terça-feira, 7 de junho de 2011

OPINIÃO - ANO XVII - N° 186 - JUNHO 2011


O Espiritismo na Mídia
 Diante da explosão midiática do espiritismo no Brasil de hoje, em que fase Allan Kardec classificaria o atual estágio de aceitação das ideias espíritas no país?


 Filmes espíritas motivaram a onda
         Primeiro foi o filme “Bezerra de Menezes – Diário de um Espírito” (2008), contando a vida de Adolfo Bezerra de Menezes, médico cearense que se tornou um ícone do espiritismo brasileiro. Vista por cerca de meio milhão de espectadores, a película abriu espaço para outras exibições que explorariam a popularidade do médium espírita Francisco Cândido Xavier, falecido em 2002 e cujo centenário de nascimento (abril/2010) motivou o lançamento de três importantes filmes tratando de sua obra e de sua vida. O primeiro foi “Nosso Lar”, que levou à tela o principal livro do médium mineiro, ditado pelo espírito André Luiz. Depois, a película “Chico Xavier”, com sua biografia. Finalmente, “As Mães de Chico Xavier” que enfocou um dos aspectos mais característicos da carreira do médium de Uberaba, ou seja, o consolo oferecido às mães de jovens desencarnados, que iam a Uberaba na busca de contato espiritual com seus filhos. Todos eles foram de grande sucesso de bilheteria, com milhões de espectadores que agora se somam a outros milhões que terminaram adquirindo os filmes em DVD.
          
     Na onda do sucesso dos filmes, muitas revistas de grande circulação, assim como programas de rádio e de televisão, realizaram reportagens e debates sobre o que consideram um dos grandes fenômenos religiosos no Brasil: o espiritismo.

          Em que período estamos?
       Em artigo publicado na Revista Espírita de dezembro de 1863, Allan Kardec projetava para o espiritismo seis períodos: o primeiro teria sido o da curiosidade, deflagrado quando dos episódios das mesas girantes que deram início às suas investigações; o período seguinte foi por Kardec denominado filosófico, quando aqueles fenômenos começaram a dar lugar à reflexão sobre suas causas e consequências; o terceiro período, vivido no momento em que era escrito o artigo, Kardec denominou como de luta, diante das perseguições vindas da Igreja e dos segmentos materialistas; sucederia ao período de luta o religioso, que, segundo supunha Kardec, seria logo superado por um período intermediário, após o qual, já no início do Século XX, despontaria o período da regeneração social, quando as ideias espíritas seriam de domínio geral, dando lugar a uma sociedade de “união, paz e fraternidade” entre todos os homens.
          Na verdade, a caminhada tem sido bem mais lenta. Tomando-se por base o Brasil, país onde o espiritismo tem maior presença social, é de se reconhecerem avanços, especialmente por força da obra do médium Francisco Cândido Xavier, agora registrada no cinema e repercutida na mídia em geral. Mas a pergunta se impõe: que fase entre aquelas previstas por Kardec é a que vivemos? Inegável que, para muitos, é ainda a primeira: a da admiração, da curiosidade diante do fenômeno. Para a grande maioria, entretanto, o espiritismo estacionou na fase religiosa, que, pelo esquema previsto por Kardec, de há muito deveria estar superada. Outros, compondo um pequeno segmento espírita, vivem claramente a fase intermediária que busca conectar as propostas doutrinárias espíritas às áreas mais importantes do conhecimento científico e do pensamento contemporâneo. Estes creem no potencial espírita de oferecer ao mundo um novo paradigma científico/filosófico/moral, capaz de renová-lo. Seria isso uma utopia? Ou ainda haverá possibilidade de resgatar esse projeto de Kardec?



      

     
     O Projeto de Kardec
       Não se pense que Allan Kardec imaginava para o Século XX fosse o mundo todo declaradamente espírita. Mas, sem dúvida, sonhava que, ao curso do século findo, o paradigma espírita estaria plenamente aceito. Quando se fala em paradigma espírita se quer referir a uma cultura de prevalência do espírito sobre a matéria, na ciência e na ética.

         O Século XX ficou para trás, caracterizado pelo avanço do materialismo e o domínio de um capitalismo selvagem. O espiritismo avançou nesse período? Que se pode esperar para o novo século cuja primeira década já se escoou?

      O Brasil tem se firmado como um significativo polo da “religião espírita”. Ou seja, no universo das crenças, o espiritismo, aqui, ganha espaço, simpatia, popularidade e respeito. Disso dão testemunho os filmes espíritas e a aura de santidade atribuída a vultos do espiritismo cristão e evangélico, como Bezerra e Chico.     Mas estamos longe da adoção de um paradigma científico, filosófico e ético-moral, fundado na realidade do espírito. Cada vez menos o mundo das crenças se interpenetra com o mundo das ciências, sejam elas físicas ou sociais. O conhecimento é, hoje, marcadamente laico. A ética também. Kardec conhecia essa tendência da modernidade e, mesmo admitindo uma curta fase religiosa para o espiritismo, previa que sua influência no mundo pós-moderno só se daria pela força de seus pressupostos científicos, filosóficos, éticos e sociais. Não há, pois, razão para euforia, diante da explosão midiática do espiritismo como religião. Colham-se os espaços eventualmente abertos para demonstrar que a proposta espírita vai muito além do fenômeno paranormal e da fé religiosa. É uma proposta consistente em termos de conhecimento e transformadora por seus conteúdos éticos. (A Redação)







Reencarnação: 
mais estudada, melhor compreendida
“Não basta que o espiritismo exista. Ele precisa ser continuadamente construído, não contra, mas apesar daqueles que o querem reduzir a mais uma seita cristã.” (Maurice Herbert Jones)

     Paulo afirmou que se Cristo não houvesse ressuscitado seria vã a fé cristã. Da mesma forma, podemos, nós, espíritas, dizer: Se a reencarnação não é uma verdade, perde sentido a filosofia espírita e pouco ou nada há de contribuir para o avanço do espiritualismo. A reencarnação é, na verdade, a expressão concreta da hipótese filosófica da imortalidade e da evolução do espírito. Compõe, assim, o núcleo central da filosofia espírita.
    Elogiável, pois, a preocupação que um amplo setor do movimento espírita tem demonstrado em torno do aprofundamento do estudo e do debate da reencarnação. No âmbito da CEPA, dois eventos realizados no Brasil priorizaram, recentemente, o debate acerca da identidade do espiritismo: o II Encontro Nacional da CEPABrasil (Bento Gonçalves/RS, setembro/2010) e o IV Fórum do Livre Pensar Espírita (João Pessoa/PB, novembro 2010). Parte-se, agora, para um aprofundamento da tese da reencarnação, um dos pilares sobre os quais se apoia e se legitima a identidade espírita.
     O XXI Congresso Espírita Pan-Americano, a se realizar em Santos/SP, de 5 a 9 de setembro de 2012, com o tema central “Perspectivas Contemporâneas da Teoria Espírita da Reencarnação” quer oportunizar ao movimento espírita pan-americano um debate atualizado e aprofundado do tema. Como uma espécie de prévia daquele grande evento que deve receber estudiosos e debatedores não apenas das Américas, mas também da Europa, a CEPABrasil, Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA, e a USEECE,  União das Sociedades Espíritas do Estado do Ceará, realizam, este mês, em Fortaleza, o V Fórum do Livre Pensar Espírita (24 a 26 de junho), tendo como temática central “Reencarnação, Lei Natural para a Espiritualização da Humanidade”.
     Neste estágio de avanço das ideias espíritas, não basta aceitar a tese da reencarnação como mero sucedâneo da fé cristã no céu e no inferno, com seus prêmios e castigos à alma, após a vida física. É preciso buscar a essência filosófico/evolucionista/progressista da hipótese palingenésica espírita, comparando-a com outras teorias religiosas, filosóficas e científicas minimamente compatíveis com os conhecimentos atuais. Poderá ser recomendável, inclusive, atualizarem-se conceitos reencarnacionistas até aqui aceitos no próprio meio espírita, mas ainda portadores de ranços teológicos judaico-cristãos já superados.
   Mais que tudo, é preciso ter coragem de avançar, reconhecendo que eventuais impregnações religiosas teimosamente cristalizadas em nossa consciência já não contribuem com o nível de exigências evolutivas atuais. Como asseverou Allan Kardec, “o que era outrora um bem (...) transforma-se num mal”. (A Gênese, Cap.III)

   Um amplo setor do movimento espírita tem demonstrado preocupação no aprofundamento do estudo e debate sobre reencarnação. 





      

          A questão das drogas

     Numa viagem que fiz à Suíça, há quase 20 anos, impressionou-me a quantidade de viciados na rua, consumindo drogas livremente, sem que a polícia ou quem quer que fosse interferisse. A guia turística nos informou que o governo não se preocupava muito com isso. Problema maior para o estado eram os alcoólatras, porque estes, diferentemente dos drogados, viviam bastante e, na velhice, se tornavam um peso morto para o poder público que teria de mantê-los com seus programas sociais, diferentemente dos consumidores de drogas, que morrem jovens.
          Uma forma desumana e bem materialista de tratar a questão. Na base dessa política governamental está a filosofia de que a morte tudo resolve e, depois dela, não há mais consequências provenientes das viciações individuais ou coletivas.

          A questão no Brasil
          Não sei como a Suíça trata do problema atualmente. Sei que, naquele tempo, quando eu recém me havia aposentado do cargo de promotor de Justiça, a questão das drogas no Brasil começava a tomar os rumos que iriam se constituir no verdadeiro flagelo para as famílias e sociedade de hoje. A lei criminal de então ainda previa pena de prisão tanto para traficantes como para viciados. A pena destes era de detenção, bem mais leve que a de reclusão prevista a quem vendesse ou traficasse. Mas já se discutia, então, a possibilidade da despenalização do consumo, reservando-se a cadeia para quem comercializasse as drogas.
          Acho que a recente legislação (2006) implantada no Brasil tratou convenientemente a questão. Já não cabe prisão ao usuário que está sujeito a medidas sócio-educativas, como admoestação verbal, obrigatoriedade de frequentar cursos, tratamento compulsório ou prestação de serviços à comunidade.

          Estaria descriminalizado o consumo?
        No âmbito jurídico, a discussão é de se a nova lei descriminalizou ou não o consumo. Alguns juristas sustentam que as medidas são ainda de efeito penal. Outros dizem que elas têm caráter meramente administrativo. E há aqueles que as definem como infração “sui generis”.
        Polêmicas jurídicas a parte, há evidências de que se estão buscando caminhos no Brasil. E de forma bastante humanizada. Diferentemente de algumas nações ricas, onde o estado vira as costas para o drogado, entregando-o à própria sorte, na medida em que permite o consumo, sem qualquer consequência legal e, pior, na expectativa de que ele morra logo.

          Um caminho longo
      Pessoalmente, penso que a solução do grave flagelo do consumo de drogas no país poderá ir se resolvendo exatamente através desta política: menos penalização e mais tratamento e educação. Jogar o viciado na cadeia de nada adianta. Talvez piore a situação, pois quando dali sair, sem outra alternativa e em contato direto com os profissionais do tráfico, facilmente se tornará um colaborador destes.
        Como diz a questão 797 de O Livro dos Espíritos, nossas leis “mais se destinam a punir o mal depois de feito, do que cortar a raiz do mal”, acrescentando: “só a educação poderá reformar os homens, que assim não precisarão mais de leis tão rigorosas”.  Entre nós, a lei já está tomando esse caminho. Algumas iniciativas públicas e privadas também. Pena que sejam ainda muito incipientes. Há um longo caminho a percorrer.





     

   Rumo a Fortaleza
   O presidente, Rui Paulo Nazário de Oliveira, o Diretor de Comunicação Social, Milton Medran Moreira e a Diretora Social da instituição, Sílvia Pinto Moreira, na foto, compõem a delegação do CCEPA que, juntamente com Margarida Nunes (Florianópolis), associada do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, participará do V Fórum do Livre Pensar Espírita, em Fortaleza, de 24 a 26 de junho. Antes do evento, na noite de 23, Milton Medran fará palestra no Grupo Espírita Auxiliadores dos Pobres, sede da União das Sociedades Espíritas do Estado do Ceará, a convite dos organizadores do Fórum.


       Moacir fala no CCEPA em julho
     O Professor Moacir Costa de Araújo Lima é o conferencista convidado pelo Centro Cultural Espírita de Porto Alegre para a atividade da primeira segunda-feira de julho, dia 4. O físico e escritor gaúcho falará sobre o tema “Espiritismo, um caminho para a felicidade”.
       Sempre na primeira segunda-feira do mês, o CCEPA oferece uma conferência pública, às 20h30, com entrada franca.





  




Analisando crítica à Carta da CEPABrasil
Vital Cruvinel - Engenheiro de Computação, membro da Associação Caminhos para o Espiritismo, São Carlos / SP, moderador da lista de debates da CEPA.

          Em meu blog - http://divagando-hipotese-espirita.blogspot.com/ - publiquei a Carta de Posicionamentos da CEPABrasil por considerá-la muito adequada à forma como entendo e vivo o espiritismo. Mas, claro, outras pessoas podem considerar justamente o contrário, especialmente por não concordar com o aspecto laico do espiritismo.
        Entre estas pessoas está o escritor e palestrante espírita Sergio Aleixo do Rio de Janeiro
em seu blog - http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com - ele faz uma crítica contundente à carta. Por outro lado, a crítica contém alguns pontos obscuros, como vou procurar esclarecer.
        Sergio inicia suas críticas pelo uso na carta da palavra 'início' em associação à fase inicial laica representada por uma resolução do Congresso Espírita Internacional de 1888. Ele "corrige" o texto da carta informando que o 'início' do espiritismo data de 1857. Mas, a sua interpretação do texto é que está equivocada. Uma leitura desapaixonada mostrará que o autor da carta desejou demonstrar que a proposta laica tem suas origens numa fase inicial do Espiritismo quando o movimento espírita brasileiro ainda era inexpressivo. Ou seja, não desejou que a interpretação fosse a do "ponto inicial" do Espiritismo.
       De qualquer forma, o autor se equivoca ainda ao contrapor uma proposta laica com a ideia de um laço fraterno baseada no ensino moral de Jesus. Aliás, Jesus não é exclusividade das religiões. Qualquer ciência ou filosofia pode valorizar a ética de Jesus, pode apresentá-lo como um modelo sem, com isso, ser considerada religiosa.
Mais a frente, o autor tenta novamente encontrar alguma inconsistência no discurso cepeano quanto ao questionamento de conceitos espíritas. Vejam o que está escrito na carta:

         5.3 - A CEPA não questiona os princípios fundamentais do espiritismo – existência de Deus, imortalidade da alma, comunicabilidade entre encarnados e desencarnados, reencarnação, pluralidade dos mundos habitados e evolução infinita. Todavia, poderão ser questionados conceitos e interpretações a eles referentes expressos na literatura espírita por autores encarnados ou desencarnados ou que se tornaram correntes entre os espíritas;
Agora vejam o que Sergio escreveu:

     Asseguram que “a CEPA não questiona os princípios fundamentais do Espiritismo”, embora propalem que “poderão ser questionados conceitos e interpretações a eles referentes, expressos na literatura espírita” [5.10].

      Provavelmente Sergio deixou que suas ideias preconcebidas falassem mais alto. Em outras palavras, os conceitos fundamentais do espiritismo não são questionados pela CEPA, mas são questionadas as interpretações que qualquer um de nós faz destes conceitos fundamentais. Por exemplo, é evidente que o espírita não questiona a existência da reencarnação, mas tem o direito de questionar uma possível reencarnação no mundo espiritual.
    Ao contrário do que Sergio diz, a busca de atualização do espiritismo não significa considerar Kardec como uma corrente atrasada. Kardec nunca deixará de ser o fundador do espiritismo e ele próprio desejava que o espiritismo continuasse em constante processo de atualização.
      O crítico Sergio tenta subliminarmente imputar à CEPA o desejo de ser avalista de uma atualização ou revisão do Espiritismo. Mas, na carta está explícito que não é esse o seu desejo, conforme se observa, por exemplo, no seguinte ponto: 

      5.10 – A CEPA não alimenta o propósito de efetuar, com exclusividade, a revisão pontual da Doutrina Espírita. Pretende, sim, estimular um processo de reflexão entre os espíritas com vistas a assegurar o futuro e a permanência do espiritismo;

       Também não deveria causar espanto ao Sergio a ideia de que o consenso deve acontecer entre os encarnados e desencarnados. Ora, os encarnados são espíritos tanto quanto os desencarnados. Não foi assim que Kardec nos ensinou?!

       E causa muito espanto a mim que Sergio seja contra a ideia de respeitar as diferenças nas interpretações feitas pelos agrupamentos espíritas. Por acaso deveria ser diferente? Respeito não significa concordância, mas dar ao outro o direito de ter a sua própria interpretação.
Para o espírita que tem uma postura religiosa é compreensível que fique chocado ante a questionamentos do trabalho empreendido por Kardec. Mas Kardec não pediu para ser venerado e nem considerá-lo infalível. Os cepeanos, entre os quais me incluo, têm o direito de questionar a tentativa demasiada de conciliar os conceitos espíritas com a teologia católica.

      Talvez na época de Kardec fosse mesmo necessário reinterpretar os textos bíblicos e evangélicos para que os católicos tivessem a oportunidade de refletir sobre os "novos" conceitos espíritas. Mas, hoje em dia, essa reinterpretação pode estar fazendo mais mal do que bem. Quantos não são os espíritas que ainda acham que Jesus veio nos salvar de nossos pecados?

    Por outro lado, não significa que esses questionamentos impeçam os cepeanos de valorizarem toda a obra kardeciana, incluindo aí O Evangelho Segundo o Espiritismo. Aliás, tal valorização fica clara no tópico 8 da carta. É uma pena que Sergio e outros críticos da CEPA continuem procurando "pegadinhas" para dizer que a CEPA não aceita o Evangelho.
    Como já havia dito anteriormente os cepeanos respeitam a grande maioria dos espíritas que acha adequado nos dias de hoje associar a palavra espiritismo à palavra cristianismo. Mas também os cepeanos desejam o mesmo respeito ao acharem que essa associação é inadequada; e que existem bons argumentos para considerá-la assim.
       A crítica de Sergio sobre a maneira de os cepeanos entenderem a palavra 'cristianismo' revela que muitos espíritas ainda pensam ser necessário tomar para si o Jesus das igrejas cristãs, isto é, de dizer para os não-espíritas que todos eles estão equivocados (não são cristãos). Já passou da hora de todos nós espíritas atentarmos para o ensino moral de Jesus como o próprio Kardec salientou na introdução do seu Evangelho.
     É lamentável que os críticos da CEPA, como o Sergio, não compreendam a postura equilibrada dos cepeanos em não colocar, a priori, o espiritismo num lugar superior a outras fontes de conhecimento. De outra forma, nós estaríamos sendo presunçosos e sectários.
      De toda sorte, temos que respeitar a opinião de todos, inclusive a opinião do Sergio de que a proposta cepeana nos "levará a desnaturação e morte do Espiritismo". Mas, é de se perguntar: acaso essa postura sectária nos há de levar a lugar diferente disso? 



    

      
      O flagelo das drogas 
     e a descriminalização
        Minha discordância com o que Eugenio Lara escreveu sobre a descriminalização do uso de drogas (Enfoque/maio), especificamente em um ponto: chamar a cannabis sativa de “droga leve“, comparando-a com “um copo de vinho, ou um bom cigarro...“. Impressiona-me o fato de que um jornal que se preza como um defensor do aspecto científico do Espiritismo endosse tal comentário, sem fazer uma pesquisa bibliográfica mínima sobre um tema científico e social tão pungente. Um tema eminentemente médico, que deveria ser tratado por profissionais da área, especialmente daqueles que trabalham com a psiquiatria e o abuso de drogas. Fora de uma abordagem séria, um texto de tal tipo, escrito em termos “filosóficos“ e genéricos, serve apenas para desorientar, apesar do aparente espírito libertário. Recomendaria aos editores, bem como ao autor do escrito, que consultassem bibliografia da área psiquiátrica. Um estudo importante que demonstra o aumento do risco de esquizofrenia pelo uso da cannabis está sendo publicado, podendo a referência ser conferida antecipadamente no pubmed entrez: Cannabis use in young people: The risk for schizophrenia, de Casadio, Fernandes C, Murrayb RM, et al. a ser publicado no Neuroscience and Behavioral Reviews. Parece-me arriscado a um jornal espiritualista apostar numa atitude condescendente e relativista num tema tão grave, envolvendo a saúde mental das pessoas, especialmente dos jovens.
         Dr. Jorge Luiz dos Santos, M.D. e Ph.D – Porto Alegre.

     Nota do editor: Os artigos publicados na secção “Enfoque” deste jornal não refletem, necessariamente, a opinião do periódico ou da instituição que o edita, mas são de exclusiva responsabilidade de quem os assina. A propósito, no editorial da edição de maio, “Opinião e Consciência”, deixamos consignado: “Aqui, trabalhamos com opinião, não exatamente com orientação. E com isso todos nos enriquecemos formando nossas opiniões pessoais, de maneira livre, consciente e responsável.