava não ser o espiritismo religião era uma
antologia, coordenada por Maurice Herbert Jones, reunindo textos de Allan
Kardec, sem nenhum comentário adicional. Outras matérias analisavam
moderadamente a questão. Mesmo assim, o fato de ousarmos questionar se o
Espiritismo era ou não uma religião (ainda que o fizéssemos escudados em
Kardec) nos custou muito caro. Eu, que era presidente da FERGS, fui advertido
publicamente por Francisco Thiesen, presidente da FEB, numa reunião regional do
CFN, em Curitiba, e na Plenária realizada na sede da FEB, em Brasília, em
novembro/86. Em 1987, a chapa encabeçada por Milton Medran Moreira perderia as
eleições na FERGS.
A
principal marca da presença da SELC/CCEPA na FERGS, todavia, é o lançamento do
ESDE, assunto da próxima edição.
Sobre o Dualismo Cartesiano
Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico, é
membro-fundador do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CPDoc),
editor-fundador do site PENSE – Pensamento Social Espírita e autor de Breve
Ensaio Sobre o Humanismo Espírita.
Publicou também, em edição digital, os seguintes livros: Racismo e
Espiritismo; Milenarismo e
Espiritismo; Amélie Boudet, uma
Mulher de Verdade - Ensaio
Biográfico; Conceito Espírita de Evolução; Os Celtas e o Espiritismo e Os
Quatro Espíritos de Kardec. E-mail: eugenlara@hotmail.com
A separação radical entre
mente e corpo teve em René Descartes (1596-1650) um de seus maiores defensores
e expoentes, influenciando até hoje todo o pensamento ocidental. Para o
filósofo francês, certamente o primeiro grande pensador da modernidade, em seu
pensamento dualista a substância-alma
(res cogitans) é distinta da
substância-corpo (res extensa). Alma e corpo são
essencialmente diferentes, cada qual em sua condição natural, irredutível e
inconciliável.
Sobre a natureza da alma,
Descartes diz que é “uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas
no pensar, e que, para ser, não necessita de nenhum lugar, nem depende de
qualquer coisa material. De sorte que esse
eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo
e, mesmo, que é mais fácil de conhecer do que ele, e, ainda que este nada
fosse, ela não deixaria de ser tudo o que é. ” (Discurso do Método, 4ª parte - Os Pensadores, Ed. Abril. Grifo
meu).
Deísta e racionalista,
Descartes 9foto) sustentava que a união plena entre essas duas substâncias, corpo
(matéria) e alma (espírito), seria possível, concebível e somente se efetivaria
integralmente em Deus. Por conta dessa concepção dualista que dominou por
séculos a visão do ser humano, estudos sobre a mente quase sempre eram
relegados ao território da religião ou da filosofia, mesmo com o surgimento da
psicologia. O estudo científico da mente no campo da biologia, da medicina e da
neurociência é bem recente.
O pensamento cartesiano é
dualista, assim como o pensamento kardecista, cuja dualidade não é estática,
estanque. Espírito e matéria, as duas substâncias básicas e estruturantes do
universo que o Kardecismo postula, jamais se encontram dissociadas. Não existe
espírito sem matéria e nem matéria sem espírito, como na frase célebre do
grande metapsiquista Gustave Geley (1865-1924): “Tudo nos leva a crer que não
há matéria sem inteligência, nem inteligência sem matéria.” (Resumo da Doutrina Espírita, 1ª parte -
LAKE).
O dualismo kardecista é
radicalmente diferente do dualismo cartesiano. A tese kardecista estabelece uma
ruptura evidente com o pensamento de Descartes, onde espírito e matéria são
inconciliáveis. É como se houvesse uma inversão no cogito cartesiano: existo, logo penso. Sustentar que a
Filosofia Kardecista seja cartesiana é um disparate, uma meia verdade.
Na Filosofia Kardecista, a
conciliação entre essas duas substâncias universais (espírito e matéria) se dá
mediante uma espécie de continuum
material, entre a forma mais bruta de matéria até a mais sutil e
quintessenciada, havendo uma certa gradação energética, um tipo de gradiente
entre o espírito e a matéria — fenômeno teoricamente possível em função da
suposta existência da energia cósmica primordial (fluido cósmico universal),
espécie de matéria sutil, plasmável pela ação mental, derivada da matéria
propriamente dita, ainda impossível de ser aferida, de ser medida por
aparelhos.
Por outro lado, o dualismo
kardecista nos conduz, quase que inevitavelmente, ao rumo próximo de teorias
monistas, holísticas como as de Hegel, Pietro Ubaldi, Huberto Rohden etc.
Pode-se dizer que a Filosofia Kardecista possui características monistas e/ou
holísticas em sua cosmogonia, no entanto, sua feição dualista se impõe
epistemologicamente porque para o Kardecismo, Deus não é uma substância, mas um conceito, concebível e
perceptível devido ao instinto de adoração e ao meio cultural. O deísmo kardecista é, ao mesmo tempo,
imanente e transcendente. Pegando carona no panenteísmo krausista, neologismo criado pelo filósofo alemão
Friedrich Krause (1781-1832), a concepção kardecista de Deus é panendeísta porque é, ao mesmo tempo,
imanente e transcendente.
Deus é a Inteligência Suprema,
definiu assim Allan Kardec (1804-1869). Ele não é a Substância Suprema segundo
seria em Descartes ou principalmente em Baruch Espinosa (1632-1677), que o
concebia sim como uma substância, segundo uma visão nitidamente panteísta.
A filosofia kardecista não é
panteísta. As substâncias que admite são o espírito e a matéria e é a partir
desses dois pilares de sua cosmogonia, que ela concebe os seres e as coisas, o
homem e o mundo, sempre sob uma ótica evolucionista porque este Universo, desde
o Bigue-Bangue, em sua totalidade, encontra-se sujeito à evolução contínua. A
matéria também evolui.
Todavia, o espírito não evolui
sem a matéria e a matéria não evolui sem o espírito. Por isso que o espírito é
o corpo e o corpo é o espírito. Eu não tenho um espírito, eu sou o espírito,
assim como sou também o corpo. Mente e corpo são indissociáveis, mas ao mesmo
tempo, são de natureza diferenciada, com finalidades ontológicas completamente
distintas. Como diria o poeta-filósofo, mens
sana in corpore sano.
Na edição de março de 2013, noticiávamos o
início de uma nova atividade no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. Um
novo grupo – GEALE Grupo de Estudo Analítico de O Livro dos Espíritos –
começava a se reunir nas sextas-feiras, à tarde.
O idealizador da atividade, Salomão Jacob Benchaya, Diretor de
Estudos e Eventos do CCEPA, e hoje também Presidente da Casa, esclarecia que o
grupo estaria destinado “a estudiosos da doutrina fundada por Allan Kardec que
tenham interesse numa apreciação crítica dessa obra básica da filosofia
espírita num contexto de atualização”.
A atividade teve pleno êxito e, hoje,
decorridos mais de três anos, segue atraindo estudiosos de O Livro dos
Espíritos dispostos a analisá-lo e discuti-lo, à luz dos conhecimentos da
contemporaneidade.
Sem necessidade de prévia inscrição, e aberto
inclusive a interessados não vinculados ao CCEPA ou a qualquer instituição
espírita, o GEALE se reúne às sextas-feiras, das 15 às 16 h, sob a coordenação
de Salomão e contando entre seus debatedores e principal provocador, o pensador
espírita Maurice Herbert Jones,
ex-presidente do CCEPA e também da Federação Espírita do Rio Grande do Sul.
Breve História do Pacto Áureo
A partir da afirmação de que “o Pacto Áureo
sempre esteve longe de ser uma unanimidade”, o historiador espírita Mauro Quintella, ativo debatedor da
Lista de Debates da CEPA, na Internet, está convidando para que os estudiosos
da história do espiritismo no Brasil visitem seu blog espiritismocomoeuvejo.blog.br , onde está publicando uma
“breve história do Pacto Áureo”.
No seu trabalho, Mauro resgata a opinião de
pensadores espíritas da época (ano de 1949) que, em periódicos espíritas então
editados, posicionaram-se contra a iniciativa de unificação do espiritismo,
então promovida pela Federação Espírita Brasileira.
Na opinião de Mauro Quintella sobre aquele
evento histórico que completa 67 anos, em outubro próximo, “a ideia de
subordinar um conjunto de federativas estaduais aos dirigentes de um gigantesco
centro espírita – cheio de idiossincrasias e chamado de ‘federação’ quando
hospeda um colegiado de federações – é ilógica e esdrúxula. Segundo o
historiador, “a única saída para essa histórica incongruência é o CFN
desalojar-se da FEB e transformar-se na tão sonhada Confederação Espírita
Brasileira”.
Lançamento em São Paulo:
“Perspectivas
Contemporâneas da Reencarnação”
O
livro “Perspectivas Contemporâneas da Reencarnação” está com lançamento
programado para o dia 12 de agosto, em São Paulo.
A obra
contém uma coletânea dos principais trabalhos originariamente apresentados no
XXI Congresso Espírita Pan-Americano, realizado em Santos/SP, em 2012. Nele o
leitor vai se deparar com apresentações relativas às distintas visões da
reencarnação na cultura universal de todos os tempos, discutindo também a
contribuição da cosmovisão reencarnacionista para o desenvolvimento ético do
indivíduo e das coletividades.
Veja
convite para o lançamento:
Brasileiros no II Congresso
Espírita Internacional de Madri
O boletim Andalucia
Espiritista, nº 52, editado pela Asociación Espírita Amalia Domingo Soler,
que pode ser acessado no site da entidade -http://www.andaluciaespiritista.org/
-, publica a programação completa do II Congresso Espírita
Internacional, promovido pela AIPE – Asociación Internacional para el
Progreso del Espiritismo, de 16 a 18 de setembro próximo, com a temática
central “Um Mun do Nuevo”.
Dois expositores brasileiros, ambos colaboradores da
CEPA, participarão como conferencistas do evento, que acontece em Torrejón de
Ardoz, Madri. São eles: os escritores Wilson Garcia (Recife/PE), com o
tema “Noções e Percepções da Liberdade segundo a Doutrina Espírita”, e Moacir
Costa de Araújo Lima (Porto
Alegre/RS) que abordará “Afinal, quem somos?”.
Da programação consta uma mesa redonda, coordenada
por Mercedes Garcia de la Torre, com a temática “Atualidade
Internacional do Movimento Espírita”, que deverá ter a participação de dirigentes
ou representantes da CEPA – Associação Espírita Internacional.
Dentre outros temas a serem abordados no II
Congresso Espírita Internacional, destaque-se a participação de Yolanda
Clavijo, Dirigente do Movimento de Cultura Espírita CIMA, da Venezuela, com
“Magnetismo e Mediunidade Curativa”, e “A Vida no Mundo Espiritual – De Kardec
a André Luiz”, tema a ser exposto por David Santamaría, Presidente do
Centro Barcelonês de Cultura Espírita (Barcelona, Espanha)
Para conhecer a programação completa, assim como
informações úteis aos interessados em participar do Congresso, acessar o
boletim ANDALUCIA ESPIRITISTA Nº 52 no site andaluciaespiritista.org >
publicaciones > boletines.
O Futuro da Humanidade – Uma
abordagem genuinamente espírita
Palestra “O
Futuro da Humanidade: Qual Transição? O Pensamento de Allan Kardec” será
proferida em São Paulo, no próximo dia 13 de agosto, numa iniciativa do CPDOC –
Centro de Pesquisa e Documentação Espírita, e CEPABrasil – Associação
Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA.
O palestrante convidado, Eduardo Ferreira Valério (foto), é promotor de Justiça em São Paulo, há 30
anos, titular da Promotoria de Direitos Humanos. Espírita, preside a AJE,
Associação Jurídico Espírita do Estado de São Paulo.
Veja abaixo os detalhes do evento:
CEPABrasil com novo site na Internet
O novo portal da CEPABrasil – Associação
Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA – já está disponível na rede: http://www.cepabrasil.org.br/portal/ .
Com design moderno e dinâmico, o sítio está
sendo desenvolvido pelo Web designer Daniel Alves da Cruz, cuja interlocução e
acompanhamento é feito por Néventon Vargas, do setor de Comunicação da CEPA e
CEPABrasil”.
Ali, o internauta fica a par de todas as
notícias do movimento espírita livre-pensador. Encontra também, em “loja
virtual” uma ampla relação de livros de
autores vinculados à CEPA e à CEPABrasil, e a forma de adquiri-los (“Fale
conosco”).
A
edição virtual de CCEPA Opinião também
pode ser acessada no site.
“Veja” enfoca mediunidade de João de Deus
A revista Veja,
que há tanto tempo dá destaque ao noticiário político, em sua edição nº 2485,
de 6/7, mudou de assunto. Publicou, como matéria de capa, reportagem exclusiva
sobre o médium João de Deus, de Abadiânia, Goiás, que acaba de ser curado de um
gravíssimo câncer.
A matéria, com o título de “A luta de João de
Deus contra o câncer” tem como pano de fundo relato da editora de saúde da
revista, Adriana Dias Lopes, de como o médium livrou-se da doença que, segundo
um médico, o levaria à morte em 5 a 15 dias, desde que foi diagnosticada. Em
cirurgia de 10 horas, realizada pelo médico Raul Cutait, em agosto de 2015, lhe
foi retirado do abdômen um gravíssimo tumor (denocarcinoma gástrico), de 6
centímetros, localizado abaixo da metade do estômago, órgão do qual 50% foi
extirpado.
A reportagem, entretanto, vai muito além do
relato do episódio, estendendo-se em ampla abordagem do trabalho que João de
Deus realiza em Abadiânia. A repórter acompanhou o tratamento no hospital
paulista e as subsequentes sessões de quimioterapia, sob o compromisso de não
noticiar o fato até que o médium a autorizasse. Depois de curado, João de Deus
solicitou a ela que visitasse seu local de trabalho, a Casa Dom Inácio de
Loyola, em Abadiânia, para constatar o que lá se fazia.
Por vários dias, Adriana esteve na cidade
goiana, onde presenciou a multidão de peregrinos que buscam o paranormal. Este,
habitualmente, indica passiflora ou cirurgia espiritual, que, muitas vezes,
realiza ali mesmo, ou simplesmente orações. A jornalista descreve o ambiente
como de sincretismo: “Há de tudo um pouco, para todos os fiéis. Nossa Senhora,
crucifixos, pedras esotéricas”. Perguntado qual sua religião, o médium
respondeu: “Fui batizado na Igreja Católica. Acredito em Santa Rita de Cássia e
em João Batista.”
A reportagem, além de incluir vários
depoimentos de pessoas que se disseram curadas pela ação do médium, refere
nomes famosos que se submeteram, com sucesso, a tratamentos com ele: a
apresentadora americana Oprah Winfrey, os ex-presidentes Lula e Hugo Chávez, da
Venezuela, e a atriz Giovanna Antonelli. Reproduz depoimento do ministro Luís
Roberto Barroso, do STF: “Conheci João de Deus por meio de Carlos Ayres
(ex-ministro do Supremo), em 2012. Sofria de um câncer de esôfago, e sua força
foi essencial no tratamento de minha doença. Há algo totalmente transcendente
nesse homem”, declarou Barroso.
A repórter
perguntou por que tinha procurado a
medicina, em vez de recorrer às entidades espirituais com quem trabalha, ao que
João de Deus respondeu com uma outra pergunta: “O barbeiro corta seu próprio
cabelo?”. Em entrevista gravada - http://veja.abril.com.br/multimidia/video/a-luta-de-joao-de-deus-contra-o-cancer - declarou acreditar no “poder
de Deus” e nos médicos, que são seus instrumentos.
O site de Veja
exibe resumo da reportagem:
Léon Denis
“A ação do Espiritismo deve, então, se exercer em todos os
domínios: experimental, doutrinário, moral e social. Existe no Espiritismo um
elemento regenerador do qual podemos tudo esperar. Eu creio poder dizer que o
Espiritismo é chamado a tornar-se o grande libertador do pensamento, o
pensamento humano, subjugado há tantos séculos. Caberá ao Espiritismo lançar no
mundo, cada vez mais, os germens da verdade, da bondade, da fraternidade
humana. E esses germens frutificarão, mais cedo ou mais tarde”. (Da conferência pronunciada no Congresso
Espírita de Liège, em 11 de junho de 1905).
Caminhando
Prezados amigos da redação de CCEPA Opinião:
Gostaria de parabenizá-los pelo excelente texto
“Caminhando”, editorial da primeira página da edição de junho, explicitando o
pensamento da CEPA.
Concordo plenamente com a citação ali feita do
poeta andaluz Antonio Machado: “Caminante, no hay caminho, se hace caminho al
andar”. Maravilhoso!
Mas também quero lamentar a última edição do
encarte América Espírita. Foram 18
anos de dedicação incondicional desta equipe, que muito nos honra com seu
excelente trabalho. Muito obrigada por tudo.
Alcione
Moreno – São
Paulo/SP
Espiritismo laico
Pertenço ao Teatro Espírita Leopoldo Machado,
casa fundada aqui em Salvador, por Carlos Bernardo Loureiro, que era Delegado
da CEPA.
Temos recebido Opinião, sempre lido com muito entusiasmo, por seu conteúdo sério e
laico, o que também almejamos para essa doutrina que tanto amamos. Celebramos, juntamente com todo esse segmento
espírita, a nova denominação e abrangência da CEPA.
Estamos, agora, planejando um evento de
celebração de 10 anos de imortalidade de nosso professor Bernardo e, inclusive,
pensamos em convidar o amigo Jon Aizpúrua que com ele manteve constante
correspondência.
Lucas Sampaio – Salvador/BA
Dr.
Fritz, outra vez
Lendo Opinião em Tópicos, na edição de julho
desse periódico, sobre um novo médium, desta vez no interior do Rio Grande do
Sul, incorporando o espírito do médico alemão Dr. Fritz, não pude deixar de
lembrar os tantos outros médiuns, a partir de Zé Arigó, que o antecederam com
essas mesmas práticas. Interessante que todos eles tiveram um fim trágico.
Seria isso carma? Estaria ligado à trajetória anterior daquele espírito? Qual a possível relação daquele
espírito com seus médiuns? Sugiro uma discussão em torno disso, nesse mesmo
jornal.
Anacleto Peró da Silveira –
Campinas/SP.