segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

OPINIÃO - ANO XIX - Nº 203 -DEZEMBRO 2012

Será o fim de uma era?

A corrupção punida

O final de 2012 chega trazendo aos brasileiros sinais concretos de êxito na punição judicial de atos de corrupção política. Estará o julgamento do “mensalão” marcando o fim de uma era e o início de novos tempos para a política no Brasil?


 O maior julgamento da História

Ao encerrarmos esta edição ainda não tinha findado o julgamento da Ação Penal 470, popularmente conhecida como “mensalão”.  Já estavam fixadas, no entanto, embora suscetíveis de alteração, as penas de 25 dos 38 denunciados deste processo criminal que entra para a História como a maior ação penal já enfrentada pelo Supremo Tribunal Federal do país. Consumindo cerca de 50 sessões do Pleno da Corte Suprema brasileira, de agosto a dezembro, transmitidas ao vivo por importantes redes de televisão, o processo é o mais longo e volumoso de todos quantos passaram por aquele tribunal.

Nomes importantes e penas severas

Entre os apenados constam nomes importantes da política e do empresariado brasileiro: deputados, banqueiros, dirigentes partidários e ex-titulares de cargos elevados no governo da República. Condenados pela maioria dos integrantes do Supremo Tribunal Federal por crime de corrupção ativa e passiva, evasão de divisas, formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro, alguns deles sofreram penas superiores a 40 anos de reclusão e milhares de reais em multa. Na reta final do julgamento, o Ministro Relator, Joaquim Barbosa, determinou que todos os condenados, mesmo sem o trânsito em julgado do processo, entregassem seus passaportes, como garantia de que não deixarão o país, frustrando, dessa forma, o futuro cumprimento das penas.

A dúvida do povo: eles irão mesmo para a cadeia?

A condenação de pessoas destacadas do cenário político, social e econômico do país, gerou, em princípio, um clima de euforia.  Contudo, há muito, vige no Brasil a crença popular de que “rico não vai para a cadeia” e que os chamados “crimes do colarinho branco” sempre restam impunes. Prolatada a decisão condenatória do Supremo, subsiste, entre o povo, um misto de confiança e de descrença que se materializa nesta indagação: Eles irão mesmo para a cadeia? Especialistas preveem uma sucessão de recursos protelatórios que poderão retardar o trânsito em julgado da decisão ou, mesmo, determinar a prescrição de crimes, ou seja, a extinção da punibilidade pelo decurso do tempo.






Fim de um tempo

Místicos, astrólogos e crentes de velhas teses sobre o fim do mundo preveem acontecimentos estranhos para este dezembro de 2012. Ocorrerão, segundo dizem, com data e hora aprazadas, catástrofes que levarão a radicais mudanças planetárias. Fim dos tempos, para muitos. Início de uma nova era, para outros.

Desde que o mundo é mundo transformações geológicas e sociais, físicas e culturais, se sucedem em processos mais ou menos rápidos. Nós, espíritas, chamamos isso simplesmente de evolução. Mudanças, em qualquer circunstância, pedem tempo, exigem correção de rumos e, quando envolvem atitudes humanas, requerem conscientização. “Natura non facit saltus” -  a natureza não dá saltos – já diziam os romanos.

Dezembro passará e a vida dos humanos seguirá seu rumo. Sem sobressaltos. Mesmo assim, neste canto planetário, esta quadra parece assinalar mudanças que seu povo, de há muito, vem acalantando e preparando. Há uma consciência generalizada a reclamar novos padrões comportamentais nas relações entre governantes e governados, entre os que detêm poderes políticos ou econômicos e aqueles que destes dependem.

O processo judicial do chamado “mensalão” é um marco visível dessa ânsia de transformações políticas, sociais e econômicas inspiradas em uma imensa sede de ética, de equidade e justiça.

O povo, em sua simplicidade, acha que tudo se resolverá com o encarceramento, e por muitos anos, de alguns usurpadores do poder político e econômico. Vale considerar, no entanto, que eles apenas repetiram velhas práticas enraizadas em uma cultura que, hoje, dá mostras de saturação. Ocorra o que ocorrer com eles, entretanto, e mesmo que, eventualmente, burlem os visíveis mecanismos de justiça, já lhes sobreveio e lhes continuará sobrevindo o amargo e natural resultado de seus erros. Episódios como estes têm profunda repercussão no íntimo tribunal da consciência de seus agentes. Para eles e para a Nação, ademais, estes acontecimentos históricos hão de ter efeito altamente pedagógico. Nada têm de apocalípticos. Não são, como alguns chegam a interpretar, indícios do final dos tempos. Claramente, contudo, compõem um quadro a caracterizar o fim de um tempo prenunciando um novo amanhecer.
 



 


Vivemos mais e melhor

“Em verdade vos digo: a Natureza não é imprevidente, o homem é que não sabe moderar o seu modo de viver”. (Questão 705 de O Livro dos Espíritos).

 O IBGE acaba de divulgar dados sobre a expectativa de vida dos brasileiros. Vivemos mais e melhor. Em média, hoje, o brasileiro vive até os 74 anos de idade. Um avanço significativo. Nos últimos 50 anos, nossa expectativa de vida aumentou 25,4 anos. Só no período entre 2010 e 2011, a esperança de vida de alguém nascido no Brasil ganhou mais três meses e 22 dias. Reduziu-se também, consideravelmente, a taxa de mortalidade infantil.

Quanto deverá viver, em média, um brasileiro que nascer no novo ano? Oitenta, noventa, cem anos? Estamos aprimorando conhecimentos e colocando-os em prática na área da alimentação, da medicina preventiva e curativa, do exercício físico, do saneamento. Isso é progresso. Progresso moral, bem entendido. Não foi por outra razão que Allan Kardec arrolou a Lei de Conservação entre as dez leis morais submetidas à apreciação e discussão dele com seus interlocutores espirituais.

 Por tempos, impingiram-nos a ideia de que o planeta onde vivemos era um “vale de lágrimas”. Nossa passagem por aqui outra finalidade não tinha que não a de solvermos culpas que nem nossas eram, pois resultantes de um mítico pecado original. Atribuíamos à divindade a autoria de uma iníqua lei segundo a qual a pena passaria de pai para filho, geração após geração, até o final dos tempos. A sombra da culpa coletiva ou individual ainda nos persegue. Exemplo disso: a crença numa hecatombe destruidora a atingir a Terra e a maioria de seus “indignos” habitantes, ainda neste último mês de um ano onde tivemos tantos ganhos, como aqueles apontados nas primeiras linhas deste editorial.

É certo que não vivemos em nenhum paraíso terrestre. É preciso, no entanto, saber olhar para trás com discernimento e sensatez. O pressuposto dessa capacidade nasce da ideia generosa da evolução, uma das mais significativas conquistas do homem moderno. Por evidente, essa lei geral universal não se aplica exclusivamente ao vasto universo dos átomos, células e compostos orgânicos de que somos feitos. Preside também a formação e o desenvolvimento da consciência que se situa nos domínios do espírito e sua interação com a matéria. E é, justamente, sabendo olhar para trás que estaremos capacitados a avaliar o progresso do espírito humano.

O exercício contínuo e sensato dessa retrospecção, tendo por objeto a fascinante aventura humana nos faz otimistas perante a vida. Otimistas e esperançosos. Olhando o passado, nos capacitamos a vislumbrar o potencial humano na construção de um futuro cada vez mais saudável, equânime, justo e feliz.

Não fosse assim, a vida não teria sentido algum.

 

 



Carlos Ayres Britto     


Com a aposentadoria compulsória do ministro Carlos Ayres Britto, ao completar 70 anos de idade, o Supremo Tribunal Federal perde uma das figuras mais extrordinárias que já passou por aquela Corte. Comecei a admirar esse jurista, poeta e humanista, há alguns anos atrás quando ele foi relator de uma ação em que se pedia a declaração de insconstitucionalidade da lei autorizando pesquisas com células-tronco embrionárias. Opondo-se, com altivez e independência, a organismos religiosos contrários à pesquisa, Ayres Brito chancelou a constitucionalidade da lei, em voto brilhante onde prioriza fatores como o interesse público e o compromisso estatal com a felicidade humana e com o desenvolvimento da ciência,  sempre que estes conflitam com questões de fé.


Almas congeladas
Na oportunidade, publiquei no jornal Zero Hora (edição de 9.4.08) o artigo “Almas Congeladas”, apoiando a decisão do ministro. Afirmei ali, acerca da crença de que num aglomerado de células humanas, descartadas e guardadas em congelador, pudessem estar presentes espíritos: “Almas congeladas só podem povoar o mundo mítico de seres que preferem também congelar a fé, mas que não têm o direito de obstaculizar o avanço da ciência. Mormente quando esta contribui para a felicidade humana”.

Recebi, na oportunidade, atencioso telefonema pessoal do ministro, cumprimentando-me pelo artigo e revelando que se sentia confortado diante da posição de um espiritualista em favor da pesquisa. Disse-me que talvez eu não pudesse imaginar o quanto de pressões e de hostilidades estava sofrendo, vindas de religiosos, por conta de sua posição.

Espiritualista
Em seu telefonema, Ayres Britto nada me referiu sobre suas convicções filosóficas, mas suspeitei que estava falando com um homem com fortes inclinações espiritualistas. Agora, quando de sua aposentadoria, o jurista, em entrevista à Folha de São Paulo (caderno Ilustríssima de 14/11/12), falou amplamente sobre esses aspectos de sua vida. Revelou ser vegetariano e dedicar-se à prática de meditações diárias, “que infundem uma dose de espiritualismo na rigidez habitual da ciência jurídica”.  Prega ideias de que “é preciso expulsar de si o ego para que o espaço dentro de você seja preenchido pelo universo, pelo Cosmos, pela existência, que outros preferem dizer por Deus”. Sobre física quântica, área que também tem estudado, revelou, na entrevista, que esta, segundo lhe parece, “confirma tudo o que os espiritualistas afirmam”.

Espiritualismo e religiões
Perguntado se tinha religião, o entrevistado respondeu: “católica, só que, de 20 anos para cá, me tornei um espiritualista”.

A resposta é emblemática. Hoje, há uma clara oposição entre espiritualidade e religião. As religiões abandonaram a ideia do espírito. Sucumbiram ante o desprezo que a cultura materialista vota à hipótese da existência do espírito como identidade fundamental do ser consciente. Teoricamente, toda a religião deveria ser espiritualista. Na prática isso não ocorre. Como escreveu John A. Sanford, os teólogos modernos “falam muito sobre salvação e pouco sobre alma”, Isso dá a sensação de que o que deve ser salvo é “o ego com todos os seus desejos e esforços egoísticos”.

Só um espiritualismo humanista e laico, aberto aos avanços da ciência, pode resgatar a ideia fundamental do espírito, em um novo paradigma que não é nem o da teologia nem o do materialismo. Ayres Britto está claramente inserido nesse paradigma dos tempos que amanhecem.
 






Cristianismo x Espiritismo

Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico, editor do site PENSE - Pensamento Social Espírita [www.viasantos.com/pense], membro-fundador do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CPDoc) e autor do livro Breve Ensaio Sobre o Humanismo Espírita. E-mail: eugenlara@hotmail.com

Correlações entre Cristianismo e Espiritismo sempre provocam controvérsias históricas. Até hoje, espíritas cristãos, religiosos não se entendem com espíritas laicos, livres-pensadores. Ora, será que Allan Kardec imaginava os conflitos, cisões e o descompasso que haveria entre os espíritas em função dessas controvérsias? Quais motivos o levaram a interpretar o Cristianismo?

Na Revista Espírita, Kardec reafirma o caráter científico e experimental da Doutrina, conforme a definição de O Que é o Espiritismo (1860), bem aplicada n’O Livro dos Médiuns (1861). Todavia, a partir de O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), dedica-se à hermenêutica, à exegese dos evangelhos e vincula o Espiritismo à teologia judaico-cristã como a Terceira Revelação, o Consolador prometido pelo Cristo. Kardec chega a admitir, sutilmente, que O Espírito de Verdade seria Jesus, contrariando o que afirmara em Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas (1858), quando revelou que esse espírito fora um grande filósofo da Antiguidade.

Não há como negar a vinculação ao Cristianismo, a começar pela terminologia adotada na Kardequiana. A tal “questão religiosa” nasce com Roustaing e é reafirmada por Kardec devido à adesão ao Cristianismo, mesmo tendo negado várias vezes que o Espiritismo fosse religião.

Muitas são as interpretações dessa postura de Kardec. Há quem imagine que ele fundou um neocristianismo. Para outros, fez concessão à Igreja ao escrever obras interpretativas da teologia cristã. Para muitos, o Espiritismo é o Cristianismo redivivo, sua revivescência.

Ora, não houve concessão alguma ao Cristianismo, à Igreja, senão o comportamento de Kardec seria outro. Ele não era um sujeito frouxo, inseguro. Basta ver a polêmica que travou com Chesnel. Por outro lado, é equivocada a tese de que Kardec desejava fazer do Espiritismo uma forma sofisticada de Cristianismo, de que ele, sem querer querendo, fundou uma nova religião cristã. Essa leitura é correta em relação ao roustainguismo ou à Igreja Mórmon, porém nunca em relação à Doutrina. E além do mais, o Espiritismo não adota a Bíblia como texto fonte. Este fato, por si só, o exclui do rol das religiões cristãs. O Espiritismo não é um Cristianismo.

É preciso contextualizar essa questão. A atitude de Kardec representa a resposta à demanda social e cultural de seu tempo. A partir de 1860, desloca-se de Paris e viaja por toda a França, Bélgica, Suíça a fim de atender aos apelos dos novos grupos espíritas que nasciam. Em sua cidade natal, Lyon, polo industrial similar ao nosso atual ABC, Kardec deu de cara com muitos operários, gente simples, de mãos calejadas, semianalfabeta. Isso deve ter sido algo inusitado e muito marcante, surpreendente mesmo para alguém acostumado a um público com outro perfil, mais elitista e sofisticado.

A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas era composta por membros da elite, da nata da sociedade. Os novos grupos periféricos, por sua vez, possuíam perfil mais modesto, com particularidades outras e a influência tenaz do Cristianismo, porque formados por adeptos recém-saídos da Igreja ou que ainda a frequentavam. A propósito, para Kardec, podia-se ser espírita sem rejeitar o catolicismo, sem deixar de ter alguma religião. Tal orientação não é gratuita.

Os livros que escreveu, a partir de O Evangelho, visam atender à necessidade de se vislumbrar, no próprio Cristianismo, elementos interpretativos da Doutrina, não somente da experimentação, do empirismo mediúnico, mas também de sua filosofia e teoria de valores. Ele entendia, inclusive, que o Espiritismo teria a missão de oferecer à Igreja a sustentação de seus dogmas, além de funcionar como o “traço de união” entre ciência e religião.

Oportuno lembrar que no século 19, devido ao avanço econômico, da ciência e dos costumes, as religiões perdem terreno, adeptos e o poder que sempre tiveram, porque são inimigas da modernidade, do progresso. Pois o Espiritismo nasce, justamente, em pleno surgimento da modernidade, em meio à crise das religiões e procura dar conta de questões onde elas fracassaram, especialmente a cristã. Daí o esforço de Kardec em escrever obras que atendessem a essa demanda, constatada em sua excursão doutrinária. Não foi nenhum tipo de concessão, nem houve intenção de se fundar uma nova religião cristã ou instituir “A Religião”.

Outro aspecto é o fato de que o Espiritismo, apesar de definido como filosofia espiritualista, não dialoga com boa parte da tradição filosófica ocidental. Ou seja, a conexão direta não é com Platão, Aristóteles, Espinosa, Kant, Hegel etc., mas sim com o humanismo iluminista, o espiritualismo em geral, com o Spiritualism norte-americano e inglês, com o espiritualismo filosófico (Leroux, Reynaud, Lessing), os utópicos (Fourier, Cabet, Saint-Simon) e, inclusive, com a cultura celta: gaulesa e bretã.

A busca do diálogo com o judaico-cristianismo surge da necessidade cultural, religiosa na França do século 19. O Cristianismo não tinha aí a mesma força que na Espanha (vide o Auto de Fé de Barcelona), mas era a religião hegemônica. Se Kardec não fosse homem de prestígio, amigo de Napoleão III e outros maçons, de membros influentes da elite francesa, a Igreja esmagaria o Espiritismo, que teria abortado logo de início.

Kardec sabia que haveria divergências, cisões, por isso redigiu o Projeto 1868 e delineou rumos seguros à organização do Espiritismo como movimento social. O Período Religioso, imaginado por ele na sua prospecção cartesiana da propagação espírita, não tem o sentido de laço, de elo, de comunhão entre os espíritas. O religioso aí é no sentido religioso mesmo, sem trocadilho. É religioso com significado de culto. Senão, segundo a acepção que aplicava ao termo religião, ele deveria denominar esse período de Religionário, usando-o no sentido de laço (religion). Kardec vislumbrou que após esse Período Religioso, impregnado pelo Cristianismo, haveria outro, de transição, até o Espiritismo assumir integralmente sua vocação natural de “influência sobre a ordem social”, no Período de Regeneração Social.

Como se vê, a conexão entre Cristianismo e Espiritismo é um tema complexo, exige conhecimento histórico, de filosofia, teologia, antropologia e muitas áreas outras. Não basta somente conhecer a Kardequiana, é preciso situa-la em seu contexto histórico. Muitas polêmicas e divergências poderiam ser amainadas se os espíritas se dedicassem a esse tipo de leitura, ao invés de ficar garimpando na Kardequiana, aqui e ali, palavras de Kardec acerca dessa questão.


 



Fim de ano no CCEPA

Uma animada confraternização reuniu, na noite de 1º de dezembro, associados, colaboradores e familiares do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre para celebrar o final de um novo ano.

O encontro teve por local o salão de festas do Condomínio onde reside a associada Magnólia da Rosa: a segunda, a partir da esquerda, na foto  com a vice-presidente, Eloá Bittencourt, a diretora social, Sílvia Moreira e o presidente Milton Medran Moreira.

 Na oportunidade, o presidente da instituição agradeceu a colaboração de todos, graças à qual foi possível manter acesas as propostas de um espiritismo livre-pensador e humanista, que identificam a tradicional casa espírita da Rua Botafogo.

 Palestras de Dezembro no CCEPA

No dia 3 de dezembro, aconteceu a última palestra publica mensal noturna do ano no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. Esteve a cargo de um de seus diretores, o promotor de Justiça aposentado, Ruy Paulo Nazário de Oliveira, com o tema “A Cultura do Natal na Visão de um Espírita”. A partir de março de 2013, voltará essa atividade reservada para as 20h30 da primeira segunda-feira de cada mês.

No próximo dia 19/12, será a vez de Salomão Jacob Benchaya, Diretor Doutrinário do CCEPA, ocupar a tribuna do auditório da Rua Botafogo, 678, para abordar o tema: “Transição Planetária ou Fim do Mundo?”. Será às 15 horas, com entrada franca. Essa atividade, interrompida no período de férias, também retorna em março, sempre na 3ª quarta-feira de cada mês.

 

 


Sobre padres espíritas

Em sua Opinião em Tópicos (novembro 2012), Milton Medran Moreira destaca, a respeito da influência católica no Espiritismo brasileiro: “Essa orientação foi aceita pela turma do lado de cá, e entendida como a mais ajustada à alma do povo brasileiro. Talvez até o fosse, nos primórdios do espiritismo por aqui, quando praticamente 100% da população era católica. Pergunta-se: ainda será ou já esta na hora de reverter essa situação, diante do perfil predominantemente laico da sociedade dos dias atuais?".

Eu responderia que talvez até já tenha passado um pouquinho da hora! Porém, para realizar esse intento, "hay que tener mucha coraje", tal como Medran e mais alguns valorosos companheiros. Mas, o futuro é esse. Penso que todas as religiões, tal como as conhecemos, um dia desaparecerão. Restará, felizmente, no Ser Humano  plenamente desenvolvido, um profundo sentimento de  RELIGIOSIDADE.

Um grande abraço e muita paz!

Adão Araújo – Bento Gonçalves/RS.

 Entrevista com Nilton Starnini

É sempre bom receber o Opinião. O número 201 (outubro/2012), por exemplo, me trouxe uma notícia muito boa: a entrevista com Nilton Starnini, presidente da USE Distrital da Baixada Santista. Sempre achei que pensar diferente é criativo. Sou mais enriquecido pelos que pensam diferente de mim. Os que acatam minhas ideias sem pensar não me permitem revisão de conceitos.

Paulo Cesar Fernandes – Santos/SP.

domingo, 4 de novembro de 2012

OPINIÃO - ANO XIX - Nº 202 - NOVEMBRO 2012


A mediunidade no laboratório:
Instituto americano pesquisa
vida após a morte
No ano de 2008, no Estado do Arizona, USA, um grupo de cientistas americanos de diferentes formações resolveu unir esforços em torno do estudo e da pesquisa da interação corpo/mente/espírito. Surgiu, assim, o Instituto Windbridge, organismo que, presentemente, tem como principal área de estudos a questão da sobrevivência da consciência após a morte, realizando importantes pesquisas sobre a mediunidade.

Nascimento, morte, renascimento
Quem acessar o site do Instituto Windbridge - http://www.windbridge.org/  - vai se deparar com um logo que, de imediato, traduz sua proposta.  É o triplo espiral – ou triskele  – , visto pela primeira vez em culturas célticas e que, segundo explicação do mesmo site, pode significar: terra-mar-céu, passado-presente-futuro, ou, ainda, nascimento-morte-renascimento. É, justamente, essa última equação, a que se refere às jornadas do espírito humano, no corpo ou fora dele, mantendo a mesma individualidade ou “consciência”, o tema que mais tem ocupado os cientistas integrantes do organismo. Concreta e objetivamente, o Instituto Windbridge estuda o espírito, sua sobrevivência e manifestações.

Uma equipe multidisciplinar
Integram o Conselho Consultivo do Instituto Windbridge mais de uma dezena de reconhecidos cientistas e pesquisadores, como: o psiquiatra Jim B.Tucker, MD, da Universidade de Virgínia, continuador das pesquisas sobre reencarnação iniciadas por Ian Stevenson; Stephen E.Braude, PhD, Presidente do Departamento de Filosofia da Universidade de Maryland; Etzel Cardeña, PhD, do Centro de Investigação em Psicologia da Consciência da Universidade de Lund; John Palmer, PhD, Editor do Jornal de Parapsicologia e Diretor de Pesquisa Rhine Research Center, entre vários outros.
Coordena a equipe de pesquisadores a Dra. Julie Beischel, PhD (foto), fundadora do Instituto e sua Diretora de Pesquisas. Doutora em Farmacologia e Toxicologia, com especialização em Microbiologia e Imunologia, Julie, desde 2008, com o auxílio de diversas bolsas e financiamentos, tem realizado importantes pesquisas no campo da mediunidade.

Métodos científicos aplicados à mediunidade
Entrevistada por Elaine Cristina Vieira (Barcelona, ES), em matéria recentemente publicada pela revista eletrônica O Consolador - http://www.oconsolador.com.br/ano6/281/especial.html -, Julie Beischel dá detalhes sobre as pesquisas que estariam demonstrando “que há vida após a morte”.  São utilizados três métodos para estudar o fenômeno da mediunidade: o proof-focused, que acusaria se os médiuns estão dando a informação correta; o process-focused, avaliando a experiência dos médiuns durante a comunicação espiritual; e o applied-research, que cuida dos benefícios trazidos à sociedade humana pela mediunidade. Para a pesquisadora americana os resultados até aqui obtidos “confirmam a hipótese de que o espírito sobrevive à morte”.
Julie diz se utilizar do método científico do “quíntuplo-cego”, que evita resultados tendenciosos. Por esse método, nem o examinado, nem o examinador, sabem das variáveis do estudo. São usadas cinco pessoas diferentes para ajudar na análise dos dados sem que nenhuma delas saiba de que trata o estudo. Informa a pesquisadora: “Com médiuns certificados pelo Instituto Windbridge, podemos demonstrar que as informações dos médiuns sobre familiares já mortos são exatas e, além do mais, os médiuns não têm nenhum conhecimento prévio sobre a família e o desencarnado”.  Preocupada com a plena adequação de suas pesquisas aos parâmetros científicos atuais, Julie Beischel declara: “Este paradigma de pesquisa é ideal porque o fenômeno da mediunidade é facilmente replicável e podemos trazer a mediunidade ao laboratório”.




Ciência e Ética do Espírito
Reduzido à sua expressão mais sintética, o espiritismo não é mais do que o estudo do espírito. A “ciência da alma”, como, ao fim de sua vida física, propunha Jaci Regis fosse ele renomeado.
Allan Kardec, mesmo conferindo especial dimensão aos aspectos morais do espiritismo, quando tratou de defini-lo deixou consignado ser ele “a ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos e de suas relações com o mundo material”.
A partir disso, pode-se, sem se incorrer em qualquer impropriedade, dizer que quem, como no caso do Instituto Windbridge, se ocupa de questões relativas ao espírito, sua sobrevivência e comunicação, está, de certo modo, fazendo espiritismo. Mesmo que aqueles cientistas jamais tenham tomado contato com o espiritismo ou com a obra de Allan Kardec, estarão, rigorosamente, trabalhando no mesmo projeto do qual Kardec foi o grande precursor, na modernidade contemporânea.
Todo o esforço do insigne Mestre de Lyon foi no sentido de que as questões relativas ao espírito fossem tratadas à luz da ciência tal como entendida no seu tempo ou à luz de seus futuros desdobramentos. Ainda que insistam em reduzi-lo à condição de fundador de uma nova religião cristã, Kardec foi, na verdade, o primeiro sistematizador da ciência do espírito.
Ver o espiritismo a partir desse ângulo em nada diminui seu revolucionário potencial ético e transformador. Na visão que ele oferece de homem e de mundo, o progresso ético e moral da humanidade se dá justamente pelo conhecimento.
Privilegiar o conhecimento, dissociando-o do moralismo religioso, será, em qualquer circunstância, trabalhar pelo progresso moral do ser humano. Mormente quando, rompendo-se com o reducionismo materialista, se tem a coragem de colocar o espírito como objeto de estudo e de pesquisa científica. (A Redação)





Prêmio Nobel da Paz

Em 12 de outubro último, foi anunciado, em Oslo, Noruega, que  o Prêmio Nobel da Paz de 2012 fora atribuído à União Europeia (UE), pelo papel fundamental exercido na implantação da paz no continente e por ter oferecido os alicerces da estabilidade nos países oriundos do antigo bloco comunista, após a unificação da Alemanha.
A notícia foi, de imediato, eleita, pelo editor deste jornal, como tema de seu editorial do mês. Foi quando recebemos  um artigo de nosso colaborador Néventon Vargas, da Associação de Estudos e Pesquisas Espíritas da Paraíba – ASSEPE – na mesma linha da abordagem que desejávamos fazer. Por isso, aqui o reproduzimos, adotando-o como opinião deste periódico. Escreveu Néventon:

“Posso afirmar que nunca fui um entusiasta do Prêmio Nobel e nem mesmo costumo acompanhar de perto as propostas e escolhas dos laureados, porque considero muito duvidosos os critérios utilizados, que no geral têm forte conotação política. Mas festejo a premiação da UE porque não elege nenhuma personalidade específica, mas um bloco de nações dispostas a pôr fim a um círculo vicioso de pendengas que se arrastam por longo tempo. Privilegiam desta forma os valores universais da paz, da conciliação e reconciliação, da democracia e dos direitos humanos.
De simples relações econômicas, passando pela criação da Comunidade Econômica Europeia (CEE) e com a nova denominação a partir de 1993, a União Europeia passou a atuar em muitas outras áreas, ratificando os propósitos de cooperação mútua para a definitiva implantação da paz e da prosperidade. Não tem ainda, evidentemente, a eficiência e a unanimidade desejada, mas deve se fortalecer conforme cresçam as evidências de que somente com união se conseguirá superar todos os obstáculos.
Vem o prêmio num momento crucial, quando se coloca em dúvida sua capacidade em administrar a profunda crise econômica global que afeta fortemente alguns países e põe em risco sua estabilidade e a própria sobrevivência.
Seja qual for o rumo da crise, já se tem como positivos os princípios geradores e norteadores das relações entre as nações europeias, que propicia um mercado comum suficientemente forte e capaz de impulsionar a economia e vencer o capital puramente especulativo. Muito mais do que isso, entretanto, vislumbro na aproximação das nações e antes mesmo das relações sociais, uma profunda transformação no comportamento individual, em que cada um valoriza mais o homem, diminuindo as distâncias entre as pessoas dos diferentes países, fazendo mais tênues as linhas fronteiriças, embora se ouçam ruídos esparsamente de alguns egoístas renitentes, insatisfeitos com o ir e vir de estrangeiros ao seu derredor, concorrendo às mesmas vagas de trabalho.
A UE, calcada na experiência milenar dos povos europeus, que passou pelos mais diversos conflitos, nos dá exemplo para a construção de um mundo melhor. Mas não o que idealizam alguns, com a supremacia de uma nação sobre as demais e com a instituição de um “presidente do mundo”, e sim com a primazia dos valores democráticos, com a autonomia das nações e a forte participação de seus parlamentos junto ao parlamento maior.
Afinal, todos “navegamos” no mesmo planeta, nascemos do mesmo humo e a nossa essência sobreviverá no mesmo espaço universal, onde não há proprietários e nem privilegiados. Onde não somos donos senão dos nossos próprios destinos.
Assim, caminhamos para ações mais altruístas, em que o sentimento nativista não seja embargo para estendermos as mãos aos outros povos e nem o orgulho nacionalista impeça a humildade para aceitarmos, agradecidos, o auxílio externo nos momentos de dificuldade, cientes de que o nosso bem é o bem comum, tal como o fortalecimento de uma nação europeia é benefício para toda a União Europeia e o desta, para o mundo todo”.

A UE, calcada na experiência milenar dos povos europeus, nos dá exemplo para a construção de um mundo melhor.






A Igreja e a mediunidade
Estive, por estes dias, assistindo na Internet à entrevista do comunicador espírita Alamar Régis com o padre Miguel Fernandes Martins, da cidade de Sobradinho  DF. (http://www.youtube.com/watch?v=eaTPSAx2BT4&feature=related).
Sabe-se o quanto são comuns, no meio clerical ou nas ordens religiosas, os fenômenos mediúnicos. Eclodem já no ambiente doméstico de famílias muito religiosas. Desconhecedores, no âmbito familiar, de outras opções espiritualistas, esses médiuns naturais são encaminhados para seminários ou conventos. Ali, a questão da mediunidade ou será tratada como coisa do demônio ou, dependendo da “santidade” e da piedosa submissão do agente, será interpretada como fenômeno miraculoso, capitalizado, então, pela Igreja como comprobatório das verdades eternas de que se proclama detentora. Assim tem sido por séculos, no histórico contexto de poder da Igreja em nossa cultura.

O padre espírita
O entrevistado de Alamar avaliou melhor o fenômeno. Entendeu tratar-se de uma faculdade natural. Assimilou alguns conceitos transmitidos pela entidade que diz incorporar: frei Fabiano de Cristo, um espírito bastante conhecido e prestigiado nos segmentos espíritas cristãos. Mas, nem por isso, Miguel deixou de ser padre. Passou a se qualificar como um “padre espírita”. Claro que isso lhe valeu reprimendas e discriminação nos meios eclesiásticos. Entretanto, e já que os tempos atuais levaram a Igreja, para poder sobreviver, a adotar um multifacetado pluralismo, o clérigo de Sobradinho talvez esteja inaugurando um novo segmento clerical. Ou seja, ao lado de categorias já muito conhecidas, como a dos padres cantores, dos padres carismáticos, dos padres aeróbicos e dos tantos sacerdotes pop-stars, celebrantes das showmissas, pode estar surgindo este novo segmento: o dos padres espíritas.
Espiritismo impregnado de catolicismo
O fenômeno não chega a ser uma novidade. Henrique Rodrigues, quando entre nós, costumava dizer que o espiritismo, no Brasil, estava dominado por padres e freiras. O irreverente escritor e conferencista espírita se referia às tantas e destacadas entidades espirituais de forte impregnação católica que, do outro lado, assumiram a orientação do movimento espírita deste “Brasil, Coração do Mundo e Pátria do Evangelho”.  Essa orientação foi aceita pela turma do lado de cá, e entendida como a mais ajustada à alma do povo brasileiro. Talvez até o fosse, nos primórdios do espiritismo por aqui, quando praticamente 100% da população era católica.  Pergunta-se: ainda será ou já está na hora de reverter essa situação, diante do perfil predominantemente laico da sociedade dos dias atuais?
Cheiro de sacristia
Temos a tendência de festejar a adesão à chamada “fé espírita” desses padres que continuam padres. Vá lá que seja esse o único caminho inicialmente possível a pessoas com forte impregnação religiosa! Mas, no fundo, elas alimentam um sonho: o de que a Igreja se transforme e passe a aceitar oficialmente a mediunidade e até a reencarnação, como sugeriu o padre de Sobradinho. Seu desejo é permanecer nessa sonhada igreja “espírita”, renovada, mas ainda católica, apostólica, romana. O entrevistado de Alamar, vestindo batina, posando entre imagens de santos e mostrado distribuindo a comunhão a seus fieis, materializa a previsão de Allan Kardec de que, à margem do espiritismo, surgiriam seitas adotando alguns de seus princípios, sem, no entanto, assimilar sua genuína natureza doutrinária. 
Nas conclusões de O Livro dos Espíritos, Kardec projetava um espiritismo em condições de assumir “o direito de cidadania entre os conhecimentos humanos”. Decididamente, para tanto, terá que se libertar desse cheiro de sacristia. Coisa que, pelo jeito, ainda levará algum tempo.






Ciência Espírita
e colaboração interexistencial

Vinícius Lousada
Educador e pesquisador, editor do blog www.saberesdoespirito.blogspot.com

O Espiritismo sob um ponto de vista novo
Quando Allan Kardec começou a publicar a Revista Espírita passou a fazer circular de forma mais sistemática a produção em torno de um novo campo de pesquisas: o da investigação positiva em torno do Espírito.
No contexto das academias, os cientistas se pautavam no paradigma positivista ou no espírito positivo, advogado por Comte, que pretendia superar os estados teológicos e metafísicos do pensamento humano, configurando-se num olhar investigativo guindado à apreciação sistemática dos fatos existentes.
Conforme a perspectiva adotada por esse ícone do positivismo, uma lei geral do movimento fundamental da humanidade remetia ao entendimento de que as teorias científicas deveriam aproximar-se cada vez mais da considerada realidade dos objetos de estudo, numa pretensão de verdade, controle e exatidão. Em toda a sua obra, onde partilhava os saberes da Ciência do Infinito, Kardec ressaltava o caráter científico do Espiritismo procurando firmá-lo e difundi-lo através da rigorosidade metodológica que o seu quefazer de pesquisador do invisível exigia.
Ao afirmar que o Espiritismo é uma ciência positiva (1), Allan Kardec queria que a Doutrina Filosófica dos Espíritos fosse apreciada por um novo prisma. Pois, segundo ele, o Espiritismo é a ciência que se ocupa, pela observação e controle do fenômeno espírita, das relações entre o mundo visível e invisível, tendo revelado com o elemento espiritual uma das leis da natureza ignorada pela ciência materialista até então: a ação do Espírito sobre a matéria.
Assim, atendendo aos critérios das ciências positivas do século XIX, sendo elaborado na observação de fatos e não em especulações hipotéticas, o Espiritismo um dia adquiriria cidadania entre as demais.
  
Uma ciência interexistencial
Sendo uma ciência cujo método foi elaborado por Kardec, o Espiritismo pelo próprio era definido como uma produção coletiva e progressiva. Aliás, ele jamais se intitulou o seu fundador querendo para si os louros de sua dedicação apesar da historiografia registrar, de forma inequívoca, a fundação desse campo de pesquisas pelo Prof. Rivail.
Ocorre que Kardec tinha a percepção de que as inteligências invisíveis capazes de interagirem de forma objetiva e subjetiva com o mundo material foram permitindo o registro e o controle científico de suas intervenções, dentro de uma programática superior que definia a desopacização do mundo espírita aos olhos das criaturas domiciliadas na carne.
Desse modo, o mestre foi ajustando, no processual de seu quefazer, seus pressupostos teóricos e metodológicos ao objeto de estudo, apontando uma obviedade por demais atual, ao menos no campo das ciências humanas, donde provenho: há de se considerar que a especificidade de certo objeto científico demanda uma metodologia e técnicas de investigação específicas para a apreensão do mesmo.
Essa atitude de Kardec fez com que sua pesquisa se diferenciasse e muito de outras que lhe precederam, pois, ao admitir as escolhas, a vontade, os limites e as possibilidades evolutivas das individualidades espirituais na produção das manifestações inteligentes e materiais, alargou o horizonte da investigação de modo a evitar que se enquadrasse o fenômeno espírita às estruturas conceituais rígidas e se descartasse os dados que os instrumentos, produzidos no âmbito de um paradigma materialista, comumente consideravam inválidos.
O que caracterizaria um avanço epistemológico para o campo das ciências da alma, em pleno século XIX, embora admirado pela aposta na experimentação, foi compreendido inicialmente por Richet (2), o fundador da Metapsíquica, por credulidade exagerada como, talvez, também teriam imaginado outros pesquisadores que não se aprofundaram na produção de Kardec.
Enfim, os Espíritos igualmente pautaram o trabalho científico de Kardec a partir de suas manifestações que, em pleno tempo de elogio à razão e à experimentação, organizaram verdadeira invasão ao mundo dos denominados vivos afetando os horizontes culturais da Ciência à Religião.
E, no que tange à composição do conteúdo filosófico do Espiritismo o mestre Allan Kardec teve o cuidado de estabelecer dois critérios de exame: o da razão e o do controle universal do ensino dos Espíritos.
A razão, ou o bom senso, era adotada como filtro principal, afastando o conhecimento produzido, em regime de colaboração entre médiuns, Espíritos e Kardec, de qualquer mescla com superstições ou dogmas.
O segundo critério, o do controle universal, demonstra que o Espiritismo não é fruto de uma concepção individual, da opinião de um sábio ou um Espírito, apenas. Aliás, característica marcante do fazer científico consiste no regime de colaboração, de partilha de saberes mediante a comunicação de métodos, experiências, dados e análises nos diferentes campos de pesquisa, ou seja, a produção coletiva.

Para levar a efeito tal controle, Kardec se utilizava de variados médiuns e Espíritos, entre comunicações espontâneas e evocações, para apreender a solução de diversos problemas filosóficos e questões sobre o mundo dos Espíritos a fim de comparar, após a análise severa da razão, o conteúdo daquelas e, com base na concordância coletiva, estabelecer os princípios da Doutrina Espírita.

 ESTUDANDO KARDEC
“Se há um meio de chegar à verdade, seguramente é pela concordância e pela racionalidade das comunicações, auxiliadas pelos meios que temos à nossa disposição para constatar a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos. Ao deixar de ser individual para se tornar coletiva, a opinião adquire um maior grau de autenticidade, já que não pode ser considerada como resultado de uma influência pessoal ou local. Os que ainda se acham em dúvida terão uma base para fixar as ideias, porquanto será irracional pensar que aquele que em seu ponto de vista está só, ou quase só, tenha razão contra todos.” (3)

Notas:
(1) KARDEC, Allan. O espiritismo é uma ciência positiva. In: KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Ano sétimo – 1864. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2008, P. 434.
(2) MAGALHÃES, Samuel Nunes. Charles Richet: o apóstolo da ciência e do espiritismo. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2007, p. 160.
(3) KARDEC, Allan. Controle do Ensino Espírita. In: KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Ano sétimo – 1862. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2008, P. 36






Uma tarde com Padre Landell de Moura
O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre recebeu, na tarde de 17 de outubro, o escritor e pesquisador Ivan Dorneles Rodrigues, autor de obras biográficas de um dos maiores gênios da História do Rio Grande do Sul e do Brasil: o Padre Roberto Landell de Moura (1861/1928), a quem se devem importantes invenções no campo da comunicação, e, por isso, tido como pioneiro da radiocomunicação e de outros experimentos que levariam ao surgimento do rádio e da televisão.
Em palestra pública, no auditório do CCEPA, Ivan destacou aspectos importantes da vida, da obra e da vasta cultura de Landell de Moura, incluindo a pesquisa de fenômenos paranormais e estudos sobre espiritismo.

Ao final da palestra, Ivan Dorneles fez a entrega ao presidente do CCEPA, Milton Medran Moreira, de materiais escritos e audiovisuais sobre o padre cientista gaúcho, para o acervo da biblioteca da instituição.

Palestras públicas no CCEPA
Seguem as palestras públicas da 1ª segunda-feira de cada mês (às 20h30) e da 3ª quarta-feira (15h) no auditório do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. Para os meses de novembro e dezembro estão programadas as seguintes palestras, inteiramente abertas ao público

Dia 5/11 (20h30) - Palestra de Aureci Figueiredo Martins (foto): “Sócrates, Precursor do Espiritismo”;

Dia 21/11 (15h) – Palestra de Maurice Herbert Jones: (título);

Dia 03/12 (20h30) – Palestra de Rui Paulo Nazário de Oliveira: (título);

Dia 19/12 (15h) – Palestra de Salomão Jacob Benchaya: “Transição Planetária ou Fim do Mundo?”

Desencarna Cecilia Rocha
Retornou ao mundo espiritual, na madrugada no dia 5 de novembro, no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Santa Marta, no Distrito Federal, a incansável servidora da causa espírita, especialmente da Evangelização Espírita de Crianças e Jovens, a gaúcha Cecília Rocha , 93 anos de idade.









Congresso da CEPA
Acompanhamos com grande interesse todos os informes relacionados com o XXI Congresso Espírita Pan-Americano.
Foi um trabalho importantíssimo, queridos companheiros. Já estamos vivendo, graças a Deus, a hora das grandes e impostergáveis mudanças  de  alguns conceitos até aqui estratificados no imaginário espírita.  Graças a Deus, à coragem e  ao dinamismo de todos vocês. Um grande abraço e muita paz.
Adão Araújo – Bento Gonçalves/RS.

“Eu sei por que isso acontece”
Sobre a coluna “Opinião em Tópicos”, do mês de outubro. Por incrível que pareça, a frase  “Eu sei por que isso acontece”, no meio espírita, se tornou um grande "tumor". Em muitos atendimentos fraternos, a frase entrou no lugar do aconchego e no lugar dos ouvidos silenciosos para  com as dores do próximo. O "eu sei porque isso acontece", virou teoria, astúcia na oratória, títulos em palestras e "justificativas" para discursos empolados em defesa de uma doutrina. Bom que estejamos repensando nossas próprias atitudes.
Marta Valéria Nunes Bastos – Niterói, RJ.