quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

OPINIÃO - ANO XXI - Nº 236 - DEZEMBRO 2015


Antevisto por segmentos místicos e espiritualistas de diversos matizes como um tempo de transformações, o Terceiro Milênio da Era Cristã fecha seus primeiros quinze anos com impressionante sucessão de atos de terrorismo provocados pelo fundamentalismo e pelo fanatismo religioso muçulmano. Esses grupos despontam como os grandes inimigos da civilização, nestas primeiras décadas do Século XXI.
Das Torres Gêmeas ao Bataclan – a escalada do terrorismo
Os três primeiros lustros do esperado Terceiro Milênio da Era Cristã fecham-se com uma sucessão de ataques terroristas que espalham medo no mundo inteiro.
Aqui, os principais deles, praticados pelos grupos jihadistas Al-Qaeda e Estado Islâmico:

Ø  Destruição das Torres Gêmeas do World Trade Center, em 11/09/2001, em Nova York, com a morte de 2.996 pessoas.
Ø  Explosão do Metrô de Madri, em 11/04.2004. Foram 10 explosões quase simultâneas em quatro trens, deixando 193 mortos e 1858 feridos.
Ø  O Massacre de Beslan, em 3/09/2004. A cidade russa foi sacudida por um massacre em escola, deixando 370 mortos, sendo 171 crianças, cerca de 200 desaparecidos e centenas de feridos.
Ø  Atentados no Metrô de Londres, em 07/07/2005. Em três vagões e em um ônibus, na capital britânica, quatro jovens muçulmanos detonaram explosivos que traziam junto a seus corpos. Além de se suicidarem provocaram mais 77 mortes, deixando mais de 700 feridos de onze nacionalidades.
Ø   Ataques de Bombaim, em 26/11/2008, 10 atentados terroristas sincronizados, na capital financeira da índia, deixando 195 pessoas mortas e 327 feridas.
Ø  Atentados em Mumbai, em 12/07/2011, várias explosões no centro financeiro indiano, deixando 10 mortos.
Ø  Explosão em Oslo, em 22/julho/2011. Uma forte explosão no distrito governamental da capital norueguesa, seguida de um tiroteio na Ilha de Utoya, deixou um saldo de 77 mortos e uma centena de feridos.
Ø  O Massacre do Charlie Hebdo, em 07/01/2015, perpetrado contra o jornal satírico parisiense, em represália por publicações de charges de Maomé, seguido de atentados a policiais, deixando 17 vítimas.
Ø  Os atentados em Paris, na noite de 13.11.2015, em bares, restaurantes e vias publicas, culminando com o ataque à casa de espetáculos “Bataclan”: sucessão de fatos que se constituem no maior atentado já ocorrido na França desde a Segunda Guerra Mundial. Saldo de mortos: pelo menos 137, até o encerramento desta edição.

A onda de terrorismo não parou por aí. Depois de Paris, um hotel em Mali, ex-colônia francesa da África, foi invadido por terroristas, deixando cerca de 20 mortos. Em meio a todos esses acontecimentos, há também casos de explosão de aviões, sequestros e mortes, estas especialmente no Estado Islâmico, onde centenas ou milhares de “infiéis’ têm sido decapitados ou queimados vivos, sob o bordão de “Alá é o maior!”.





Inimigos da civilização
Fanáticos muçulmanos que se apresentam como jihadistas têm como meta o “sagrado” dever de destruir todos os “infiéis” do Planeta. Infiéis, para eles, são os cristãos, os budistas, os xintoístas, os liberais europeus, os republicanos e democratas norte americanos, os laicos franceses, os anglicanos ingleses ou os luteranos da Alemanha. São também todos os muçulmanos, xiitas ou sunitas, que não lhes reconheçam a suprema autoridade sobre o Islã. São nossas filhas que frequentam a Universidade. São nossos filhos que dançam com suas namoradas numa boate de Porto Alegre, assistem a uma partida de futebol em Paris ou bebericam num pub de Londres. São nossas mães que rezam numa igreja ou nossas irmãs que curtem os encantos de uma praia de Mumbai. Somos, enfim, todos nós, cidadãos do mundo, usufrutuários das conquistas de uma civilização que, a duras penas, aprendeu a pensar e a agir livremente. Que descobriu no pluralismo das crenças ou descrenças, das convicções ou das dúvidas, que nos assiste a todos o direito à felicidade e o dever do respeito às ideias e escolhas dos outros, dentro de uma ordem fundada no princípio universal de não fazer a outrem o que não desejamos a nós próprios.
As conquistas que nos querem eles solapar só as pudemos concretizar quando substituímos o sagrado pelo natural. Quando deixamos de ver o mundo como produto de uma ordem sobrenatural, de exclusiva alçada de privilegiados intérpretes da verdade eterna, promotores da guerra e da paz, juízes do bem e do mal, senhores da vida e da morte. Quando, enfim, fomos capazes de nos descobrir partes integrantes do universo, onde o espírito, seu princípio inteligente, se reconhece regido por leis naturais, e onde a liberdade, a igualdade e a fraternidade podem nos assegurar o exercício da dignidade humana.
Talvez não seja ainda neste século. Oxalá ocorra no milênio. Dia virá, entretanto, em que os usurpadores da ordem e da paz não mais habitarão a Terra. (A Redação)




Nosso Jesus
“Era nosso demais para fingir de segunda pessoa da Trindade”. Fernando Pessoa.

Pelos séculos em que a civilização ocidental foi tutelada e conduzida pela Igreja, a única fonte disponível sobre a vida de Jesus foram os evangelhos canônicos. Estes, sabe-se, resultaram de meticulosa seleção de textos presumivelmente escritos no Século I de nossa era, mas que só ganhariam forma definitiva em fins do Século IV, com o trabalho de São Jerônimo, sob rígida orientação do Papa Dâmaso. Nessa época, o cristianismo, fundado por Paulo de Tarso, adotado pelo Imperador Constantino e erigido à religião oficial do Império Romano por Teodósio, já se constituíra em poderosa organização religiosa, detendo poderes temporais e espirituais que se estenderiam pelos séculos seguintes. Um panorama que somente começaria a se alterar com o final da Idade Média.

É justamente do contexto histórico dos primeiros séculos de sua existência que emergem os principais dogmas do cristianismo, logo impostos como artigos de fé a serem cegamente obedecidos por todos os súditos dessa verdadeira teocracia, herdeira do Império Romano e que se impusera a todo o Ocidente. Nada mais eficiente para legitimar um poder assim constituído do que atribuir sua origem ao próprio Deus. Foi o recurso utilizado pelo cristianismo, “divinizando” a figura de Jesus de Nazaré, e transformando, assim, o humilde carpinteiro da Galileia, que religião alguma houvera criado, na figura de “Jesus Cristo”, seu fundador.
“Cristo” é palavra originária do grego “Christos”, que significa “ungido”. O dogma cristão por excelência, sincretizando crenças e mitos bem mais antigos, atribuiu a Jesus a condição de “filho unigênito de Deus”, por ele “ungido” para salvar a humanidade do “pecado original”. Mais do que isso: Jesus Cristo seria, ele próprio, juntamente com o Pai e com o Espírito Santo, o próprio Deus que, por um mistério inacessível à compreensão humana, seria único, embora formando uma trindade de “pessoas”.
Somente a Modernidade iria abrir caminho para uma visão racional e não mitológica de Jesus. Em tempos mais próximos de nós, no Século XIX, Ernest Renan, na França, questionaria a interpretação eclesiástica do Nazareno, em “A Vida de Jesus” (1863), onde busca resgatar sua condição humana, negando-lhe a divindade. Um ano após (1864), Allan Kardec publicaria “O Evangelho Segundo o Espiritismo” em cuja Introdução reconhece que os atos materiais da vida de Jesus, os milagres a ele atribuídos, as profecias e os dogmas das igrejas cristãs, formavam uma verdadeira nebulosa mítica e que, por isso, ao espiritismo os Evangelhos só interessariam naquilo que atestava sua inequívoca autenticidade: o ensino moral de Jesus. Kardec, claramente, distinguia, com essa opção, Jesus Cristo, mítico, do Jesus de Nazaré, homem, apontado em “O Livro dos Espíritos” como “modelo e guia” da humanidade.
Ao curso do Século XX, com a descoberta de originais de outros Evangelhos e com valiosas pesquisas históricas, foi emergindo, com contornos mais reais, a figura humana de Jesus, destituída daqueles mitos que lhe foram agregados na construção do Jesus Cristo das igrejas.
Entre nós, J. Herculano Pires, na Introdução do livro “Revisão do Cristianismo”, aponta para a existência de um verdadeiro “abismo”, separando “Jesus de Nazaré, filho de José e Maria, nascido em Nazaré, na Galileia, e Jesus Cristo, nascido da Constelação da Virgem, na Cidade do Rei Davi em Belém da Judeia, segundo o mito hebraico do Messias”. Para ele, “a Civilização Cristã, nascida em sangue e em sangue alimentada, não possui o Espírito de Jesus, mas o corpo mitológico do Cristo, morto e exangue”.
Mesmo assim, por um atavismo só explicável pelos longos séculos de dominação teológica, ou por não nos havermos preocupado ainda com a assunção de uma genuína identidade espírita, continuamos nos afirmando “cristãos” e nos referindo, sistematicamente, a “Jesus Cristo” ou ao “Cristo”, quando não ao “Cristo de Deus”.
É, pois, tempo de nos questionarmos: qual é, efetivamente, o nosso Jesus? Será ainda o Jesus Cristo, mitificado pela religião, ou, simplesmente, o admirável Jesus de Nazaré, apontado pelos interlocutores de Allan Kardec como “modelo e guia” da humanidade?







Religião faz bem ou faz mal?
Até um determinado ponto de nossa caminhada, as religiões fizeram bem. Enquanto permanecíamos sob o domínio do mito e da magia, e o embate do bem e do mal se dava entre supostas potências angelicais e diabólicas, nos convinha ser bons. Pelo menos, aparentemente bons, para ganhar a proteção dos deuses, que, em troca, nos exigiam lhes tributássemos glórias e louvores. A eles e a seus mandatários.
Mas, o bem e o mal não são galardões disputados em batalhas cruentas travadas em planos siderais. Virtudes e vícios, bondade e maldade, moram na alma da gente. Nascem de nossa capacidade de fazer escolhas. Escolhas movidas por nosso maior ou menor discernimento acerca das leis soberanas que regem o universo e a vida. Delas, e só delas, resultarão estágios mais ou menos felizes.

Religião, egoísmo e generosidade.
Agora, estudos sugerem que pessoas não religiosas são, em geral, mais generosas que as adeptas das religiões. Na Universidade de Chicago, o neurocientista Jean Decety coordenou  pesquisa entre mais de mil crianças de 5 a 12 anos, de diferentes culturas e religiões, nos Estados Unidos, África do Sul, Canadá, China, Jordânia e Turquia. Distribuiu a cada uma delas 30 bonitos adesivos, orientando-as a compartilharem as figurinhas com outras crianças. Os filhos de pais sem religião foram os mais generosos, enquanto a atitude predominante entre as crianças praticantes de religiões era a de não repartirem, guardando o maior número de adesivos para si próprias.
Estudiosos atribuem esse comportamento ao que chamam de “licença moral”: o indivíduo que pratica obrigações religiosas, como as de ir regularmente à igreja ou à mesquita ou rezar todas as noites, se permite atitudes egoístas, julgando-se especialmente protegido de Deus. Faz isso dentro de um padrão totalmente inconsciente.

A institucionalização dos valores do espírito
Estudos desse tipo permitirão concluir no sentido da superioridade da concepção materialista da vida sobre o espiritualismo? Penso que não. Religião e espiritualidade são coisas diferentes. Há no ser humano uma forte intuição à transcendência e ao cultivo dos chamados valores do espírito. A religião pode ter sido, historicamente, o fio condutor da espiritualidade. Mas foram o conhecimento e a convivência humana que a aprimoraram. Desenvolveram no indivíduo e na sociedade o patrimônio espiritual ínsito na intimidade de sua consciência e expresso em atitudes de solidariedade, generosidade, compaixão e fraternidade. A institucionalização desses valores na sociedade moderna deu-se, o mais das vezes, não por força da religião, mas contra ela, e, frequentemente, obstaculizada por esta. A isso chamamos civilização.

Laicismo e espiritualismo x fanatismo religioso
O estudo da Universidade de Chicago conclui também que o egoísmo detectado naquelas crianças cristãs e muçulmanas cresce na medida em que as pessoas ficam mais velhas.
O fanatismo religioso é o egoísmo em sua mais elevada potência. O terrorismo, em seu nome praticado, só pode ser debelado por uma cultura autenticamente laica, mas calcadas nos valores perenes do espírito. Só uma concepção filosófica espiritualista pode sustentar a plena igualdade de todos os homens e mulheres, independente do berço em que hajam nascido e da cultura em que estejam inseridos. Somente o laicismo pode viabilizar a plena vigência desses valores, em dimensões globais.





Os Critérios para
Atualização do Espiritismo
Herivelto Carvalho, servidor público; Delegado da CEPA em Ibatiba ES; Membro do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita. E-mail: heriveltocarvalho@gmail.com/.

Quando se fala em atualização do Espiritismo, uma polêmica logo se estabelece, pois uma parcela significativa dos espíritas considera esse processo perigoso. Geralmente o temem sob a alegação de que atualizar o Espiritismo seria admitir que o mesmo se encontra defasado, enfraquecido, ou que, ao se admitir modificações em determinados princípios, estaríamos transformando a Doutrina Espírita em outra filosofia espiritualista.
Este temor fez com que o caráter progressivo do Espiritismo fosse, ao longo da história, negligenciado pelos espíritas, principalmente entre os adeptos brasileiros. Tal postura se consolidou apesar de Allan Kardec, durante a formulação de sua obra, ter declarado que esta natureza transitiva constituía um dos aspectos essenciais para a garantia da permanência e continuidade do sistema doutrinário, evitando que o mesmo caia no obscurantismo e perca sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento da sociedade.
No texto Constituição do Espiritismo, presente em Obras Póstumas, estão patentes os seguintes objetivos da atualização doutrinária:

- Promover a coesão dos princípios que compõem o programa doutrinário: “O princípio progressivo, que ela inscreve no seu código, será a salvaguarda da sua perenidade e a sua unidade se manterá, exatamente porque ela não assenta no princípio da imobilidade”;
 2° - Acompanhar o progresso: “Se não se quiser que com o tempo ela caia em desuso, ou que venha a ser postergada pelas ideias progressistas, será necessário caminhe com essas ideias”;
 3° - Garantir a sobrevivência da Doutrina: “acompanhar ou não o movimento propulsivo é uma questão de vida ou de morte”.

Mas como evitar que um processo de atualização, ao invés de promover o caráter progressivo, acabe ocasionando uma degeneração dos princípios e da natureza do Espiritismo? A resposta se encontra na aplicação de critérios de resistência que garantam a correta atualização doutrinária.

O primeiro critério estabelece que o processo de revisão ou acréscimo de novas teorias ou princípios deverá ser coerente com os fundamentos doutrinários, alicerces que não podem ser alterados, sob pena de total descaracterização. Sobre os fundamentos doutrinários é possível ampliar o seu entendimento, mas jamais modificá-los, cabendo a revisão aos princípios secundários.

O segundo critério estabelece que novos elementos, candidatos a integrar o corpo doutrinário, devem ser coerentes com o conhecimento constituído, mantendo cautela na análise de novas teorias, evitando a associação com conceitos pseudocientíficos, objetos de controvérsia, ou seja, não serem, no dizer de Kardec, “princípios que possam ser considerados quiméricos e que seriam rejeitados pelos homens positivos” (Obras Póstumas, II Dos Cismas, cap. XXXVII). Esta cautela racional e sistemática deverá ser amparada principalmente na força dos fatos positivos: “Toda teoria em contradição manifesta com o bom senso, com uma lógica rigorosa, com os dados positivos que possuímos, por mais respeitável que seja o nome que o assine, deve ser rejeitada.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – Introdução).

Um terceiro critério seria específico para analisar novidades oriundas do exterior doutrinário, que para serem assimiladas pelo Espiritismo, não poderiam mais ser consideradas utopias, mas sim, ter chegado ao status de teoria consolidada, conforme é destacado em A Gênese: “O Espiritismo, pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação. [...] assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que ele se suicidaria”.
Este mesmo critério foi ressaltado por Herculano Pires: “Todos os princípios da doutrina estão sujeitos à crítica e à reformulação, desde que uma prova científica, prova comprovada, seja reconhecida como tal pelo consenso universal dos sábios.” (A Evolução Espiritual do Homem).

Observamos que Kardec e Herculano Pires são enfáticos ao defender que o Espiritismo somente assimilará novas teorias que tenham atingido a condição de demonstradas ou comprovadas. É importante lembrar que na Ciência, estes dois adjetivos não possuem um sentido absoluto, pois nunca existirá uma teoria científica definitivamente concluída, uma vez que uma das características capitais do conhecimento científico é a natureza contingente de suas hipóteses, ou seja, elas passam constantemente pelo processo de corroboração ou refutação. Neste aspecto, há similaridades metodológicas nos procedimentos de análise de alternativas teóricas entre o Espiritismo e a Ciência.

Estes pontos similares partem do princípio de elaboração e obtenção de dados através do aspecto experimental da Doutrina Espírita, sendo que os mesmos fornecem uma base empírica para seu desenvolvimento principiológico, conforme Kardec esclarece em A Gênese: “Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental”.

Portanto, o Espiritismo, tal como a Ciência, ao aplicar o “método experimental” pode se deparar com anomalias e sofrer uma crise paradigmática, que somente será solucionada por uma revisão que tornará possível a integração de novas teorias mais adaptadas e aperfeiçoadas. Essa capacidade doutrinária foi salientada por Kardec, ao declarar que: “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará” (A Gênese, cap. I, item 55). Outro importante pensador espírita que a evidenciou foi Gabriel Delanne: “Se lhes demonstrarem amanhã que estão em erro, abandonarão imediatamente sua maneira atual de ver, para se colocarem ao lado da verdade, porque o seu método é, antes de tudo, o racionalismo.” (O Espiritismo perante a Ciência).

Esta característica epistemológica do Espiritismo já era percebida por Deolindo Amorim, em seu artigo Atualização de Cultura, publicado em 1965, onde afirmava: “O Espiritismo é uma doutrina de natureza transitiva, porque procura comunicação com o mundo exterior a fim de interpretar os fenômenos da vida e da cultura em todos os seus aspectos”.

Ao declarar que é um processo natural no Espiritismo, sua atualização, a tradição livre-pensadora, representada na época presente pela CEPA, está dando prosseguimento ao projeto aberto e progressista de Allan Kardec. Cabe, portanto, aos espíritas inseridos nesse movimento, a responsabilidade de compreender os mecanismos desse processo, tornando-o eficiente no aperfeiçoamento do conhecimento espírita.






Gustavo Leopoldo e os muitos caminhos
Em visita a Porto Alegre, onde participava de um congresso médico, Gustavo Leopoldo Rodrigues Daré, Delegado da CEPA na cidade de Ribeirão Preto/SP, participou de uma reunião de estudos e da oficina de dirigentes e trabalhadores do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, na tarde de 13 de novembro.
Aos colaboradores do CCEPA, Gustavo Leopoldo fez um relato da história e das atividades da Associação Caminhos para o Espiritismo, por ele presidida, entidade sediada em Ribeirão Preto, com associados e colaboradores também em Matão e São Carlos/SP, fundada em 2007. Promovendo fóruns e colóquios espíritas, na região, a Associação, como registra seu blog na internet - http://www.caminhosparaoespiritismo.org.br/blog/
- busca aproximar “os diferentes caminhos do espiritismo”, através do diálogo, do debate franco de ideias, em clima de fraternidade e de construção conjunta de ideias. Na foto, o visitante, juntamente com os dirigentes do CCEPA, Milton Medran, Salomão Benchaya e Maurice Jones.

Néventon no CCEPA
Aproveitando visita a familiares no Rio Grande do Sul, Néventon Vargas (João Pessoa/PB), vice-presidente da Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA, - CEPABrasil,  visitou o CCEPA no último dia 27/11, tendo participado de uma reunião de estudos e da oficina de dirigentes e trabalhadores da Casa. Ali, deu notícias das atividades desenvolvidas pela ASSEPE – Associação de Estudos e Pesquisas Espíritas de João Pessoa, entidade filiada à CEPA, na capital paraibana. A foto registra a presença de Néventon, na reunião do CCEPA, entre Maurice Jones e Dirce Carvalho Leite.

Benchaya na nova sede da FERGS
Para a inauguração da sua nova sede, dia 28/11, a Federação Espírita do Rio Grande do Sul enviou convite a Maurice Herbert Jones e Salomão Jacob Benchaya, membros do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre e ex-presidentes daquela federativa. Benchaya ali esteve prestigiando o evento e transmitindo as congratulações de Jones que não pode comparecer.
A nova sede da FERGS está situada na Travessa Azevedo, 88, bairro Floresta, Porto Alegre.






A CEPA e a Espiritualidade
Permitam-me registrar que gostei muito do artigo de Eugenio Lara “A CEPA e a Espiritualidade” (Enfoque, CCEPA Opinião de outubro/2015). Como muito bem salientou o articulista, “o Espiritismo se desenvolveu no seio do espiritualismo e é nele que sua contribuição filosófica se insere”. Por isso, o esforço da Confederação Espírita Pan-Americana em buscar, no seu XII Congresso Espírita Pan-Americano (Rosario/Argentina de 25 a 29 de maio de 2016), o diálogo com outras áreas do pensamento espiritualista, sem perder suas bases kardecistas.

Dante López – Presidente da CEPA – Rafaela/AR.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

OPINIÃO - ANO XXI - Nº 235 - NOVEMBRO 2015

O Brasil contra a Corrupção
Os recentes episódios que levaram políticos brasileiros aos tribunais e à prisão, juntamente com grandes empresários, no chamado “Mensalão”, seguidos, agora, da “Operação Lava Jato”, em suas sucessivas fases, despertaram na consciência popular a mais forte reação à corrupção em nosso país.  O fenômeno da corrupção, no entanto, está presente em toda a história do Brasil, desde seus primórdios.

A Cultura da corrupção
Com o título de “Breve História da Corrupção no Brasil”, no site Movimento contra a Corrupção - www.contracorrupcao.org, a Professora Rita Biason, da UNESP, Franca/SP, reporta-se a registros do Século XVI, época da colonização portuguesa, referentes ao comércio ilegal de produtos brasileiros, desviados da Coroa, por funcionários inescrupulosos. Registra também aquela cientista política graves violações às leis de tráfico de escravos, cometidas por poderosos senhores da época colonial. Proclamada a independência e instaurada a República, sucederam-se infindáveis casos de corrupção no setor de obras públicas de parte de ministros mancomunados com empresários brasileiros e europeus. Por sua vez, episódios de corrupção eleitoral desdobraram-se em capítulos degradantes, em toda a história da Repúbica, tendo por protagonistas governadores e “coronéis” que “impunham coercitivamente o voto desejado a seus empregados”, Era também corrente a prática de fraudes nas apurações. A pesquisadora faz também referência à corrupção no tempo dos governos militares. Traz, especialmente, o episódio da “Capemi”, uma entidade de assistência e previdência privada, dirigida por militares, que teria fraudado a confiança de seus associados, com o desvio de recursos, favorecendo interesses políticos de militares, e terminando por quebrar. Ela aponta o episódio como, “uma amostra do que ocultamente ocorria nas empresas estatais”, durante a ditadura militar.
Na história recente, após a democratização, ficaram mais marcados os episódios de corrupção da era Collor, cuja campanha, segundo Rita, teve seus gastos “financiados pelos usineiros de Alagoas em troca de decretos governamentais que os beneficiaram”. O Esquema PC, sigla que carrega o nome de Paulo César Farias, e do qual resultaria o impeachment do presidente Fernando Collor, segundo cálculos da Polícia Federal, envolveu fraudes no montante de 600 milhões a 1 bilhão de dólares.
De tudo isso, resulta que, o recente “Mensalão” e o atual “Lava Jato”, envolvendo desvios milionários, ainda não inteiramente contabilizados, cuja autoria é atribuída a políticos de diferentes partidos e empresários ligados às maiores empreiteiras de obras públicas, seriam apenas a continuação, hoje mais visível, de uma chaga que envergonha toda a história do Brasil.
Retornando ao artigo da Professora Rita Biason, diz ela, em sua conclusão: “A tolerância a pequenas violações que vão desde a taxa de urgência paga a funcionários públicos para conseguir agilidade na tramitação dos processos dentro de órgão público, até aquele motorista que paga a um funcionário de uma companhia de trânsito para não ser multado, não podem e não devem mais ser toleradas. Precisamos decidir se desejamos um país que compartilhe de uma regra comum a todos os cidadãos ou se essa se aplicará apenas a alguns. Nosso dilema em relação ao que desejamos no controle da corrupção é esquizofrênico e espero que não demoremos muito no divã do analista para decidirmos”.

O Estado moderno e a corrupção
O moderno Estado Democrático de Direito, absorvendo conceitos presentes na clássica cultura greco-romana, revestiu os bens públicos e os direitos fundamentais do cidadão de atributos de sacralidade, o que faz da corrupção um grave atentado aos valores mais fundamentais do homem, hoje vistos pelo Direito como sagrados. Com efeito, a “res publica” (coisa pública) do Direito Romano, também era considerada “res sacra” (coisa sagrada). A história da modernidade reconhece na Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776), redigida por Thomas Jefferson e apoiada pelos chamados “Pais Fundadores”, o marco que expressa uma efetiva sacralização da democracia e dos valores indisponíveis, herdados da cultura greco-romana. A célebre declaração americana, inspirada em conceitos bíblicos, invocava, em seu preâmbulo, as “leis da natureza e as do Deus na natureza”, e proclamava: “Todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre estes a vida, a liberdade e a procura da felicidade”, e complementava: “A fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados”.
Nessa mesma trilha andaria, décadas após, Allan Kardec, ao definir valores como liberdade, igualdade, sociedade, progresso e justiça, como leis naturais ou divinas, assim arroladas na 3ª Parte de O Livro dos Espíritos (1857). Ao discorrer sobre a influência da lei do progresso na civilização humana, Kardec identificou o egoísmo, a cobiça e o orgulho como os mais sérios entraves ao progresso dos povos (comentários à questão 793, L.E.). Dessa forma, elegia a honestidade e os atributos morais de governantes e governados como indispensáveis à verdadeira civilização. Uma civilização completa seria reconhecida “pelo desenvolvimento moral”, conforme resposta dos espíritos à questão 793.
Na visão espírita, pois, as causas da corrupção estão ligadas, fundamentalmente, ao atraso moral dos povos onde ela viceja. Essa deficiência, segundo a questão 796 de O Livro dos Espíritos, mais do que “por leis severas que se destinam a punir o mal depois de feito, ao invés de cortar a raiz do mal”, deve ser superada pela educação, pois só esta “poderá reformar os homens que assim não precisarão mais de leis tão rigorosas”.

           




Punição e Educação
Ao se reportar à educação como o único instrumento capaz de aprimorar a civilização, O Livro dos Espíritos nem por isso desconhece a necessidade da severidade de leis destinadas a punir o mal: “Uma sociedade depravada certamente precisa de leis mais severas”, afirma a mesma questão que apregoa o caminho libertador da educação.
É que, da mesma forma que a impunidade estimula a perpetuidade das violações às normas nas quais se funda a sociedade politicamente organizada – Estado -, a punição tem também como um de seus escopos educar para o bem, levando o delinquente a refletir sobre os prejuízos causados e à necessidade da reparação.
Educação, para o pedagogo Allan Kardec, consiste na formação de bons hábitos. Destes, como assevera em comentário à questão 685-a de O Livro dos Espíritos, nascem “a ordem e a previdência”. Trata-se, assim, de um processo que se vai aprimorando ao curso da história dos povos.
Quando se refere ao egoísmo, à cobiça e ao orgulho como os grandes obstáculos à civilização, Kardec aponta para imperfeições que marcam etapas primárias do processo evolutivo humano. Superá-las implicará também na necessidade de duras imposições, capazes de dissuadir seus agentes da prática de comportamentos antissociais, especialmente quando o caldo cultural em que eles estão mergulhados haja banalizado aquelas condutas.
Importa salientar que vivemos tempos de profundas transformações. Se é verdade que a corrupção sempre existiu, verdade também é que chegou o momento de combatê-la com todos os meios disponíveis. Até porque a sociedade amadureceu a consciência de que não mais pode conviver com ela. Essa conscientização e a consequente mobilização popular, aliadas à presença de diplomas legais e instituições republicanas destinadas a seu combate, são também atestados eloquentes de progresso civilizatório. (A Redação).




Pensamento e Crenças
Assim, pela comunhão de pensamentos, os homens se assistem entre si e, ao mesmo tempo, assistem os Espíritos e são por eles assistidos.”Allan Kardec

Os participantes do XIV Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita (Santos/SP, 30/10 a 1º/11), testemunharam momentos de enternecida emoção, no ato inaugural do evento. Foi quando se projetou na tela gravação, recentemente resgatada, da abertura da primeira edição do Simpósio, no ano de 1989. Nela, Jaci Regis dizia dos objetivos da iniciativa e projetava seu desdobramento como um espaço para a livre manifestação do pensamento, inteiramente aberto a todos que, indistintamente, se dispusessem a contribuir com o processo de renovação e arejamento de ideias, dentro do movimento espírita brasileiro.

O momento era de culminância de uma das mais significativas fases da história do espiritismo no Brasil, e que se iniciara com a retomada do velho debate de se o espiritismo seria ou não uma religião. A controvérsia, ciclicamente renovada, mas jamais concluída, propiciava, entretanto, naqueles anos 80 do século passado, a retomada de alguns temas propostos por Allan Kardec, mas paulatinamente ignorados pelos espíritas, em face do extremado religiosismo assumido por seu movimento.
Recepcionado e difundido no Brasil exclusivamente como uma crença, o espiritismo havia perdido, quase que inteiramente, uma de suas características fundamentais, ou seja, a de se assumir como um movimento de ideias, genuinamente humano e humanista. Humano, porque, diferentemente das religiões, sua elaboração é tarefa da humanidade, em sua caminhada progressiva no rumo do conhecimento e do amor. Humanista, porque, no centro de todas suas cogitações, está o homem em sua integralidade, como ser biológico, espiritual e social, viajante do tempo e do espaço.

Comportando-se exclusivamente como uma crença, o espiritismo, no Brasil, por longo tempo, conferiu importância e credibilidade somente àquilo que proviesse de espíritos desencarnados, “mensageiros dos céus”, e que houvesse sido intermediado por um restrito círculo de médiuns, tidos e havidos como interlocutores dos chamados “espíritos superiores”. A partir desse critério, e sob o argumento da necessidade da unificação em torno da “verdade revelada”, eventos espíritas não eram mais do que repetições de mensagens de conteúdo místico-evangélico, que pregavam a chamada “reforma íntima”, mas que desestimulavam a aquisição de novos conhecimentos pelo exercício do livre-pensamento e do debate franco de ideias.

Eventos como aquele inaugurado por Jaci Regis, em 1989 e que continuam se repetindo, de dois em dois anos, numa iniciativa do Instituto Cultural Kardecista de Santos, levaram à abertura de um novo capítulo para a história do espiritismo no Brasil. Abriram espaço para que os próprios espíritas submetessem algumas de suas crenças mais arraigadas a critérios de racionalidade e de bom senso recomendados por Kardec, na busca da harmonização da fé com a razão, o que leva, inevitavelmente, à priorização da dúvida cautelosa em substituição a certezas definitivas
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Foi esse cenário que possibilitou, poucos anos depois, a presença mais concreta da CEPA no Brasil. Já no ano 2.000, a Confederação Espírita Pan-Americana realizava um Congresso em terras brasileiras, o que não ocorria desde 1949. Ali se elegeria um brasileiro para presidir esse organismo espírita internacional, o que, graças ao concurso de uma equipe de homens e mulheres livre-pensadores, inspirados nos princípios kardecianos, propiciaria o incremento da difusão, neste país, de um espiritismo de feições laicas e progressistas.

Resgatava-se, assim, a efetiva priorização do pensamento sobre a crença, como propusera Kardec: “O livre-pensamento” – escreveu ele na Revista Espírita de fevereiro de 1867 - “eleva a dignidade do homem, dele fazendo um ser ativo, inteligente, em vez de uma máquina de crer”.  Com efeito, crenças foram e são valores importantes na formação de todas as culturas humanas. Mas só se habilitam a oferecer efetivos contributos ao conhecimento quando aliadas à razão, ao pensamento, à experiência, ao estudo, ao efetivo e respeitoso intercâmbio com as múltiplas áreas do saber humano.

Ademais, o espiritismo, partindo da premissa fundamental da imortalidade do espírito e de sua comunicabilidade, abriu à humanidade um grandioso cenário de intercâmbio sério e produtivo entre encarnados e desencarnados. Essa intercomunicação é fonte permanente de conhecimento, graças, especialmente, à ação do pensamento e à sua expressão livre, unindo e integrando a humanidade encarnada e desencarnada.

O chamado segmento laico e livre-pensador está, pois, fazendo sua parte. Eventos como o Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita e os Congressos Espíritas Pan-Americanos, cuja 22ª edição acontecerá na cidade de Rosário, Argentina, em maio de 2016, comprovam isso na teoria e na prática.


  




O pregador
A caminhada por meu bairro, naquele 12 de outubro, me fez deparar com uma pequena multidão, em frente à igreja. Dei-me conta de que a padroeira do Brasil era celebrada naquele dia. Por isso, o serviço de som permitia que o sermão também fosse ouvido na praça em frente, onde fiéis se misturavam com vendedores de velas, flores e fitinhas que seriam benzidas, depois. Pude escutar o padre recomendando que quem precisasse de uma graça:
Se você não sabe como se dirigir a Deus, peça à Sua mãe. Ela é intermediária de todas as graças. E qual o filho, por mais poderoso, que não se enternece diante de um pedido materno?
Estava lançado o tema de minha reflexão. Sempre que ando pelas margens do Guaíba, que banha meu bairro, me assaltam temas para refletir. Diferente de quem se isola e se imobiliza para meditar, é no movimento da caminhada que encontro o clima da meditação.

O reformador
As palavras do pregador levaram-me a retroceder 498 anos. Vi o monge alemão Martinho Lutero, num certo dia de outubro de 1517, afixando nas portas de um castelo de Wittenberg suas históricas 95 teses. Uma delas tocava exatamente no tema da prédica do padre de meu bairro. Para o fradinho alemão que promoveria o maior cisma da história da Igreja do Ocidente, dando origem ao protestantismo, entre o crente e Deus não poderiam se interpor intermediários, fossem estes pessoas, anjos ou santos. Isto quer dizer: a relação do homem com a divindade, da mesma forma que não poderia se dar pela indecente venda de indulgências, motivo maior da indignação de Lutero, também dispensava a ajuda de terceiros. O reformador religioso do Século XVI pregava a relação direta homem/divindade, sustentada apenas pela fé.

O fundador
O fundador do espiritismo - que a maioria dos espíritas prefere chamar de codificador, mas, que, na verdade, fundou um revolucionário movimento de ideias - trouxe um elemento novo, nessa relação homem/divindade: os espíritos. O catolicismo sempre os temeu e pouco falava neles. Quando a eles se referia, denominava-os como “almas dos mortos”, que habitavam o paraíso, o inferno ou o purgatório, sem contato, nem interferência na vida de seus entes queridos aqui ainda viventes. O protestantismo simplesmente passou a desconhecê-los como seres vivos: a morte fazia deles “não seres”, a dormirem, inconscientes, em seus sepulcros, até que as trombetas soassem, anunciando o fim dos tempos, quando, então, seria decidida sua sorte para toda a eternidade.

Legislador ou gestor?
A sobrevivência dos espíritos à morte física e a interação da chamada “humanidade desencarnada” com a “humanidade encarnada”, apregoadas pelo espiritismo, não fariam deles exatamente medianeiros entre Deus e os homens. Permitir-nos-iam, entretanto, melhor compreender a complexa escala em que se distribuem os seres inteligentes do universo e a integração destes à “Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”, que é como a filosofia espírita passou a definir Deus. Este deixou de ser aquele dispensador de graças a quem só poderíamos chegar com a ajuda de ministros, “pistolões”, lobistas ou privilegiados membros de sua família.
A grande revolução de ideias proposta pelo espiritismo também nos leva, assim, a modificar bastante nossa relação com a divindade. Deus passa ser muito mais a lei do que o gestor.
Tenho pensado muito nisso, em minhas caminhadas diárias aqui por meu bairro. Mas, creiam, sem nenhuma conclusão definitiva.





A mediunidade intuitiva e a percepção de energias
Ademar Arthur Chioro dos Reis – Médico sanitarista, Professor universitário, ex-Ministro da Saúde, integrante do Centro Espírita Allan Kardec, Santos/SP.Autor do livro “Mecanismos da Mediunidade – o Processo de Comunicação Mediúnica.

No livro Mecanismos da Mediunidade – o Processo de Comunicação Mediúnica, publicado pela Editora CPDoc, procuro destacar a diferença existente entre aquilo que denomino vibrações nominais, provenientes de outra individualidade (o Espírito comunicante), e as não nominais, fruto da combinação de vibrações de milhões de seres que formam um amplo espectro vibracional.
Essa percepção não nominada é aquilo que Kardec chama de inspiração em vários graus, a busca de um tipo de pensamento adequado a cada momento (de angústia, reflexão, saudade, etc). O ambiente energético criado em cada situação aumenta a percepção do espírito, constituindo momentos quase que mediúnicos, ou intuitivos, em que a alma extrapola os seus limites habituais.
Quem não se deparou impactado com uma estranha sensação, por exemplo, ao entrar em um bar, onde se concentram pessoas cujo nível sensório já se encontra afetado pelo excessivo consumo de álcool, perceptível em determinadas situações simplesmente ao passarmos em frente ao estabelecimento, deparando-nos com sensações que nos impactam negativamente, uma “energia” diferente da nossa?
Não é preciso ser um fanático torcedor de uma agremiação futebolística para perceber diferentes “energias” que emanam da massa, por vezes rapidamente alternadas entre tensão, dor, ódio, revolta, alegria, êxtase... Assim como não é preciso estar absolutamente envolvido emocionalmente com os seres que partem para o mundo dos espíritos para percebermos distintos “ambientes energéticos” que se formam em cada uma das câmaras mortuárias de um velório. Ou como é diferente a “energia” de um ambiente onde acaba de acontecer um grave desastre coletivo ou uma briga, mesmo que envolvendo pessoas que não tenham nenhuma ligação afetiva conosco.
Por outro lado, é inegável que as percepções advindas das situações descritas acima são muito diferentes das que nos envolvem ao entrarmos em contato com o som de uma orquestra sinfônica ou de uma melodia que nos “toca a alma”. Ou as diferentes energias que podem ser captadas em lugares distintos como um hospital (e mesmo em seus departamentos: maternidade, centro cirúrgico, enfermaria, PS, etc), em igrejas, cemitérios, monumentos históricos ou em nossos próprios ambientes de trabalho e lares.
A percepção de diferentes energias em determinados ambientes e situações são reconhecidas como mediunidade de inspiração ou mediunidade intuitiva? A mediunidade intuitiva pode acontecer a partir da captação de "vibrações não nominais"?
Como bem nos ensinou Kardec, mediunidade intuitiva ou intuição mediúnica é a ação intelectual e moral dos Espíritos sobre o médium (que ele denomina médium inspirado), que não dão sinais exteriores da mediunidade que possuem. (ver item 47 – Obras Póstumas).
Herculano Pires, ao refletir sobre o conceito genérico cunhado por Allan Kardec de que “toda gente é médium...”, seguindo o modelo proposto por W.J. Crawford, reconheceu formas variadas de manifestação das potencialidades mediúnicas, caracterizadas por ele como mediunidade “estática” e “dinâmica”.
A primeira, a mediunidade estática, concernente à mediunidade generalizada, natural, que todos possuem, praticamente imperceptível. A segunda, a mediunidade dinâmica, ativa, que, segundo Herculano, “exige desenvolvimento e aplicação..., que extravasa agitada em fenômenos de captação e projeção.” (ver “Mediunidade – Vida e Comunicação”. Edicel).
Não são as vibrações não nominais (a percepção de diferentes energias captadas em distintos ambientes) que estão envolvidas em uma comunicação mediúnica. Na mediunidade a troca de vibrações será sempre nominal porque tem como objeto da transmissão os pensamentos, as sensações e/ou emoções do Espírito comunicante, despertando não emoções genéricas, mas específicas e ostensivas.
Inegavelmente, entretanto, é forçoso reconhecer que as vibrações não nominais se constituem em modalidades genéricas de processos intuitivos (os graus distintos de intuição a que me refiro no livro e que obviamente não se restringem à intuição mediúnica), percebidos por meio de diferentes mecanismos psíquicos, somáticos e cognitivos.
Não se deve confundir, portanto, intuição e percepção energética com mediunidade intuitiva. A não ser que as consideremos, como Herculano Pires, genericamente na perspectiva da mediunidade estática.





A Presença do CCEPA no XIV SBPE
O presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Milton Medran Moreira, sua esposa, Sílvia Pinto Moreira e as associadas Margarida da Silva Nunes e Mariângela Cardia Machado (foto), compuseram a delegação do CCEPA ao XIV Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, realizado em Santos, SP, de 30 de outubro a 1º de novembro. Medran foi um dos expositores do evento, com o trabalho ”O Pai, o Filho e o Espírito – a árdua busca de um conceito espírita de Deus descolado da teologia cristã”.
Por iniciativa do departamento de eventos do CCEPA, o trabalho de Medran será por ele reapresentado no auditório do CCEPA para ser discutido com os grupos de estudo da instituição, no próximo dia 2 de dezembro, quarta-feira, às 15h. A atividade está aberta a todos os interessados.

Elas farão muita falta
Antigas colaboradoras do CCEPA, onde desempenharam importantes atividades como diretoras de departamentos, as companheiras Marta Samá e Tereza Samá estão transferindo residência para a cidade espanhola de Alicante. No último dia 7 de novembro, foi promovido um almoço de despedida, oferecido pelos associados do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre às duas irmãs. Na oportunidade, todos os companheiros da instituição manifestaram seu carinho às duas valorosas companheiras e os agradecimentos do CCEPA pelo trabalho por elas realizado por cerca de 30 anos nesta Casa. Na foto, Marta e Tereza com Maurice e Elba Jones, os mais antigos trabalhadores do CCEPA.

Instituto Espírita Terceira Revelação Divina – 84 Anos
Novembro é o mês de aniversário do Instituto Espírita Terceira Revelação Divina (Porto Alegre), que completa 84 anos. Uma série de palestras marca a efeméride. A primeira delas, com o tema “O Reino de Deus. O que é?”, foi proferida dia 4, pelo ex-presidente do IETRD, Aureci Figueiredo Martins. Dia 11/11, às 16h, o orador será Moacir Costa de Araújo Lima, com o tema “O Perdão e seus efeitos”, com lançamento e autógrafos de seu livro “Perdão e Crônicas para uma Vida Plena”. No dia do aniversário da instituição (18/11) , o presidente do CCEPA, Milton Rubens Medran Moreira proferirá palestra com o título “Direito e Justiça na Filosofia Espírita”. As palestras acontecem às quartas e sábados, sempre às 16h, e terão ainda a participação destes expositores: Leo Indrusiak, Janete de Azambuja Correa, Iraci de Oliveira e Luis Marcelo Miranda.
A programação está em: http://institutoesp.blogspot.com.br/.






Suicídio, um novo olhar
Graças à reportagem “Suicídio, um novo olhar” (CCEPA Opinião de outubro/2015), pude ter acesso à excelente análise feita pela pedagoga Dora Incontri sob o título de “Suicídio – a visão espírita revisitada”, em seu blog: http://doraincontri.com/2015/09/21/suicidio-a-visao-espirita-revisitada/
 Agradeço a vocês.
Ana Maria Vergara Felix – Fortaleza, CE.

Uma solene homenagem a Allan Kardec
Acerca da conferência na Assembleia Legislativa do Maranhão, inserida no youtube - https://www.youtube.com/watch?v=EWHmjy2VmZw&feature=share - , cabe registrar a incessante tarefa de Milton Medran Moreira, em prol do conhecimento.
Mario Molfino – Rafaela, Argentina.