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O centenário de nascimento de Francisco Cândido Xavier, em 2 de abril de 2010, motiva uma série de homenagens à memória do médium mineiro desencarnado em 2002 e leva o cinema e a televisão a uma série de abordagens de temáticas espíritas.
Chico Xavier e a religião espírita
Dentre as tantas homenagens prestadas, no meio espírita ou fora dele, no Brasil, pelo transcurso do centenário de nascimento de Chico Xavier, uma talvez sintetize com fidelidade o perfil do homenageado. O “Jornal da Manhã”, de Uberaba, cidade em que Chico viveu a maior parte de sua vida, destacou em sua edição de 4 de abril a coincidência de o centenário cair numa sexta-feira santa, motivando piedosas romarias a seu túmulo e aos locais onde viveu e trabalhou o médium. Na Paróquia São Judas Tadeu, antes de celebrar a missa de lava-pés, Padre Júnior, deixando de lado o que o jornal classificou como “diferenças filosóficas” entre as duas “religiões”, afirmou que “Chico Xavier exalava amor”, acrescentando: “Seja no Espiritismo ou no Catolicismo, todos nós somos cristãos e é isso que sempre vai nos unir”.
Personalidade central da formatação do chamado “espiritismo cristão”, Francisco Cândido Xavier (1910/2002) nasceu quando ainda vigia o Código Penal do Império (1890) que punia o espiritismo, juntamente com a cartomancia, o curandeirismo e outras práticas tidas como esdrúxulas, com pena de prisão. Guiado por espíritos de forte impregnação católica, liderados por Emmanuel, seu principal mentor, Chico psicografou mais de 400 livros de nítida orientação cristã, pondo em relevo o caráter consolador do espiritismo. Firmando-se como uma nova religião cristã e graças a uma intensa atuação no campo da benemerência, o espiritismo, com esse perfil, ganhou a simpatia do Brasil e contribuiu para a adoção do pluralismo religioso. A contribuição de Chico ao desenvolvimento do pensamento espírita, numa versão tipicamente brasileira, é reconhecida neste seu centenário, com homenagens que se traduzem em sessões legislativas especiais, congressos e eventos. No âmbito federal, destaque para o lançamento de um selo e de um cartão postal, em solenidade que teve o prestígio do Ministro das Comunicações, Hélio Costa, em 20 de março último, em Uberaba.
Chico revive no cinema e o espiritismo ganha a telinha da TV
Diversas produções nacionais valeram-se do mote do centenário de Chico para lançamentos cinematográficos. Dia 2 de abril, estreou em todo o Brasil “Chico Xavier”, uma cinebiografia do médium mineiro, sob a direção de Daniel Filho, tendo Nelson Xavier no papel principal. O filme bateu recorde de bilheteria, tendo sido visto por cerca de 590 mil pessoas, num único fim de semana Breve, estreia “As Mães de Chico”, de Glauber Filho, longa que retrata o trabalho do médium no conforto a centenas ou milhares de mães por meio de cartas de seus filhos desencarnados. Com a mesma temática, anuncia-se para setembro, o filme “As Cartas” de Cristiana Grumbach. Ainda em setembro, os circuitos cinematográficos do país deverão exibir o longa-metragem “Nosso Lar”, baseado no best seller do mesmo nome, do espírito André Luiz, psicografado por Chico. O filme dirigido por Wagner de Assis levará às telas uma temática tida por amplos setores do espiritismo como a maior contribuição de Chico Xavier para a compreensão do destino do espírito humano, após a morte física: a vida nas chamadas colônias espirituais.
Na Rede Globo de Televisão, a novela das 6 da tarde, a partir de 12 de abril, tem temática espírita. “Escrito nas Estrelas”, trama desenvolvida por Elizabeth Jhin, contará a história de um jovem médico, Daniel (Jayme Matarazzo), que morre em acidente de carro e passa a se comunicar com o pai, vivido por Humberto Martins. A novela mostrará cenas confortando a tese segundo a qual os espíritos podem influir decisivamente nos fatos da vida material.
Nossa Opinião
O Século de Chico
De crime punível com prisão a uma religião cristã, respeitada por todo o Brasil. A evolução de um conceito para outro, no seio de um país que, ainda, não o conhece bem, sintetiza, talvez, a trajetória do espiritismo no Brasil, em um século. Trajetória que, precipuamente, se deve a Francisco Cândido Xavier e sua obra. Assim, não há qualquer exagero em considerar, no âmbito espírita, termos vivido o Século de Chico.
Mesmo se reconhecendo que o espiritismo, em seu preciso conceito de ciência de consequências filosófico-morais, formulado por seu insigne sistematizador, Allan Kardec, esteja longe de ser convenientemente assimilado, é inegável que as ideias espíritas tiveram um significativo avanço, nesse período. Avanço que provavelmente não teria ocorrido sem Chico e sua obra.
Em tempos de profunda impregnação religiosa, no seio da sociedade brasileira, incluindo seus estratos mais cultos e formadores de opinião, não havia, certamente, outro caminho para a introdução das ideias espíritas que não a via religiosa. Mais do que isso, numa sociedade onde vigorava a religião única, o caminho teria de passar, necessariamente, por um certo sincretismo católico-kardecista.
É tempo, pois, de homenagear Chico, reconhecendo-se-lhe o mérito da obra e, mais que isso, as qualidades morais que o transformaram em modelo de abnegação, amor e serviço ao próximo. Sem o substrato qualitativo dessas virtudes o espiritismo, como movimento, como ciência e como filosofia, não pode prosperar. Mas, é preciso avançar. Avançar significa romper com parâmetros que aprisionem o espiritismo a esta ou àquela religião, para que, fiel à universalidade de suas leis, se faça inteiramente compatível com os novos tempos. E os novos tempos reclamam ideias e atitudes que pairem acima das crenças e culturas particulares, unindo a humanidade pelas leis supremas do conhecimento e do amor.
(A Redação)
Editorial
Inteligência e Moral
Há quem chegue às maiores alturas só para fazer as maiores baixezas.
Ministro Carlos Ayres Brito, do Supremo Tribunal Federal
Talvez nunca, como nesta quadra da história republicana nacional, tenhamos tão agudamente percebido o distanciamento entre a inteligência e a ética, em determinadas figuras de nosso cenário político.
Enfrentando, em 5 de março último, o julgamento de um habeas corpus impetrado por governador de uma unidade da Federação que, flagrado em suposto e grave ato de corrupção, saiu do Palácio do Governo diretamente à prisão, um dos julgadores da mais alta Corte da Justiça, negando-lhe concessão, deplorou o episódio, pronunciando a frase emblemática que serve de epígrafe a este editorial.
Os espíritos interlocutores de Allan Kardec, quando da elaboração de O Livro dos Espíritos (1857), enfatizaram esse componente do progresso humano: o descompasso entre o progresso intelectual e o moral. Aquele sempre anda mais depressa, disseram, porque “o fruto não pode vir antes da flor” (questão 791). Chegaram a asseverar que “à primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual redobra a atividade daqueles vícios” (falavam do orgulho e do egoísmo), “desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas” (q.785). Complementaram, contudo, dizendo que “do mal pode nascer o bem”, e que o conhecimento das leis maiores da vida conduz, necessariamente, o homem e a sociedade a estágios de melhoria moral.
Deploravelmente, homens que deveriam ser exemplos de honradez, em face dos elevados cargos que ocupam, têm protagonizado cenas de extremada vilania, locupletando-se despudoradamente dos bens públicos pelos quais deveriam zelar. Se, entretanto, a impunidade foi até aqui regra, aos poucos, deixa de sê-lo. Há, felizmente, uma consciência em favor da ética pública que cresce no seio do povo e força a adoção de medidas profiláticas, punitivas e moralizadoras.
O conhecimento da verdadeira natureza espiritual do homem e de sua responsabilidade, além dos mecanismos legais e fiscalizadores aqui disponíveis, é instrumento poderoso de progresso moral. Talvez o mais eficiente para reduzir o descompasso claramente perceptível entre aquele e o progresso intelectual. Um e outro hão de se aproximar, no dia em que, definitivamente, se compreender que inteligência sem ética é como uma árvore sem flores e sem frutos.
Inteligência sem ética é como uma árvore sem flores e sem frutos.
Opinião do leitor
Momento de divulgar
Como tem sido demonstrado por esse periódico, talvez como nunca há espaço para as ideias espíritas. No corrente ano, como diria Kardec, “pela força das coisas”, o momento está muito favorável ao Espiritismo. Além do filme sobre a vida de Chico Xavier, anunciam-se duas novelas na Rede Globo, com temática espírita. Cabe-nos, pois, aproveitar essa oportunidade, com inteligência e moderação, divulgando-se mais amplamente os fundamentos da Doutrina, mas respeitando a pluralidade característica de nosso povo, evitando apresentar o Espiritismo como o “único dispensador da luz”.
Homero Ward da Rosa – S.E.Casa da Prece, Pelotas/RS.
Opinião em Tópicos
Milton R.Medran Moreira
Um novo santo
Está pintando um novo santo na igreja Católica. O Vaticano anunciou o início do processo de beatificação - estágio inicial para fazer alguém santo – do Papa João Paulo II. E como não se faz santo sem milagre, já existe até o depoimento de uma freira francesa que diz haver sido curada do mal de Parkinson, após ter rezado ao falecido papa.
Mas, para que alguém conquistar as honras dos altares não basta fazer milagre. Precisa ter praticado também o que a Igreja chama de “virtudes heroicas”, ao curso de sua vida. Pois, esse requisito teria sido igualmente preenchido por Karol Wojtyla.: ele costumava se autoflagelar, todas as noites antes de dormir.
A autotortura papal
É isso mesmo. Pessoas que privavam da intimidade do pontífice falecido em abril de 2005 dizem que, em seus aposentos, João Paulo II tinha alguns instrumentos que a gente facilmente classificaria como de tortura. Só que eram para torturar-se a se próprio. Essa, aliás, é uma velha prática do cristianismo. Inúmeros santos só chegaram às glórias dos altares porque passaram a vida toda se autopunindo por seus pecados. A ideia é de que, quanto mais se sofre por aqui, mesmo que esse sofrimento não produza qualquer resultado em favor de quem quer que seja, mais méritos se tem para a bem-aventurança eterna.
O sofrimento na filosofia espírita
Quando tomei conhecimento dessa notícia, logo recordei a frase presente em O Livro dos Espíritos: “Os únicos sofrimentos que elevam são os naturais, porque vêm de Deus”. Isto é: a natureza, na sua sabedoria, costuma nos impingir, no decorrer da vida, suficientes sofrimentos pedagógicos e restauradores, sem que precisemos correr atrás deles. Para a filosofia espírita, diferentemente da teologia cristã que parte do princípio de que todos somos pecadores, o objetivo da vida não é a dor, é a felicidade.
Há, sim, sofrimentos que concorrem para nos fazer felizes. Quando nos privamos de algo em favor de quem necessite, por exemplo, essa privação é meritória, pois tem um fim útil. Sempre que contribuímos, mesmo que com sacrifícios pessoais, para que outros sejam felizes, estamos trabalhando em favor da vida e de nossa própria felicidade.
Santos ou felizes?
Pensando bem, talvez esteja justamente aí a diferença fundamental entre a doutrina cristã e a filosofia espírita. Diferença que, na sua essência, fazem-nas inconciliáveis. A teologia cristã, em cuja base está a ideia da queda, da expulsão do homem do paraíso, depois de este, insuflado pela mulher, ter cometido o pecado original, tem como fim último regenerar o ser humano, guindando-o à “comunhão dos santos”, após a morte.
Já o objetivo da filosofia espírita é, simplesmente, fazer o homem (espírito) feliz, processo que se opera e se perfectibiliza em todas as dimensões da vida.
Resumindo, o grande dilema da vida poderia ser assim formulado: Para que nascemos, vivemos e morremos? Para chegarmos à santidade ou, simplesmente, para sermos felizes?
Notícias
Com o título de “O Mundo dos Espíritos na Visão de Allan Kardec”, o professor de História e pesquisador espírita gaúcho Cristian Macedo ocupou a tribuna do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, na noite de 5 de abril, fazendo a palestra da primeira segunda-feira do mês. Para um numeroso público, Cristian tratou da inserção histórica de Kardec, destacando seus revolucionários conceitos sobre o destino do espírito humano após a morte física.
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Prosseguindo seu ciclo de conferências públicas mensais, na primeira segunda-feira de maio (3), o CCEPA convida para a palestra do advogado e pensador espírita Homero Ward da Rosa (Pelotas/RS). No horário das 20h30, Homero discorrerá sobre “Determinismo e Livre Arbítrio”, enfocando os dois importantes temas filosóficos, à luz do espiritismo. A entrada é franca, mas aceitam-se doações de gêneros alimentícios não perecíveis que são encaminhados a obras sociais.
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O presidente do Centro Cultural Espíritade Porto Alegre, Rui Paulo Nazário de Oliveira, juntamente com os diretores Milton Medran Moreira (Comunicação Social) e Sílvia Pinto Moreira (Atividades Sociais), estiveram presentes no 1º Encontro Espírita Íbero-Americano, em Torremolinos, Málaga, Espanha, de 19 a 21 de março último. Ao grupo reuniu-se Cecília Miller (irmã de Rui), colaboradora do CCEPA, hoje residente em Chicago (USA). Medran fez a conferência final do evento, e Sílvia, no encerramento, representou a delegação do CCEPA, pronunciando algumas palavras de apoio ao importante acontecimento que reuniu espíritas da Europa e das Américas e discutiu temas doutrinários diversos a partir da proposta “Espiritismo – Uma Contribuição à Evolução Consciente”.
Na foto, Sílvia Pinto Moreira do CCEPA e Cecília Miller
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Começa mais um Curso Básico de Espiritismo do CCEPA.
Iniciou em 7 de abril, às 15h, mais um Curso Básico de Espiritismo, na sede do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre (Botafogo, 678). Com cinco módulos, enfocando “O que é o Espiritismo”, “Sobrevivência, imortalidade e evolução do espírito”, “Comunicação mediúnica”, “Pluralidade de existências e de mundos habitados” e “Consequências morais”, o curso se desenrola às quartas-feiras, ministrado por Cristian Macedo e Maurice Herbert Jones, sob a coordenação de Salomão J.Benchaya.
Enfoque
Por Eugenio Lara
Arquiteto e designer gráfico, é um dos idealizadores, junto com José Rodrigues, do site PENSE - Pensamento Social Espírita [www.viasantos.com/pense]
E-mail: eugenlara@hotmail.com
“Na marcha da vida, ninguém é exceção”. Assim José Rodrigues finalizou o e-mail que dele recebi, um dia antes de se submeter à delicada operação para a retirada de um tumor no pâncreas. Percebi claramente que aquelas poderiam ser suas derradeiras palavras. Rodrigues veio a falecer em decorrência de complicações pós-operatórias, em 10/2/10, aos 72 anos, após passar 20 dias na UTI da Santa Casa. No dia seguinte, foi cremado em Santos, sua terra natal, no Memorial Necrópole Ecumênica, com a presença de centenas de pessoas, amigos, familiares, colegas de trabalho e personalidades da região.
Sereno, mas preocupado com a operação, sabia que pouco tempo lhe restava, fato que me expôs dias antes da cirurgia, em nosso último contato pessoal, para decidirmos mudanças no site PENSE, que editávamos desde março de 2001. Brinquei dizendo-lhe que era apenas uma fase, que passaria. Mas senti um tremor, os olhos aguaram e tentei me manter firme para ele não perceber minha súbita tristeza. Procurei disfarçar e encarar com naturalidade suas palavras. Continuamos trabalhando, conversando sobre espiritismo, política, economia, música e sobre o Santos, nosso time de coração.
Talvez ele não tivesse a plena consciência de sua importância na formação de várias gerações de espíritas e de jornalistas. Era extremamente modesto, humilde, solidário e não demonstrava todo seu saber, sua enorme cultura geral e espírita. Foi um mestre, respeitado por todos que o conheceram.
José Rodrigues foi trabalhador portuário, formado em economia. Aprendeu jornalismo na prática, tornando-se um dos mais notáveis profissionais da Baixada Santista e do país. Era uma das maiores autoridades em jornalismo cafeeiro e assuntos portuários. Ingressou no jornalismo em 1969. Trabalhou por quase 15 anos em A Tribuna, de Santos, onde fundou a editoria de economia e mantinha uma coluna diária, tarefas que dividia com a intensa atividade no movimento espírita. Conquistou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1971, com a reportagem Salário Mínimo. Todos os seus colegas de trabalho sabiam que ele era espírita, não somente pelas atividades doutrinárias, mas principalmente pelo seu comportamento íntegro, leal e fraterno. Os tribuneiros chamavam-no, carinhosamente, de “Zé do Além”.
Em 1983 foi trabalhar na Associação Comercial de Santos, como assessor de imprensa e comunicação. De lá assumiu a Assessoria de Comunicação Social do Instituto Brasileiro de Café (IBC), em Brasília e esteve presente em importantes negociações do setor cafeeiro, no comércio nacional e internacional.
Em 1989, trabalhou como assessor para assuntos portuários da Prefeitura de Santos, nos governos de Telma de Souza e de David Capistrano Filho. Participou ativamente em todas as campanhas eleitorais do PT, na elaboração de projetos e programas de governo. Foi um dos principais consultores dos sindicatos de trabalhadores portuários, na defesa da renda e manutenção de empregos. Nos últimos anos trabalhava como correspondente do Valor Econômico, especializado em assuntos econômicos.
Atuou durante décadas no Lar Veneranda, entidade assistencial dirigida por Jaci Regis, seu companheiro inseparável ao tempo em que era redator do periódico santista Espiritismo & Unificação e presidente da DICESP. Em 1987, fez parte do conselho de redação do jornal espírita Abertura.
De personalidade sensível e delicada, Rodrigues aos poucos foi se afastando do movimento espírita em função de conflitos surgidos na década de 80, com a chamada questão religiosa, contenda que muito abalou sua saúde. Passou a colaborar na imprensa espírita eventualmente. A retomada das atividades espíritas se deu nesta década com o site PENSE e a consequente divulgação da obra do argentino Manuel S. Porteiro, por ele traduzida. Foi a leitura deste grande pensador espírita, que Rodrigues tanto admirava, que lhe fez abandonar seu perfil liberal e se aproximar de concepções mais humanistas e socialistas. Deixou de ser eleitor do PSDB/PMDB para se tornar militante do PT.
Seu texto era impecável, sintético, fluente e escorreito. Elegante e substancioso: um dos melhores textos da história da imprensa espírita brasileira. Possuía o dom da palavra escrita. Nos anos 70, colaborou com o lendário periódico alternativo O Jacaré, de Santos, de linha editorial irreverente, publicando crônicas hilariantes com temática jocosa. Assinava “Irmão Zero”. Daí o Zero, codinome usado em seu endereço de e-mail. Também era poeta, fato que muitos desconhecem. Sensibilizado com a tragédia em Cubatão, em um incêndio criminoso na Vila Socó, em 1984, escreveu o livro de poesias Vila Socó, a Tragédia Programada, em parceria com o ilustrador Lauro Freire. O livro foi adaptado para o teatro em uma comovente montagem.
Em 1994, junto com a esposa Míriam, fundou a Ação de Recuperação Social (ARS), entidade que oferece assistência social e educativa à comunidade carente do bairro santista do Saboó. Mesmo afastado do movimento, nunca deixou de coordenar, ao lado da esposa, as reuniões de apoio espiritual no CE Allan Kardec, de Santos. Pouco antes de desencarnar, participou ativamente da comissão organizadora do Congresso da CEPA (Santos-2012), contribuindo na elaboração do temário.
Nos últimos meses, após animadas conversas informais, Rodrigues se convenceu da necessidade de lançar suas ideias em livro, especialmente seu último ensaio A Crise da Ambição, publicado no PENSE. Estava tão entusiasmado que apresentou uma proposta de edição ao jornal Valor Econômico, onde escreveu vários artigos espíritas. O projeto infelizmente foi interrompido pelo seu inesperado passamento. Mas as centenas de artigos e ensaios espíritas que produziu constituem grande acervo de ideias relacionadas às questões sociais. Era um dos poucos pensadores preocupados com a temática econômica e sociológica no espiritismo. Sempre antenado com as transformações de seu tempo, pioneiro no uso da internet, foi um lídimo representante de uma geração desbravadora no trato de temas sociais.
Casado por 47 anos com Míriam de Domênico Rodrigues, deixa os filhos Patrícia, Lívia, Flávia, José Tarcísio, José Roberto, netos e uma legião de amigos e admiradores. Foi realmente uma grande alma: simples, carinhoso, educado, gentil e verdadeiramente fraterno, solidário. Fraternidade e solidariedade não foram em sua vida meras palavras ou figuras de retórica. Constituíram-se em ação empreendedora, atitudes renovadoras, legando-nos um exemplo de iluminação, de paz e concórdia.
Vamos sentir saudades de ti, Rodrigues. Até breve, irmão, amigo e companheiro, até breve...